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Memórias Vivas: um projeto para proteger o patrimônio natural e ancestral de Calderón, no Equador
Em 25, set 2024 | Em Edital de Apoio a Redes, Notícias, Redes e organizações | Por IberCultura
Entre os meses de junho e agosto de 2024, foi realizado no Equador o projeto “Memórias Vivas”, criado com o objetivo de proteger, preservar e cuidar a memória patrimonial da paróquia de Calderón, especificamente do morro sagrado de Jalunguilla, da comuna de La Capilla. A proposta foi uma das selecionadas no Edital IberCultura Viva de Apoio a Redes e Projetos de Trabalho Colaborativo 2024.
O Cerro Jalunguilla, historicamente um território de ritualidades, saberes, cultura e ancestralidade, se tornou uma floresta seca que se regenerou naturalmente, com flora e fauna diversificadas. “Memórias Vivas” procurou produzir um documentário sobre o morro que recuperasse a sua importância como território ancestral, social e comunitário da paróquia de Calderón, para revitalizar a sua identidade e apropriação territorial.
A proposta foi apresentada à convocatória do IberCultura Viva pela Corporação Cultural Inti Pak Churi, nascida em 2008 em Calderón, norte de Quito, com o propósito de criar e dançar, reafirmando a sua herança cultural, “para manter e dar vida à memória de um povo cheio de contrastes e cores únicas”.
Além de apresentar a flora e a fauna de Jalunguilla, o projeto destacou a importância de protegê-las e, sobretudo, de proteger as memórias, histórias, ancestralidades, tradições, jogos e lendas da comuna, e daqueles que são os guardiões desta floresta seca, colina sagrada e lar de animais e plantas que o habitam.
Na compilação das memórias vivas das e dos avós da comuna, foram entrevistadas antigas moradoras, como María Yajamin, Josefina Collaguazo e María Muzo, que relembraram seus tempos de infância, quando desciam e subiam o morro de Jalunguilla com suas avós, para trazer água e lenha.
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Oferendas à virgem
María Mercedes Yajamin, 78 anos, membro da organização Papatíos y Mamatías da comuna La Capilla, falou sobre as Festas da Virgem Imaculada, das quais começou a participar aos 16 anos, em 1962. “Foi quando a minha fé aumentou, pois tive um problema de saúde que quase me cortou a perna, mas graças à bênção da Virgem consegui manter minha perna”, justificou.
Na entrevista que deu para o projeto, ela lembrou os tempos em que ia ao barranco trazer água e lenha para a Festa da Virgem Imaculada, e mais tarde, aos 23 anos, quando começou a dançar nessas festas, sempre falando kichwa. “Dancei yumbo, loas e os capariches vieram de Llano Grande para dançar”, disse María, que também costumava preparar comida tradicional para essas celebrações.
“Antigamente, todos nos reuníamos para fazer oferendas à virgem. O padre me ouviu falar kichwa e a partir daí me deixaram como líder de Mamatías e Papatíos, dizendo que deveríamos ensinar o kichwa às crianças, mas muitos não quiseram. De lá ele nos levou ao Quinche para dançar aos pés da virgenzinha, e já se passaram mais de 30 anos de todas essas lembranças”, afirmou.
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Entre o trabalho e as travessuras
Para a agricultora María Muzo Andrango, 83 anos, as lembranças são “de trabalho duro, de alegria, de convivência, de experiência e de vida, bem como de enamoramento ou travessuras”. Na entrevista para o documentário, ela contou que em Jalunguilla desciam para trazer água para lavar a roupa da casa, os menores com baldes pequenos, os mais velhos com baldes maiores. “Quando não havia água suficiente, tínhamos que descer com toda a roupa para lavar na seca. Dali saíamos à procura de lenha para cozinhar, já não levávamos água porque tínhamos que carregar lenha, e também descíamos para colher amendoins”, comentou.
“Quando eu era pequena, subia carregando amendoim, lenha, e conduzia o gado para que chegasse ao topo. Meu pai era bem bravo, me mandava para Jalunguilla para que eu não fosse à escola, porque antes não nos deixavam estudar, e pior se tivéssemos namorado. Lembro também que fazíamos cestos para lavar roupa e que sempre fui companheira da minha avó. O que eu mais gostava era que em Jalunguilla havia muitas guabas (frutas), são lembranças que nunca desaparecem da minha cabeça”.
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Uma vida difícil, mas feliz
Josefina Collaguazo, 79 anos, lembrou que madrugava para trazer água de Jalunguilla. Levantava cedo, às 5h da manhã, porque mais tarde já estava sujo. “Trabalhei na agricultura plantando batata, milho, sambos para sobreviver, sempre trazia lenha e água de Jalunguilla. Desde muito jovem trabalhei muito, sabia descer e lavar roupa na seca”, comentou.
“Minha vida foi difícil, mas também foi feliz, pois gostava muito de descer até Jalunguilla para correr pelos chaquiñanes, subir nas árvores, comer guabas, ficar com as vacas, ou com as cabras, e olhar os passarinhos. Gostava muito de passar um tempo em Jalunguilla, para mim era o melhor. Vi muitas mudanças, principalmente entre os jovens, que já não se interessam pela natureza, e outras mudanças que ocorreram na comuna. Espero que os jovens de hoje possam estar interessados em manter as nossas memórias, a nossa história e, acima de tudo, a nossa identidade.”
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Fortalecendo as memórias dos avós
Leslie Sanguña, 24 anos, é uma jovem nativa da comuna que está interessada em fortalecer e revitalizar as memórias dos seus avós para transmiti-las às gerações futuras. “Para mim, isso é importante, principalmente aquelas experiências que minha avó teve na infância. É importante ver que antes de descerem para pegar água no poço, eles iam lavar a roupa lá embaixo… Minha avó me dizia que quando desciam para Jalunguilla encontravam seus tios ou primos, eu me emociono quando me contam que lá se encontravam com outras pessoas. Para mim tem sido bonito como me têm dito, e nas caminhadas que a gente tem feito Jalunguilla para poder recriar aquelas partes, como era antes, como eles fizeram.”
Para Leslie, há partes lindas nas histórias contadas, como aquelas em que elas se sentavam para comer, para compartilhar. “Agora você vai ao cinema e compartilha com outras pessoas, mas não é a mesma coisa. Quando eles desciam para Jalunguilla, estavam em uma área natural e compartilhavam com outras pessoas, compartilhavam comidas tradicionais daqui, por exemplo, doces de sambo, abóbora, torradas. São poucas as pessoas que comem isso hoje em dia, tem gente que vem de fora e valoriza muito mais a comunidade do que as pessoas que estão aqui”, destacou.
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Cuidando da natureza
Gonzalo Guañuna Andrango, protetor ambiental, 56 anos, disse que desde os 6 anos gosta de estar em equilíbrio com a natureza e cuidar dela. Nascido nesta comuna, viveu toda a sua vida neste lugar que considera sagrado e pelo qual lutou durante décadas.
“Quando os espanhóis chegaram, demoliram os nossos templos, nossas apachitas e colocaram as igrejas no topo. Por isso mantivemos o nome La Capilla. Deveríamos ter ficado com o nome kichwa, mas assim permanecemos porque tivemos a primeira igreja dentro da paróquia”, explicou.
“Por ter sido presidente da comuna em 96, 97 e 98, tentei preservar a autenticidade desta comunidade. Lutamos contra a invasão, contra o lixão, e hoje lutamos pela declaração de uma área protegida de 186 hectares, a Jalunguilla, que em kichwa é ‘meia lua’ (jalun=metade; killa=lua). Este espaço é bastante antigo e queremos que seja preservado em estado natural, como uma floresta seca para toda a freguesia de Calderón”, ressaltou.
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Uma avaliação do projeto
Segundo os responsáveis pelas “Memorias Vivas” que avaliaram o projeto (Gonzalo Guañuna, Carmen Simbaña e Wilson González), durante sua realização houve uma boa ligação com outros atores da cidade e foi possível ampliar o trabalho com outros apoios. No documento que entregaram ao programa após sua execução, eles destacaram que os objetivos foram cumpridos e que houve dedicação e comprometimento com o que faziam: “O trabalho coletivo traz esperança à gestão que está sendo realizada. Foi todo feito coletivamente, trabalhado como um processo comunitário, fazendo ‘mingas’ (reunião de amigos e vizinhos para fazer algum trabalho gratuito em comum). Agradecemos a maneira de trabalhar de todos porque aprendemos com isso todos os dias.”
Ibercocinas, Iber-Rutas e IberCultura Viva lançam a sexta edição do concurso Sabores Migrantes Comunitários
Em 13, set 2024 | Em Cooperação Ibero-americana, Destaque, Editais, Notícias | Por IberCultura
Nesta sexta-feira, 13 de setembro, os programas IberCultura Viva, Iber-Rutas e Ibercocinas abrem a inscrição para a sexta edição do concurso Sabores Migrantes Comunitários, que premia histórias de receitas e práticas culinárias de comunidades migrantes da Ibero-América. As pessoas interessadas poderão enviar suas postulações até o dia 18 de outubro pela plataforma Mapa IberCultura Viva.
O valor total atribuído ao concurso é de 8 mil dólares para um máximo de 13 propostas. As iniciativas selecionadas receberão um reconhecimento como ‘Boa prática de cozinha migrante comunitária ibero-americana’ e um prêmio de US$ 600.
A convocatória é dirigida a pessoas maiores de 18 anos de origem ibero-americana* que vivam em um país diferente do seu país de origem. Elas devem enviar, a título pessoal ou em representação de iniciativas comunitárias, uma proposta de prática culinária que conte uma receita de sua comunidade de procedência, a história por trás dela, e a forma com que esta receita se insere na comunidade de acolhida, dentro de uma experiência migratória. Não serão aceitas propostas das pessoas premiadas na edição anterior do concurso (2023).
Diferentemente das edições anteriores, as receitas e práticas culinárias devem ser apresentadas em um vídeo com no máximo 2 minutos de duração (o formulário conta com um campo opcional para quem quiser enviar também em formato escrito, mas o texto não substitui o vídeo, que é obrigatório). Podem ser usadas as línguas portuguesa, espanhola ou indígenas (neste caso, com tradução em espanhol ou português em anexo).
Poderão participar pessoas nascidas em países ibero-americanos residentes em qualquer país do mundo, e pessoas que apresentem propostas de práticas culinárias e receitas de migrantes de sua família com até segundo grau de parentesco (pai/mãe, avô/avó). Essas apresentações terão uma cota máxima de seleção no concurso.
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Critérios de seleção
A seleção seguirá os critérios estabelecidos no regulamento, como a representatividade da preparação para a comunidade de origem; a experiência de inserção na comunidade de acolhimento; a geração de conhecimentos e práticas tradicionais e criativas promovidos por cozinheiros e cozinheiras migrantes; o impacto direto na segurança alimentar, e as estratégias de disseminação do conhecimento culinário e/ou a construção de um legado culinário às novas gerações com a consciência de sua cultura diversa.
A diversidade cultural das propostas será privilegiada, por meio da seleção de projetos de diferentes países. Apresentações realizadas por mulheres, jovens entre 18 e 35 anos, bem como por pessoas indígenas, afrodescendentes e/ou camponesas, serão consideradas com maior pontuação. Assim como aquelas realizadas por pessoas que pertencem a comunidades que se encontram em movimento, ou que estão transitando pelo processo de migração em um refúgio.
Todas as pessoas que tiverem suas práticas culinárias selecionadas deverão prepará-las em sua comunidade e enviar um depoimento sobre essa atividade aos programas organizadores, dentro dos 30 dias posteriores ao recebimento do prêmio. Este depoimento deverá ser gravado em um vídeo de no máximo 5 minutos, detalhando a atividade realizada, assim como o público alcançado, identificando idade, gênero, pessoas afrodescendentes, comunidades campesinas e de povos originários que tenham participado da experiência. Os programas organizadores deverão receber o link deste vídeo por e-mail.
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(*) São países ibero-americanos: Andorra, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai, Venezuela.
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Confira o regulamento do concurso
Inscrições: https://mapa.iberculturaviva.org/oportunidade/295/
Consultas: programa@iberculturaviva.org
Municípios de Jalisco unem forças e lançam o Manifesto Intermunicipal “Cultura, Localismo e Ruralidades”
Em 13, set 2024 | Em Cultura Comunitária, Governos Locais, Notícias | Por IberCultura
De 30 de agosto a 1º de setembro, foi realizado em Puerto Vallarta o Segundo Encuentro Intermunicipal de Gestão Pública para a Cultura (EIGPC), promovido pela Diretoria de Planejamento, Articulação e Desenvolvimento Setorial da Secretaria de Cultura de Jalisco.
Durante três dias, representantes das áreas culturais de 35 governos locais das 12 regiões de Jalisco reuniram-se para avaliar o que foi realizado após três anos contínuos de trabalho, trocar experiências de forma colaborativa e adotar uma nova ferramenta de visão de futuro para o desenvolvimento cultural de Jalisco e seus municípios.
O espaço contou com atividades formativas e participativas em que diretores/as da Cultura Municipal tiveram a oportunidade de revisar boas práticas entre pares e debater com membros da sociedade civil, abrindo assim uma abordagem mais enriquecedora para a gestão cultural pública no estado.
Os trabalhos do II EIGPC foram liderados pela diretora de Planejamento, Articulação e Desenvolvimento Setorial, Denisse Corona García, e também por Alejandra López Cuellar, da Jefatura de Desenvolvimento Municipal da Secretaria de Cultura de Jalisco.
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Manifesto Intermunicipal: Cultura, Localismo e Ruralidades
Um dos momentos chave do encontro foi a leitura, aprovação e adoção do “Manifesto Intermunicipal: Cultura, Localismo e Ruralidades”, documento que reúne as aspirações e compromissos dos governos locais. Este manifesto articula-se em quatro eixos principais:
. Descentralização e equidade territorial: Sublinhando a importância de evitar a centralização das políticas culturais apenas em Guadalajara e reafirmando o compromisso de planejar estratégias de desenvolvimento cultural, considerando as particularidades de cada município do interior.
. Ruralidades como espaços de direitos: Este ponto integra a visão das ruralidades como espaços propícios ao exercício dos direitos culturais. É destacada a necessidade de garantir que estes direitos sejam reconhecidos e promovidos, enfatizando as culturas vivas e o património cultural local.
. Cultura comunitária: Destaca as práticas e dinâmicas culturais comunitárias como base para a construção de identidades, cidadanias, sentimentos de pertencimento e para a coesão social.
. Governança cultural e participação social: O documento faz um apelo ao incentivo à participação dos cidadãos, dos bairros e da comunidade para fortalecer a tomada de decisões coletivas na agenda cultural pública.
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“Este manifesto pode ser um guia útil tanto para os agentes culturais como para os servidores públicos que assumirão suas responsabilidades a partir de outubro de 2024, com a chegada das novas Câmaras Municipais constitucionais, e é projetado como uma ferramenta de incidência de direitos para Jalisco, México e América Latina, pois reafirma a importância do meio rural como território de exercício de direitos e onde as liberdades criativas devem ser garantidas”, afirmou Gerardo Daniel Padilla, coordenador técnico do EIGPC.
O manifesto estará disponível para leitura e download a partir da segunda semana de setembro nos portais institucionais e redes sociais das câmaras municipais que o adotaram. Além disso, será aberto um prazo para que outros governos de Jalisco que não tiveram a possibilidade de estar presentes à cerimônia, realizada na Câmara Municipal do Palácio Municipal de Puerto Vallarta, se juntem a esta iniciativa.
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Reconhecimento internacional
Após a sua primeira edição, em 2023, no Município de Zapotiltic, o EIGPC foi selecionado como Boa Prática Internacional pelo júri do 6º Prémio Agenda 21 de Cultura, organizado pela Comissão de Cultura da Secretaria Mundial de Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), como um reconhecimento da sua contribuição para o desenvolvimento cultural sustentável e do seu potencial para ser replicado em outros locais do mundo.
21 organizações culturais propõem atividades na convocatória IberEntrelaçando Experiências 2024
Em 12, set 2024 | Em Destaque, Editais, Intercâmbios, Notícias, Redes e organizações | Por IberCultura
(Foto: CulturAula)
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O programa IberCultura Viva recebeu 21 inscrições para a convocatória IberEntrelaçando Experiências, que esteve aberta entre 13 de agosto e 10 de setembro. Terminado o prazo de recursos, nesta terça-feira, 17 de setembro, as 21 propostas foram consideradas habilitadas e serão avaliadas nos próximos dias.
Esta convocatória, que põe em circulação os projetos do Banco de Saberes Culturais e Comunitários do IberCultura Viva, tem um valor atribuído de 31 mil dólares. A quantidade de propostas selecionadas dependerá do valor das passagens aéreas.
Conforme estabelecido nas bases, a seleção final deve considerar a maior diversidade cultural possível, garantindo que, em primeiro lugar, sejam selecionados projetos de diferentes países.
As 21 propostas recebidas têm como anfitriãs organizações culturais comunitárias da Argentina (3), Brasil (2), Colômbia (3), Costa Rica (1), Equador (1), Espanha (2), México (4), Peru (4) e República Dominicana (1). Duas dessas propostas seriam para intercâmbios dentro do mesmo país.
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Confira a ata de candidaturas habilitadas (lista definitiva)
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IberCultura Viva abre o edital IberEntrelaçando Experiências, para o intercâmbio de saberes
Governos locais e organizações comunitárias iniciam projeto de construção coletiva do Manual de Boas Práticas Territoriais
Em 12, set 2024 | Em Cultura Comunitária, Governos Locais, Notícias, Redes e organizações | Por IberCultura
A Municipalidade de Alajuelita (Costa Rica) apresentou o projeto de construção coletiva do Manual de Boas Práticas Territoriais, no dia 9 de setembro, em reunião por videoconferência transmitida ao vivo pelo Facebook. A iniciativa é uma das atividades que serão realizadas em 2024 com o apoio da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais.
O projeto começará na próxima segunda-feira, 16 de setembro, com conversatórios semanais (todas as segundas, às 18h de Brasília, até 14 de outubro), oficinas e mesas de trabalho com representantes de organizações culturais comunitárias e governos locais, com o intuito de documentar práticas replicáveis e adaptáveis a diferentes realidades territoriais.
Até a próxima sexta-feira, 13 de setembro, estará aberta no Mapa IberCultura Viva a convocatória para organizações interessadas em participar desse processo de construção colaborativa. A apresentação do manual está marcada para o dia 15 de novembro, na Câmara Municipal de Alajuelita.
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Sessão de lançamento
Ronald José Montero Bonilla, gestor cultural da Municipalidade de Alajuelita, foi o responsável pela mediação deste primeiro encontro virtual do projeto, que contou com uma palestra do colombiano Jorge Melguizo, consultor em gestão pública, cultura, convivência e urbanismo social. Entre as pessoas participantes estavam Johanna Madrigal, diretora de Gestão Sociocultural do Ministério de Cultura e Juventude (DGS/MCJ) e representante (REPPI) da Costa Rica junto ao IberCultura Viva, e Eduardo Reyes Paniagua, responsável pelos Pontos de Cultura e representante técnico do MCJ neste programa de cooperação.
Também participaram da conversa Tania Álvarez Chavarría (Fundação Keme), representante de Alajuelita na Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais; Luisa Velásquez, representante de Guadalajara; Eric Madrigal, membro da Associação Cultural Costa Rica de Swing e Bolero (Aswingbol) e do Movimento de Culturas Vivas Comunitárias da Costa Rica; Santiago Buitrón Chávez, da Rede Awasqa (Equador); Carlos Alfredo Perez Rigirozzi e Aurora Beatriz Silva, de Convocados por Lúdica (Argentina); Lucio Berrios Moya, da revista La Bitácora (Chile), e Carlos Eduardo Barajas Robles, de Vertientes Medios e a rede de Puntos de Cultura de Guadalajara.
Por parte da Rede de Gestores Culturais de Alajuelita, uma das entidades criadas pela política cultural de base comunitária do cantão, aprovada em 2020, estavam presentes: Rocío Díaz, representante do distrito de Alajuelita Centro; Emilia Martínez, do distrito de Concepción, e Elizabeth Campos Briones, do distrito de San Antonio. Também acompanharam a videoconferência Carolina Mora Sibaja, vereadora e presidente da Comissão de Assuntos Culturais da Câmara Municipal, e a prefeita de Alajuelita, Rosario Siles, que parabenizou a equipe “pelo grande projeto que têm em mãos”.
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Medos, refúgios e encantamentos
Jorge Melguizo, que participou como convidado para dar uma palestra neste encontro de abertura, foi secretário de Cultura Cidadã e de Desenvolvimento Social de Medellín, e desde 2010 atua como consultor, conferencista e professor em diversas universidades da América Latina e Espanha. Também faz parte do corpo docente do Curso de Pós-Graduação Internacional em Políticas Culturais de Base Comunitária, que o IberCultura Viva desenvolve em conjunto com a FLACSO-Argentina.
Ao começar sua participação, ele disse que começou a procurar coisas que havia dito em diferentes momentos sobre cultura viva comunitária, governos municipais, governos sub-regionais. Em seus escritos surgiram três palavras: medos, refúgios e encantamento. Em torno dessas três, ele fez suas reflexões para esta primeira reunião virtual do projeto Manual de Boas Práticas Territoriais.
Começou com “medos”, palavra que sempre surgiu nos encontros com organizações culturais. “Enfrentar esses medos, as incertezas sobre seus entornos, as incertezas quanto à continuidade e a sustentabilidade dos projetos, deveria ser um dos resultados de um manual de trabalho para os governos locais em projetos de cultura viva comunitária”, sugeriu.
Sobre a palavra “refúgio”, ele comentou que a utiliza para definir qualquer projeto cultural dos tempos atuais. “Hoje uma biblioteca, um centro cultural, um espaço cultural de bairro, um museu, é um refúgio. Refúgio para muitas coisas”, afirmou, relembrando um episódio ocorrido em 2020, quando as bibliotecas de Medellín reabriram, após meses de confinamento devido à pandemia de Covid-19, e a primeira pessoa que entrou numa delas foi uma criança de 12 anos, que abraçou a diretora e perguntou: “Você pode me adotar?”
“Por trás daquele abraço havia uma situação de abuso sexual. Aquela criança não ia à biblioteca ler um livro, ia procurar um abraço, uma proteção. Acho que a maior parte dos projetos culturais, de bairro e rurais, do que chamamos em toda a América Latina de ‘Pontos de Cultura’, são refúgios. E temos que fazê-los valer como refúgios, fortalecê-los”, afirmou.
Por fim, a palavra “encantamento”, que segundo ele está relacionada às culturas vivas comunitárias porque as organizações e projetos culturais comunitários são epopeias. E as epopeias produzem encantamento. “Deveria ser uma prioridade para os governos municipais, regionais e nacionais conhecer, reconhecer, valorizar e valorizar as epopeias que se constroem nos nossos bairros e nas nossas zonas rurais, naqueles lugares de encantamento, onde a vida torna outras vidas possíveis, onde as experiências são o acúmulo de muitas experiências.”
Para Melguizo, também deveria ser uma prioridade o trabalho de gestão de conhecimento sobre o que as organizações culturais já sabem. “As organizações culturais comunitárias têm conceitos construídos ao longo dos anos, têm metodologias, pedagogias, didáticas, indicadores, documentos. E desperdiçamos as nossas vidas fazendo relatórios para os governos, quando deveríamos estar fazendo ensaios de reflexão sobre o cotidiano do trabalho, coletando o que sabe cada uma das pessoas que ali estão envolvidas. Qual é o conhecimento de suas geografias físicas, sociais e humanas? Nada melhor que uma organização cultural de um bairro para conhecer a sua geografia, cada um dos recantos do território.”
O consultor finalizou sua apresentação propondo que essa construção coletiva partisse de algumas “tarefas básicas”. A começar por esta: dar conta de que existem culturas vivas comunitárias. “Dar conta significa que sejam vistas, que tenham nome, que se tornem – como em Alajuelita ou Medellín – políticas públicas municipais. Os governos têm de estar conscientes do papel que estas culturas vivas comunitárias desempenham no desenvolvimento integral dos seus bairros ou zonas rurais, dos microterritórios, porque nesses projetos há cultura, claro, mas também há educação, inclusão, perspectiva de gênero, opiniões e abordagens da população, diversidade, criatividade, desenvolvimento pessoal, desenvolvimento social, desenvolvimento económico. Há construção de convivência. Ou seja, construção de segurança.”
Entre as “tarefas básicas” dos governos estariam também estas: comprometer-se com o fortalecimento de culturas vivas comunitárias; assumir a cultura como tarefa necessária a todos os órgãos governamentais; alocar bons orçamentos; criar um programa de Cultura Viva Comunitária envolvendo diversas áreas; promover isso nos órgãos legislativos, e juntar-se como governo local a outras redes de trabalho na cultura viva comunitária, com outros governos similares.
“Devemos compreender a integralidade dos projetos culturais. Esses projetos têm que fazer parte de ações muito mais amplas, de articulação e integralidade dos territórios, de todas as áreas de governo, e têm que estar em alianças com as comunidades e com os setores privados”, detalhou, destacando também que em Medellín foi aprovado em 2011 a política pública de Cultura Viva Comunitária, lei municipal que permite que os programas sejam assumidos para além da temporalidade dos períodos de governo.
Para as organizações culturais comunitárias, a tarefa básica seria esta: “Não se isolar”. “Não se feche entre as organizações de cultura viva comunitária, para conversar apenas entre elas. Fazemos encontros latino-americanos, são divertidos, nos entendemos muito, vamos nos encontrar em outro país, 300 organizações, nos abraçamos muito. Mas estamos os mesmos com as mesmas. Já nos conhecemos. Vamos convencer quem já está convencido. (…) É (necessário) sair dos confinamentos, sair da própria lógica, e começar a incidir nos governos locais, regionais e nacionais de uma forma diferente, mostrando-se também em outras dimensões.”
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Trocando experiências
Após a apresentação de Melguizo, Tania Alvarez explicou que a intenção é documentar, conversar, “aportar sobre o que fazemos como organizações de base, fazer um trabalho conjunto para definir o que nos parece esses medos, onde estão esses refúgios e esse encantamento, como dizia Jorge.” A representante de Alajuelita também lembrou algo que ouviu do consultor colombiano em outra ocasião e que nunca saiu da memória: “Uma vez ele mencionou que quando uma organização estende a mão, não está pedindo, está oferecendo. Isso é parte do que está acontecendo aqui.”
Segundo ela, um dos objetivos básicos deste processo será analisar, nas mesas de trabalho e conversatórios, o que tem se refletido nas diferentes instituições que compõem a Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais. “Vamos conhecer os Pontos de Cultura de Guadalajara, conhecer os esforços e o trabalho que tem feito a Secretaria de Cultura de Bogotá, a Comissão de Co-Responsabilidade de Alajuelita… Vamos saber o que aconteceu com a Carta de Direitos Culturais de Concepción”, disse.
Nas conversas serão apresentadas experiências do México, Chile, Costa Rica, Argentina, Colômbia, Peru e Equador. Os grupos de trabalho, por sua vez, serão híbridos e terão a intenção de compartilhar experiências e gerar um espaço de escuta ativa sobre práticas úteis e necessárias na construção de leis, regulamentos e orçamentos a serem geridos em conjunto. As três oficinas estão programadas para acontecer nos dias 10, 15 e 20 de outubro, na Sala de Sessões da Câmara Municipal de Alajuelita.
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Vídeo completo do encontro:
https://www.facebook.com/municipalidadalajuelita/videos/864939568584347
Inscrições: https://mapa.iberculturaviva.org/oportunidade/294/
Consultas: cultura@munialajuelita.go.cr/ Teléfono +506 85576488
Municipalidade de Alajuelita lança projeto de construção coletiva do Manual de Boas Práticas Territoriais
Em 07, set 2024 | Em Governos Locais, Notícias, Redes e organizações | Por IberCultura
Nesta segunda-feira, 9 de setembro, a Municipalidade de Alajuelita (Costa Rica) apresentará o projeto de construção coletiva do Manual de Boas Práticas Territoriais para o exercício dos direitos culturais. A iniciativa é uma das atividades que se realizam no âmbito da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais no ano de 2024.
O lançamento se realizará num encontro virtual com transmissão na página do Facebook da Municipalidade de Alajuelita, às 15h na Costa Rica e no México (16h na Colômbia e no Equador; 18h na Argentina, no Chile e no Brasil).
O objetivo geral da proposta é construir coletiva e colaborativamente um manual de boas práticas territoriais, baseado em experiências e conhecimentos gerados por meio de ações interculturais e cosmovisões pactuadas pelos governos locais que fazem parte da rede.
Para isso, serão realizadas rodas de conversa e mesas de trabalho com organizações de base comunitária e com a Rede de Cidades e Governos Locais, com o intuito de documentar práticas replicáveis e adaptáveis a diferentes realidades territoriais.
Esta proposta será desenvolvida a partir do intercâmbio de experiências de grupos, comunidades e gestores/as culturais de governos locais que permitam o reconhecimento de práticas no campo da governança participativa e do sentido da base comunitária na construção de políticas públicas culturais. A ideia é instalar um mecanismo permanente de reuniões periódicas para apoiar e analisar os conhecimentos adquiridos durante a execução dos conversatórios e mesas de trabalho.
Os membros da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais que participam desta construção coletiva esperam poder socializar os resultados deste processo e do Manual de Boas Práticas durante o 6º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, que acontecerá em Michoacán, México, em abril de 2025.
Se estendem por uma semana as inscrições para o edital IberEntrelaçando Experiências
Em 02, set 2024 | Em Editais, IberEntrelaçando Experiências, Intercâmbios, Notícias | Por IberCultura
(Foto: CulturAula)
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Foi ampliado até o dia 10 de setembro o prazo de inscrição para a convocatória IberEntrelaçando Experiências. Esta chamada, lançada no dia 13 de agosto, coloca em circulação as propostas de formação que se encontram disponíveis no Banco de Saberes Culturais e Comunitários IberCultura Viva. São 53 propostas de oficinas/capacitações, provenientes de 12 países, que podem ser realizadas em outros territórios com o apoio do programa.
Neste edital, podem se candidatar como comunidades anfitriãs as organizações culturais comunitárias, povos originários e comunidades afrodescendentes dos países membros de IberCultura Viva, assim como os 37 municípios, províncias e estados que integram a Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais.
O primeiro passo é escolher uma das propostas de formação que aparecem listadas no Banco de Saberes e entrar em contato com as pessoas facilitadoras do projeto em questão, para ver se elas têm interesse em realizar o intercâmbio em sua comunidade. Uma vez que se aceitam as condições do intercâmbio, a organização anfitriã se registra para receber a proposta em seu território, apresentando uma carta de aceitação da organização que propõe a capacitação.
Este edital funciona desta maneira: se a proposta de intercâmbio for selecionada, o programa IberCultura Viva paga as passagens aéreas e os seguros de viagem das pessoas facilitadoras. A organização que se candidata como anfitriã se compromete a dar hospedagem e alimentação para as pessoas facilitadoras da oficina (uma ou duas). A organização anfitriã também se encarrega de providenciar os traslados no território e os materiais necessários para a realização do projeto (as necessidades técnicas e espaciais das propostas estão descritas no Banco de Saberes).
Para alguns países há alguns requisitos especiais: no caso do Brasil, tem que ser um Ponto de Cultura certificado pelo Ministério da Cultura (MinC). No caso do Chile, é necessário que a organização anfitriã seja um Punto de Cultura Comunitaria validado pelo Ministério das Culturas, das Artes e do Patrimônio.
As organizações que postulam pelo México deverão ter certificado de inscrição em TELAR (Registro Nacional de Espacios, Prácticas y Agentes Culturales), e as do Equador, inscrição no RUAC (Registro Único de Artistas y Gestores Culturales).
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Inscrições: https://mapa.iberculturaviva.org/oportunidade/292/
Consultas: programa@iberculturaviva.org
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IberCultura Viva abre a convocatória IberEntrelaçando Experiências, para o intercâmbio de saberes
Concepción torna-se a primeira cidade do Chile a implementar uma Carta dos Direitos Culturais
Em 28, ago 2024 | Em Direitos culturais, Governos Locais, Notícias | Por IberCultura
Nesta segunda-feira, 26 de agosto, depois de um ano e meio de um intenso processo de construção participativa, a Municipalidade de Concepción apresentou oficialmente a Carta dos Direitos Culturais da comuna, em evento realizado no Salão de Honra Carlos Contreras Maluje. O município é um dos 37 membros da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, o primeiro do Chile a desenvolver um instrumento normativo como este. Outras duas cidades membros desta rede, San Luis Potosí (México) e Niterói (Brasil), lançaram suas Cartas em 2021.
A Carta dos Direitos Culturais de Concepción tem como eixo central o reconhecimento da cultura como um direito fundamental dos habitantes da cidade, promovendo a participação ativa da comunidade na construção da sociedade que desejam.
A cerimônia de lançamento contou com a presença de autoridades locais, incluindo o prefeito de Concepción, Álvaro Ortiz Vera; a secretária ministerial regional (Seremi) das Culturas, das Artes e do Património da Região do Biobío, Paloma Zúñiga Cerda; o diretor municipal de Cultura, Maurício Castro; a Câmara Municipal; líderes regionais e dezenas de moradores da cidade que se reuniram para saber mais sobre este documento.
Além disso, representantes de instituições culturais em âmbito nacional e internacional juntaram-se remotamente, com a intervenção da ministra das Culturas, das Artes e do Património do Chile, Carolina Arredondo; Jordi Pascual, coordenador cultural de Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), e Pilar Vicuña, coordenadora cultural da Unesco Chile.
“Esta é uma conquista de muita gente, é a primeira Carta de Direitos Culturais que uma cidade tem aqui no nosso país e somos nós, Concepción. Em dezembro de 2012, quando chegamos ao município, propusemos como um dos nossos eixos de desenvolvimento fazer da cultura um direito para todos os penquistas”, disse o prefeito Álvaro Ortiz Vera.
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“Este instrumento permitirá compreender o que são os direitos culturais dos habitantes do município, promovendo o cumprimento e o desfrute desses direitos por parte da comunidade”, destacou o diretor de Cultura de Concepción, Mauricio Castro.
A Seremi das Culturas da Região do Biobío, Paloma Zuñiga Cerda, afirmou que para o ministério “estas atividades são muito importantes, permitindo gerar políticas públicas a partir da governança local para promover os direitos culturais. Uma das áreas que me parece fundamental nesta carta fala da igualdade substantiva entre homens e mulheres e da sua participação no campo cultural, uma deficiência que tornamos visível e que acreditamos ser importante promover.”
O evento de lançamento contou com intervenções artísticas de música e dança, começando com o Coro Gospel Chile se apresentando na varanda do prédio municipal, e depois dando lugar a apresentações do elenco de dança do Centro Artístico Cultural (CAC) e da Orquestra de Câmara Cidadã de Concepción. Depois das palavras das autoridades presentes, o diretor de cultura municipal fez a apresentação oficial do documento e a entrega dos textos físicos da Carta dos Direitos Culturais. A jornada terminou com a apresentação da Big Band Concepción, dirigida pelo maestro Ignacio González.
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O processo de preparação
A Diretoria de Cultura do Município de Concepción iniciou o processo de construção participativa da Carta dos Direitos Culturais no começo de 2023. Assim como fizeram outras cidades do mundo, como Barcelona, Mérida, Roma, San Luis de Potosí e Niterói, a elaboração deste documento se deu por meio de um longo processo em que participaram instituições públicas e privadas, agentes culturais e a comunidade.
Este processo foi patrocinado pelo Ministério das Culturas, das Artes e do Patrimônio do Chile e validado por organizações globais da área cultural: Unesco, IberCultura Viva, Mercociudades e Cidades e Governos Locais Unidos (UCLG).
Na primeira enquete de diagnóstico, realizada de 6 de fevereiro a 6 de março de 2023, 535 moradores deram sua percepção sobre como são vivenciados os direitos culturais no território. Uma segunda pesquisa foi aplicada entre os moradores da cidade em abril de 2023, buscando ampliar e aprofundar alguns tópicos do primeiro.
Além destas consultas públicas aplicadas aos habitantes e agentes culturais do território, foram realizados encontros como o conversatório “A cidade e os direitos culturais”, que ocorreu no dia 29 de março de 2023, em formato híbrido, com a presença de autoridades locais e painelistas que apresentaram as experiências de elaboração das Cartas de Roma, San Luis Potosí e Niterói.
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No dia 28 de setembro de 2023 se realizou uma jornada intensiva de revisão e elaboração conjunta da declaração local. O exercício foi realizado em torno de duas sessões de trabalho, a primeira delas com o Conselho Consultivo Cultural Municipal, composto por representantes de instituições culturais locais, incluindo centros de desenvolvimento, espaços de expressão artística, museus e outros que promovem o trabalho criativo na cidade.
A segunda sessão contou com a participação de cerca de 30 agentes culturais, representantes da sociedade civil, artistas e organizações comunitárias, que, em torno de uma oficina de moderação participativa e orientada, realizaram a identificação e delimitação de barreiras e necessidades que afetam o exercício livre e pleno dos direitos culturais e do direito à cidade.
Abriu-se então uma nova fase de consultas, em que o esboço da Carta pôde receber comentários e contribuições gratuitas de agentes, comunidades, cidadãs e cidadãos que vivem na comuna para a sua melhoria e fortalecimento.
Após a cerimônia de lançamento, espera-se amplificar o impacto da Carta aproximando-a da comunidade penquista. Nesta terça-feira, 27 de agosto, iniciou-se o processo de entrega da versão física deste documento no Ponto de Cultura, localizado na O’Higgins 555, das 9h às 13h30 e das 15h às 17h30. A versão digital pode ser encontrada aqui.
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GT de Sistematização do IberCultura Viva participa de uma das mesas do 20º Enecult, em Salvador
Em 26, ago 2024 | Em Cultura Viva, GT de Sistematização, Notícias, Universidades | Por IberCultura
As universidades são relevantes nos processos de cultura viva comunitária? Essa foi a pergunta que serviu de base para a mesa do Grupo de Trabalho (GT) de Sistematização de Políticas Culturais de Base Comunitária do IberCultura Viva, no dia 22 de agosto, no Encontro Internacional de Pesquisa sobre Cultura Viva, realizado em programação conjunta com o 20º Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (20º Enecult), em Salvador (Bahia).
Com mediação de Laura Elena Román García (Universidad Autónoma de Ciudad de México-UACM), este painel contou com apresentações da mexicana Rocío Orozco (Universidad Jesuita de Guadalajara-ITESO) e dos argentinos Marcelo Vitarelli (Universidad Nacional de San Luis-UNSL) e Daniel Zas (Escuela Popular de Música-EPM).
Esses quatro integrantes do GT Sistematização viajaram ao Brasil com o apoio do IberCultura Viva, com a proposta de estabelecer um diálogo sobre o trabalho de sistematização, divulgação e metodologias horizontais de políticas culturais de base comunitária que o grupo vem realizando e sua contribuição a processos no território de diversas comunidades: infâncias, vizinhos em contextos urbanos, comunidades artísticas.
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Elena Román abriu o painel explicando que a ideia desta mesa, além de apresentar o trabalho que realizam em suas universidades, era contar de forma geral como nasceu este grupo, em 2021 (IberCultura Viva lançou uma chamada para pessoas de universidades que trabalham com a cultura comunitária e selecionou 59 pesquisadores de 10 países), e comentar a proposta que o GT apresentou ao programa em 2023 para formar uma rede de universidades que trabalham para promover a cultura viva comunitária.
“Essa rede ainda não está formada. Especificamente, o que queremos é que se juntem a esta rede, (…) que pode fortalecer os laços de cooperação entre universidades, mas também entre agentes múltiplos, diversos, heterogêneos, que trabalham pela cultura viva comunitária”, destacou a professora-pesquisadora da Universidade Autônoma da Cidade do México, onde coordena o Observatório de Políticas Culturais.
Segundo ela, a ideia é que as pessoas que trabalham nas universidades sejam “uma ponte que detona processos, um espaço de mediação, de cooperação, um espaço de diálogo que possa fortalecer processos comunitários”, e que também possam defender a cooperação e o coletivo. o território que lhes é comum, em termos gerais.
“Achamos que as universidades podem aprender, formar nos processos territoriais de agentes da cultura viva comunitária. Mas também podemos cooperar e colaborar com os processos de formação de agentes do território, de gestão comunitária, para fortalecer esta defesa e a construção de indicadores que nos permitam dialogar como território latino-americano”, acrescentou Elena Román.
Rocío Orozco, Marcelo Vitarelli e Daniel Zas, que participaram desta mesa redonda apresentando suas pesquisas, fazem parte da equipe impulsora desta rede de universidades. Assim como a equatoriana Paola De La Vega, outra integrante do GT Sistematização que viajou a Salvador para apresentar seu trabalho no 20º Enecult, a convite do Consórcio Universitário Cultura Viva, formado pelas universidades federais da Bahia, Fluminense e Paraná (UFBA-UFF-UFPR).
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A rede argentina de universidades
Em sua intervenção, Marcelo Vitarelli comentou que a manutenção de uma rede de universidades que trabalham com cultura viva comunitária na região ibero-americana foi considerada o objetivo final da criação do Grupo de Sistematização, em 2021. “A rede está sendo definida e estamos contribuindo para essa construção de consenso, tentamos chegar a um acordo baseado no trabalho em nossos territórios. No meu caso, venho da Argentina, de uma universidade pública onde trabalhamos há mais de cinco anos de forma sistemática, problematizando o papel da cultura viva comunitária”, afirmou.
Vitarelli lembrou um conceito que é compartilhado no Río de la Plata (Argentina e Uruguai): a ideia de compromisso social universitário, presente em diferentes momentos históricos desde a Reforma de 1918. “Se a Universidade é um ator comprometido, a Universidade participa desses diálogos e aprende a linguagem dos vários atores. Este é o desafio, pelo menos para a minha universidade: a academia falar na língua da comunidade, e a comunidade falar na academia, na sua própria língua, e aí gerar diálogos comunitários em torno de problemas sociais comuns”, afirmou. Para ele, isso significa comprometer-se, dialogar, produzir em conjunto.
A Universidade Nacional de San Luis, onde trabalha, tem 50 anos de história na vida pública do território. Com sede em diferentes locais da província de San Luis, no centro da Argentina, a UNSL uniu forças com a Universidade Nacional de Córdoba e a Universidade Nacional do Litoral para estabelecer redes sobre as dimensões da formação, da pesquisa e dos vínculos no problemático campo das culturas comunitárias do país. Atualmente, 14 universidades públicas da Argentina compõem o Encontro de Universidades para Cultura Comunitária.
Um dos propósitos desta rede argentina é contribuir para o fortalecimento dos laços de cooperação entre universidades, atores sociais e governos locais na busca da construção de agendas comuns baseadas em um compromisso social, ético e político, apostando na cultura comunitária como estratégia voltada para o desenvolvimento humano. Segundo Vitarelli, a responsabilidade de se colocar a serviço das comunidades – numa perspectiva reflexiva, crítica e proativa – baseia-se em alguns princípios como o diálogo de saberes, a construção conjunta de conhecimentos, visões descolonizadoras e ancoragens territoriais.
Sobre o trabalho de diálogo comunitário dentro da universidade pública, o investigador disse que o programa institucional da UNSL conta com oito unidades académicas que vão desde o social, da saúde, até às engenharias e ao turismo, e que é justamente nessa diversidade que está a riqueza da perspectiva comunitária. “Quando o turismo fala em turismo rural comunitário, por exemplo, os engenheiros contribuem e geram coisas maravilhosas, porque se vê que o diálogo é possível”, afirmou.
Marcelo Vitarelli também mencionou conceitos que de alguma forma marcam o debate atual em torno da ideia de território não como espaço geográfico, mas de territorialidades. “Como um conceito antropológico complexo, que implica o sujeito, a representação e a abordagem e ancoragem da cultura”, sublinhou, citando ainda o trabalho sobre diversidades, gêneros e variabilidades linguísticas, um problema que tem atravessado nos últimos 10 anos a universidade.
Mencionou, ainda, a importância de construir a partir do consenso, a partir de visões comuns nos territórios, de pensar e continuar dialogando em rede, porque isso tem a ver com as visões das territorialidades que os sujeitos constroem. “Nesses diálogos aqui, por exemplo, apesar da dificuldade de a gente entender o português, e de quem fala português nos entender, quando a gente senta para ouvir o outro a gente aprende. E vemos que é possível trabalhar em rede”, observou.
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Cultura comunitária em Jalisco: rumo a uma proposta formativa
Após a apresentação de Marcelo Vitarelli, a mexicana Rocío Orozco Sánchez tomou a palavra para contar um pouco do trabalho que desenvolve como professora pesquisadora da Universidade Jesuíta de Guadalajara e bacharel em Artes da Secretaria de Cultura de Jalisco. É também gestora cultural comunitária, cofundadora do Coletivo CulturAula, organização comunitária de Guadalajara que integra o Banco de Saberes IberCultura Viva com três projetos.
Nesta mesa do encontro, Rocío Orozco apresentou uma pesquisa sobre um modelo de formação de agentes culturais comunitários no estado de Jalisco, desenvolvido a partir de um processo participativo, com o objetivo de fortalecer as organizações e assim contribuir para o impacto das políticas culturais. Além disso, apresentou avanços em torno da construção de novas poéticas para construir conhecimento colaborativo entre universidades e organizações comunitárias.
No artigo “Cultura Viva Comunitária em Jalisco, desafios e oportunidades, rumo a uma proposta de formação”, que serviu de base para sua apresentação em Salvador, ela explica que esta pesquisa se baseia em uma abordagem de sistematização de mais de uma década de análise e estudo do Movimento Cultura Viva Comunitária, e também na experiência do Coletivo CulturAula no México.
O estudo abrange o espaço temporal correspondente da Área Metropolitana de Guadalajara, Tonalá, El Salto, Tlaquepaque e Zapopan, com o objetivo de desenhar uma proposta de formação integral que englobe as necessidades dos diversos atores socioculturais que, todos os dias, realizam, projetam, acompanham ou participam de diversas práticas e ações em prol da exaltação da cultura em suas comunidades e/ou projetos.
Em sua intervenção, Rocío comentou como ocorreu o processo de pesquisa e fez uma comparação com o contexto atual, já que desde 2019 a Secretaria de Cultura do Governo do México, por meio da Direção Geral de Vinculação Cultural, executa o programa Cultura Comunitária, estabelecendo uma nova forma de pensar e fazer política cultural. Em seguida, detalhou o trabalho que foi realizado na região metropolitana de Guadalajara, com o objetivo de conhecer a opinião dos agentes culturais comunitários sobre seus processos de formação, capacitação e atualização no tema gestão cultural comunitária.
Para identificar perfis dos agentes e obter os primeiros resultados em relação à categoria análise de necessidades de aprendizagem, foi elaborada uma pesquisa, aplicada a partir de uma plataforma virtual e divulgada nas redes sociais. Também foram realizadas quatro entrevistas com três funcionários do Programa de Cultura Comunitária de Jalisco e um acadêmico especialista em profissionalização em gestão cultural.
Os resultados obtidos mostraram três grupos de agentes socioculturais, denominados grupos A, B e C. O grupo A é formado majoritariamente por funcionários/as, acadêmicos/as e gestores/as culturais com pós-graduação relacionada à gestão cultural ou carreira afim, e com experiência em gestão pública da cultura, mas sem experiência em processos comunitários.
O Grupo B, por sua vez, reúne oficineiras/os, artistas, promotores/as e lideranças de bairro, com idade entre 25 e 60 anos, com ampla experiência em trabalho comunitário e aprendizagem que recai na prática. São pessoas com ensino médio, bacharelado, carreiras técnicas, algumas com cursos ou diplomas voltados para cultura comunitária ou gestão cultural; muitas autodidatas. Algumas trabalham para o governo; outras de forma independente, resolvendo seus projetos por meio da autogestão.
O grupo C é o das organizações de bairro ou de vizinhança, cuja ação cultural inclui vários eixos, como social, cultural, perspetiva de gênero, economia solidária, educação, entre outros. Estas organizações, coletivos, grupos e redes com experiência em trabalho comunitário costumam trabalhar de forma colaborativa, dificultando a identificação de um único ator como organizador ou responsável.
Como detalhou Rocío Orozco em seu artigo, a pesquisa mostrou que os agentes possuem estudos de formação em gestão cultural comunitária por meio de diplomas, cursos e oficinas, seguidos de algumas ofertas na modalidade virtual. Destacou, ainda, a importância dada por alguns participantes à aprendizagem autodidata e à articulação com outros agentes com foco na cultura comunitária. “Descobrimos que frequentar encontros, conhecer experiências, é uma forma de partilhar saberes, e que participar de congressos contribui para o seu processo de formação e recupera práticas e processos”, afirmou a investigadora, destacando a ênfase dada a este tema, uma vez que mostra a falta de programas curriculares focados na gestão cultural comunitária.
O desenho curricular do modelo de formação de agentes culturais comunitários em Jalisco surgiu da análise das características metodológicas descritas pelos participantes da pesquisa. Foram aplicados 73 questionários entre 7 de abril e 17 de junho de 2020. No ano seguinte, de 16 a 29 de março de 2021, foi desenvolvido o “Ciclo de Capacitação e Diálogo em Gestão Cultural Comunitária”, uma série de encontros virtuais que reuniu mais de 70 pessoas, com o apoio da Secretaria de Cultura do Governo do México, Museus, Exposições e Galerias de Jalisco (MEG) e da Secretaria de Cultura de Jalisco.
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Uma Escola de Música Popular no Espaço da Memória e dos Direitos Humanos
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O argentino Daniel Zas, por sua vez, apresentou a experiência da Escola de Música Popular, espaço que surgiu da vontade das Madres de Plaza de Mayo-Línea Fundadora, em convênio com a Fundação Música Esperanza. A iniciativa faz parte do projeto de recuperação do Espaço Memória e Direitos Humanos (antiga ESMA), e é uma das muitas atividades realizadas pela Casa ”Nuestros Hijos, Vida y Esperanza” no prédio que funcionou como centro clandestino de detenção, tortura e extermínio durante a última ditadura civil-militar na Argentina.
Daniel iniciou sua intervenção contando um pouco da história e do contexto do projeto comunitário que está sendo desenvolvido em Villa Hidalgo (José León Suárez, distrito de San Martín, província de Buenos Aires), um dos bairros mais pobres da Zona Norte de Buenos Aires, e que assim como muitos territórios da América Latina, está repleto de assentamentos que foram construídos por vizinhos/as, migrantes de províncias e países que fazem fronteira com a Argentina. “Foi-se conformando aí uma integração cultural de um monte de pessoas que vinham de lugares diferentes, e para conseguir trabalho, ter acesso a uma vida melhor, foram habitando esses terrenos baldios, construindo precariamente suas casas neste bairro que fica sobre um lixão, um aterro sanitário”, comentou.
Em Villa Hidalgo foi criado há 40 anos o Centro de Comunicación Popular Renaciendo, uma iniciativa de ativistas, professores/as e catequistas que contaram com a comunicação popular como ferramenta de unidade do bairro e de desenvolvimento social. O centro criou a revista “Renaciendo” e, em 1988, a FM Reconquista, uma das primeiras rádios comunitárias da Argentina, administrada pela Asociación de Mujeres La Colmena. Em 1990, é criado lá um jardim materno-infantil, o primeiro jardim comunitário reconhecido no município de General San Martín. E em 2009, um grupo de jovens da FM Reconquista passou a ministrar oficinas artísticas e musicais (guitarra, canto, baixo, teclado e percussão) para meninas e meninos do bairro.
É neste contexto que surge a Escola Popular de Música, tema do artigo apresentado por Daniel Zas neste encontro. O espaço está em funcionamento há mais de 13 anos e mais alguns desde que as Madres de Plaza de Mayo- Línea Fundadora decidiu apelar à Fundação Música Esperanza para criar uma escola de arte popular com uma perspectiva de direitos humanos.
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Madres de Plaza de Mayo é uma organização criada em 1977 por um grupo de mulheres que se reuniram em frente à Casa Rosada (sede da presidência da República Argentina), em plena ditadura, para exigir informações sobre seus filhos e filhas sequestrados, dos quais nada se sabia. Durante o período da ditadura civil-militar no país (1976-1983), mais de 30 mil pessoas foram detidas-desaparecidas.
Como detalhou Daniel Zas em sua apresentação, esses desaparecimentos ocorreram em mais de 800 centros de detenção clandestinos administrados pelo Estado. “Nesses centros funcionavam maternidades clandestinas, para onde foram levados mais de 500 bebês. Conseguimos recuperar algumas centenas pelo trabalho das Avós da Praça de Maio, mas há muitos que ainda procuramos”, explicou.
Um destes centros clandestinos funcionou na Escola de Mecânica da Marinha (ESMA), onde se estima que mais de 5 mil pessoas foram detidas e torturadas durante a ditadura. Em 2004, após 20 anos de recuperação da democracia na Argentina, o governo federal decidiu que a Ex-ESMA se tornaria o Espaço Memória e Direitos Humanos, um local administrado de forma tripartite pelo Estado nacional, pela prefeitura de Buenos Aires e entidade que reúne organizações de Direitos Humanos nos edifícios que estavam dentro da propriedade da Ex-ESMA, para que aí desenvolvam atividades e políticas de forma a sustentar a memória, a verdade e a justiça.
As Mães da Plaza de Mayo – Línea Fundadora administram um desses edifícios da propriedade, a Casa “Nuestros HIjos, Vida y Esperanza”, onde funciona a sede da entidade e a Escola Popular de Música. Esta iniciativa foi idealizada em conjunto com a Fundação Música Esperanza, pelo pianista argentino Miguel Ángel Estrella (1940-2022), que foi sequestrado por membros da ditadura civil-militar no Uruguai (1973-1985). ).
“Durante a tortura, suas mãos ficaram feridas e ele não pôde continuar tocando piano, porque parte do seu trabalho era tocar em sindicatos, em organizações comunitárias, em bairros populares. Este trabalho social que Miguel realizou não foi bem visto pela ditadura. Ele foi preso, sequestrado e torturado. Conseguiu sobreviver, e ao retornar à vida artística, depois de muitos anos, decidiu criar a Fundação Música Esperanza e atuar em diversos territórios da Argentina no desenvolvimento de oficinas de música para crianças, jovens e adultos”, contou Daniel Zas.
Uma das principais iniciativas destas duas organizações, em 2011, foi projetar e executar, em conjunto com a Universidade de La Plata, uma Tecnicatura de Música Popular, com formação universitária de quatro anos, onde se realiza uma construção muito particular. “Ali a universidade propõe um programa de disciplinas relacionadas com a formação musical, propõe seus professores, mas as organizações também têm uma participação concreta na montagem e na proposta de disciplinas e da equipe docente”, sublinhou Zas.
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O próprio Daniel, que cresceu no bairro de Villa Hidalgo e trabalha na FM Reconquista desde 2006, estudou com um grupo de colegas na primeira turma. “Eu estava trabalhando na construção do projeto da Orquesta Estable de Rádio Reconquista quando este curso começou e nos chamaram a diferentes organizações territoriais para que pudéssemos nos formar nesses espaços. Como disse a colega Ro (Orozco), temos experiência, muitos anos de trabalho no território, e estamos construindo a forma de fazer, aprender e ensinar, mas há momentos em que é difícil para nós ampliar ou aprofundar o desenvolvimento de projetos por falta de profissionalização dos nossos trabalhadores”, afirmou.
Daniel Zas foi uma das pessoas que se formaram em 2014 e passaram a integrar o corpo docente da Escola Popular de Música. Convocado pela área de Direitos Humanos, coordenado pelas Mães da Plaza de Mayo, ele atua em projetos desenvolvidos simultaneamente à tecnicatura, como a Rede Arte, Memória e Territórios, que potencializa a ideia de transformação social e territorial por meio da arte, em articulação com organizações sociocomunitárias. “Lá conseguimos articular o trabalho de organizações comunitárias, orquestras populares e oficinas de música do território com a tecnicatura, gerando um espaço de prática”, observou.
Outro espaço fundamental, tanto como contribuição para a carreira, como para as organizações territoriais que integram a rede, é a Oficina-Escola de Luteria, dedicada à arte e ao ofício de criação e reparação de instrumentos musicais. “Temos também um espaço de formação naquilo que tem a ver com audiovisual, redes sociais, com o qual apoiamos espaços comunitários a partir da virtualidade, e oficinas para a terceira idade. E estamos construindo diversos projetos, tentando fazer com que essa construção – que tem muitas pernas e que visa construir comunidade – também possa profissionalizar e potencializar projetos comunitários em articulação, pensando no coletivo como estratégia.”
Entre os desafios que surgem está o de fortalecer o trabalho em rede com as organizações e poder gerar maiores vínculos, para que o acesso, especialmente para moradores/as de bairros populares, tenha uma chegada concreta e direta aos espaços de formação profissionais e universitários. “Temos universidades públicas e gratuitas, mas se os setores populares não tiverem acesso a elas, continuaremos segmentando”, disse o professor.
Ao encerrar sua apresentação, Daniel Zas destacou a importância de valorizar pública e socialmente o papel dos agentes comunitários e de perpetuar o legado das Mães da Praça de Maio na busca pela memória, verdade e justiça. “As mães têm idade média de 93, 94 anos. Procuramos trabalhar lado a lado com elas para poder compreender e conhecer toda a sua luta, tudo o que conquistaram, não só na Argentina mas no mundo, pela promoção em defesa dos direitos humanos”, destacou.
E acrescentou: “Estamos empenhados em sustentar esse legado e continuar a trabalhar nesse sentido para podermos articular concretamente as experiências de cultura comunitária com a Academia. Não só a partir de um lugar onde a Academia formará o território, mas onde se partilham experiências e há uma chegada real dos setores populares à universidade, o que nos parece uma dívida pendente das nossas democracias e dos nossos governos populares.”
O Encontro Internacional de Pesquisa Cultura Viva foi promovido pelo Consórcio Universitário Cultura Viva, formado pelas universidades federais da Bahia, Fluminense e do Paraná (UFBA-UFF-UFPR), com apoio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura do Brasil (SCDC/MinC), no âmbito do projeto “Cultura Viva 20 anos: Pesquisa e Formação”.
Começa a 20ª edição do Enecult, que destaca os 20 anos de Cultura Viva no Brasil
Em 19, ago 2024 | Em Cultura Viva, GT de Sistematização, Notícias | Por IberCultura
De hoje a sábado, 24 de agosto, se realiza em Salvador (Bahia, Brasil) o 20º Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult). O evento, criado como um espaço de discussão sobre temas relacionados à cultura, numa perspectiva transversal e multidisciplinar, este ano conta com uma programação especial, com apresentação de artigos e mesas coordenadas de 23 Grupos de Trabalho (GTs), além de encontro de redes, exposição e lançamento de 15 livros. Os 20 anos de Cultura Viva no Brasil são um dos destaques desta edição.
A programação tem formato híbrido, com atividades online nos dois primeiros dias e um conjunto de atividades presenciais entre os dias 20 a 24, em diferentes espaços da Universidade Federal da Bahia, e uma confraternização na Casa Rosa. A primeira mesa, organizada pelo GT Políticas Culturais, foi “Políticas Públicas de Cultura e Geração de Conhecimento”, transmitida ao vivo na tarde desta segunda-feira (19/08).
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O Encontro Internacional de Pesquisa sobre a Cultura Viva, que começa nesta terça-feira (20/08), é uma iniciativa do GT Cultura Viva, coordenado por Deborah Rebello Lima (Universidade Federal do Paraná – UFPR), Luana Vilutis (Universidade Federal da Bahia – UFBA) e Luiz Augusto Fernandes Rodrigues (Universidade Federal Fluminense – UFF). Além de contemplar propostas que discutem a Política Nacional de Cultura Viva, criada como um programa do Ministério da Cultura em 2004, o GT visa debater as interações e contribuições entre esta política brasileira e políticas de cultura viva comunitária na América Latina.
Pesquisadoras e pesquisadores de várias partes do Brasil e da América Latina foram convidados para este encontro internacional que se realiza em programação conjunta com o Enecult. A mesa da tarde desta terça-feira será “Cultura Viva en América Latina. Cultura viva comunitaria”, mediada por Luana Vilutis e coordenada pelo argentino Emiliano Fuentes Firmani (Universidad Nacional Tres de Febrero), que apresentará o artigo “Cultura Viva en la cooperación: Ibercultura Viva y Comunitaria”. Também participarão desta mesa Paola de la Vega (Pontificia Universidad Católica del Ecuador – PUCE) e Guillermo Valdizán Guerrero (Movimiento Latinoamericano de CVC – Peru)
No dia 22, quinta-feira, quatro integrantes do GT de Sistematização de Políticas Culturais de Base Comunitária participarão de uma mesa do evento com o apoio do programa IberCultura Viva: as mexicanas Elena Román (Universidad Autónoma de la Ciudad de México – UACM) e Rocio Orozco (Universidad de Guadalajara – UDG) e os argentinos Marcelo Vitarelli (Universidad Nacional de San Luis – UNSL) e Daniel Zas (Escuela Popular de Música).
Essas mesas do Encontro Internacional de Pesquisa sobre a Cultura Viva terão início às 16h30 (hora de Brasília) e transmissão pelo canal de YouTube do Enecult.
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No dia 21, às 16h, Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura e presidenta do IberCultura Viva, falará sobre “A importância da pesquisa para a Política Nacional Cultura Viva”. Às 16h30, será a vez da mesa “Cultura Viva – Programa, Política e Poesia”, que reunirá parte da equipe da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC/MinC), com mediação de Deborah Rebello Lima (UFPR). Serão apresentados os trabalhos “Cultura Viva: rede de poema e poema em rede”, por Leandro Anton; “A dimensão econômica solidária na Cultura Viva”, a cargo de Juliana Caetano e Carolina Freitas; “Cultura Viva e Pontos de Cultura celebram 20 anos com o maior investimento da história”, por João Pontes, diretor da Política Nacional Cultura Viva e representante do Brasil no IberCultura Viva.
Além da programação do Encontro Internacional de Pesquisas sobre a Cultura Viva, o Enecult contará com pesquisadores latino-americanos em outros painéis, como a mesa online “Mondiacult y después: el futuro de las políticas culturales en América Latina”, do GT Políticas Culturais, que se realizará nesta terça-feira, às 16h. Estarão presentes Alexandre Barbalho (Universidade Estadual do Ceará), María Adelaida González (Universidad de Antioquia, Colômbia), María Elena Figueroa Díaz (Universidad Nacional Autónoma de México) y Tomás Peters (Universidad de Chile). A mesa será coordenada por Nicolás Sticotti (Universidad Nacional de Avellaneda, Argentina) e transmitida pelo YouTube do Enecult.
Já a mesa “Cultura e políticas culturais na América Latina”, que faz parte do GT Culturas e América Latina, tem como objetivo apresentar e discutir o progresso de pesquisas recentes sobre cultura e políticas culturais no Brasil, na Argentina e no Uruguai no século XXI. A pesquisa faz parte do programa 2023-2025 dos Grupos de Trabalho do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso). Esta mesa, que tem a coordenação de Rubens Bayardo (UNSAM, Argentina), será apresentada no dia 21 de agosto, às 14h (também com transmissão online). Participarão deste encontro Antônio Albino Canelas Rubim (UFBA), Jacqueline Gama (UFBA) e Alexandre Santini (Fundação Casa de Rui Barbosa – FCRB).
No sábado, dia 24 de agosto, às 9h, o GT Cultura e Políticas Culturais de Clacso promoverá a mesa “Democracias e culturas na América Latina”, que também terá transmissão online. A mesa será mediada pela professora e pesquisadora Lia Calabre (Universidade Federal Fluminense/ Fundação Casa de Rui Barbosa) e contará com a exposição de Albino Rubim (UFBA, Brasil), Carlos Yanez (Universidad Nacional de Colombia), Eduardo Nivón (Universidad Nacional Autónoma de México), Rubens Bayardo (Universidad de Buenos Aires) y Guillermo Valdizán (TECUS, Peru).
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O 20º Enecult é realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), por meio do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT), em parceria com o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-Cultura) do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) e Faculdade de Comunicação (Facom), e pelo Ministério da Cultura. Este ano, conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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Confira aqui a programação das sessões e mesas coordenadas.
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