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Para o Topo.

Blog - Página 20 de 94 - IberCultura Viva

08

nov
2022

Em Notícias

Por IberCultura

Amplia-se o prazo de inscrição para o concurso Sabores Migrantes Comunitários

Em 08, nov 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

Foram prorrogadas até a próxima sexta-feira, 11 de novembro, as inscrições para a quarta edição do concurso Sabores Comunitários Migrantes, que premia histórias de receitas e práticas culinárias de comunidades migrantes na Ibero-América.

A convocatória, uma iniciativa conjunta dos programas de cooperação IberCultura Viva, Iber-Rutas e Ibercocinas, dirige-se a maiores de 18 anos de origem ibero-americana que vivam num país diferente do seu país de origem.

É necessário apresentar uma proposta de prática culinária que conte uma receita da sua comunidade de origem, a história por detrás dela e a forma como essa receita se insere na comunidade de acolhimento no âmbito de uma experiência migratória.

O valor total do concurso será de 8 mil dólares para um máximo de 13 propostas. As iniciativas selecionadas receberão o reconhecimento como ‘Boa prática da cozinha migrante comunitária ibero-americana’ e um prêmio de US$ 600.

As pessoas interessadas ​​podem enviar as suas candidaturas através da plataforma Mapa IberCultura Viva. É necessário preencher o cadastro de agente na plataforma e o formulário do edital, e enviar sua inscrição antes das 23h59 (horário da Argentina).

A inscrição só será enviada após o preenchimento de todos os campos obrigatórios e a inclusão dos anexos (documento de identidade, comprovante de residência e fotografia).

Caso o perfil de agente não tenha sido totalmente preenchido, o sistema apresentará um alerta (um “!” vermelho) no qual se deve clicar para saber onde está o problema. A plataforma exibirá a confirmação do envio (o dia e a hora aparecerão na tela destacada em verde).

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📌Saiba mais: https://bit.ly/3LN4M08

☑️ Confira o regulamento do concurso: https://bit.ly/3DVPUe0
☑️ Onde se inscrever: https://mapa.iberculturaviva.org/oportunidade/226/
☑️ Como se cadastrar no Mapa IberCultura Viva:
https://iberculturaviva.org/mapa-ibercultura-viva/?lang=es
☑️ Consultas: programa@iberculturaviva.org

03

nov
2022

Em Notícias

Por IberCultura

Termina o 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária

Em 03, nov 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

Após oito dias de debates, feiras, rituais, cortejos, apresentações artísticas, visitas a comunidades e sítios arqueológicos, o 5º Congresso Latino-americano de Cultura Comunitária Viva terminou neste sábado, 15 de outubro, com uma assembleia no Auditório Municipal de Huancayo, onde foram apresentadas as principais conclusões dos 10 círculos da palavra e as delegações do México e da Colômbia anunciaram que sediarão as próximas edições: México em 2024, Colômbia em 2026.

Outro acordo que saiu da assembleia foi nomear como “Equipe de Acompanhamento Continental” o grupo que reúne porta-vozes dos processos nacionais de cultura viva comunitária (o que já foi chamado de Conselho Latino-americano de CVC). 

Ao passar o bastão para a delegação mexicana, o Grupo Impulsor do 5º Congresso convidou ao palco um representante de cada país que havia realizado o congresso anteriormente (Bolívia, El Salvador, Equador e Argentina) para encerrar o encontro em clima festivo (“Viva! Viva a cultura viva para a América Latina!), com a alegria que é habitual neste movimento continental que completa 10 anos em 2023.

O 5º Congresso Latino-americano de CVC foi realizado de forma itinerante, de 8 a 15 de outubro, com atividades em Lima (Lima Centro e nos distritos de Ate e San Juan de Lurigancho) e Junín (Huancayo), sob o lema “Tecendo esperança e solidariedade para o bem viver”. Das 580 pessoas inscritas, cerca de 450 participaram da caravana que partiu de Lima com destino a Huancayo, em uma viagem de mais de 8 horas.

Diferentemente das edições anteriores, em que o IberCultura Viva participou do congresso com uma programação paralela, com reuniões do Conselho Intergovernamental e Encontros de Redes, este ano o programa esteve presente numa série de atividades, desde a abertura do evento, no Ministério da Cultura, até o fechamento, no Auditório Municipal de Huancayo.

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31

out
2022

Em Notícias

Por IberCultura

Lima se incorpora à Rede de Cidades e Governos Locais

Em 31, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

Fabiola Figueroa Cárdenas, gerenta de Cultura da Municipalidade de Lima, e Esther Hernãndez Torres, presidenta do IberCultura Viva, anunciaram juntas a incorporação de Lima à Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais durante a abertura do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em 8 de outubro, no Ministério de Cultura do Peru. A Municipalidade de Lima integrou o Grupo de Trabalho de Governos Locais que se formou em 2017, no 2º Encontro de Redes IberCultura Viva, e agora formaliza sua participação na rede.

Lima Metropolitana conta com um programa de Cultura Viva Comunitária desde 2013. A Ordenança N° 1673, que institui a política pública metropolitana, estabelece quatro linhas de trabalho. Entre elas se encontram os concursos anuais de projetos de arte e comunidade e a capacitação permanente em gestão cultural, fortalecimento organizacional e outras matérias afins.

29

out
2022

Em Notícias

Por IberCultura

Representantes da Rede de Cidades e Governos Locais apresentam iniciativas desenvolvidas em seus municípios

Em 29, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

No segundo dia dedicado ao Laboratório “Direitos Culturais e Cultura Viva” no 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em 12 de outubro, a jornada começou com apresentações de cinco representantes da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais no Parque Cívico de Santa Clara, no distrito de Ate (Lima). Carola González falou em nome da Prefeitura de Marcos Juárez (Argentina); Tania Alvarez por Alajuelita (Costa Rica); Alexandre Santini por Niterói (Brasil); Luisa Velásquez por Guadalajara (México) e Fabíola Figueroa por Lima (Peru).

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MARCOS JUÁREZ, ARGENTINA

Carola González, coordenadora de Cultura Comunitária da Municipalidade de Marcos Juárez, comentou como esta cidade de 30 mil habitantes, localizada no leste da província de Córdoba, tornou-se mais democrática e inclusiva após a criação do programa municipal de Cultura Comunitária, há oito anos. Hoje o programa conta com mais de 100 oficinas (artísticas, esportivas, educativas, comerciais), abertas e gratuitas, oferecidas em 21 pontos da cidade, beneficiando aproximadamente 4 mil pessoas. 

“Em 2014, com a mudança de administração, a Direção de Cultura propôs a área de Cultura Comunitária. Esse programa foi criado por uma decisão política do prefeito, de integrar a cidade de todas as áreas, e com o propósito de descentralizar a cultura para liderar processos de mudança”, disse. “Essas intervenções governamentais foram satisfazendo as necessidades da população para obter um tipo de ordem e transformação social, e hoje temos uma cidade mais democrática, mais justa, mais inclusiva, mais igualitária, com direitos, com identidade cultural”. 

Segundo ela, como o município não tinha tantos centros comunitários para levar o programa a 21 pontos da cidade, foram feitos acordos institucionais para que todos tivessem acesso gratuito a bens e serviços culturais. “A participação nestas oficinas culturais e desportivas, inclusivas e de ofícios fortalece o ser individual e social e garante os direitos das crianças, dos jovens, dos adultos e dos idosos”, sublinhou, destacando que nas reuniões de bairro todos pediram a continuação do programa.

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ALAJUELITA, COSTA RICA

Tania Alvarez, gestora sociocultural, representante de Alajuelita na Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, falou sobre a política cultural comunitária que está sendo implementada no cantão. “Este é um processo de mais de sete anos para que a comunidade tenha uma forma mais participativa e mais válida de fazer as coisas em nosso cantão”, disse. A primeira parte desse processo, iniciado em 2015, foi dedicada à consulta e análise, com base na Política Nacional de Direitos Culturais da Costa Rica. 

“Com base nessa análise, cocriamos uma minuta, um documento que serviu como uma importante ferramenta para que as comunidades exercessem seus direitos culturais. Também passamos por uma fase de validação, voltamos ao documento, fomos aos distritos, às comunidades, e perguntamos se o que tinha surgido era algo que lhes interessava. Concluída esta etapa, fomos à Câmara Municipal e pedimos que aprovassem o nosso documento, e assim foi. Além disso, contamos com um orçamento e uma regulamentação completa gerada pela comunidade”. 

A Política Cultural de Alajuelita, aprovada como lei em outubro de 2019, tem quatro eixos: 1) Fortalecimento da organização comunitária na cultura; 2) Fortalecimento do quadro institucional para o desenvolvimento cultural; 3) Dinamização da economia criativa; 4) Proteção do patrimônio de Alajuelita. “Para que isso seja possível, foram criados mecanismos como uma rede de gestores culturais, uma rede de animação sociocultural, núcleos de ação cultural comunitária em todos os bairros e orçamentos que podem ser executados pela comunidade”, explicou. “Acreditamos que é uma nova forma de participar, de exercer os direitos culturais. Uma forma que não é de validação, mas de compromisso, de caminho, de cocriação”.

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NITERÓI, BRASIL

Alexandre Santini, secretário das Culturas de Niterói (Rio de Janeiro), disse que vem do Movimento de Cultura Viva Comunitária, vinculado a um Ponto de Cultura no Brasil desde 2005, e que daí vem sua trajetória de compromisso com os processos culturais comunitários. Além de mencionar sua participação na gestão do programa nacional Cultura Viva (em 2015-2016 ele foi diretor de Cidadania e Diversidade Cultural do então Ministério da Cultura), destacou o processo de incidência para a aprovação da Lei de Cultura Viva no Brasil.

“Muitos de nós, em algum momento, estaremos ocupando funções públicas ou não. Podemos estar nas organizações, nos territórios, mas devemos ter esse espaço de diálogo, de ponte, de intersecção. A proposta aqui é fazer isso”, comentou, referindo-se à ideia de reunir representantes de governos e organizações culturais comunitárias para construir coletivamente um novo ciclo de formação vinculado ao IberCultura Viva. 

Comentando o trabalho realizado para a construção e fortalecimento dos direitos culturais e políticas culturais de base comunitária , Santini destacou a presença da delegação de Niterói, com sete pessoas, que a Rede Municipal de Pontos de Cultura teve a oportunidade de contar no 5ª Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. “Hoje temos um cenário de retração da Política Nacional de Cultura Viva no Brasil, mas na cidade de Niterói conseguimos manter e sustentar o programa Pontos de Cultura com recursos próprios. Temos também a Lei Municipal de Cultura Viva, e este é um trabalho intersetorial porque estamos falando de governos, organizações e legisladores”, afirmou.

Segundo ele, é fundamental que as organizações tenham essa influência, essa capacidade de diálogo com o Legislativo, com as Câmaras Municipais, as Assembleias, os deputados e senadores. “De fato, o que sustenta as políticas é incidir também na criação da legislação, porque os governos do dia passam, nós como funcionários também vamos passar. O que tem que ficar são as políticas, de forma estruturante, e a organização autônoma do movimento”. Em Niterói, os Pontos de Cultura estão organizados em um fórum próprio, que tem sua dimensão de autonomia. 

O secretário encerrou seu discurso falando sobre a Carta dos Direitos Culturais de Niterói, experiência desenvolvida no âmbito da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, inspirada no processo de construção participativa da Carta da Cidade de San Luis Potosí pelos Direitos Culturais, no México. Para a elaboração da Carta de Niterói, foram realizadas 21 reuniões com sociedade civil, instituições e governo. Durante os seis meses de discussões, mais de 800 pessoas participaram desse processo. As mais de 200 propostas recebidas se materializaram em seis capítulos do documento final, lançado em novembro de 2021. 

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GUADALAJARA, MÉXICO

Luisa Velásquez, coordenadora de Cultura Comunitária da Direção de Cultura de Guadalajara, contou que em março deste ano teve início a construção do programa de Pontos de Cultura da cidade. “Assim como a rede do movimento tem me trazido muito aprendizado a partir da cultura comunitária, a Rede de Cidades e Governos Locais tem sido um espaço de grande articulação, de muito aprendizado, pelo menos para mim, que não venho da administração pública, mas de uma organização social”, observou a gestora, que foi uma dos criadoras de um centro cultural comunitário em Guadalajara e também foi representante do município de Zapopan na Rede de Cidades.

Com o programa Pontos de Cultura, a Direção de Cultura de Guadalajara busca reconhecer as organizações que têm atuação territorial e são formadas por pessoas das mesmas comunidades. Também busca reconhecer os chamados “aliados”, que são aqueles agentes culturais, individuais ou coletivos, que, embora não tenham um trabalho de base, podem fortalecer e acompanhar os Pontos de Cultura. Atualmente, existem 12 Pontos de Cultura vinculados à rede local. 

Uma das linhas de trabalho que estão implementando com os grupos tem a ver com a transferência de recursos econômicos, e se inspira na experiência da Municipalidade de Lima. “Tive que ver na assembleia como as organizações definem em que são gastos os recursos, qual percentual eles têm na ordenança. Em Guadalajara, os grupos concordaram em assembleia que 82% dos recursos seriam distribuídos de forma equitativa para não terem que competir entre si. Apesar de terem menos recursos, todos receberiam”, comentou. O restante dos recursos será destinado a uma reunião municipal que acontecerá em dezembro, e quem administra esse orçamento para a gestão do encontro são os próprios Pontos de Cultura. 

Outro eixo que está sendo incorporado é a comissão de projetos (“ou seja, colocar à disposição dos Pontos os equipamentos técnicos, som, plataforma, bancadas, o que for necessário para que seus próprios projetos aconteçam em seus territórios”, detalhou) e o uso de espaços. “Encontrámos vários edifícios em desuso, vandalizados, e através da articulação com outras secretarias conseguimos que dois Pontos de Cultura que funcionavam em parques, em espaços públicos, tivessem um espaço físico. Embora este espaço seja pequeno, podem deixar uma mesa, um projetor, ter banheiros, um camarim. Isso não é apoio econômico, mas potencializa o trabalho territorial”, afirmou.

Outro tema abordado por Luisa Velásquez, em termos de cooperação internacional, foi um projeto vinculado à União Europeia que envolveu as cidades de Guadalajara e Bogotá (Colômbia) e a Espanha. A primeira etapa do intercâmbio ocorreu com a chegada de nove organizações de Bogotá para o seminário “Territorios de tejedores por la paz”, realizado em Guadalajara entre 30 de setembro e 3 de outubro. Em novembro, três Pontos de Cultura de Guadalajara estarão na Espanha e, no final do mês, representantes de 11 Pontos de Cultura de Guadalajara viajarão a Bogotá. “Estamos buscando uma forma de continuar fortalecendo esses trabalhos territoriais. Eu sei, porque vivi isso, que esses momentos de troca cultural nos enriquecem muito”, observou. 

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LIMA, PERU

Fabiola Figueroa Cárdenas, gerenta de Cultura da Municípalidade de Lima, comemorou a recente incorporação de Lima à Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais (o anúncio foi feito na abertura do 5º Congresso Latino-americano de CVC, em 8 de outubro, no Ministério da Cultura do Peru). Ao lado de Sandra Scotto, coordenadora do programa Cultura Viva Comunitária da Municipalidade de Lima, também presente na reunião, ela comentou que este programa foi implementado em 2013, por meio de uma portaria aprovada com “muita vontade legislativa” pelo conselho de vereadores.

A Ordenança nº 1.673, política pública metropolitana para a promoção e fortalecimento da Cultura Viva Comunitária na Municipalidade de Lima, estabelece quatro linhas de trabalho. Uma delas trata da convocatória de concursos anuais para projetos artísticos e comunitários, “que apoiam não só atividades artísticas, mas também atividades comunitárias de outra natureza”, como esclareceu Fabiola, citando como exemplos o trabalho com o patrimônio e/ou a defesa de direitos. 

Além disso, a portaria prevê “formação permanente em gestão cultural, fortalecimento organizacional e outros assuntos correlatos”; a facilitação de “instalações logísticas e espaços públicos administrados pela Municipalidade Metropolitano de Lima para o desenvolvimento de atividades de Cultura Viva Comunitária” e a participação em eventos de Cultura Viva Comunitária organizados pelo município.

“Nessa linha de democratização do acesso à cultura, trabalhamos sobretudo com festivais, encontros, todo o apoio logístico às organizações”, comentou a gerenta de Cultura. “Também temos um pequeno equipamento que está à disposição das organizações, com equipe técnica e um caminhão que faz a transferência, a coleta, e com  compromisso. Eu queria enfatizar isso: o bom dessa ordenança é que ela cria uma equipe dentro da gestão. Uma equipe que fica para realizar e implementar a política (mesmo com mudanças de governo). Em todos os momentos da criação e implementação da política, essa equipe esteve comprometida com a cultura viva comunitária, independentemente de o ambiente político e o contexto serem diferentes.”

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29

out
2022

Em Notícias

Por IberCultura

Começam os encontros para a construção coletiva de um ciclo de formação em direitos culturais e cultura viva

Em 29, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

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Mais de 40 pessoas participaram do encontro inaugural do Ciclo de Vídeodiálogos e Laboratório “Direitos Culturais e Cultura Viva”, que se realizou em 11 de outubro no Centro Cultural de Ate (Lima), durante o 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. A atividade da Comissão de Formação da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais foi concebida como um espaço de construção participativa e intersetorial para imaginar coletivamente o que poderia ser um novo programa de formação e pesquisa do IberCultura Viva. Após este encontro inicial, as discussões continuarão virtualmente em novembro, com quatro sessões, uma por semana.

Federico Prieto, secretário de Gestão Cultural do Ministério da Cultura da Argentina e vice-presidente do IberCultura Viva, iniciou a sessão agradecendo a todas as pessoas presentes a disponibilidade para participar desta instância, “para criar um espaço de formação onde pessoas que participam de organizações e governos locais possam aprimorar suas habilidades técnicas, gerar espaços de diálogo, compartilhar conhecimento e divulgar as experiências realizadas para continuar fortalecendo o vínculo entre organizações e governos”.

Segundo ele, trata-se também de uma oportunidade de gerar instâncias para que outros governos saibam o que é cultura viva comunitária e políticas culturais de base comunitária. “Sim, acreditamos que um outro mundo é possível, e acreditamos no diálogo real e sincero entre organizações e governos, em busca de melhorar as condições, de garantir estruturas para que quem quiser fazer possa fazê-lo. E sobretudo manter vivos e bem desenvolvidos os conceitos que a cultura viva comunitária nos ensina o tempo todo: despatriarcalização, descolonização, bem viver, bem comum, (…) como nos relacionamos com a natureza, como indivíduo, como coletivo, e como um coletivo de coletivos”.

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Um espaço intersetorial

Alexandre Santini, secretário das Culturas de Niterói, que propôs essa atividade em nome da Comissão de Formação da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, comentou que há quase um ano o grupo trabalha nessa ideia de criar um espaço de formação intersetorial, com representantes de governos locais, governos nacionais e também representantes de organizações culturais. “Não se trata de competir com nenhum dos espaços autônomos de formação ou com os espaços acadêmicos formais de formação e gestão cultural que existem, mas sim de gerar algo novo para poder trabalhar com organizações culturais comunitárias”, explicou.

A intenção, segundo Santini, é gerar algo novo também na história da política e da gestão cultural. “Esta é uma novidade que a América Latina dá ao mundo: propor um novo olhar para as políticas públicas culturais, com uma visão civilizatória dentro da cultura comunitária”, observou, ressaltando também que o que desencadeou essa proposta foi a iniciativa das cidades de San Luis Potosí (México) e Niterói de construir coletivamente, de forma participativa, suas Cartas de Direitos Culturais. 

“Estamos na vanguarda do mundo junto com Roma, Barcelona e algumas outras poucas cidades que desenvolveram suas Cartas de Direitos Culturais. Este é o ponto de partida, não o ponto de chegada. Estamos falando de direitos culturais, equidade territorial, cultura viva, para que seja possível, a partir desse diálogo, estabelecer a construção metodológica do que esse espaço de formação pode se tornar”, destacou o secretário de Culturas de Niterói. “A ideia é coletar insumos e contribuições no congresso, começar com sessões virtuais em novembro e depois avaliar coletivamente e ver que continuidade pode ser dada a essa iniciativa experimental.”

Luisa Velásquez, representante de Guadalajara (México) na Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, lembrou que a intenção é escutar, estar aberta ao diálogo. “Nos círculos da palavra ouvimos várias vezes sobre a necessidade de formação, e na Rede de Cidades vimos esta oportunidade para este ciclo de formação. Embora as linhas temáticas sejam direitos culturais e equidade territorial, e elas já estejam claras, acreditamos que é importante co-construir os conteúdos e perfis. Sabemos que dentro do movimento existem pessoas com muita experiência, com conhecimento empírico”, disse.

Gerardo Padilla, secretário técnico da Carta de Direitos Culturais Unesco-San Luis, mencionou o processo de construção participativa desse instrumento na cidade de San Luis Potosí, tentando imaginar uma sequência, uma vez que há alguma demanda por parte do movimento para espaços de formação, para capacitação, e por outro lado, a falta de um programa de formação com/para/das organizações. 

Além disso, lembrou que em julho de 2021, após três sessões de trabalho no 2º Encontro de Cultura Viva Comunitária em Cidades e Governos Locais da América Latina, realizado em Zapopan e Guadalajara (Jalisco, México), a Rede de Cidades e Governos Locais chegou à redação final do seu Estatuto de Constituição. O documento, elaborado em colaboração com os representantes dos governos locais que participaram deste encontro, detalha a organização da rede em forma de comissões de trabalho. Uma delas, a Comissão de Formação, foi a que propôs a criação deste espaço de diálogo.

“Pensamos como este espaço de trabalho poderia ser desenhado, qual deveria ser o conteúdo, para onde deveria ir, quais capacidades deveria fortalecer, qual abrangência deveria ter, os melhores formatos… algo que a rede se propôs a resolver não só pelas miradas dos governos locais, mas pela perspectiva das organizações de base. O que estamos propondo hoje é pensar juntos, lançar as primeiras perguntas para saber qual deve ser o conteúdo, e até mesmo descobrir sua relevância, porque este é um passo importante para a Rede de Cidades e o programa IberCultura Viva, e o que queremos é pensar juntos todas e todos”, destacou Padilla.

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Questões norteadoras

Uma série de questões norteadoras foi elaborada para este encontro, para começar a delinear como deve ser um novo programa de formação promovido a partir do programa IberCultura Viva. A ideia era ter um espaço de conversa em torno de pelo menos seis perguntas, começando pela identificação desse espaço de capacitação. “Que capacidades precisamos fortalecer? Quais são as ausências? Quais são as necessidades? Quais são as capacidades que, entre todas, são as que precisamos ativar, trabalhar, gerar um dispositivo que as fortaleça?”, sugeriu Padilla.

A segunda questão que se projetou tinha a ver com as deficiências, com como resolver as ausências (quais são os conteúdos, que disciplina, que oficina, que espaço de troca não deve faltar neste espaço formativo que queremos imaginar?). A terceira versava sobre os melhores formatos de trabalho (virtual? híbrido? síncrono ou assíncrono?), e a quarta dizia respeito aos dispositivos que deveriam ser incluídos em um programa de treinamento com essas características.

A quinta pergunta, sobre como devem ser os perfis, foi dividida em várias: sobre o que queremos falar? O que queremos aprender? O que queremos ver acontecer em uma comunidade de aprendizagem? Que perfis devem ser? Existe um equilíbrio entre teoria e prática, uma equidade intergeracional? Por fim, quais são as prioridades? 

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Dois dias de discussões

A conversa inicial deste ciclo incluiu as pessoas que se inscreveram para participar do laboratório por videoconferência (cerca de 15) e levou mais de uma tarde, com continuação no dia seguinte, na Feira de Saberes do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária que aconteceu no Parque Cívico de Santa Clara, no distrito de Ate. Representantes de organizações culturais comunitárias, representantes de governos locais vinculados ao programa e membros do Grupo de Trabalho de Sistematização do IberCultura Viva participaram dos dois dias de discussões.

Entre os temas que os participantes mencionaram durante o encontro como importantes para essa construção coletiva estão desde acessibilidade e formação de formadores até influência política, estratégias de comunicação interna e externa, metodologias participativas, desenho de políticas públicas, monitoramento e avaliação de projetos, bem como a importância da adoção de metodologias de educação popular como ferramenta de trabalho e a necessidade de entrega de certificados de formação.

O grupo que participou virtualmente no primeiro dia de discussões trabalhou especialmente em torno de duas questões propostas: sobre as capacidades que deveriam ser fortalecidas e sobre como seria a estruturação desse espaço. Em relação à primeira questão, reforçaram a importância da capacidade decisória (“as organizações buscam mais protagonismo, mais participação”, defenderam). Também mencionaram a existência de valiosos projetos de formação, tanto de universidades como de organizações culturais, e recomendaram que isso fosse levado em consideração e que se reconhecesse que o processo não é homogêneo, que há países onde o acesso é mais fácil e outros menos.

Os participantes do debate por videoconferência também recomendaram que este projeto coloque em circulação um conjunto de conhecimentos da cultura viva comunitária e reconheça suas metodologias pedagógicas. Mencionaram também que os processos de pesquisa comunitária que não são publicados devem ser visibilizados, e que acham que não é necessário outro curso de pós-graduação, pois o IberCultura Viva já conta com o Curso de Pós-Graduação em Políticas Culturais de Base Comunitária ministrado pela FLACSO-Argentina (“não duplicar os esforços que já estão sendo feitos”, recomendaram). Por fim, comentaram que esse espaço poderia ser não só de pesquisa, mas também de ação, incidência, incluindo um observatório de políticas culturais comunitárias.

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Combinando saberes

“Estamos sempre no espírito de construção coletiva, e propomos isso também nesta área de trabalho”, reforçou Diego Benhabib, coordenador do programa Pontos de Cultura na Argentina e representante do país ante o programa, ao final do primeiro dia de discussões. “Sempre há tensões, (mas a ideia é) tentar combinar o conhecimento acadêmico e o popular, reavaliar e reconhecer os saberes populares e comunitários e colocá-los no lugar que deveriam estar.” 

Como salientou Benhabib, este trabalho parte de uma proposta da Rede de Cidades e Governos Locais, que tinha um orçamento exclusivo e quis colocá-lo também à disposição do movimento e das organizações culturais comunitárias em geral, “o que é muito valioso” e demonstra a necessidade de continuar com esses mecanismos de trabalho intersetorial. “Devemos pensar que aqueles de nós que estão participando nestas áreas são militantes desta causa, e temos que continuar a construir coletivamente, para melhorar as condições para todos e todas.”

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21

out
2022

Em Notícias

Por IberCultura

5º Congresso de CVC: um convite para a construção conjunta de um novo espaço formativo

Em 21, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

No quarto dia do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, terça-feira, 11 de outubro, os participantes se reuniram no pátio da Pousada Conafovicer, em Ate (Lima), para apresentar os relatórios dos países que tinham ficado pendentes no dia anterior, na Assembleia de Diagnóstico de CVC na América Latina. Ao final das contribuições das delegações, o vice-presidente do IberCultura Viva, Federico Prieto, e o secretário das Culturas de Niterói (Rio de Janeiro, Brasil), Alexandre Santini, tomaram a palavra para convidar o público a participar da construção conjunta de um espaço de formação vinculado ao programa.

Em seu discurso, Federico Prieto agradeceu ao Grupo Impulsor do 5º Congresso o convite para que o IberCultura Viva pudesse participar do evento, não de forma paralela (como ocorreu nas três edições anteriores, quando foram realizadas reuniões com o Conselho Intergovernamental e com governos no âmbito dos congressos), mas participando ativamente, tentando se envolver com os processos culturais. “Decidimos estar presentes para ouvir os processos, tomar nota e também aprimorar a política que pode ser gerada a partir do programa”, afirmou.

Além de Prieto, viajaram para o Peru a presidente do IberCultura Viva, Esther Hernández Torres; o representante (REPPI) da Argentina, Diego Benhabib; a secretária técnica, Flor Minici; três membros da Unidade Técnica; seis representantes do Grupo de Trabalho de Sistematização e quatro da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais. O programa também contou com a participação de 61 pessoas de 12 países por meio do Edital de Mobilidade.

Ao destacar a participação do programa no congresso, o vice-presidente explicou que o IberCultura Viva possui um fundo comum distribuído igualmente entre todos os países membros, que permite a realização de editais como os de Mobilidade e Apoio a Redes. Apontou também o espírito de cooperação, de construção conjunta, “para poder levar a perspectiva da cultura comunitária a muitos mais governos, a mais legislações, sempre a partir do campo do encontro, do diálogo e da reciprocidade entre as organizações”.

“O movimento CVC também vem propor incidência política, e isso não pode faltar. A incidência política é tão grande que fez com que muitos de nós que participamos do movimento hoje tivéssemos responsabilidades institucionais nos governos”, destacou Prieto, que atualmente é secretário de Gestão Cultural do Ministério da Cultura da Argentina. Antes de assumir este cargo, que também corresponde à vice-presidência do programa,ele  foi membro da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais como representante da província de Entre Ríos.

O convite que Prieto fez aos presentes foi para participar do lançamento do Ciclo de videodiálogos e do Laboratório “Direitos Culturais e Cultura Viva”, atividade da Comissão de Formação da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais agendada para aquela tarde. “Viemos fazer um convite para que você participe desse espaço de construção conjunta. Porque se há algo que queremos é que se apaguem as fronteiras políticas para termos realmente as fronteiras culturais do nosso continente. Que os rios, as montanhas, os mares, a selva, o deserto, também sejam capazes de conectar, de igualar, e não de separar, e não de gerar fronteiras entre um processo cultural e outro”, destacou.

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Ao lado dele estavam os quatro representantes da Rede de Cidades que participaram do congresso com o apoio do programa, e que também já fizeram parte do movimento CVC: Alexandre Santini (Niterói, Brasil), Luisa Velásquez (Guadalajara, México), Carola Gonzalez (Marcos Juárez, Argentina) e Tania Alvarez (Alajuelita, Costa Rica).

Alexandre Santini, que esteve presente em todos os Congressos Latino-americanos de CVC, falou em nome da rede sobre essa proposta de criar um espaço intersetorial de formação, tendo como conceitos básicos os direitos culturais e a cultura viva. “O processo começou a ser construído a partir da colaboração entre as cidades de San Luis Potosí (México) e Niterói, duas cidades que lançaram suas Cartas de Direitos Culturais, onde a questão da cultura viva e as organizações culturais comunitárias estão muito presentes”, ressaltou.

Segundo ele, o movimento CVC tem vocação para o poder, “mas para mudar o poder”, e nesse sentido o diálogo intersetorial é essencial. “A ideia é pensar no que vai ser este espaço formativo, a quem se destina, que conteúdos não podem ficar de fora, qual seria o melhor formato para o desenvolver”, explicou, lembrando que após o lançamento as discussões continuarão em sessões virtuais, com inscrições abertas a todas as pessoas interessadas.

20

out
2022

Em Notícias

Por IberCultura

Uma mesa de compromissos: propostas e desafios dos governos para a cultura comunitária

Em 20, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

Processos de incidência de organizações em diferentes instâncias dos Estados foram o tema de uma das atividades programadas para o sétimo dia do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária: a Mesa de Compromissos dos Estados. A atividade, realizada no dia 14 de outubro, no Colégio Santa Isabel, em Huancayo (Junín), contou com a participação de Flor Minici, secretária da Unidade Técnica do IberCultura Viva, e gestores culturais de dois municípios membros da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais: Guadalajara e Alajuelita.

Na mesa estavam Ronald Montero Bonilla, gestor cultural da Municipalidade de Alajuelita (Costa Rica); Luisa Velásquez, gestora cultural do Governo de Guadalajara (Jalisco, México), e Patricia Torres Sepúlveda, uma das coordenadoras regionais do programa Red Cultura, do Ministério das Culturas, das Artes e do Patrimônio do Chile. A moderação esteve a cargo de Pamela Otoya, integrante do Grupo Impulsor do 5º Congresso.

A ministra da Colômbia (no telão) anunciou a intenção de que o país seja a sede do 7º Congresso, em 2026

Antes do início das intervenções, a ministra de Cultura da Colômbia, Patricia Ariza Flórez, cumprimentou a plateia por videochamada. “Sei que tem gente de muitos países da América Latina, que é um evento cultural e histórico. Daqui, deste ministério, estamos trabalhando pela integração cultural da América Latina e Caribe, uma integração pela paz”, afirmou. Além de expressar seu respeito pelo movimento e por aqueles que têm promovido a cultura viva comunitária, “que vai desempenhar um papel muito importante na integração cultural”, a ministra propôs que a Colômbia sediasse o 7º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em 2026, o que foi recebido com aplausos no auditório.

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ALAJUELITA

Ao abrir a mesa de propostas e desafios dos governos para a cultura comunitária, Ronald Montero destacou que os governos locais não são nada sem a comunidade. “Não há governo local se não houver comunidade e, a partir desse princípio, o movimento de Culturas Vivas Comunitárias pode ser vinculado ao exercício dos direitos humanos culturais. Isso pode promover uma troca de conhecimento, de metodologias, do movimento para os governos locais e vice-versa”, comentou.

Montero também falou da importância de respeitar a autonomia, do movimento e dos governos locais, e de promover políticas culturais de base comunitária desde a comunidade, e não desde o marco institucional. Segundo ele, os governos locais são entidades estratégicas para dar visibilidade às ações realizadas pelas organizações nos territórios. “Essa articulação é fundamental, (e uma das propostas é) criar mesas de diálogo e mediação artística para uma abordagem respeitosa do setor, para que os governos locais possam ser promotores e não detratores do movimento. Também devemos buscar orçamentos participativos para financiar as ações do movimento, respeitando os marcos legais e jurídicos de cada instituição”, observou.

Entre os desafios, Montero destacou a responsabilidade de ambas as partes na implementação de ações que apoiem o desenvolvimento local. “Todos queremos comunidades melhores, queremos melhorar as condições de vida e trabalhamos para viver bem. Alguns desde o movimento, outros de alguma institucionalidade. Ambas as partes podem contribuir. E podemos contribuir para o desenvolvimento local como aliados, não como promotores de políticas partidárias de governo. Nem todos os gestores culturais respondem aos interesses políticos de um partido do governo. Existem programas implantados nos municípios onde a cultura é vista como mais um serviço municipal, como parte do desenvolvimento humano de um território”. 

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GUADALAJARA

Luisa Velásquez iniciou seu discurso contextualizando a complexidade da gestão local, já que Guadalajara – capital do estado de Jalisco, a segunda maior cidade do país –  é um município com cerca de 1 milhão 385 mil habitantes, mas em sua área metropolitana é constituída por mais oito municípios, autônomos e independentes, atingindo uma população estimada em mais de 5 milhões de habitantes, o que “implica uma visão metropolitana de gestão pública, de articulação intermunicipal”.

“Guadalajara é uma cidade que não tem uma regulamentação legal de direitos culturais, ao contrário de outras cidades, como a Cidade do México e San Luis Potosí, que têm uma importante legislação sobre direitos humanos na cultura”, afirmou. “Este é um dos principais desafios: conseguir construir um corpo jurídico que apoie a gestão cultural em direitos humanos com uma visão de equidade territorial. Nesta gestão temos o desafio de poder sair e deixar um instrumento legal que permita, por exemplo, que a participação do Conselho Municipal de Artes não seja disciplinar como agora. Porque há muitas vozes que não participam de uma disciplina artística, como é o caso da gestão cultural comunitária”, acrescentou.

A Coordenação de Cultura Comunitária da Diretoria de Cultura de Guadalajara implantou recentemente um programa de Pontos de Cultura com o objetivo de identificar, reconhecer, fortalecer e promover o trabalho em rede entre organizações sociais que mantêm um trabalho a partir das culturas vivas comunitárias, fortalecendo os processos de desenvolvimento individual e comunitário. “O que queremos é que tenha um corpo jurídico para que vire uma política, e não um programa que acabe quando a gente sair”, reforçou Luisa.

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CHILE

Patricia Torres Sepúlveda, por sua vez, parabenizou o movimento de Cultura Viva Comunitária pela incidência política que teve e que tem permitido avanços e transformações como as verificadas no Chile. Ao mencionar a formalização, em 2018, do Ministério das Culturas, das Artes e do Patrimônio (o Chile tinha antes um Conselho de Cultura), e com ele a criação do Departamento de Cidadania Cultural, a servidora destacou o vínculo com o compromisso latino-americano e o interesse em trabalhar com a base, com organizações culturais comunitárias. 

“Hoje, o programa Red Cultura continua mudando para ver como as organizações respondem”, afirmou, lembrando que o presidente Gabriel Boric afirmou em seu plano de governo seu desejo de criar um programa de Pontos de Cultura no Chile, “olhando para todos os países e todas as ações que realizaram na América Latina”. “Isso se consegue graças ao fato do movimento Cultura Viva Comunitária ter conseguido expressar sua demanda, ter conseguido influenciar”, enfatizou. 

Patricia Torres também destacou que no Chile querem construir o programa Pontos de Cultura desde as bases, e por isso estão realizando os “Diálogos Cidadãos”, espaços de participação e escuta onde as pessoas podem dar suas contribuições e dizer como querem que seja esse programa. Essas rodas de conversa serão realizadas nos meses de outubro e novembro em todas as regiões do país. 

Segundo ela, o desafio é continuar avançando na governança local, na mediação. “Que o movimento no Chile seja fortalecido e consiga dialogar tanto com os municípios, a governança local, quanto com o governo. Percebemos que precisamos conversar, circular e nos encontrar. O desafio é que, quando estivermos prontos, comecemos a dialogar como deve ser e possamos continuar caminhando juntos. Existe uma disposição política, existe uma disponibilidade do quadro institucional”, afirmou, referindo-se a Marianela Riquelme, chefe do Departamento de Cidadania Cultural e representante (REPPI) do Chile perante o programa IberCultura Viva, que tem se dedicado a fortalecer e tornar visíveis as políticas públicas de base comunitária. 

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IBERCULTURA VIVA

Ao tomar a palavra na mesa, Flor Minici agradeceu ao Grupo Impulsor o convite ao programa para participar do encontro. “A experiência é muito enriquecedora porque saímos com muitas demandas. Quando nós que desempenhamos um papel institucional participamos desses espaços, o fazemos de forma ética, em termos de justiça social, com a vocação de ouvir, anotar, trazer demandas e reforçar o compromisso de continuar aprofundando as políticas que ali existem e criá-las onde não existem”, afirmou.

Além dos agradecimentos, Minici mencionou a intenção de continuar com este espaço de diálogo, desde a cordialidade, o respeito, a integração, a solidariedade e a cooperação. “Entendo que é um ponto em comum que todos temos aqui, independentemente dos contrapontos que possam surgir e que é muito saudável”, afirmou, destacando também o convite que foi feito às companheiras e companheiros do Grupo de Trabalho de Sistematização e a Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, para que participassem de diferentes atividades de formação, intercâmbio e debate ao longo dos oito dias do evento.

“Acho que este congresso está em um momento dramático, não só pela desigualdade histórica que a América Latina atravessa, mas porque hoje, em 2022, os níveis de desigualdade na região aumentaram exponencialmente. Há quase 30 milhões de novos pobres na América Latina que vivem na pobreza e na extrema pobreza após a pandemia. Acredito que temos uma agenda política na qual temos que intervir porque essa fratura social que a pandemia e a desigualdade produzem em nossa região também possibilita o surgimento e o avanço de movimentos antidemocráticos, desestabilizando a democracia”, afirmou.

Segundo ela, essa discussão sobre políticas antidemocráticas e de desigualdade não é apenas uma discussão de funcionários, de ministérios, mas uma discussão da comunidade. “Não acreditamos que movimentos desestabilizadores na América Latina só ganhem eleições. Para ganhar eleições, por muitos anos eles constroem comunidade, eles entram nas nossas comunidades, eles constroem centros culturais, bibliotecas populares, eles constroem igrejas, espaços seculares, espaços que os que estão aqui disputam diariamente, colocando o corpo em suas organizações, em suas comunidades. 

Minici fez um convite em nome do programa, para que continuemos construindo aliança e articulação. “Se nós que acreditamos que a desigualdade deve ser erradicada na América Latina não nos juntamos, e não só discutindo a pobreza, mas também discutindo a riqueza e a concentração da riqueza, não conseguiremos construir. É com esse espírito que pretendemos continuar construindo parcerias e alianças entre órgãos governamentais e organizações comunitárias”, destacou.

Por fim, a secretária técnica chamou a atenção para a necessidade de alianças do movimento Cultura Viva Comunitária com outros militantes da América Latina, como os movimentos feminista, ambiental e de direitos dos povos indígenas. “Todos os movimentos populares dos próximos anos vão ter uma dura tarefa, e aí, os servidores que estão sentados aqui nesta mesa, que sabem que falta muita coisa, mas que estão participando dos debates aqui, não vamos dar como certo, porque você sabe que muitas vezes alguém bate na porta e não é atendido.”

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Confira a transmissão da mesa:

https://www.facebook.com/CongresoCVCLatAm/videos/1348278982593093

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20

out
2022

Em Notícias

Por IberCultura

Célio Turino apresenta a versão em espanhol do livro “Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina” 

Em 20, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

Célio Turino passou os últimos 12 anos viajando pela América Latina. Convidado a participar de conferências, conversatórios e os mais variados encontros para falar sobre Cultura Viva e Pontos de Cultura – ideia que ajudou a criar no Ministério da Cultura, onde foi secretário de Cidadania Cultural entre 2004 e 2010 –, o historiador, escritor e gestor cultural brasileiro realizou mais de 50 viagens nesse período. O convite sempre foi para falar, mas nessas visitas ele também ouviu muitas histórias, viu e sentiu os processos nas comunidades, e voltou querendo sistematizar tudo. Quem o incentivou a fazer em formato de livro foi o Papa Francisco.

No lançamento do livro “Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina” no Peru, Turino detalhou esta história: “O Papa Francisco é um grande entusiasta dos Pontos de Cultura. Ele conheceu a experiência quando ainda era arcebispo em Buenos Aires, quando organizou um programa chamado Escuelas de Vecinos. A ideia dos Pontos de Cultura era muito parecida com o que ele pensava, com o que pretendia fazer com as Escolas de Vizinhos. Em 2015 nos encontramos no Vaticano, depois tivemos outros encontros, e num desses momentos eu estava contando essas histórias e ele me disse: ‘Por que você não escreve um livro sobre a América Latina?’ Como uma sugestão de Francisco não pode ser negada, aceitei o desafio e, com o apoio de uma organização do Brasil, o Instituto Olga Kos, conseguimos fazer as viagens. Não para falar. Viajei apenas para ouvir e anotar as histórias”. 

A versão em espanhol deste livro, publicada em formato digital pela argentina RGC Ediciones com o apoio da IberCultura Viva, foi lançada na quarta-feira, 12 de outubro, na Feira de Saberes do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. Em uma das tendas montadas no Parque Cívico Santa Clara, no distrito de Ate (Lima), cerca de 30 pessoas se reuniram para ouvir Célio Turino em sua participação por videoconferência. Ao longo de mais de 30 minutos, ele falou sobre a experiência de escrever este livro, ouviu comentários e respondeu algumas perguntas dos participantes, que vieram de vários países, como Panamá, Chile, Argentina e Paraguai.

Célio Turino participou do lançamento por videoconferência

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A força das comunidades

Turino iniciou sua apresentação falando sobre o início do movimento, como foi decidido que o 1º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária teria como sede a Bolívia. Contou que tudo começou com a “Caravana pela Vida – De Copacabana a Copacabana”, que saiu do Lago Titicaca, na Bolívia, rumo à Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no final de maio de 2012. Cerca de 25 pessoas estavam neste ônibus, a maioria integrantes do Teatro Trono, fundado por Iván Nogales (1963-2019), que foram à Cúpula dos Povos da Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, e fizeram uma série de apresentações ao longo do caminho. (Esta caravana foi um marco no movimento de Cultura Viva Comunitária. A bravura de seus integrantes inspirou pessoas de vários países a quererem fazer o caminho de volta, mobilizando-se para realizar o primeiro congresso na Bolívia, com a Caravana para La Paz.)

“Agora estamos no 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. Parabéns a todos que estão nessa empreitada autogestionada e muito potente”, comemorou o escritor, que também parabenizou a editora argentina RGC, que já havia lançado um livro de sua autoria em 2013 (Puntos de Cultura, cultura viva en movimiento). “É uma editora significativa que compila este novo fazer da gente que produz de baixo para cima, a partir da potência das comunidades”, destacou. Os dois livros de Turino lançados pela RGC em formato digital têm acesso gratuito, porque segundo o autor, o importante é lançar as ideias ao vento, “oferecer as sementes para alguém apanhar, plantar e cultivar”. “É assim que nasce a cultura viva.”

As viagens relatadas no livro foram realizadas em sua maior parte em 2017. A primeira versão dessas narrativas foi publicada em uma edição especial do Instituto Olga Kos, com o título Cultura a unir os povos: a arte do encontro. Esta edição (esgotada), em formato de livro de mesa, foi lançada em 2018 em Castel Gandolfo, o castelo de verão do Papa Francisco. A segunda versão, revisada e ampliada, saiu em 2020 pelas Edições Sesc São Paulo, com 360 páginas, e o título Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina. A publicação em espanhol que agora sai com o apoio do IberCultura Viva é uma tradução desta versão 2020 adaptada para leitura em tela, com 565 páginas.

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Capítulos extras

A edição em espanhol conta com dois capítulos extras, dedicados ao Chile e ao Paraguai. O Ministério da Cultura, das Artes e do Patrimônio do Chile convidou Turino para conhecer o trabalho de organizações culturais comunitárias de diferentes regiões do país depois que o Conselho Intergovernamental IberCultura Viva decidiu financiar a tradução do livro para o espanhol. O convite para ir ao Paraguai partiu de um Ponto de Cultura de Areguá, El Cántaro Bioescuela Popular, para uma participação na segunda edição dos Intercâmbio de Saberes para a Gestão Cultural Comunitária.

O escritor contou em sua apresentação que, no caso do Chile, optou pelo tema da construção do ser coletivo a partir da experiência do país (daí o nome do capítulo: Cultura y el sujeto colectivo. Sembrando semillas en la cordillera“). As histórias do Paraguai entraram no capítulo final, “Cultura: Tiempo y espacio compartido en el vientre de Sudamérica”. Turino explicou que, assim como vê a Bolívia como “o coração da América do Sul”, vê o Paraguai como “o ventre” do continente. “É como uma ilha, mas rodeada de terra, e mais interior, como o útero, como o ventre”, comparou o autor, que partiu da ideia do ñanduti (“teia de aranha” em guarani), das rendas de fios delicados, mas também fortes, de tecelãs locais, para expressar o refinamento cultural do povo paraguaio.

Joe Giménez, fundadora do El Cántaro, esteve no lançamento da publicação na Feira de Saberes do 5º Congresso e aproveitou para agradecer mais uma vez a Célio Turino pela visita à bioescola de Areguá e por somar a experiência ao livro. “Houve um antes e depois no meu país”, disse Joe a Célio Turino. “A frase ‘Dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo’ (do matemático grego Arquimedes de Siracusa, também citado por Turino no livro) ficou muito na nossa memória. Para nós, é incrível que os funcionários públicos comecem a falar de você, comecem a usar essa frase. Sua presença no Paraguai nos ajudou muito a fortalecer esse vínculo. Celebro sua existência! O Paraguai, esta terra guarani, está sempre esperando por você”.

Joe Gimenez, fundadora de El Cántaro, que levou Turino para uma visita ao Paraguai

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Agradecimento ao trabalho

Quem também agradeceu ao escritor pelo trabalho que vem desenvolvendo foi a argentina Gisela Pérez, do Centro Cultural e Biblioteca Popular La Carcova, um Ponto de Cultura localizado em um bairro popular da região metropolitana de Buenos Aires (José León Suárez, distrito de San Martín), na periferia do aterro sanitário e também de um complexo prisional. “Gostaríamos de agradecer o seu trabalho em toda a América Latina e convidá-lo a vir a San Martín e à Área da Reconquista, para visitar as bibliotecas e espaços de cuidado, as cooperativas de reciclagem. Existe toda uma rede de organizações que se unem e confiam umas nas outras, para que a partir dessa confiança possamos construir o desenvolvimento local, a boa convivência no nosso bairro. Essa comunidade produz cultura, produz economia, produz presente e futuro”, afirmou a presidenta de La Carcova, também integrante da Mesa Reconquista.

Diego Benhabib, coordenador do programa Pontos de Cultura na Argentina e representante (REPPI) do país no IberCultura Viva, reforçou sua gratidão a Célio Turino, “uma pessoa que nos inspira, não só para desenvolver e trabalhar políticas culturais de base comunitária, mas também transformar nossas percepções sobre as questões relacionadas à natureza, ao bem viver, ao poder colocar um ponto e poder modificar as coisas, com um horizonte coletivo de transformação”.

Emiliano Fuentes Firmani (D) lembrou os 4Cs da cultura: “cuidar, compartilhar, colaborar e cooperar”

Por fim, o editor Emiliano Fuentes Firmani, ex-secretário técnico do IberCultura Viva, falou em nome da RGC Ediciones, citando o que Célio Turino disse anteriormente sobre a ideia de trabalhar para lançar ideias ao vento. “O paradigma da cultura viva comunitária tem a ver com o que chamamos  de 4Cs da cultura: cuidar, compartilhar, colaborar e cooperar”, destacou, comentando o fato de o autor ter permitido que o livro estivesse aberto a todos, em acesso público, o que considera “coerente com a prática comunitária”.

Para Emiliano, a primeira parte do livro, mais teórica, deveria ser leitura obrigatória para todas as pessoas que trabalham com políticas públicas: “Célio trabalha com a matemática da vida. Originalmente, havia armado essa equação de que um ponto de cultura = autonomia + protagonismo social elevado à potência das redes. Aí ele aprofunda seu pensamento matemático, incorpora o tema de Arquimedes (que trouxe Joe Gimenez) e vai além, fazendo uma ligação entre a cultura viva comunitária e a cultura do encontro (da qual fala o Papa Francisco), para construir um novo horizonte civilizatório.  

A cultura do encontro, explicada no livro, é um conceito desenvolvido por Jorge Bergoglio, o Papa Francisco, que pressupõe o encontro das três linguagens do ser: coração, mente e mãos. Expressa-se na ideia de sentir-pensar-agir e se realiza a partir da integração e diversidade entre indivíduos e comunidades, rompendo com a fragmentação e buscando a unidade. É o estímulo para o encontro entre os diferentes, buscando a unidade na diversidade. 

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Baixe o livro gratuitamente em https://bit.ly/PorTodosLosCaminos

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18

out
2022

Em Notícias

Por IberCultura

Terceiro volume da coleção IberCultura Viva é lançado no 5º Congresso Latino-americano de CVC

Em 18, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura

“Redes na rede: Relatos do 4º Encontro de Redes” é o terceiro volume da coleção IberCultura Viva, que a Prefeitura de Medellín (Colômbia) desenvolveu em coordenação com o programa no âmbito da Rede de Cidades e Governos Locais. Esta edição em formato digital, com 85 páginas, está disponível com acesso gratuito no site www.iberculturaviva.org desde 12 de outubro, dia em que foi lançada na Feira de Saberes do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, no Peru. 

A publicação sintetiza três conversatórios que se realizaram no 4º Encontro de Redes IberCultura Viva, de maneira virtual, em setembro e outubro de 2020: “Educação popular, arte e transformação social”, “Saúde e cultura comunitária” e “Desafios das organizações culturais comunitárias em torno dos direitos das mulheres e diversidades sexuais e de gênero.”

O lançamento desta edição na Feira de Saberes que se armou no Parque Cívico de Santa Clara, no distrito de Ate (Lima), contou com a presença de uma das pessoas que participaram do debate sobre gênero e cultura comunitária. A peruana Celia Solís, que esteve em um dos painéis realizados em 11 de setembro de 2020, foi convidada pelo IberCultura Viva para apresentar este livro no 5º Congresso, para contar sua experiência como líder social no bairro La Balanza, localizado no bairro de Comas, e seu trabalho no Centro Cultural e Comedor Popular San Martín del Once

Celia Solís começou a trabalhar no San Martín del Once em 2000; assumiu a presidência em 2007 e entre 2012 e 2019 participou do processo de transformação do comedor num centro cultural, no âmbito do projeto Fitekantropus. O projeto tem origem na FITECA (Fiesta Internacional de Teatro de Calles Abiertas), evento cultural lançado há 20 anos no bairro de La Balanza.

Diego Benhabib e Celia Solís no lançamento do livro

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Um sonho de mães e jovens

No lançamento do livro, ela contou que tudo começou com uma grata experiência com um grupo de jovens organizados no bairro. “Os malucos do bairro, era assim que a gente os chamava. Demos comida para eles e muita coisa aconteceu, começamos a nos organizar, sempre com a FITECA, uma organização de teatro de rua que luta muito pelo bairro. Com o movimento da FITECA conseguimos contatar muitos peruanos dispostos a nos ajudar, depois fazer acordos com países amigos, como a Espanha, e com isso conseguimos apoio para a construção do refeitório, que aconteceu de 2009 a 2013”, comentou.

Segundo Celia, foi uma longa trajetória de organização, de conversas, para criar este espaço pensado não só para um grupo, mas para todos. “Eles disseram que era mentira, que não poderia ser alcançado, mas nós dissemos que era uma porta aberta e que tínhamos que aproveitar ao máximo”, ressaltou. “Fizemos o trabalho, e ali participaram crianças, jovens, adultos, idosos. As oficinas eram exaustivas, aos sábados e domingos. Nós éramos as mães e os jovens do bairro e conseguimos conscientizar as pessoas sobre isso, que todos têm direito, inclusive os pequenos. Porque os jovens tinham um campo, e para os outros era um espaço vazio e sujo. Queríamos espaço para todos. E conseguimos construir isso, o melhor de tudo foi construir isso, e foi graças à FITECA.”

Graças ao trabalho coletivo, hoje no bairro de La Balanza existe um grande refeitório, usado todos os dias; um espaço multiuso no segundo andar; uma biblioteca para os menores; uma pista de skate; um parque bom para futebol e vôlei; um pequeno jardim que estão tentando recuperar. “O que eu quero dizer é o seguinte: quando você quer alcançar algo, você deve perseverar nisso. Trabalhe, trabalhe e persevere. Pela força, pela vontade, as coisas saem. Isso aconteceu conosco”, afirmou a dirigente, que vem de Apurímac de Abancay. “Apurímac significa ‘deus que fala’, acho que trouxe algo assim. Há alguns anos eu não falava nada. Ao ir para o comedor, aprendi a falar, aprendi a me comunicar. Eu mesma não acredito.”

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Construindo comunidade

Diego Benhabib, representante da Argentina no programa IberCultura Viva, que acompanhou as sessões do 4º Encontro de Redes em 2020, comentou o relato comovente de Celia Solís, expressão de uma infinidade de experiências e iniciativas que as organizações culturais comunitárias têm nos territórios. “Sem este esforço organizativo e esta concepção solidária de vida seria impossível melhorar as nossas condições. Esse trabalho territorial que eles fazem é fundamental e acredito que seja o germe pelo qual cada um de nós está neste espaço, construindo coletivamente comunidade, construindo cultura e trabalhando em conjunto para melhorar as condições de vida de nossas comunidades”, apontou o coordenador do programa Pontos de Cultura da Argentina.

Para Benhabib, as organizações culturais comunitárias são escolas de cidadania, “escolas onde se produz conhecimento, experiências valiosas que nos fazem transformar a própria vida e a dos demais”. Esse protagonismo adquirido pela comunidade organizada  – e que produz transformação nas pessoas, nos grupos e nos bairros – faz parte da essência política de um programa como o IberCultura Viva, que reúne 11 países ibero-americanos (e um 12º que está por entrar, o Paraguai). “Esses trabalhos de incidência fazem com que os Estados estejam presentes de forma articulada em um programa como o IberCultura Viva, que funciona como um farol para o desenvolvimento de políticas culturais de base comunitária”, afirmou.

Falando em nome do programa, o representante argentino também agradeceu à Prefeitura de Medellín, que vem produzindo esta coleção de livros em parceria com o IberCultura Viva. O primeiro volume publicado foi Puntos de Cultura Viva Comunitaria Iberoamericana, com histórias do 2º Encontro de Redes IberCultura Viva (2017), e o segundo, Ideas de Cultura Comunitaria, que reúne as obras selecionadas na convocatória de textos do IberCultura Viva lançada em 2016. 

“Esses livros fazem parte do patrimônio cultural que produzimos coletivamente a partir do programa, com as vozes de companheiras e companheiros que nos contaram essas histórias, suas trajetórias, seus trabalhos”, observou. “Publicações desse tipo contribuem para continuar construindo a memória, no contexto de construção coletiva que as organizações fazem e que muitas vezes fazemos junto com os Estados, com as políticas públicas. No IberCultura Viva procuramos sempre acompanhar esses processos e reconhecemos o valor da cultura comunitária como agente transformador. Cultura comunitária, como bem disse Célio Turino, é a forma de entender o mundo a partir do nosso próprio território, de cuidar do outro e da outra”. 

O próximo livro da coleção será o segundo volume de “Redes na red: Relatos do 4º Encontro de Redes  IberCultura Viva”, com a sistematização de outros conversatórios, sintetizando as principais ideias e propostas apresentadas nas mesas “Estudos sobre cultura comunitária”, “Políticas culturais e cultura viva comunitária” e no encontro da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais (“Habitar territórios e cidades locais no novo normal”). 

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10

out
2022

Em Destaque
Notícias

Por IberCultura

Pontos de Cultura na América Latina: versão em espanhol do livro de Célio Turino sai em formato digital

Em 10, out 2022 | Em Destaque, Notícias | Por IberCultura

(Fotos: Mario Miranda Filho)

Célio Turino dedicou sua vida a pensar e executar políticas públicas em larga escala, atraído pelas ideias da cultura do encontro. Escritor, historiador e gestor cultural, foi secretário de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura do Brasil e um dos idealizadores e do programa Cultura Viva, implantado no país em 2004 e transformado em política de Estado em 2014 com a sanção da Lei 13.018. Suas andanças pelo continente para falar sobre esse modelo de política pública “de baixo para cima” resultaram no livro Por todos los caminos: Puntos de Cultura en América Latina, que foi lançado em português em 2020 e agora ganha tradução para o espanhol com o apoio do IberCultura Viva. 

A publicação será apresentada no Peru, na quarta-feira, 12 de outubro, na Feira de Saberes do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. O lançamento será às 11:00, no Parque Cívico Santa Clara, no distrito de Ate (Lima), aberto a todas as pessoas interessadas.

A edição que sai em espanhol – em formato digital, com acesso aberto – é a tradução da edição revisada e ampliada que saiu em 2020 no Brasil, por Edições Sesc São Paulo. (Antes, em 2017, ele havia publicado uma edição mais visual, pelo Instituto Olga Kos, como um livro de arte, com o título Cultura para unir os povos: a arte do encontro). O livro agora publicado pela RGC Ediciones tem mais de 550 páginas e dois capítulos extras dedicados ao Chile e ao Paraguai. 

Os capítulos que encerram a publicação foram escritos no segundo semestre de 2022, após as viagens do autor ao Chile e ao Paraguai para conhecer o trabalho e as histórias de diferentes organizações culturais comunitárias nos dois países. O Ministério das Culturas, das Artes e do Patrimônio do Chile, que convidou Turino para esta visita, implementará um programa de Pontos de Cultura em 2023. No Paraguai, o convite partiu de uma organização reconhecida como Ponto de Cultura, El Cántaro Bioescuela Popular, para que ele participasse da segunda edição dos Intercâmbios de Saberes para a Gestão Cultural Comunitária, realizada com o apoio da Secretaria Nacional de Cultura.

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Andanças

Desde que deixou o Ministério da Cultura do Brasil, em 2010, Célio Turino tem sido convidado a viajar para diferentes países da América Latina, para falar sobre este modelo de política pública que ajudou a criar e que estabeleceu novos parâmetros de gestão e democracia, aplicando conceitos como “Estado-rede” (Manuel Castells) e “Estado ampliado” (Antonio Gramsci). Tendo como base de apoio os Pontos de Cultura – ou seja, as entidades ou coletivos culturais certificados pelo Ministério da Cultura –, o programa apostou num processo vindo de baixo para cima, dando força e reconhecimento institucional a organizações da sociedade civil que já desenvolviam atividades culturais em suas comunidades.

Nos últimos 12 anos, foram mais de 50 viagens a países da América Latina para falar sobre Pontos de Cultura e compartilhar suas ideias sobre cultura viva comunitária, bem viver e cultura do encontro. Convidado para conferências, palestras e encontros com representantes de governos, instituições e organizações culturais comunitárias, Turino se acostumou a falar. Para este livro, no entanto, quis ouvir e observar. 

Para recolher as experiências apresentadas em Por todos os caminhos, o historiador passou quatro meses de 2017 viajando, visitando comunidades, reencontrando amigos, conhecendo pessoas, ouvindo histórias, observando, anotando. Em suas andanças, do México ao Chile, do Atlântico ao Pacífico, “atravessando a América Central, com seus vulcões e memórias, passando da selva ao deserto, das planícies às montanhas, das metrópoles às cidades e vilas”, pôde observar laboratórios originais para a reinvenção da vida social, da política, da economia e da relação entre o ser humano e a natureza. Era isso o que ele queria compartilhar com este livro. 

Mulher no memorial em homenagem aos jesuítas assassinados durante a guerra civil salvadorenha, na Universidade Católica Centro-americana de El Salvador

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“Livro carta”

Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina é um “livro  carta”, segundo o autor, com histórias que viu, viveu e sentiu. Uma carta com histórias de práticas ancestrais e comunitárias que nos cercam, com narrativas de personagens vivos, atuantes em seus territórios, que lhe chamaram a atenção pelo que tinham de excepcional e também pelo que tinham em comum. Uma carta ao passado, “em busca de luz e força para a reinvenção do futuro”. Uma carta ao presente, para aquelas pessoas que, diariamente, mudam o mundo a partir de suas comunidades. 

“Para esse livro mudei o meu papel, fui um escutador e na escuta me esforcei em transmitir as histórias como um narrador, oferecendo elementos para que as pessoas pudessem penetrar nessas histórias, conhecendo as pessoas e suas formas de pensar e agir. Nos tempos atuais fala-se muito de identidades, mas identidade sem alteridade não gera solidariedade e emancipação coletiva. Com o livro procurei demonstrar que é possível fazer com que alteridade e identidade caminhem lado a lado”, comentou o autor em entrevista ao IberCultura Viva. 

A publicação está dividida em duas partes. Na primeira, mais teórica, o autor explica os conceitos fundamentais e tenta demonstrar como a cultura viva é realizada a partir de equações matemáticas. Na segunda parte, dedicada a histórias de vida e processos culturais promovidos por organizações em seus territórios, ele muda sua forma de escrever, posicionando-se como um narrador que vai alinhavando pontos de identidade ancestral e contemporânea dos diversos países por onde passou, falando de “pessoas comuns” e sua capacidade de mudar suas realidades. “Comum talvez não seja a palavra mais adequada, embora esse seja o conceito historiográfico, porque são pessoas e histórias extraordinárias”, diz.

Fachada da Biblioteca comunitária Don Quijote y su Manchita em Santa Rosa, Peru .

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Compromisso

A decisão de financiar a tradução do livro para o espanhol foi acordada* na 12ª Reunião do Conselho Intergovernamental do IberCultura Viva, realizada no México nos dias 24 e 25 de março de 2022. Para os e as representantes dos países membros do IberCultura Viva, este apoio reforça o compromisso dos governos com as organizações culturais comunitárias, sujeitos principais com os que se trabalha no programa, e em particular com os Pontos de Cultura, que são a principal referência de política cultural de base comunitária no Espaço Ibero-americano. 

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. Onde baixar a versão em espanhol: https://bit.ly/PorTodosLosCaminos

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(*) Considerada uma importante contribuição para a constituição do sistema de informação cultural que promove o programa, a tradução para o espanhol deste livro faz parte da atividade “Promoção para a realização de estudos e pesquisas sobre políticas culturais de base comunitária”, prevista no Plano Operativo Anual (POA 2022).

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Confira o vídeo editorial do SESC-SP em que Célio Turino fala sobre o livro

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Pontos de Cultura: Cultura Viva em Movimento (RGC Ediciones, 2013)

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