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IberCultura Viva lança seus três editais de 2016
O programa IberCultura Viva abre nesta segunda-feira (19/09) as inscrições para três editais voltados a experiências culturais de base comunitária: um para apoio a redes, outro para a seleção de textos a serem publicados em um livro, e um concurso de videominuto chamado “Mulheres: Culturas e Comunidades”. Serão distribuídos US$ 100 mil para o Edital de Apoio a Redes e US$ 5 mil para o concurso de vídeos. O edital de artigos não terá prêmios em dinheiro.
As inscrições estarão abertas até 1º de dezembro. Para obter mais informações e baixar regulamentos e formulários:
Edital para a seleção de textos sobre políticas culturais de base comunitária
Edital de apoio a redes de cultura de base comunitária
Concurso de videominuto “Mulheres: culturas e comunidades”
Ventana a la biodiversidad: a criatividade como ponte de entendimento entre as culturas
Em 14, set 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Imagine uma corrente de videocartas. Um grupo escolhe uma problemática ambiental de seu contexto e desenvolve um documentário descrevendo a situação, as dificuldades que têm, suas estratégias para enfrentá-las. Outro grupo toma então destaque para dar resposta às problemáticas apresentadas pelo grupo anterior. Ao subir um novo vídeo, propõe uma nova problemática, começando então uma nova corrente…
É assim que funciona “Same same, but biodiverse” (É a mesma, mas biodiversa), a tripla obra multimídia criada por jovens yucatecos (México), guaranis mbya (Brasil) e bascos (Espanha) após a realização de oficinas de criatividade colaborativa nos três países participantes. Os vídeos são produtos do projeto Ventana a la Biodiversidad, um dos sete ganhadores da categoria 3 do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, lançado em 2015.
Buscando explorar e entender as semelhanças e diferenças de problemáticas ambientais em diferentes culturas, a partir de um ponto de vista crítico e criativo, os grupos tratam nos vídeos de questões como agricultura ecológica versus agroquímica, problemas derivados do desmatamento, contaminação de espaços naturais e exploração insustentável de recursos naturais.
Intercâmbio
Ventana a la Biodiversidad, o projeto apresentado ao programa IberCultura Viva por organizações do México (Cultura Savia A.C.), Brasil (.txt Texto de Cinema) e Espanha (Unesco Etxea – Centro Unesco del País Vasco), é uma iniciativa de criação artística colaborativa e intercultural que manifesta o vínculo existente entre imaginário cultural e biodiversidade, em comunidades que habitam espaços naturais de especial riqueza biológica e/ou ecológica, e seu potencial para aumentar a resiliência das comunidades ante situaciones de crise ambiental.
O diálogo criativo se baseia no aprendizado de cosmovisões que conectam cultura e natureza, assim como no intercâmbio de experiências na aplicação de conhecimentos tradicionais vinculados à proteção da biodiversidade que podem ser úteis em contextos diferentes aos que foram gestados. As ferramentas para articular este diálogo foram as três oficinas de arte colaborativa onde foram criados os conteúdos multimídia. A ideia era ter conteúdos do tipo “crowdsourced”, criados por membros de diferentes culturas seguindo um único conceito.
Na Espanha
As oficinas no País Basco foram realizadas em julho de 2016 na Reserva da Biosfera de Urdaibai, na costa de Bizkaia. Nove pessoas (sete mulheres e dois homens) participaram das atividades organizadas pela Unesco Etxea, com o apoio do governo basco e da EKO Etxea (entidade gestora da reserva).
Guillermo Maceiras, cofundador e coordenador criativo da plataforma Ventana a la Diversidad, conta que as gravações foram em uma zona onde existe um debate sobre as aves autóctonas e as “invasoras”, o que deu pé a uma bela parábola com a temática da migração de pessoas, seja por causas econômicas ou como refugiados sociais e políticos. “Também se gravou na costa, onde a problemática do plástico foi tratada a partir de um ângulo muito esclarecedor: a reciclagem não é suficiente, há que se reduzir a dependência deste material em nossas vidas”, acrescenta.
Pela primeira vez foram provados dois formatos no projeto. Além do típico vídeo em formato 1×1, com texto informativo no lugar de diálogos, se utilizou um “hyperlapse”, uma poesia visual criada a partir das centenas de fotografias tiradas durante uma tarde por parte das participantes.
No México
Antes, em abril, foi a vez do México, onde as oficinas reuniram 17 pessoas (nove mulheres, oito homens) na Reserva Biocultural do Puuc, no interior do estado de Yucatán. Cultura Savia foi a organizadora, com o apoio da JibioPuuc (Junta Intermunicipal Biocultural do Puuc) e da Universidade Tecnológica do Sul.
A gravação se concentrou nas populações isoladas, onde ainda existem templos Mayas sem proteção patrimonial. “A ideia surgiu dos próprios participantes como uma maneira de reclamar proteção, mostrando sua beleza e a vinculação com a cultura viva das pessoas que seguem habitando o lugar”, afirma Maceiras, a quem surpreendeu “a imensa capacidade de autogestão” que teve a equipe, capaz de resolver problemas surgidos durante a pré-produção e as filmagens.
No Brasil
No mês seguinte, em maio, se deu a oficina de cinema e mídia menor na Aldeia Mata Verde Bonita Ka’aguy Hovy Porã, localizada em Itapuaçu, perto de Maricá, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Foram duas semanas de trabalho com crianças, jovens e adultos e um cineasta indígena (Miguel Verá Mirim). Ali foram realizadas cinco mídias de “palavras-afetos” e duas videocartas. O grupo também trabalhou num vídeo sobre educação mbya-guarani de Verá Mirim.
Os primeiros dias foram de acompanhamento das atividades da vida na aldeia. Como já existia uma boa relação entre Verá Mirim e os jovens cineastas indígenas com o Coletivo Cinema 7 Flexas (facilitador do trabalho), as coisas fluíram bem. “Partimos dessa relação já estabelecida para criar a nossa, tecer nossa relação e experimentar juntos. Então cozinhávamos, limpávamos, brincávamos até …. chegar a hora desse outro trabalho que era fazer filmes”, conta o cineasta e facilitador de oficinas Ж (KK, o “Kaká”).
“O trabalho de oficina, de cursos, para nós da .txt, é relacional. É desenvolver um saber-fazer radicante, dar as condições para que emerja o que já existe no lugar, o que está em potência. Para que isso possa se dar temos que estar perto, olhar de perto, ser visto, estar vulnerável no sentido pleno disso: aceitar ser ‘comido’ pelo outro e aceitar ser outro também”, ressalta Ж.
Metodologias
No Brasil o grupo se dividiu numa escala geracional. As crianças nunca tinham participado das oficinas e filmes do Verá Mirim nem das oficinas com o Coletivo Cinema 7 Flexas. Com eles se desenvolveu então uma metodologia própria, baseada no ver-ouvir do cineasta Paul Sharits. “Fizemos um filme curto, com movimento e algumas cores que o Verá Mirim nos disse serem importantes para a cosmogonia dos mbya-guarani e mostramos para a meninada. Depois disso trabalhamos com mapas e espaços interiores para que eles identificassem na aldeia, feita mapa, os lugares, as situações que mais gostavam. Daí saíram as mídias, as palavras-filmes dos primeiros trabalhos”, explica Ж.
Os jovens e adultos já tinham participado de oficinas, puderam reconhecer o que já sabiam e repassar o que sabiam. Muitos dos adolescentes, no entanto, não tinham experiência prévia em cinema e mídia. A eles foi sugerida a elaboração das videocartas, tendo como tema o contexto socioambiental e as formas de re-existir neste tempo geológico. Das conversas e projeção de outras videocartas chegaram à forma-expressão dos videos “Ayvu Anchtengua “(Palavra verdadeira) e “Tapé Porã” (Caminho aberto).
A metodologia ds videocartas é desenvolvida há anos pela equipe do projeto Ventana a la Diversidad, com quem a organização .txt já havia dividido um projeto de formação no Brasil chamado “Fazer o mundo fazendo vídeo”. Ж e Guillermo se conheceram na Guatemala, em um encontro no Centro Cultural de Espanha, e desde então passaram a trabalhar juntos. “Ventana tem essa característica de ser agregador de potências. Por onde passam tentam construir redes de trabalho”, elogia Ж.
Plataforma
Ventana a la Diversidad, a plataforma que marca esta iniciativa, reúne jovens de vários pontos do planeta para imaginar e criar juntos arte digital. Juntos, eles criam desde poesia expandida através de vídeo e música, até documentário observacional, passando por artefatos de animação que se constroem com materiais reciclados, acessíveis em qualquer comunidade.
A plataforma nasceu graças ao apoio do Fundo Internacional para a Promoção da Cultura da Unesco (2013), que selecionou este projeto inicialmente centrado em quatro países: Guatemala, Peru, Espanha e Indonésia. Atualmente são 12 países, a maioria da América Latina. A meta é promover um diálogo através da arte em que se manifeste a ideia da criatividade como ponte de entendimento entre as culturas, favorecendo a compreensão e difusão dos valores contidos na convenção de 2005 da Unesco sobre proteção e promoção da diversidade das expressões culturais.
Sepa más:
https://www.ventanaalabiodiversidad.org
Cultura Viva e Felicidade Interna Bruta: os impactos do programa nas comunidades
Em 09, set 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Vem do Butão, o pequeno país asiático que faz fronteira com a China e a Índia, o conceito de “Felicidade Interna Bruta” (FIB) utilizado pelos pesquisadores Mario Lima Brasil e Hugo Leonardo Ribeiro, professores da Universidade de Brasília, para avaliar os impactos do programa Cultura Viva nas comunidades brasileiras. Uma vez que o FIB mede a prosperidade de um lugar levando em conta a saúde espiritual, física, social e ambiental dos seus cidadãos – valores que o Produto Interno Bruto (PIB) está longe de alcançar –, aos pesquisadores pareceu o indicador mais apropriado para falar dos Pontos de Cultura e as mudanças sociais trazidas por eles.
Em apresentação do relatório final do projeto de pesquisa “Programa Cultura Viva: Impactos e Transformações Sociais” à equipe da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC/MinC), em 4 de março de 2016, Mario Lima Brasil comentou que eles procuravam indicadores que pudessem auxiliá-los na interpretação dos dados, na identificação das mudanças na qualidade de vida, até que se depararam com este trecho do código legal do Butão, escrito em 1729: “Se o governo não pode criar felicidade para o seu povo, não há propósito para o governo existir”. Era isso. Estava aí o que buscavam.
No Reino do Butão, como contam os pesquisadores no livro lançado em Brasília nesta segunda-feira (12/09), o termo Felicidade Interna Bruta (em inglês, Gross National Happiness) surgiu nos anos 1970, a partir da crença do rei Jigme Khesar Namgyel Wangchuck na importância da “felicidade coletiva”. Em 2005, o governo real do Butão decidiu desenvolver indicadores para operacionalizar o conceito de FIB, passando então a envolver pesquisadores do Centro para Estudos do Butão na elaboração de um questionário em várias dimensões.
“É algo que vai além da definição de governo de Platão e Aristóteles, vai além da questão do justo. Ou seja, não basta apenas ser justo e criar o equilíbrio, como diziam os gregos. É preciso gerar felicidade”, afirma Mario Brasil, citando também Dasho Karma Ura, presidente do Centro para Estudos do Butão. “A Felicidade Interna Bruta mede a qualidade de um país de forma mais holística do que o PIB, e acredita que o desenvolvimento benéfico da sociedade humana ocorre quando o desenvolvimento material e o espiritual ocorrem lado a lado para complementar e reforçar-se”.
O FIB, portanto, leva em conta muito mais elementos que o PIB para analisar se as políticas e os investimentos públicos contribuem ou não para elevar a qualidade de vida da população. Baseando-se na premissa de que o objetivo principal de uma sociedade não deve ser somente o crescimento econômico, deixa claro que o desenvolvimento material deve estar integrado com o psicológico, o cultural e o espiritual, e em harmonia com o meio ambiente.
Os domínios
São nove os domínios em que o FIB se organiza: bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, educação, diversidade cultural, boa governança, vitalidade comunitária, diversidade ecológica e padrão de vida. Para esta pesquisa com os Pontos de Cultura, os nove domínios foram analisados um a um, com o objetivo de identificar conceitos e transformá-los em palavras-chave.
Dessa maneira, os pesquisadores partiram das falas dos entrevistados para reconhecer aspectos como “satisfação com a vida”, “emoções positivas” (como orgulho e alegria), “emoções negativas” (como dor e preocupação), “autoestima”, “estresse” e “atividades espirituais” e identificar como aquele Ponto de Cultura pode ter contribuído para que as pessoas tivessem acesso a situações que os impactassem.
Foram visitados 18 Pontos de Cultura do Centro-Oeste: nove no Distrito Federal, dois em Goiás, quatro no Mato Grosso e três no Mato Grosso do Sul. A pesquisa produziu 21 diários de campo, 1319 fotos, 20 horas de gravação de áudio e 19 horas de gravação de vídeos.
Antecedentes
O Centro-Oeste foi escolhido por alguns motivos, entre eles a pequena quantidade de trabalhos realizados na região. Havia poucos estudos sobre a realidade dos Pontos de Cultura, e menos ainda com foco na mudança expositiva que o programa Cultura Viva provocava.
Pesquisas relevantes sobre o programa haviam sido feitas antes desta – o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, lançou uma em 2010 (sobre amostragem de 2007) e outra em 2014. Ambos os estudos apontavam problemas, principalmente no que se refere à gestão, mostrando que os instrumentos jurídicos normativos e as políticas de fomento disponíveis não davam conta desta experiência. Faltava um que traduzisse o que estava acontecendo naquelas comunidades.
“Essas pesquisas focavam muito nos problemas de gestão do Cultura Viva, e eram em sua maioria quantitativas, baseadas em relatórios, com pouco espaço para a identificação dos impactos positivos que essa política pública trouxe para as comunidades distantes dos principais centros culturais”, comentou Mario. “Isso foi um problema porque os Pontos de Cultura, apesar das dificuldades que enfrentam, têm a felicidade de serem Pontos de Cultura. E eles não se identificavam com aquilo. Sabiam dos problemas, prestação de contas, isso e aquilo, mas diziam: isso aqui é só uma face nossa, cadê a outra? Essa é a parte mais triste, cadê a alegre?”
Outra visão
Foi nesse contexto, em meio ao redesenho do programa e como uma demanda da própria Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC), que surgiu a pesquisa “Programa Cultura Viva: Impactos e Transformações Sociais”. O objetivo principal era oferecer outra visão sobre o programa, por meio de uma abordagem qualitativa, etnográfica, com o intuito de investigar como os Pontos de Cultura participaram e tiveram influência na transformação social das comunidades nas quais estavam inseridos.
Financiada pelo Ministério da Cultura, por meio da Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural, a pesquisa faz parte do Observatório de Políticas Públicas Culturais (Opcult), ligado ao programa de pós-graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM), da UnB.
O projeto foi dividido em três fases: preparação, pesquisa de campo e análise descritiva do relatório. Na coleta de dados, foi feita uma revisão do maior número possível de trabalhos bibliográficos públicos sobre Cultura Viva, principalmente pesquisas de campo. Foram levantados 37 trabalhos de conclusão acadêmicos apresentados entre 2007 e 2014: duas monografias de especialização, 29 dissertações de mestrado e seis teses de doutorado. Os estudos mostraram que o tema Cultura Viva diz respeito às áreas mais variadas, da administração à antropologia, das artes cênicas à ciência política, da comunicação à gestão cultural, da linguística à medicina, da história ao serviço social. Ao todo, a equipe leu 116 textos.
In loco
Na etapa de observação in loco, os pesquisadores tiveram alguma dificuldade para encontrar os Pontos de Cultura que haviam planejado visitar. “A comunicação com eles é volátil, porque são iniciativas de pessoas da comunidade. Se mudam de e-mail ou telefone, perdemos a comunicação”, diz Mario. Dos 16 Pontos de Cultura do Distrito Federal que estavam no roteiro inicial, por exemplo, eles localizaram nove. E levaram dois meses para isso. Aos que conseguiram chegar, tentaram conversar não apenas com os coordenadores do Ponto de Cultura, mas também com os participantes e com pessoas das escolas do entorno, para saber como a comunidade local se relacionava com aquele Ponto.
Sem um roteiro de questões pré-definidas, a equipe de entrevistadores saiu a campo com uma ideia – não exatamente com um caderninho –, procurando induzir o processo como um todo, deixando o entrevistado à vontade. Não ter um questionário para as entrevistas foi uma reivindicação da própria CNPdC. “Os Pontos de Cultura reclamavam que respondiam questionários sem saber para quê, e quando vinha a resposta, já dentro de um processo de análise, eles não conseguiam se identificar”, justifica Mario Brasil. “Nesta pesquisa, se a gente chegasse aos Pontos de Cultura com um questionário, eles botavam o cachorro, não davam café nem bolo (risos)”.
Aplicado em diferentes partes do mundo, o questionário do FIB pode chegar a ter 500 questões. O desafio, aqui, foi transformá-lo num “não questionário”. “Fizemos o contrário. Deixamos os entrevistados falarem o que queriam e elaboramos o questionário a partir do discurso, com as palavras-chaves. Deu um trabalho imenso, mas funcionou muito bem. O resultado foi muito melhor”, conta o pesquisador.
Os conceitos
Num dos Pontos de Cultura do Distrito Federal que entraram na pesquisa, o Ludocriarte, foram entrevistados entre novembro e dezembro de 2014 coordenadores, professores, estudantes e pais de alunos. Bem-estar psicológico e vitalidade comunitária foram os dois domínios do FIB que mais apareceram nas falas deles. A associação, que começou em 2005 como uma brinquedoteca comunitária na cidade de São Sebastião, tem como proposta incentivar crianças e adolescentes a trabalhar a expressão oral e escrita por meio de atividades lúdicas, como a produção e contação de histórias.
Eis um trecho da fala de Arthur, psicólogo que trabalha no local:
“Tem crianças que antes só resolvia as coisas com os colegas no tapa. Mas com o passar do tempo já consegue sentar, conversar, expressar o que está sentindo. Você vê os mais velhos cuidando dos mais novos. Resolvendo brigas, ajudando em tarefas do Ponto. Com menos frequência a gente percebe essas mudanças de comportamento nos pais. Por exemplo, pais que antes só brigavam com os meninos, já começam a levar o menino para passear, vai tomar um sorvete, conversar, sentar para brincar. E isso é espetacular, uma mudança genial.”
A seguir, a fala de Célia, mãe de uma das participantes:
“Minha filha é muito assim, nervosa, nervosa demais. Ela tem tanto medo de agulha que chegou a desmaiar. Então, eu coloquei ela pra ficar no meio do povo, conversar com o pessoal, com os professores. Pra mim foi ótimo. Ela era muito tímida, retraída. Esse projeto é maravilhoso! Pra mim foi a melhor coisa que poderia acontecido. Ela mudou muito.”
Os impactos
Levando em conta os 18 Pontos de Cultura pesquisados, os quatro domínios que mais apareceram nas entrevistas como impactantes no que se refere ao Cultura Viva foram: cultura, uso do tempo, bem-estar psicológico e vitalidade comunitária. Em seguida, vieram educação, padrão de vida, boa governança e meio ambiente.
No domínio “vitalidade comunitária”, por exemplo, são levadas em conta as seguintes referências no discurso: sentimento de pertencimento, importância e compartilhamento de um projeto comum que irá satisfazer as necessidades da comunidade por um compromisso coletivo; marginalização; falta de respeito; violência; mudança positiva nas comunidades. Já o domínio “uso do tempo” questiona se houve alguma influência na forma como a pessoa passou a organizar seu tempo entre trabalho, lazer e família. “Boa governança”, por sua vez, refere-se à percepção do investimento governamental nas áreas de cultura.
Uma das conclusões a que a equipe chegou foi de que, sim, o programa Cultura Viva, por meio dos Pontos de Cultura, “possibilitou que áreas populacionais com carências diversas pudessem usufruir de ações civis que ocuparam o lugar do Estado no sentido de garantir seus direitos culturais”.
“Os Pontos realmente fizeram essas comunidades mais felizes”, resume Mario Brasil. “Não aquela felicidade de ter o melhor carro, o melhor celular, a melhor roupa… Falamos da felicidade básica: eles têm o que comer, onde morar, o que vestir, têm educação. Ou seja, a nossa conclusão foi a de que felicidade não é algo individual, é um conceito coletivo. E este é o maior legado que este programa pode dar para este país: a felicidade é um ente coletivo. Quando se realiza coletivamente, ela é plena. Quando é individual, você pode dizer ‘eu estou feliz’. Quando é coletiva, você diz ‘eu sou feliz’.”
Para download:
Programa Cultura Viva: Impactos e transformações sociais – https://bit.ly/2aQnxQJ
Leia também:
O papel da cultura na relação entre desenvolvimento e democracia
(No alto da página, o Ludocriarte, um dos 18 Pontos de Cultura que fizeram parte da pesquisa da UnB. Foto: Acácio Pinheiro/MinC)
O papel da cultura na relação entre desenvolvimento e democracia
Em 08, set 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Qual a importância da cultura e das políticas culturais no desenvolvimento de uma nação? É o que procura mostrar a coletânea de artigos “Políticas Culturais, Desenvolvimento e Construção Democrática”, que será lançada em Brasília nesta segunda-feira (12/09), às 19h, no Objeto Encontrado (102 Norte). Organizada por Maria de Fátima Rodrigues Makiuchi, a publicação é resultado de dois anos de trabalhos e pesquisas em torno da temática da política cultural brasileira, realizados no âmbito do Observatório de Políticas Públicas Culturais da Universidade de Brasília (Opcult/UnB).
Além deste livro, será lançado o relatório final da pesquisa “Programa Cultura Viva: Impactos e Transformações Sociais”, dos professores Mario Lima Brasil e Hugo Leonardo Ribeiro. O Opcult é ligado ao programa de pós-graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) da UnB. O projeto nasceu de um termo de cooperação entre a Secretaria da Cidadania e da Diversidade do Ministério da Cultura (SCDC/MinC) e a Universidade de Brasília, assinado em novembro de 2013.
Com 180 páginas, a coletânea traz oito artigos sobre o papel da cultura na relação entre desenvolvimento e democracia. Como escreve Fátima Makiuchi na apresentação, ainda que a cultura tenha muitos sentidos, de maneira geral “pode ser compreendida como um sistema que organiza a experiência humana, ordenando tanto os comportamentos rotineiros e repetitivos, quanto os processos de transformação. Nessa ordenação estão amparados os modos de ser e de expressar-se no mundo, o que nas sociedades contemporâneas pode ser percebido como a expressão e produção cultural de povos, grupos e indivíduos”.
Os artigos
Coordenadora do observatório, Fátima Makiuchi conta que em 2014 e 2015 foram ali realizadas pesquisas sobre a política cultural com foco em financiamento, território e desenvolvimento, participação social e em programas específicos, como o Cultura Viva, e em perspectiva comparada, procurando apontar as potencialidades e desafios das políticas. O primeiro artigo, “O Observatório de Políticas Públicas Culturais e a Pesquisa em Política Cultural no Brasil”, assinado por Fátima, pretende apresentar o levantamento do estado da arte das pesquisas em política cultural no país, identificando os programas de pós-graduação e grupos de pesquisa voltados à temática da política cultural.
A relação entre desenvolvimento e cultura são o eixo comum dos dois artigos seguintes: “Politicas Culturais, Democracia e Desenvolvimento”, de Leandro Grass, e “Cultura, Cidadania e Desenvolvimento: uma abordagem transversal”, de Bruno Henrique Melo. No primeiro deles, o autor parte de uma revisão teórica para propor a problematização acerca do significado de cultura e os efeitos de sua ampliação no campo da gestão e das políticas públicas. Já Bruno Melo apresenta um ensaio teórico sobre os desafios contemporâneos envolvendo cultura, desenvolvimento e cidadania à luz dos debates da teoria social sobre a modernidade tardia e diferentes abordagens sobre desenvolvimento e pós-desenvolvimento na América do Sul.
No quarto artigo, “Percurso Metodológico da Pesquisa em Políticas Públicas Culturais”, Wallace Wagner Rodrigues Pantoja, Edilene Américo da Silva e Fátima Makiuchi apresentam os caminhos da pesquisa sobre equipamentos e programas culturais na Área Metropolitana de Brasília em um sentido processual, evidenciando acertos, erros e recomeços. No texto seguinte, “Cultura dos/nos Territórios: ensaiando a politização de um debate”, Fátima e Wallace discutem os programas Mais Cultura nas Escolas e os Centros de Artes e Esportes Unificados (CEUs) sob a perspectiva do uso do conceito de território no discurso oficial sobre estes programas.
Em “O Financiamento Público da Cultura do Distrito Federal: um olhar para os planos plurianuais 2012-2015 e 2016-2019”, Cleide Vilela descreve o cenário institucional da política pública de cultura do Distrito Federal e analisa os programas Cultura (2012-2015) e Capital Cultural (2016-2019). No artigo seguinte, “Democracia Digital e Ação Pública: experiências de participação social em rede nas politicas de cultura do DF”, Mayara Souza dos Reis discute a participação social em políticas públicas a partir das perspectivas e desafios da chamada democracia digital ou e-democracy.
Encerrando a coletânea, o ensaio “A Estreita Relação entre Tecnologia e Produção Cultural: aspectos sociais da tecnologia, ampliação de capacidades e ressignificação de interações na cultura”, de Leandro de Carvalho, discute os aspectos sociais da tecnologia relacionados à apropriação e à difusão de cultura. Além de apresentar os principais autores que tratam do tema, Carvalho defende que a tecnologia seja pensada para além do aspecto monetário ou produtivo na discussão sobre o desenvolvimento, incluindo as motivações culturais e políticas de sua apropriação e as consequências estruturais que pode acarretar.
Para download:
Políticas Culturais, Desenvolvimento e Construção Democrática – https://bit.ly/2bnbknU
Organizações comunitárias lançam a Rede Cultural de Chacras de Coria, em Mendoza
Em 05, set 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
No dia 28 de agosto, organizações comunitárias e “fazedores culturais” se reuniram na praça distrital de Chacras de Coria, na província de Mendoza (Argentina), para o lançamento formal da Rede Cultural de Chacras de Coria (Luján de Cuyo). O Teatro Leonardo Favio – um antigo cinema que a Asociación Civil Chacras para Todos recuperou em 2010 para a comunidade – também foi parte da festa, que ao longo da tarde e da noite contou com apresentações de música, dança e teatro, mostras de artistas plásticos, e a presença de mais de 70 artesãos e microempreendedores.
A rede nasceu em 8 de junho de 2016, após uma reunião no Teatro Leonardo Favio, o “Centro Cultural para Todos”, em que participaram representantes de organizações culturais e comunitárias, instituições, escolas públicas e privadas, centro de saúde, artistas e vizinhos vinculados à cultura de Chacras de Coria e distritos próximos. Com o espírito de trabalhar juntos, articulando organizações e fazedores culturais entre si, com o governo, o setor privado e os vizinhos, os integrantes buscam mostrar que o trabalho cooperativo e solidário pode conquistar transformações sociais, sustentando e reafirmando os valores da identidade local.
Depois da reunião inaugural foram realizadas reuniões periódicas com os representantes de cada uma das organizações. Uma das metas era dialogar com o prefeito do município, o que ocorreu em 24 de agosto. “Éramos umas 90 pessoas de diversas organizações. Fizemos uma apresentação dos pontos relevantes da rede e a aceitação foi enorme, houve acordo em tudo e já começamos a ter um encontro semanal com o diretor de Cultura e Turismo, Gonzalo Ruiz, para coordenar tarefas em comum e tratar de diversos temas”, conta Silvia Bove, presidenta da Associación Civil Chacras para Todos, uma das 20 organizações integrantes da rede (*).
Silvia Bove comenta que a iniciativa demandou anos de articulação com algumas organizações no território (biblioteca popular, murgas, associações de vizinhos), em ações concretas em eventos como o festejo do carnaval do distrito, as comemorações do Dia da Criança e do Dia da Memória, da Verdade e da Justiça, que se realiza em 24 de março por ocasião do golpe de Estado na Argentina em 1976 (para nunca esquecer). “Nesta construção espontânea que vinhamos desenvolvendo havia alguns anos, uns quatro, decidimos dar um salto mais firme e avançar na construção da rede com nome e sobrenome, envolvendo também distritos vizinhos”, completa.
Cor local
As ferramentas e os conceitos da Cultura Viva Comunitária (o movimento latino-americano “de base comunitária, local, crescente e convergente que assume as culturas e suas manifestações como um bem universal dos povos”) foram adaptados ao território e ao espírito dos vizinhos da comunidade, que foram dando sua cor local. “O que impulsiona e motiva esta rede é essencialmente construir um entramado diverso e rico que preserve estas organizações, lhes dê visibilidade, proteja a história, a memória, as celebrações e tradições locais, que nos irmane e fortaleça, que contemos às crianças e aos jovens que a cultura é a matriz vital dos povos, que é nossa tarefa que a conheçam e sustentem”, afirma Silvia.
No Manifesto da Rede Cultural Chacras de Coria, os membros se propõem os seguintes objetivos: a) resgatar a cultura local; b) potencializar as atividades desenvolvidas por seus integrantes; c) valorizar a memória, a identidade e as celebrações do lugar; d) resguardar os fazedores culturais locais; e) apoiar as ações culturais realizadas pelos membros da comunidade; f) articular ações entre as organizações locais, o setor público e o privado; g) participar do desenho das políticas públicas culturais; h) integrar a comunidade por meio da cultura; i) construir e sustentar a história e a cidadania local; j) articular entre as instituições educativas, esportivas e artísticas com demais organizações de Chacras, k) projetar articulações em um plano provincial, nacional e internacional.
O manifesto, segundo Silvia Bove, “é um primeiro apontamento dos sonhos e desejos que nos propomos, mas entendendo que como a cultura muda e se move, vai se enriquecendo de acordo com a quantidade de organizações diversas que vão integrá-la”. A ideia, portanto, é gerar uma voz coletiva, alcançar um diálogo o mais horizontal possível entre eles, conhecer suas problemáticas e envolver à maior quantidade de organizações e fazedores culturais em ações comuns e a partir daí impulsar uma mesa de diálogo para construir políticas públicas culturais em conjunto com os governos municipais.
“É válido compartilhar esforços de outras latitudes, mais ainda nestes tempos em que imperam o individualismo e a competitividade, sendo assim um tema crucial e de muita urgência todo tipo de ação que prospere este tipo de iniciativas”, ressalta a psicóloga social Luz Plaza, também membro da rede. Para ela, é importante superar distâncias, passar do individual ao grupal, onde todos aprendem de todos. “O enriquecer está na interação e no trabalho coletivo, na soma de vontades, é daí que se impulsionam as mudanças, onde o sujeito é ativo.”
Luz Plaza cita Paulo Freire e Pichon Riviere, autores que dedicaram suas vidas a mostrar que educar é transformar, para ressaltar que “aportes a partir da cultura e da arte são como a água para uma sociedade, sem eles não se cresce” e que todo processo cultural em um trabalho grupal comprometido “leva a um crescimento pessoal e a uma mudança de perspectiva de sujeito passivo a sujeito ativo e construtor de sua realidade. Uma realidade que não lhe é indiferente, e sim da que se sente parte e protagonista, convertendo-se em um fazedor de cultura e propulsor de novas ideias que o enriquecem a si mesmo e a seu entorno”.
Leia também:
Manifiesto de la Red Cultural Chacras de Coria y Distritos Aledaños de Luyán de Cuyo
(*) Participam da rede microempreendedores, artesãos, Biblioteca Popular de Chacras de Coria, Escuela Teresa O’Connor, Escuela Francisco Correas, Jardín Maternal Perpetuo Socorro, Crecer Felices, Chacras para Todos, Club Cultural Chacras, Correveidile, Maria Elena Elaskar (yoga), Juliana Mucarsel (Pan y Circo), Cuidados Musicales, Unión Vecinal Chacras de Corias, Unión Vecinas Plaza Levy, Unión Vecinal Cordón del Plata, Coro de Chacras, Tierra Malbec, El Kallo, Instituto de Música, Sandra Amaya, Javier Rodríguez, Claudia Vogelman (folclore), Ricardo y Andrea (tango), Grupo de Teatro Comunitario de Perdriel, Risas de Mi Tierra, Mauricio Chaar (editor) e Unaymanta.
Secretaria de Cultura de El Salvador anuncia ganhadores de Pontos de Cultura
Em 01, set 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
A Secretaria de Cultura da Presidência de El Salvador anunciou em 31 de agosto os ganhadores da Convocatória Pontos de Cultura, que serão financiados com recursos do Fundo Nacional Concursável para a Cultura e as Artes. Serão destinados recursos a 22 projetos (selecionados de 109), divididos em quatro categorias, num montante de US$ 100 mil.
Com esta convocatória, busca-se fortalecer o trabalho das organizações sociais que, por meio de projetos culturais, promovem a inclusão social, a identidade local, a participação popular, o desenvolvimento territorial e o trabalho coletivo. O júri que elegeu os projetos foi formado por Roberto Laínez Díaz, Georgina Hernández Rivas e Luis Melgar Brizuela.
A seguir, os ganhadores das quatro categorias: 1) Arte para a transformação social; 2) Comunicação alternativa para a convivência; 3) Fortalecimento de redes; 4) Cultura para o bem viver.
Categoria 1 – Arte para a transformação social
- Fomentando cohesión y transformación social a través de la batucada como herramienta de incidencia. Associação responsável: Red de Batucadas TUYULU.
- La Mata Raizuda: Escuela local de artes. Associação responsável: Comité Local de Turismo de Francisco Lempa.
- LiberARTE. Associação responsável: Asociación Tiempos Nuevos Teatro – TNT.
- Cuna Náhuat. Associação responsável: Ne IkmanYultuk.
- Luna de Anatolia (Música Performática). Associação responsável: Luna de Anatolia.
- Mural Historia 2016. Associação responsável: Comando Urbano Muralista (Red SIVAR).
- Capacitación en pintura mural. Associação responsável: Vortex Estudio Galeria.
- Encuentros culturales – AJUDEM Morazán “Un espacio permanente para el arte y la cultura. Associação responsável: Asociación Juvenil para el Desarrollo de Morazán.
- “Soñando y transformando”. La musicoterapia como medio de rehabilitación emocional, motriz y psicológica para recuperar y fomentar el sentido de pertenencia e integración social comunitaria. Associação responsável: Colectivo Tambor
- Música para nosotros. Associação responsável: Saúl Alfredo Lopes.
Categoria 2 – Comunicação alternativa para a convivência
- Festival Internacional de Cine Suchitoto (FICS). Associação responsável: Fundación Casa Clementina.
- Prudencia. Associação responsável: Kolectivo San Jacinto de Cine Comunitario.
- Dibujos animados y títeres con enfoque cultural. Associação responsável: Guayaba Animación.
Categoria 3 – Fortalecimento de redes
- Festival Comunitario Solsticio de las Artes 2016. Associação responsável: Fundación para el Desarrollo de la Cultura a través de las Artes en Cojutepeque.
- Proyecto Lagartija. Associação responsável: Lagartija Nucleo El Salvador.
- II Encuentro Nacional de Cultura Viva Comunitaria. Associação responsável: Red Salvadoreña de Cultura Viva Comunitaria.
- Centro Juvenil para el Desarrollo Cultural de Carolina. Associação responsável: Asociación Juvenil de Desarrollo Integral Comunitario AJDI.
Categoria 4 – Cultura para o bem viver
- Fortalecimiento de mediadores/as de conflictos del grupo Ereguan de Chalatenango. Associação responsável: Acisam Ereguan.
- Festival cultural náhuat pipil e intercambio de semillas autóctonas. Associação responsável: Colectivo Juvenil Indígena de Nahuizalco.
- Miramar, Los Jobos (Concepción de María), Antón Flores y Las Victorias “Cultura verde para el buen vivir”. Associação responsável: Consejo para el Desarrollo Artístico Cultural Comunitario (CODACC-San Vicente).
- La resiembra, cultura de Bálsamo y Chaya en Jicalapa, La Libertad. Associação responsável: Fundación Juvenil ReinvencionES.
- Fortalecimiento del tejido social y económico y de las acciones formativas de las mujeres en el municipio de Acajutla. Associação responsável: Asociación de Desarrollo de Mujeres Emprendedoras de Acajutla (ADEDMEA).
Renata Bittencourt é a nova presidente do IberCultura Viva
Em 30, ago 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Nomeada no dia 26 de agosto como Secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC), Renata Bittencourt assume a presidência do programa IberCultura Viva a partir desta semana. O Brasil tem a presidência do programa desde o início de sua implementação, em 2014. O mandato, com duração de três anos, encerra-se em junho de 2017.
Renata Bittencourt tem atuado como gestora no setor cultural nos âmbitos público e privado, na criação e no gerenciamento de projetos. Entre 2012 e 2016, esteve à frente da Coordenação da Unidade de Formação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, em São Paulo. Por dez anos, de 2002 a 2012, foi gerente de Educação Cultural do Instituto Itaú Cultural.
Graduada em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), tem mestrado e doutorado em História da Arte pela Universidade de Campinas (Unicamp) e especializações em Estudos de Museus de Arte e Gestão de Processos de Comunicação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP). Em 1997 e 1998, como bolsista da organização Fulbright, em Washington D.C. (EUA), dedicou-se à observação de programas de compromisso social de instituições culturais.
O grupo argentino Agarrate Catalina participa de festivais de teatro de bonecos na Colômbia
Em 29, ago 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Começa no dia 23 de setembro a turnê da companhia argentina Agarrate Catalina por três cidades colombianas com o espetáculo Poquito a poco. O grupo fará 12 sessões em festivais de Cartagena, Medellín e Popayán (quatro em cada local), beneficiando a 2.000 crianças no total. O percurso é uma iniciativa da Red de Festivales Internacionales de Teatro de Títeres – Colombiatiteres, um dos sete projetos ganhadores da categoria 1 do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio.
A primeira sessão de Poquito a poco será na inauguração do 16º Titirifestival, no Teatro Adolfo Mejía, em Cartagena de Índias. Em Medellín, a companhia realizará quatro sessões e uma oficina a partir de 30 de setembro. No dia 6 de outubro, os argentinos viajarão para Popayán, onde estarão até 10 de outubro.
A Red de Festivales Internacionales de Teatro de Títeres é um coletivo formado por fundações e corporações que têm um objetivo em comum: a realização de festivais internacionais de teatro de títeres com companhias procedentes de toda a Ibero-América.
Os festivais buscam posicionar as cidades como epicentros da cultura cênica, oferecer oportunidades de desenvolvimento integral a crianças e jovens, formar públicos, cidadãos sensíveis, críticos, fomentar o desenvolvimento das atividades artísticas e cênicas como um modelo e um aporte para a construção da paz no país.
Os espetáculos e oficinas de formação da rede beneficiam por ano cerca de 80.000 crianças de todas as condições sociais. As cidades em que se desenvolve o projeto contam com uma grande população desabrigada pelo conflito interno, e a ideia da rede é oferecer atividades a todos.
O edital
Em busca de espetáculos que se ajustem a suas expectativas e infraestrutura local, a rede realiza um edital que recebe uma média de 100 propostas por ano. Uma vez selecionados os grupos, é oferecido a eles um circuito por três cidades colombianas, com quatro sessões em cada, num total de 12 sessões. Para esta versão do projeto e do circuito, foi escolhida a companhia argentina Agarrate Catalina, que em 2014 enviou seu material para estudo, passou por todos os processos de curadoria, mas até então não havia podido acompanhá-los.
Criado em 1997 em Avellaneda (Argentina), Agarrate Catalina é um grupo independente que pesquisa e produz teatro de objetos para contar histórias, principalmente nos locais mais distantes ou esquecidos, para despertar em seus habitantes o valor e a vontade de contar suas próprias histórias. Suas fundadoras, Adriana Sobrero e Alejandra Unamuno, eram companheiras de estudo na Escola Municipal de Atores Titiriteros de Avellaneda e juntaram suas experiências nas disciplinas que haviam desenvolvido antes, as artes plásticas e a música, para juntá-las no teatro de bonecos.
Em Poquito a poco, uma menina relata a história de seus avós por meio de seus desenhos, a partir do dia em que eles começaram a ver que o planeta corria perigo por tanto lixo acumulado. Preocupados com o futuro da Terra, eles buscam uma solução através de um maravilhoso invento.
O espetáculo será encenado nas três cidades sedes da rede Colombiatíteres. Serão quatro sessões em cada município, sendo dois financiados pelo projeto e dois por cada uma das cidades. A rede financiará com recursos próprios ou obtidos de terceiros o saldo da atividade com a companhia argentina, referentes a hospedagem, pagamento por sessões adicionais, alimentação e transporte aéreo dentro do país.
As organizações
As entidades colombianas que apresentaram o projeto ao programa IberCultura Viva foram Fundación Tortuga Triste (direção), Manicomio de Muñecos (Medellín) e Trotasueños (Cartagena). São organizações com larga experiência no tema. A Fundación la Tortuga Triste, por exemplo, foi constituída na cidade de Popayán em 1992 e realiza um festival há 17 anos. Seu objetivo primordial é promover as artes e a cultura e melhorar a qualidade de vida, especialmente das crianças e jovens, através de projetos de prevenção e educação.
O Manicomio de Muñecos, por sua vez, tem 40 anos de trajetória e tem se consolidado como um dos mais ativos do gênero na Colômbia. Com 32 obras em repertório e participação em temporadas e festivais em países como Espanha, Honduras, El Salvador, Costa Rica, Panamá, Brasil, Venezuela, Argentina e México, o grupo vem trabalhando para valorizar a arte milenar dos títeres como arte e parte importante da cultura, consciente do papel do teatro de bonecos no desenvolvimento e crescimento das crianças.
Trota Sueños também conta com grande prestigio em toda a costa atlântica colombiana. Além de organizar o Titirifestival em Cartagena, a entidade executa projetos artísticos nas comunidades, realiza assessorias artísticas e culturais e oficinas de saúde preventivas.
Juntas, as três entidades fazem um esforço parar motivar as artes como alternativa educativa e de entretenimento entre os pequenos cidadãos e os jovens, com vistas à formação das crianças, a necessidade de expressão dos povos e o fazer contínuo das comunidades.
“Trenzando caminos”: jovens de seis países se encontram em Montevidéu para debater problemáticas da região
Em 17, ago 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
No contexto do Programa Mercosul Social e Solidário (PMSS), encontraram-se em Montevidéu grupos e organizações juvenis ou que trabalham com jovens a partir da ação cultural, política e organizativa em comunidades de seis países: Chile, Paraguai, Brasil, Argentina, França e Uruguai. O projeto, batizado de “Trenzando caminos – Una construcción político cultural, desde la sociedad civil en el Mercosur”, foi um dos sete ganhadores da categoria 1 do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio.
Durante uma semana, de 18 a 24 de julho, os representantes dos grupos e organizações buscaram promover e aprofundar olhares e perspectivas locais com horizonte regional, em um espaço de encontro e formação acerca das diversas realidades dos países. Além de compartilhar e trocar experiências e práticas, eles tinham como objetivo gerar coletivamente uma plataforma de ação, visibilidade e posicionamento em torno dos interesses e preocupações destes grupos e instituições, frente a distintas instâncias institucionais e públicas do Mercosul, do Mercociudades e do Parlasur.
O encontro teve um formato articulado de estágios, espaços de oficina e formação, encontros e reuniões, e terminou com uma ação de visibilidade pública da atividade no centro de Montevidéu, em que o grupo contou com o apoio do Centro de Participación Popular (CPP), organização membro do PMSS.
Ao longo da semana de trabalho foram discutidos temas como a criminalização das juventudes e suas expressões, os para que, onde e como da ocupação e recuperação dos espaços públicos – eixos com que vinham articulando suas ações (encontros, campanhas, intervenções públicas, marchas, ações de incidência, etc). Tais ações buscam visibilizar e colocar na agenda as realidades, vivências e esforços que se realizam em um sem número de experiências de organização e ação cultural da região.
Além de se reunir com o responsável pela Secretaria Técnica Permanente do Mercociudades, o grupo esteve com a representante da Unidade de Participação do Mercosul, o secretário do Alto Representante Geral do Mercosul e o vice-presidente do Parlasur. Nestas reuniões eles puderam compartilhar os trabalhos que os grupos e organizações vêm realizando, e suas visões sobre a situação dos jovens na região.
Os estágios
Que diferenças e semelhanças podem haver entre jovens de Chile, Paraguai, Argentina, Brasil, França e Uruguai? Como trabalham dentro dos centros juvenis? A ideia dos estágios veio do desejo de conhecer e compartilhar esse fazer, essas vivências, o que se concretizou em quatro centros juvenis que trabalham a partir do CPP e desenvolvem suas atividades em distintas comunidades de Montevidéu.
Nos centros, os participantes do encontro foram construindo o que terminou sendo os insumos para a marcha de encerramento. Em conjunto, definiram os conteúdos e as diretrizes com que armaram os cartazes, murais, áudios, etc. E marcharam juntos, no último dia do encontro, em uma ação de visibilidade e ocupação do espaço público que buscava ser uma síntese do conjunto das atividades e discussões levadas adiante nas distintas instâncias.
As organizações
O projeto Trenzando Caminos foi apresentado ao Edital IberCultura Viva de Intercâmbio pelas seguintes organizações: Asociación Ecuménica de Cuyo (FEC, Mendoza, Argentina), Centro Tierra Nueva (Argentina), Centro de Acción Cultural (Centrac, Brasil), Centro de Participación Popular (CPP, Montevideo, Uruguay), ECO – Educación y Comunicaciones (Chile), Servicio para el Desarrollo de los Jóvenes (Sedej, Chile) e Decidamos – Campaña por la Expresión Ciudadana (Paraguai).
As entidades são membros do Programa Mercosul Social e Solidário (PMSS), uma plataforma de organizações da sociedade civil integrada por 17 ONGs de Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Desde 2003 eles desenvolvem estratégias em três níveis (local/nacional e regional) com vistas a reivindicar os direitos políticos, econômicos, sociais e culturais dos setores excluídos na participação e no desenho do processo de integração regional. Desde então realizaram mais de 150 oficinas locais, 20 encontros regionais e 5 de caráter regional de que participaram mais de 150 organizações dos cinco países.
Fonte: PMMS
Saiba mais:
https://www.mercosursocialsolidario.org
Alguns vídeos produzidos pelo PMMS:
Ganhadores do concurso do projeto Oralidade Escrita recebem prêmios em Formosa
Em 12, ago 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
No Dia Internacional das Populações Indígenas, 9 de agosto, foi realizada em Bartolomé de las Casas (Formosa, Argentina) a entrega de prêmios do concurso literário de lendas dos povos originários promovido pelo projeto Oralidade Escrita, um dos sete ganhadores da categoria 3 do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio.
Executado pela Fundación Abriendo Surcos (Argentina) e o Coletivo Aty Saso (Brasil), o projeto contou com a participação de 46 escolas provinciais secundárias de modalidade intercultural bilíngue. Foram recebidos mais de 70 relatos de três etnias: Qom, Wichi e Pilagá.
Foram premiados três alunos de língua Qom, do 4º ao 6º ano (Víctor Danilo Claudio, Eduardo Maza e Susy Gemalis Nuñez); três de língua Wichi, também do 4º ao 6º ano (Rodrigo Hilario, Adriana Zigarán e Maximiliano Maidana), e dois de língua Pilagá (Karen Maidana e Raúl Matías), ambos estudantes do 5º ano. Os ganhadores de cada etnia receberam US$ 500 (1° prêmio), um tablet (2° prêmio) e uma mochila (3° prêmio).
Organizado pela Coordenação de Educação Intercultural Bilíngue junto ao Instituto de Comunidades Aborígenes da província de Formosa, o evento contou com a atuação dos MEMAs (Maestros Especiales Modalidad Aborigen) na elaboração dos textos e da logística. Também houve manifestações artísticas realizadas por parte dos moradores locais. O concurso foi declarado de interesse cultural pela Legislatura da província de Formosa.
Participaram da premiação em Formosa a subsecretária de Educação da província, Analia Heinzenreder; o coordenador do programa Puntos de Cultura do Ministério de Cultura da Argentina, Diego Benhabib; os representantes de ambas as fundações, caciques das comunidades e autoridades locais.
Entre aplausos e risos
Para Diego Benhabib, o momento mais emotivo foi quando um dos ganhadores leu seu conto no idioma original. “Os risos contagiavam, por mais que alguns não entendessem nada do que dizia. Pareceu uma dessas passagens mágicas, nas quais se interconectam sensações entre cosmovisões distintas em mundos compartilhados… Tanto o texto como as ilustrações que acompanharam o texto em espanhol foram maravilhosos”, afirmou.
O coordenador do programa Pontos de Cultura também destacou que a premiação foi um evento de grande importância para toda a comunidade de Bartolomé de las Casas, que esteve mobilizada ao redor da escola secundária. (Também assistiram à cerimônia famílias de distintas comunidades dos alunos participantes do concurso, não necessariamente próximas à localidade.) “Os jovens estavam muito entusiasmados com o ato de premiação e tiveram uma participação ativa. Além do ato, deram cor à premiação os MEMAs, cuja função é central no desenvolvimento do processo pedagógico da educação intercultural bilíngue”, ressaltou Benhabib.
Daniela Landin, representante do Coletivo Aty Sâso, contou que o grupo foi muito bem recebido na escola Cacique Kanetori e que um dos pontos altos da premiação, além da leitura dos contos dos ganhadores, foi o das atuações musicais, “com a participação de uma professora e de estudantes de diferentes etnias, o que indica diálogo e integração”.
Daniela trabalha como narradora de historias, locutora, pesquisadora de teatro, crítica de teatro de rua e atriz. Em Formosa ela pôde falar um pouco do trabalho do Aty Saso em São Paulo e do Coletivo Cafuzas, que pesquisa culturas indígenas, africanas e afro-brasileiras com foco nas narrativas orais e escritas. Também pôde conhecer um pouco da vida dos estudantes, que, segundo ela, se mostraram muito afetuosos, com abraços e fotos. “Muito significativo que o evento tenha sido no Dia Internacional das Populações Indígenas (ou Dia Mundial das Populações Aborígenes, como estava escrito no palco da cerimônia). Foi realmente uma celebração das culturas originárias com destaque para a força da palavra, oral e escrita”.
O projeto
Além do concurso literário, o projeto Oralidade Escrita previa a realização de uma oficina de redação e contação de histórias para a sistematização da oralidade. O objetivo era registrar por escrito as lendas das etnias mataco-guaycuru que habitam a região, com vistas à aproximação e à difusão das línguas originárias e a troca de experiências e saberes de agentes culturais do Brasil, da Argentina e povos originários.
Os relatos mais amplos nas questões da cultura matriz identitária recebidos no concurso serão selecionados para edição e publicação em formato de antologia de relatos/contos. A publicação dos textos se dará no idioma original dos povos com tradução para o espanhol e o português. O livro será lançado em versão digital.
Antecedentes
A província de Formosa foi eleita por sua numerosa população de povos originários e seu grau de desenvolvimento jurídico na legislação aborígine/indígena. Em Formosa, com o apoio do governo provincial, foi editado o livro Lecturas en Lenguas Originarias de Formosa, produzido pela Coordenação da Modalidade Educação Intercultural Bilíngue (EIB), área do Ministério de Educação encarregada do desenvolvimento e fortalecimento das línguas e culturas da província. O livro é composto de textos recopilados e produzidos por autores indígenas dos povos Qom, Pilagá e Wichí, com histórias, relatos de vida e costumes em suas línguas originais.
As organizações
A Fundación Abriendo Surcos, uma das duas entidades que apresentaram o projeto Oralidade Escrita ao programa IberCultura Viva, tem domicílio legal em Formosa. Criada em 2012, trata-se de uma organização social sem fins lucrativos, voltada para assistência cultural e capacitação. Seu nome faz alusão aos sulcos deixados pelo arado ao preparar a terra para a semeadura. Uma imagem que deriva de seu objetivo: “Preparar e capacitar as pessoas para que, por seus próprios meios, semeiem e colham o produto de seu trabalho”.
O Coletivo Aty Sâso, a outra organização executora do projeto, desenvolve ações no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Porto Alegre) e na Argentina (Buenos Aires, Rosário, Córdoba e Formosa). Suas atividades estão relacionadas às artes como instrumento de empoderamento da população que está ou esteve em processo de reclusão por quadro clínico de saúde mental.