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Confira a relação definitiva de projetos vencedores do Edital de Intercâmbio
A Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI Brasil) publicou hoje a relação definitiva de contemplados do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, criado para incentivar a integração e o desenvolvimento de redes entre organizações culturais de países ibero-americanos. Cada um dos 14 premiados receberá US$ 5 mil. Um termo de convênio será enviado a todos os projetos vencedores esta semana.
O edital foi lançado em 4 de agosto de 2015 com três categorias: 1) intercâmbio (mobilidade e criação de redes) entre agentes culturais; 2) apoio à participação no 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em outubro, em El Salvador; e 3) criação de conteúdos culturais (produtos) feita em conjunto por organizações de dois ou mais países. As inscrições para a categoria 2 terminaram em 30 de agosto, e para as demais, em 1 de dezembro.
O resultado das categorias 1 e 3 foi divulgado em 16 de fevereiro e o prazo para apresentação de recursos se encerrou três dias depois. Representantes de dois projetos que haviam sido habilitados, mas não se classificaram entre os sete primeiros lugares, apresentaram recursos. Após analisar os dois casos, o Comitê de Avaliação decidiu manter a pontuação inicial, não alterando, portanto, a ordem de colocação dos projetos vencedores.
Inscreveram-se no edital 76 projetos – 42 na categoria 1 e 34 na categoria 3. Para a primeira, do total de inscritos, foram habilitados 27; para a segunda, 16. Todos esses receberam pontuações dos avaliadores. Os paises com maior participação entre os habilitados da categoria 1 foram Argentina (15 projetos), Brasil (12), Costa Rica (5), Espanha (5) e Peru (5). Na categoria 3, Brasil (8), Argentina (6) e México (7) foram os três países mais presentes. Os sete mais bem colocados de cada categoria foram escolhidos os vencedores do edital.
Participaram da avaliação por parte do Comitê Intergovernamental: Diego Benhabib, Silvana Fabbricatore, Rosario Lucesole e Florencia Pinto (Ministério de Cultura da Argentina); Alexandre Santini (Ministério da Cultura do Brasil); Marianela Riquelme Aguilar (Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile); Fresia Camacho e Eduardo Reyes Paniagua (Ministério de Cultura e Juventude de Costa Rica); Alejandro Lozano Conde (Direção Geral de Culturas Populares, México); Pilar Torre Villaverde (Ministério de Educação, Cultura e Esportes de Espanha); César Pineda (Secretaria de Cultura da Presidência de El Salvador); Fabiola Figueroa, Lilybeth Echeandía, Alonso Santa Cruz y Estefanía Jesus Lay Guerra (Ministério de Cultura do Peru); Zulma Masi (Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai); Gustavo Piegas Marsiglia (Ministério de Educación e Cultura do Uruguai).
Por parte do Comitê Técnico, os avaliadores foram Diego Benhabib, coordenador do programa Puntos de Cultura do Ministério de Cultura da Argentina; Fresia Camacho, diretora nacional de Cultura, e Eduardo Reyes, gestor cultural do Ministério de Cultura e Juventude de Costa Rica; Moira Eugenia Delano Urrutia, chefa do Departamento de Cidadania Cultural do Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile.
Eis a lista definitiva de ganhadores do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio:
CATEGORIA 1
Nome do projeto – Entidades/ Coletivos
- Trenzando caminos. Una construcción político cultural, desde la sociedad civil en el Mercosur – Asociación Ecuménica de Cuyo ( FEC)/ Centro Tierra Nueva Argentina /Centrac – Centro de Acción Cultural Centrac Brasil / CPP – Centro de Participación Popular Montevideo / ECO – Educación y Comunicaciones Chile /SEDEJ – Servicio para el desarrollo de los jóvenes Chile / Decidamos – Campaña por la Expresión Ciudadana Paraguay
- Red de Festivales Internacionales de Teatro de Titeres Colombiatiteres – Red Colombia Títeres; Fundación La Tortuga Triste; Manicomio de Muñecos de Medellín; Trotasueños de Cartagena – e Agárrate Catalina de Argentina- grupo para la movilidad
- Mundo Puckllay y Pé No Chão. Un enlace artístico y cultural entre Perú y Brasil (1ra Etapa) – Puckllay (Peru) / Pé no Chão (Brasil)
- Museu da Pessoa. Rede Internacional de Histórias de Vida – Instituto Museu da Pessoa (Brasil) / Emiliano Polcaro – Museo de la Persona Argentina (Argentina)
- II Foro Educativo Centroamericano. Desarrollo curricular y Arte Social, Etapa I – Sociedad Civil para el Arte y la Cultura Guanared / Red Centroamericana Maraca
- Integración entre agentes culturales de Costa Rica (Red Cultura Viva Comunitaria) y Chile (Nodo Valpo) – Costa Rica (Red Cultura Viva Comunitaria) y Chile (Nodo Valpo)
- Mapeamento de coletivos de artivismo, comunicação alternativa e cultura livre na Espanha – Baixa Cultura (Brasil) / Zemos98 – Cultura Libre e Innovación Social (Espanha)
CATEGORIA 3
Nome do projeto – Entidades/ Coletivos
- Lxs jóvenes cantamos nuestros derechos – Fundación SES (Argentina) / Fundación Salvadoreña Para la Promoción Social y el Desarrollo Económico (FunsalProdese) (El Salvador)
- Proyecto Ja’ab de edición colectiva y fomento de la escritura y la lectura en el área maya – Museo de la Palabra y de la Imagen (El Salvador) y SOM Editorial Colectiva A.C. (México)
- Kwatiara Abya Yala (Escrita Indígena da América) – Thydêwá (Brasil) / Comunidad Indígena Territorial Comechingón Sanavirón Tulián (Argentina) / Comunidad Linkan Antai Corralitos (Argentina)
- Ventana a la biodiversidad – Cultura Savia A.C. (México) / Unesco Etxea – Centro Unesco del País Vasco (Espanha)/ .txt Texto de Cinema (Brasil)
- Porto Alegre – Tijuana: mulheres olhando para seu cotidiano e além dele – Cidadania e Arte (Brasil) / Imagen y Creación (México)
- Taller Comunitario de Creación Cinematográfica Intercultural con y para Niños – CinemaTequio (México) / Sociedad de Arqueología e Historia Museo Fonck (Chile) / Club de excursionismo Grupo Tacitas (Chile)
- Oralidade escrita – Fundación Abriendo Surcos (Argentina) / Coletivo Aty Sâso (Brasil)
Saiba mais sobre o edital:
Edital IberCultura Viva de Intercâmbio
Primeiro Termo Aditivo ao Edital de Intercâmbio
Informação aos Interessados V – Projetos Habilitados nas Categorias I e III
Informação aos Interessados VII – Aviso Prazo de Resolução
Informação aos Interessados VIII – Complementação da Fase de Recursos
Informação aos Interessados IX – Aviso do Prazo de Resolução
Informação aos Interessados X – Publicação dos Resultados das Categorias I e III
Informação aos Interessados XI – Publicação dos Resultados Definitivos das Categorias I e III
Teatro Trono visitará organizações argentinas com a Caravana Corpos sem Fronteiras
Em 01, mar 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
A Caravana pela Vida – De Copacabana a Copacabana, aventura que acabou se transformando numa espécie de patrimônio do movimento de Cultura Viva Comunitária, saiu de Copacabana, na Bolívia, em 26 de maio de 2012 e chegou a Copacabana, Brasil, em 18 de junho. Desde então o caminho iniciado pelos atores do Teatro Trono-Compa é seguido por muitas organizações de cultura de base comunitária. Em 2015, por exemplo, a Cooperativa La Comunitaria da Argentina visitou o Teatro Trono em El Alto, Bolívia. Agora, os bolivianos fazem o caminho de volta percorrendo organizações da Rede Nacional de Teatro Comunitário da Argentina.
Ao longo de um mês, entre 23 de março e 23 de abril, a Caravana Corpos sem Fronteiras passará por oito províncias argentinas. Quinze integrantes do Teatro Trono apresentarão a obra “Arriba El Alto” nas paradas. Também está prevista uma oficina a cargo de Iván Nogales (fundador do Teatro Trono), “A descolonização do corpo”.
Confira as paradas da caravana:
Parada 1: Quarta-feira (23/03), quinta-feira (24/03) e sexta-feira (25/03)
Onde: Catamarca. Quem recebe: Grupos culturais de Catamarca e Guardapalabras de la Estación.
Parada 2: Sábado (26/03), domingo (27/03), segunda-feira (28/03), terça-feira (29/03)
Onde: Mendoza. Quem recebe: Grupo Chacras para Todos.
Parada 3: Quarta-feira (30/03)
Onde: Santa Rosa (La Pampa). Quem recebe: Cooperativa La Comunitaria (Santa Rosa)
Quinta-feira (31/03), General Pico (La Pampa). Quem recebe: La Comunitaria (General Pico)
Parada 4: Sexta-feira (01/04), sábado (02/04), domingo (03/04), segunda-feira (04/04), até terça-feira (05/04).
Onde: Rivadavia. Quem recebe: Cooperativa La Comunitaria (Rivadavia)
Parada 5: Quarta-feira (06/04), quinta-feira (07/04), sexta-feira (08/04), sábado (09/04), domingo (10/04)
Onde: 9 de Julio. Quem recebe: Cruzavías (9 de Julio)
Parada 6: Segunda-feira (11/04), terça-feira (12/04), quarta-feira (13/04)
Onde: Moreno: Culebrón Timbal, La rotonda, Crear Vale la pena
Parada 7: Jueves 14, Viernes 15, Sábado 16, Domingo 17
Onde: Buenos Aires. Quem recebe: Catalinas Sur, Barracas, grupos da capital que queiram compartilhar
Parada 8: Segunda-feira (18/04), terça-feira (19/04)
Onde: Córdoba. Quem recebe: Grupo Orilleros de la Cañada.
Parada 9: Quarta-feira (20/04), quinta-feira (21/04)
Onde: Salta. Quem recebe: Grupo Alas. Pré-Encontro Nacional de Teatro Comunitário.
Parada 10
Onde: Jujuy. Quem recebe: Silvia Bucari.
Sábado (23/04): regresso de Jujuy a Bolívia por Tarija.
Saiba mais:
Caravana Cuerpos sin Fronteras, por Marlen Argueta (Plataforma Puente)
“Somos caravanas”, por Iván Nogales (Plataforma Puente)
Caravana Pela Vida – De Copacabana a Copacabana: a aventura que fez história
Conheça os 14 projetos contemplados nas categorias 1 e 3 do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio
Uma rede de festivais internacionais de teatro de bonecos; um museu virtual com histórias de vida de brasileiros e argentinos; uma coleção ibero-americana de livros digitais de autores indígenas; o mapeamento de coletivos espanhóis de comunicação alternativa e cultura livre; encontros de organizações juvenis durante a Cúpula Social do Mercosul; um videoblog que trata de imaginário cultural e biodiversidade; oficinas de vídeo dirigidas a mulheres das periferias de Porto Alegre e Tijuana (México); oficinas de produção cinematográfica digital para meninas e meninos pertencentes a povos originários do Chile.
Esses são alguns dos projetos vencedores do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, criado para incentivar a integração e o desenvolvimento de redes entre organizações culturais de países ibero-americanos. Cada um dos 14 premiados receberá US$ 5 mil.
Lançado em 4 de agosto de 2015, este primeiro edital de intercâmbio do programa de cooperação IberCultura Viva foi dividido em três categorias: 1) intercâmbio (mobilidade e criação de redes) entre agentes culturais; 2) participação no 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, de 27 a 31 de outubro de 2015, em El Salvador; e 3) criação de conteúdos culturais (produtos) feita em conjunto por organizações da sociedade civil de dois ou mais países.
Ao todo, serão destinados US$ 90 mil. Desse montante, US$ 35 mil vão para categoria 1 (US$ 5 mil para os sete primeiros colocados) e US$ 35 mil para a categoria 3 (US$ 5 mil para os sete primeiros lugares). Os outros US$ 20 mil, referentes à categoria 2, foram distribuídos entre 10 agentes culturais dos seguintes países: Chile (2), Brasil (3), Argentina (3) e Peru (2). Eles receberam US$ 2 mil como apoio à viagem a El Salvador.
As inscrições estiveram abertas de 4 de agosto a 1 de dezembro. Podiam participar entidades legalmente constituídas ou coletivos reconhecidos nacionalmente pelo desenvolvimento de atividades ou processos culturais nos países ibero-americanos. Os projetos deveriam contemplar alguns objetivos, como a valorização da diversidade cultural e da educação, a promoção da participação social como um direito cidadão, a defesa dos direitos humanos e a integração entre países.
A Unidade Técnica do IberCultura Viva e o escritório da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) em Brasília ficaram responsáveis pela etapa de habilitação dos projetos. A etapa seguinte, de julgamento, ficou a cargo do Comitê Intergovernamental (formado por representantes dos 10 países-membros) e do Comitê Técnico (Costa Rica, Chile e Argentina) do programa.
Participaram da avaliação por parte do Comitê Intergovernamental: Diego Benhabib, Silvana Fabbricatore, Rosario Lucesole e Florencia Pinto (Ministério de Cultura da Argentina); Alexandre Santini (Ministério da Cultura do Brasil); Marianela Riquelme Aguilar (Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile); Fresia Camacho e Eduardo Reyes Paniagua (Ministério de Cultura e Juventude de Costa Rica); Alejandro Lozano Conde (Direção Geral de Culturas Populares, México); Pilar Torre Villaverde (Ministério de Educação, Cultura e Esportes de Espanha); César Pineda (Secretaria de Cultura da Presidência de El Salvador); Fabiola Figueroa, Lilybeth Echeandía, Alonso Santa Cruz y Estefanía Jesus Lay Guerra (Ministério de Cultura do Peru); Zulma Masi (Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai); Gustavo Piegas Marsiglia (Ministério de Educación e Cultura do Uruguai).
Por parte do Comitê Técnico, os avaliadores foram Diego Benhabib, coordenador do programa Puntos de Cultura do Ministério de Cultura da Argentina; Fresia Camacho, diretora nacional de Cultura, e Eduardo Reyes, gestor cultural do Ministério de Cultura e Juventude de Costa Rica; Moira Eugenia Delano Urrutia, chefa do Departamento de Cidadania Cultural do Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile.
Mais informações: https://www.oei.org.br/index.php?secao=noticia&id=123
Confira a relação definitiva de projetos contemplados:
CATEGORIA 1
Nome do projeto – Entidades/ Coletivos
- Trenzando caminos. Una construcción político cultural, desde la sociedad civil en el Mercosur – Asociación Ecuménica de Cuyo ( FEC) Argentina / Centro Tierra Nueva Argentina /Centrac – Centro de Acción Cultural Centrac Brasil / CPP – Centro de Participación Popular Montevideo- Uruguay / ECO – Educación y Comunicaciones Chile /SEDEJ – Servicio para el desarrollo de los jóvenes Chile / Decidamos – Campaña por la Expresión Ciudadana Paraguay
- Red de Festivales Internacionales de Teatro de Titeres Colombiatiteres – Red Colombia Títeres; Fundación La Tortuga Triste; Manicomio de Muñecos de Medellín; Trotasueños de Cartagena –y Agárrate Catalina de Argentina- grupo para la movilidad
- Mundo Puckllay y Pé No Chão. Un enlace artístico y cultural entre Perú y Brasil (1ra Etapa) – Puckllay (Peru) / Pé no Chão (Brasil)
- Museu da Pessoa. Rede Internacional de Histórias de Vida – Instituto Museu da Pessoa (Brasil) / Emiliano Polcaro – Museo de la Persona Argentina (Argentina)
- II Foro educativo centroamericano. Desarrollo curricular y Arte Social, Etapa I – Sociedad Civil para el Arte y la Cultura Guanared / Red Centroamericana Maraca
- Integración entre agentes culturales de Costa Rica (Red Cultura Viva Comunitaria) y Chile (Nodo Valpo) – Costa Rica (Red Cultura Viva Comunitaria) y Chile (Nodo Valpo)
- Mapeamento de coletivos de artivismo, comunicação alternativa e cultura livre na Espanha – Baixa Cultura (Brasil) / Zemos98 – Cultura Libre e Innovación Social (Espanha)
CATEGORIA 3
Nome do projeto – Entidades/ Coletivos
- Lxs jóvenes cantamos nuestros derechos – Fundación SES (Argentina) / Fundación Salvadoreña Para la Promoción Social y el Desarrollo Económico (FunsalProdese) (El Salvador)
- Proyecto Ja’ab de edición colectiva y fomento de la escritura y la lectura en el área maya – Museo de la Palabra y de la Imagen (El Salvador) y SOM Editorial Colectiva A.C. (México)
- Kwatiara Abya Yala (Escrita Indígena da América) – Thydêwá (Brasil) / Comunidad Indígena Territorial Comechingón Sanavirón Tulián (Argentina) / Comunidad Linkan Antai Corralitos (Argentina)
- Ventana a la biodiversidad – Cultura Savia A.C. (México) / Unesco Etxea – Centro Unesco del País Vasco (Espanha)/ .txt Texto de Cinema (Brasil)
- Porto Alegre – Tijuana: mulheres olhando para seu cotidiano e além dele – Cidadania e Arte (Brasil) / Imagen y Creación (México)
- Taller Comunitario de Creación Cinematográfica Intercultural con y para Niños – CinemaTequio (México) / Sociedad de Arqueología e Historia Museo Fonck (Chile) / Club de excursionismo Grupo Tacitas (Chile)
- Oralidade escrita – Fundación Abriendo Surcos (Argentina) / Coletivo Aty Sâso (Brasil)
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Saiba mais sobre os projetos:
CATEGORIA 1
1. “Trançando caminhos. Uma construção politico-cultural, a partir da sociedade civil no Mercosul”
O projeto busca, a partir de uma proposta de cogestão, realizar um encontro entre grupos e organizações juvenis de Chile, Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil que trabalham a partir da arte e da cultura, em um processo de integração regional e cultural. As atividades serão desenvolvidas durante a Cúpula Social do Mercosul, em Montevidéu (Uruguai), durante o mês de junho de 2016.
Países envolvidos: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai
Proponentes: Asociación Ecuménica de Cuyo (FEC), Argentina / Centro Tierra Nueva, Argentina/ Centro de Ação Cultural (Centrac), Brasil / Centro de Participación Popular (CPP), Montevideo – Uruguay / ECO – Educación y Comunicaciones, Chile / Servicio para el desarrollo de los jóvenes (Sedej), Chile / Decidamos – Campaña por la Expresión Ciudadana, Paraguay
2. Rede de Festivais Internacionais de Teatro de Bonecos – Colômbia Títeres
A rede é um coletivo formado por fundações e corporações que têm um objetivo em comum: a realização de festivais internacionais de teatro de bonecos com companhias procedentes da Ibero-América. Uma vez selecionados os grupos, eles fazem um recorrido por três cidades colombianas, com quatro sessões em cada uma, para um total de 12 sessões. O projeto beneficiará 2.000 crianças com a apresentação de 12 sessões do espetáculo Poquito a poco, da companhia argentina Agarrate Catalina, em festivais de Cartagena, Medellín e Popayán.
Países envolvidos: Colômbia e Argentina
Proponentes: Red Colombia Títeres, Fundación La Tortuga Triste, Manicomio de Muñecos de Medellín, Trotasueños de Cartagena (Colômbia) e Agárrate Catalina (Argentina)
3. Mundo Puckllay e Pé No Chão. Um enlace artístico e cultural entre Peru e Brasil (1ª etapa)
O projeto se inspira no jogo infantil de rua que ainda resiste em alguns bairros de muitos países. Também faz alusão ao fato de ir avançando, rompendo fronteiras, ganhando espaços a partir do jogo – e neste caso, da arte e da cultura. A proposta é de intercâmbio artístico e pedagógico entre as duas organizações, Puckllay (Peru) e Grupo de Apoio Mútuo Pé no Chão (Brasil). O projeto será executado na cidade de Recife. Vão viajar do Peru para a capital pernambucana seis jovens integrantes do elenco da escola de arte e desenvolvimento de Puckllay, três artistas pedagogos e um diretor. Entre os produtos esperados estão um espetáculo com crianças e adolescentes em Recife, intervenções artísticas nas ruas e oficinas de projeção para a comunidade dirigidos pelas duas organizações.
Países envolvidos: Peru e Brasil
Proponentes: Puckllay (Peru) / Pé no Chão (Brasil)
4. II Foro Educativo Centro-americano – Desenvolvimento curricular e arte social, etapa I
O foro educativo reunirá em Costa Rica representantes das organizações que integram a Rede Maraca para desenvolver o desenho curricular de arte social centro-americano como estratégia de intervenção social com jovens. Propõe-se uma intervenção de formação dirigida a facilitadores, docentes, líderes comunitarios e outros que trabalham com população juvenil e cultura de paz. O projeto terá a participação de pessoas de Belice, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicaragua e Panamá.
Proponentes: Sociedade Civil para a Arte e a Cultura Guanared e Rede Centro-americana Maraca
Países envolvidos: México, Guatemala, Belice, El Salvador, Honduras, Nicaragua, Costa Rica e Panamá.
5. Museu da Pessoa – Rede Internacional de Histórias de Vida
Cerca de 16 mil histórias de vida fazem parte do acervo do Museu da Pessoa, museu virtual colaborativo criado em São Paulo em 1991. O projeto “Rede Internacional de Histórias de Vida” visa a disseminação da tecnologia social criada pelo museu para um grupo de argentinos interessados em desenvolver projetos de memória. O foco principal é o compartilhamento da metodologia e a integração das histórias de vida. A ideia é promover no portal www.museudapessoa.net o encontro dessas pessoas em uma rede internacional que contribuirá para o fortalecimento da identidade e das relações entre os povos.
Países envolvidos: Brasil e Argentina
Proponentes: Instituto Museu da Pessoa (Brasil) / Emiliano Polcaro – Museo de la Persona Argentina (Argentina)
6. Integração entre agentes culturais de Costa Rica (Rede Cultura Viva Comunitária) e Chile (Nodo Valpo)
O projeto tem como finalidade o fortalecimento do trabalho colaborativo e em rede mediante a realização de intercâmbios de experiências, circuitos culturais e práticas locais de desenvolvimento cultural que estão se executando em Chile e Costa Rica. Entre os resultados esperados estão a realização de 12 (4 no Chile e 8 na Costa Rica) circuitos de experiências locais e o registro da experiência por meio de diários de viagem, entrevistas e minidocumentários. O projeto será desenvolvido em cidades costarricenses (San José, San Carlos, San Ramón, Cartago, Talamanca e Puerto Viejo) e chilenas (Valparaíso, Viña del Mar, Quillota, Quilpué, Marga Marga e Quillota).
Países envolvidos: Costa Rica e Chile
Proponentes: Red Cultura Viva Comunitaria (Costa Rica) e Nodo Valpo (Chile)
7. Mapeamento de coletivos de artivismo, comunicação alternativa e cultura livre na Espanha
O projeto busca fazer um mapeamento de coletivos que atuam na intersecção entre comunicação, arte (ativismo) e cultura livre na Espanha. O objetivo é identificar estas iniciativas, compreender seu funcionamento e suas singularidades, e a partir daí produzir material que sirva de protótipo para a identificação e a potencialização de iniciativas semelhantes na América Latina. O produto inicial é um site (em software livre) para documentar o processo de realização do projeto. Ao longo da pesquisa serão definidos os outros produtos: podem ser desde vídeos curtos com os coletivos mapeados até um documentário de até 30 minutos com todos os participantes e/ou um e-book, com entrevistas, textos de apresentação e análise dos resultados.
Países envolvidos: Brasil e Espanha
Proponentes: Baixa Cultura (Brasil)/ ZEMOS98 – Cultura Libre e Innovación Social (Espanha)
CATEGORIA 3
1. Kwatiara Abya Yala (Escrita Indígena da América)
Kwatiara é uma coleção de livros digitais de autoria de indígenas de diferentes etnias do território brasileiro. Nasceu de oito Pontos de Cultura Indígena do Brasil e agora, com este projeto, se transforma numa coleção maior, ibero-americana, começando por dois Pontos de Cultura Indígena da Argentina. A produção de dois livros digitais, de dois autores de etnias diferentes, em português e em espanhol, pretende ser suporte para salvaguarda e projeção dos valores das culturas indígenas, colaborando com a preservação e valorização do patrimônio imaterial das populações indígenas.
Países envolvidos: Brasil e Argentina
Proponentes: Thydêwá (Brasil) / Comunidad Indígena Territorial Comechingón Sanavirón Tulián (Argentina) / Comunidad Linkan Antai Corralitos (Argentina)
2. Projeto Ja’ab de edição coletiva e fomento da escrita e da leitura na área maia (“Proyecto Ja’ab de edición colectiva y fomento de la escritura y la lectura en el área maya”)
O Projeto Ja’ab é uma plataforma que pretende, de manera inclusiva e participativa, construir a primeira coleção coletiva ibero-americana vinculando mais de 500 mil jovens de cinco países (El Salvador, Honduras, Guatemala, Belice e México) em sua confecção. No total, participam do Proyecto Ja’aab 12 grupos de 12 cidades. Com o prêmio deste edital, pretende-se terminar de elaborar a publicação Memorándum, o primeiro título da coleção criada pelo Projeto Ja’ab. O volume é relativo à cidade de San Salvador e trata da recuperação da memória histórica. Mais além dos produtos, espera-se que a coleção fomente realmente a leitura e gere novas práticas locais de escrita coletiva.
Países envolvidos: El Salvador, Honduras, Guatemala, Belice e México
Proponentes: Museo de la Palabra y de la Imagen (El Salvador) e SOM Editorial Colectiva A.C. (México)
3. Janela para a biodiversidade (“Ventana a la biodiversidad”)
É uma iniciativa de criação artística colaborativa e intercultural que manifesta o vínculo existente entre imaginário cultural e biodiversidade. A plataforma de criatividade colaborativa Ventana a la Diversidad (www.abrituventana.org), na qual se insere esta iniciativa, propõe uma primeira colaboração artística entre três grupos de jovens: Yucatecos (México), Guaraníes Mbya (Brasil) e Vascos (Espanha). A proposta é de uma tripla obra “audiovisual-multimídia” que inclui 15 micrometragens (cinco por comunidade participante) e uma plataforma web, um videoblog e seis curtas-metragens documentais (dois por comunidade) e um curta-metragem experimental.
Países envolvidos: México, Brasil e Espanha
Proponentes: Cultura Savia A.C. (México) / Unesco Etxea – Centro Unesco del País Vasco (Espanha)/ .txt Texto de Cinema (Brasil)
4. Porto Alegre – Tijuana: mulheres olhando para seu cotidiano e além dele
O projeto enfoca a realização de oficinas de vídeo direcionadas a mulheres em vulnerabilidade social residentes em Porto Alegre e Tijuana (México), fortalecendo as relações entre processos criativos e sociais. Além de oficinas de capacitação, a proposta inclui uma exposição coletiva do material produzido pelos grupos, projeções nas duas cidades e divulgação do material em um site, com conteúdo em português e espanhol.
Países envolvidos: Brasil e México
Proponentes: Cidadania e Arte (Brasil) / Imagen y Creación (México)
5. Oficina comunitária de criação cinematográfica intercultural com e para crianças (Taller comunitario de creación cinematográfica intercultural con y para niños)
O projeto propõe a realização de uma oficina de produção audiovisual para meninas e meninos de povos originários, em que será produzido, de maneira prática e lúdica, um curta-metragem baseado em uma relato da tradição oral da comunidade ou região, de preferência com diálogos na língua nativa. O projeto terminará com a apresentação do curta na comunidade. A ideia é ter duas oficinas de produção cinematográfica digital e dois curtas realizados por e para crianças pertencentes a povos originários do Chile.
Países envolvidos: México e Chile
Proponentes: CinemaTequio (México) / Sociedad de Arqueología e Historia Museo Fonck (Chile) / Club de excursionismo Grupo Tacitas (Chile)
6. Os jovens cantamos nossos direitos (“Lxs jóvenes cantamos nuestros derechos”)
O projeto consiste na produção de uma peça musical criada e interpretada por jovens da Argentina e de El Salvador. Um dos resultados esperados é o fortalecimento da identidade coletiva da Liga Ibero-americana de Organizações da Sociedade Civil (www.ligaiberoamericana.org) por meio do compartilhamento de olhares e experiências sobre educação e trabalho na região. Espera-se reproduzir a canção em pelo menos oito encontros regionais, entre eles a XXV Cúpula Ibero-americana de Chefas e Chefes de Estado. Estão previstas seis oficinas de produção criativa com a participação de no mínimo 50 jovens (três oficinas em Argentina e três em El Salvador).
Países envolvidos: Argentina e El Salvador
Proponentes: Fundación SES (Argentina) / Fundación Salvadoreña para la Promoción Social y el Desarrollo Económico – FunsalProdese (El Salvador)
7. Oralidade escrita
O projeto propõe a realização de um concurso literário de lendas de povos originários na província de Formosa (Argentina). Os textos mais abrangentes nas questões da cultura matriz identitária serão publicados em uma antologia de relatos/contos, na língua original da tribo, com tradução para espanhol e português. Estão previstos uma oficina de redação e contação de histórias para a sistematização da oralidade e o intercâmbio entre agentes culturais de Brasil, Argentina e dos povos originários. Um dos objetivos é o registro por escrito das lendas tradicionais das etnias mataco-guaycurú que habitam na região e também presentes no Brasil.
Países envolvidos: Argentina e Brasil
Proponentes: Fundación Abriendo Surcos (Argentina) / Coletivo Aty Sâso (Brasil)
Foto em destaque: Puckllay Arte y Comunidad – Peru
Scholas Occurrentes e Cultura Viva: a arte do encontro num projeto do Papa Francisco
Em 05, fev 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
O que aconteceria se um jovem checheno tivesse que conviver com um jovem russo, dormindo no mesmo quarto e dividindo a comida? Ou se um israelense tivesse que viver com um palestino sob o mesmo teto? Em Rondine, uma vila medieval em Arezzo, na Itália, isso já é realidade: ali, graças a um projeto do Papa Francisco, jovens de países “inimigos”, ou de culturas bem diferentes, são convidados a estudar e viver juntos, para que aprendam a dialogar e se tornem os “líderes de amanhã”. “Potenciar o encontro, praticar a alteridade (ou se reconhecer no ‘outro’ por mais diferente que este ‘outro’ possa parecer), exercitar a tolerância e a paz, esta é a ideia do Scholas Occurrentes”, explica o historiador Célio Turino, ex-secretário de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura [*].
E foi para tratar dessas “Escolas do Encontro” – ou melhor, de como a experiência da Cultura Viva Comunitária na América Latina pode contribuir para a promoção desses encontros para a paz – que Célio Turino esteve nesta quarta-feira (03/02), pela segunda vez, com o Papa Francisco no Vaticano. Ele foi a Roma acompanhado da mulher, a professora universitária Silvana Bragatto, e do cineasta Silvio Tendler, que pretende dirigir um documentário sobre 12 experiências emblemáticas de Cultura Viva na América Latina.
O registro audiovisual dessas iniciativas de cultura de base comunitária foi um dos compromissos firmados neste encontro, além da confecção de um livro, da realização de residências artístico-pedagógicas sobre a relação entre escolas e comunidades, e da organização de um congresso mundial de arte-educação, o Encontro da Harmonia, provavelmente em maio de 2017, no Vaticano. Um seminário de imersão na cidade de Medellin, Colômbia, em maio de 2016, também está nos planos.
A reunião de trabalho foi organizada por José Maria Corral, presidente da Fundação Pontifica de Scholas Occurrentes. “Foi um encontro de simplicidade e audácia. Papa Francisco, mais uma vez, falou da importância da arte para uma mudança civilizatória. E saímos com resultados práticos e um convênio assinado, com previsão de três anos de duração inicial”, escreveu Célio Turino em sua página no Facebook.
Segundo ele, a ideia é desenvolver, a partir de agora, acordos com governos, universidades, empresas e entidades comunitárias para a criação de Pontos de Encontro (semelhantes aos Pontos de Cultura) em todo o mundo, “com orçamento mínimo e garantia de autonomia, protagonismo e empoderamento social”. A partir desses Pontos de Encontro seriam realizadas atividades culturais, ambientais e comunitárias, num serviço-aprendizagem chamado Agentes Jovens de Cultura Cidadã. Esses acordos também teriam como objetivo os “entornos criativos para novas pedagogias que cruzem arte/educação e comunidades”.
As escolas do encontro
Organização internacional de direito pontifício instituída pelo Papa Francisco em agosto de 2013, as Scholas Occurrentes (“Escolas do Encontro”) estão presentes em 82 países e têm sedes no Vaticano, na Argentina, na Espanha, no Paraguai e em Moçambique. Sua missão é integrar as comunidades, com foco naquelas de menores recursos, buscando integrar escolas (públicas e privadas) e redes educativas de todo o mundo a partir de propostas tecnológicas, esportivas e artísticas.
São vários os programas educativos que fazem parte da organização. Há o Scholas Cidadania, o Scholas Social, o Scholas Art, o Scholas Labs… Quem fez a ponte com Célio Turino foi a argentina Damiana Lanusse, responsável pelo Scholas Art. Os dois foram apresentados pela bailarina e coreógrafa Inés Sanguinetti (Fundación Crear Vale la Pena), que há muito trabalha com comunidades da periferia de Buenos Aires. Damiana recebeu a edição em espanhol do livro de Célio, Puntos de Cultura – Cultura Viva en Movimiento, e pouco depois ele foi convidado pela Academia de Ciências do Vaticano para a conferência de abertura do IV Congresso Scholas.
Inés, Célio e Damiana tiveram uma primeira conversa com o papa sobre Cultura Viva em fevereiro de 2015. No fim de outubro, os três apresentaram a proposta do Vaticano aos participantes do 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em San Salvador. Em reunião com o Conselho Latino-americano de CVC, eles falaram sobre como acreditavam que os Pontos de Cultura podiam fazer a mediação dos encontros pela paz idealizados pelas Scholas Occurrentes. Afinal, ainda que não trabalhem com realidades extremadas, como as dos jovens que vivem em áreas de guerra, os Pontos de Cultura há anos vêm buscando o diálogo, a harmonia, em regiões onde a guerra não é declarada, mas existe em forma de desigualdade social.
Pontos de convergência
Na plenária final do congresso, na Concha Acústica da Universidade de El Salvador, eles ressaltaram que se tratava de um programa laico e que surgiu de uma iniciativa do Papa Francisco quando ainda era arcebispo de Buenos Aires. “Era um encontro de vizinhos de realidades e religiões diferentes, e que agora se transformou num programa que pretende atingir 60 milhões de jovens em 200 mil pontos do mundo”, destacou Célio.
Damiana, por sua vez, disse que estava muito impressionada com o que o movimento de Cultura Viva havia conquistado nesses anos e que via nessas iniciativas de base comunitária muitas afinidades com as Scholas Occurrentes. “Com esse programa que lançou há dois anos, o papa pede que a educação se transforme por meio da arte, do esporte e da tecnologia. Creio que a rede de Cultura Viva Comunitária já o faz por meio da arte e seria espetacular que a experiência de vocês pudesse ser levada a outros continentes, a outros povos, e lhes servisse de modelo”, comentou.
Outro ponto de convergência, segundo ela, seria a proposta de “sair dos muros, construir pontes, ir às periferias”. “Isso certamente pode se ressignificar de acordo com cada contexto e é um convite que vocês já estão vivendo na prática com essas experiências”, afirmou a argentina, antes de repetir para a plateia a palavra que havia aprendido no dia anterior com uma companheira colombiana: yuluka. “Significa estar de acordo para viver em harmonia”, explicou. Como ensinam os índios kogi de Sierra Nevada, yuluka é estar de acordo em todos os planos, conquistando a harmonia interna e externa, alcançando o equilíbrio com a natureza.
Saiba mais: https://www.scholasoccurrentes.org
Leia o convênio firmado no Vaticano em 3 de fevereiro de 2016
Leia também: Pontos de Cultura inspiram projeto mundial do Papa
[*] Célio Turino escreveu sobre o primeiro encontro com o papa no blog da Revista Fórum: https://www.revistaforum.com.br/brasilvivo/2015/02/23/encontro-com-papa-francisco/
Cultura Viva Comunitária: Convivência para o bem comum
Em 02, fev 2016 | Em Artigos e publicações, Notícias | Por IberCultura
Por Jorge Melguizo*
(…)Incluir as Culturas Vivas Comunitárias nas decisões políticas e orçamentárias nos levará a incluir na sociedade os múltiplos projetos culturais que são feitos em nossos bairros e zonas rurais sem o Estado, apesar do Estado ou inclusive contra o Estado.
Nestas expressões culturais de bairro e rurais, múltiplas e diversas, está uma boa parte da cultura para a paz que necessitamos com urgência potencializar para que a convivência seja uma palavra que nos defina como sociedade.
O que entendemos por Culturas Vivas Comunitárias: [1]
Somos expressões comunitárias que privilegiam na cultura os coletivos e as pessoas, e os processos sobre os produtos, na realização da emoção e a beleza.
Somos um movimento latino-americano de arraigo comunitário, local, crescente e convergente, que assume as culturas e suas manifestações como um bem universal e como um pilar efetivo do desenvolvimento humano e social.
Nosso objetivo é conseguir que os governos destinem ao menos 0,1% de seus orçamentos nacionais e municipais a programas de Culturas Vivas Comunitárias. E buscamos a possibilidade de que os bens e programas públicos se construam em aliança real entre o Estado e as organizações sociais.
Na Declaração de La Paz sobre Cultura Viva Comunitária, dizemos:
“(…) A nova etapa das democracias e dos Estados latino-americanos requer a recuperação das experiências sociais e populares. A América Latina está em um momento de esperança depois de uma longa crise. Nos abre um panorama de restauração, no qual as experiências e organizações culturais comunitárias podem participar de processos de transformação novos e emancipadores.
(…) Propomos que em nossos países, a exemplo das organizações bolivianas, 18 de maio seja declarado Dia da Cultura Viva Comunitária, já que este encontro continental tem marcado a história comum de nossos povos, e o impulso da Semana Continental pela Cultura Viva Comunitária, de 12 a 19 de abril de cada ano”.
O que oferecemos:
Muitas das perguntas que nossas sociedades e nossos governos têm hoje têm respostas (e novas perguntas) nas Culturas Vivas Comunitárias. Nestes projetos culturais de bairros e rurais há cultura, certamente. Mas há também segurança e convivência, e há inclusão social, e habitação e desenvolvimento econômico e educação. E oportunidades. A transversalidade já está no bairro e nesses projetos culturais: o importante é que os governos saibam ver essa transversalidade e saibam atuar de maneira similar entre suas diferentes dependências. Cultura Viva Comunitária não é um projeto só para as áreas de cultura. Ao contrário: vai muito mais além e oferece seus conceitos, suas metodologias, seus resultados e seus produtos a muitas áreas de governo: segurança, educação, esporte, recreação, bem-estar social, desenvolvimento social, infância, juventude, terceira idade, mulheres, turismo, economia, inovação.
Nesses projetos já há alianças público-privadas-comunitárias: o desenvolvimento conceitual e metodológico destes coletivos culturais e artísticos, e seus próprios recursos, tem sido historicamente um investimento público, social, não quantificado e, portanto, não valorizada: valorizá-la, quantificá-la, reconhecê-la como aporte das comunidades aos projetos públicos de transformação de uma sociedade, de uma cidade, é um imperativo.
Estas organizações comunitárias não estão esperando que financiem seus projetos, não estão pedindo: estão oferecendo. Estão se oferecendo na construção de melhores caminhos sociais, de caminhos reais de transformação.
O que estão esperando essas organizações das Culturas Vivas Comunitárias, o que propõem aos governos e ao setor privado e ao setor acadêmico é a soma de recursos, dos dessas organizações comunitárias com os dinheiros públicos – que são de todos e vocês manejam temporalmente – e com os dinheiros privados, para produzir maiores e melhores resultados.
Além disso, o caminho percorrido por algumas cidades e países – e a velocidade que está tomando este projeto continental – permite gerar facilmente uma rede de aprendizagens, de cruzamento de conceitos, de conteúdos, de metodologias, de documentos, de legislações, de experiências, de pessoas e coletivos.
Tudo isso já existe, não há que criá-lo. Há que conhecê-lo. Há que escutá-lo. Há que aproveitá-lo, há que potencializá-lo. Há que colocá-lo em relação com outras áreas da sociedade.
Essas muitas alianças e redes locais, nacionais e internacionais que estão trabalhando para o fortalecimento do local a partir de e com a cultura se convertem por si mesmas em um grande pacto sem fronteiras que ajuda a superar os egoísmos, os interesses e as miopias locais e nacionais.
A oportunidade está servida. As possibilidades são todas. Se não investimos em cultura, como sairemos das crises?
Nos tempos que correm, a cultura se torna necessidade. E o mais importante: a cultura é agora, mais do que nunca, uma grande possibilidade e uma magnífica oportunidade.
* Jorge Melguizo é consultor e conferencista em gestão pública, projetos urbanos integrais e cultura. É assessor do Governo da Cidade de Buenos Aires em Habitação e Inclusão. Foi Secretário de Cultura Cidadã e Secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Medellín.
**Este texto é um trecho do artigo publicado no livro Cultura Viva Comunitaria: Convivencia para el bien común, lançado em El Salvador durante o 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. A versão digital do livro pode ser acessada aqui: https://issuu.com/congresocvc.elsalvador/docs/libro_ii_congreso_latinoamericano_d
[1] Tirado do Documento de Conclusões do Primeiro Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária”, La Paz, Bolívia, maio de 2013. https://es.scribd.com/doc/147877286/Conclusiones-Final-4
O surgimento da plataforma Cultura Viva Comunitária México
Em 29, jan 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Por Rafael Paredes*
México é um país com uma extensão de 1.964.375 km2, o maior território da América Latina depois do Brasil, e com uma população de 112.336.538 de habitantes, sem contar os 20 milhões de mexicanos que vivem nos Estados Unidos. Na primeira vez que nos reunimos, em fevereiro de 2014, o companheiro Sael Blanco, do Coletivo Altepee, fez bem em ressaltar que o grande desafio da nossa articulação será construir pontes entre regiões distantes, realidades comuns e olhares diversos. Foi em outubro de 2015, depois de muita busca e diálogo, que na cidade de Tlaquepaque, Jalisco, reunimos 14 organizações para espalhar a semente da amizade e assim ver nascer a plataforma Cultura Viva Comunitária México.
Enquanto em Jalisco o Coletivo Cafeteros, a Abarrotera Mexicana, a CulturAula, o Coletivo Cultural Polanco, o Bailando Ayudamos e a ONG Más Música Menos Balas trabalham com resgate da memória, arte lúdica, autonomia audiovisual, diversidade musical e cultura de paz, do outro lado do país a Comunidade Comelibros e a Mazorca de Colores en Puebla trabalham com a promoção da leitura e a defesa do território.
Ao sudeste, o Coletivo Altepee de Veracruz promove a música tradicional de cordas e o Centro Cultural Ki’ki’t’aan, as expressões culturais emergentes da península de Yucatán. Ao norte, em Coahuila, encontramos o observatório infantil de direitos humanos Wacha Mi Barrio, e em Tamaulipas, o coletivo Aché Tének, que recupera espaços públicos para a convivência e a arte.
Por fim, a associação civil Planta Baja, em Michoacán, promove a música, a arte e os jogos tradicionais, enquanto o coletivo Habitajes da Cidade do México realiza ações no espaço público como prática reflexiva de direitos humanos.
Assim, com diferentes formas de acionar a partir da arte, da tradição, da investigação e da gestão, buscamos compartilhar nossos sonhos e nossa ética por uma ação cultural transformadora. Buscamos que a plataforma de Cultura Viva Comunitária México possa servir para que as organizações e as redes culturais já formadas no local possam se visibilizar, articular e fortalecer para incidir na política pública.
Estamos entusiasmados de participar do Conselho Latino-americano de Cultura Viva Comunitária e agradecidos do abraço de boas-vindas que temos recebido do Movimento de Arte Juvenil Mesoamericano (Maraca) e de todos os países que formam este movimento continental. México já está olhando para o sul.
*Rafael Paredes é membro do coletivo Abarrotera Mexicana e vice-presidente de inovação cidadã do Conselho Promotor de Inovação e Desenho de Jalisco.
Um quipo de mil nós – Cultura Viva na Costa Rica
Em 28, jan 2016 | Em Artigos e publicações, Notícias | Por IberCultura
Por Fresia Camacho (*)
Mulher de palavra
Escrevo neste momento do papel que assumi como diretora de Cultura do Ministério de Cultura e Juventude, desde maio de 2014. Um tempo antes desempenhei o cargo de assessora do ministro Manuel Obregón sobre culturas comunitárias. Dois anos e nove meses intensos. A principal razão que me mantém nas estruturas governamentais, sendo uma pessoa que sempre trabalhou como sociedade civil, tem sido o compromisso adquirido com o movimento de culturas vivas comunitárias. O movimento tem sido meu sustento emocional e sua agenda, a guia de ação.
Em setembro de 2015, fizemos a seleção da Primeira Convocatória de Pontos de Cultura em Costa Rica. Pontos de Cultura nasceu no Brasil e é hoje um programa emblemático porque reconhece o papel fundamental das organizações socioculturais na ativação das comunidades como espaços de crescimento, convivência, criatividade, participação e bem viver.
Pela complexidade dos processos institucionais, nossa primeira convocatória de Pontos de Cultura teve um prazo de um mês e tivemos que restringir a participação a organizações com personalidade jurídica, sem fins de lucro e com pelo menos três anos de experiência. Cento e vinte e cinco organizações concorreram em nosso pequeno país de 4,5 milhões de habitantes. O que teria acontecido se déssemos a possibilidade de participação a coletivos sem personalidade jurídica ou a pequenos empreendimentos de outro tipo? A quantidade de solicitantes teria triplicado, possivelmente. A grande participação na convocatória fala da efervescência que existe em cada rincão da Costa Rica no campo da cultura.
É uma atividade efervescente, muito diversa e organizada, para fazer valer os direitos culturais: um exército cultural que desde muitos diversos campos se manifesta, se pronuncia, defende, propõe, cria e é consciente de que a cultura está no centro da vida cotidiana e que deve estar no centro de qualquer modelo de país que queiramos construir e no centro de qualquer política pública. E assim no continente.
Um quipo de mil nós
Até uns cinco anos atrás não tinha a menor ideia de que chegaria a trabalhar para o Estado, muito menos que me corresponderia uma responsabilidade tão grande como a que me compete estes dias. Antes desta historia trabalhei com as comunidades, as organizações, as rádios, as mulheres e a gente jovem, sempre tentando conectar a emoção com a razão e com o corpo nos processos de construção de expressão, sentido e identidade. O Estado e as políticas públicas estavam distantes do meu campo de interesse.
Mas a história tem mais de cinco anos, possivelmente o dobro ou o triplo. Só posso relatar o que tem passado pela minha pele. É uma história que me mudou irremediavelmente.
Do norte ao sul houve uma viagem apoiada pela Fundação Avina que nos permitiu conectar iniciativas de todo o continente, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Neste espaço se encontraram as organizações pertencentes à Rede de Arte e Transformação Social da América Latina (Peru, Argentina, Brasil, Chile e Bolívia), com as organizações socioculturais da América Central. Entre a música, o ritual, o diálogo e o jogo ratificamos a importância dos encontros presenciais como ritos na construção de um movimento cultural, que ainda não tinha nome. Se a história deste movimento for contada com técnicas ancestrais, teria que ser um quipo (**), e cada encontro, um nó. E assim tem sido: cada encontro um nó para ativar as energias, conhecer e reconhecer-se como pares, definir a rota de viagem e a parada seguinte.
Depois de Santa Cruz de la Sierra se abriram os canais entre América Central e América do Sul, a comunicação fluiu, os companheiros e companheiras começaram a viajar de maneira mais assídua, não apenas para fazer teatro ou música juntos, e sim para debater, sensibilizar, compartilhar conhecimentos e ideias.
Minha memória, que é seletiva, recorda-se do argentino Eduardo Balán sentado no bar do Teatro Giratablas, expondo com veemência a necessidade de trabalhar o vínculo entre sociedade e política. Que não podíamos, nós que trabalhávamos no campo da cultura, seguir de costas para o âmbito das políticas estatais, onde se define o uso dos recursos. E que nós também fazíamos política pública desde as organizações.
No fim de 2010 reunimos em Medellín pessoas de 100 organizações culturais e de redes de cultura da América Latina, convocados pelos dois programas emblemáticos de aporte da cultura à transformação social: o Programa Pontos de Cultura do Brasil e a Secretaria de Cultura Cidadã de Medellín. Ali fundamos a Plataforma Puente para el Impulso de las Políticas Culturales en el Continente e nos propusemos como agenda principal conseguir 1% dos orçamentos nacionais para a Cultura (que é recomendação da Unesco) e 0,1% para a Cultura Viva Comunitária. Deste primeiro encontro, além da profusão de ideias, a paixão e o entusiasmo levaram os vínculos e as dinâmicas para outro nível.
Cultura Viva Comunitária emerge como plataforma e consegue convocar organizações culturais já consolidadas, referências do Estado de alguns países, mas logo se converte em um movimento que soma centenas de coletivos pequenos e médios de toda América Latina. Foros de Cultura Viva, seminários, oficinas, encontros… Uma dinâmica potente que reflete o poder da interconexão e, em especial, reflete que as condições estavam dadas para um movimento pelos direitos culturais. As e os líderes vão e vêm, disseminando as ideias.
Em 2013 fizemos na Bolívia o Primeiro Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, que mobilizou mais de 1.500 pessoas de 300 organizações culturais de todo o continente, e com eles, legisladores, secretários de Cultura, acadêmicos, gestores culturais de municípios e instituções públicas em busca de novas maneiras de entender a gestão cultural. O movimento tomou La Paz com sua alegria e levantou agendas e abriu espaços de reflexão e debate.
O seguinte nó do quipo: Em abril de 2014 em San José, Costa Rica, fomos sede do VI Congresso Ibero-americano de Cultura, organizado pela Segib, Secretaria Geral Ibero-americana (Cúpula de Presidentes), e se marcou um rito político para Plataforma Puente, pois conseguimos que o congresso se centrasse exclusivamente em Culturas Vivas Comunitárias.
Agendas compartilhadas
A construção de uma agenda compartilhada, que se recria e se reinventa em sua abordagem em cada país ou região, mas tem elementos comuns, se converte em um potente elemento de incidência.
Reconhecimento, formação, recursos, diálogos intersetoriais e construção conjunta, alimentar o tecido do trabalho em rede, são alguns dos fundamentos-chaves desta agenda que vai cobrando vida nos diversos rincões do continente.
Desenvolvem-se programas oficiais de Pontos de Cultura no Brasil, na Colômbia, no Peru, na Costa Rica, na Argentina, no Chile. Realizam-se diversos programas intersetoriais. Surge o IberCultura Viva, como fundo de estímulo entre ministérios de Cultura da Ibero-América para o intercâmbio de experiências e a produção conjunta.
Amplia-se a reflexão sobre o caráter do fazer cultural e compreende-se que as organizações civis também geram políticas públicas, muitas vezes de maneira mais efetiva que os Estados.
Mover-se, dialogar e incidir
E são feitas caravanas para sensibilizar, expor o tema, tocar corações. A música, a poesia, os pasacalles tomam os espaços públicos com uma só palavra de ordem: mostrar a potência das dinâmicas culturais comunitárias, unir as forças, levantar as agendas, descolonizar os espaços. Chegam os coletivos das sementes, da semeadura, das mulheres, das comunidades indígenas. Chegam mais coletivos de meios comunitários. O movimento se enriquece. Cada vez somos mais. Agora já não conseguimos reconhecer-nos todos pelos nomes, há rostos novos e desconhecidos que logo se voltam cúmplices. Move-se ao ritmo dos tambores e cada vez mais gente se sente convocada pelas palavras de ordem da Cultura Viva Comunitária. Uma agenda poderosa se levanta de maneira criativa, inovadora, apaixonada. As redes e os meios sustentam e projetam.
Pôr sobre a mesa o tema das políticas públicas de cultura, seus alcances, suas limitações. Levantar a voz para que se escute e se tome em consideração. Estudar, propor, ter uma postura como movimento, em municípios, em regiões, em países. Converter-se em referência.
Entre 2010 e 2014, construiu-se na Costa Rica a política dos Direitos Culturais e o movimento participou de maneira consistente, influindo em muitos de seus conteúdos principais. Em 2013, durante a campanha eleitoral costarricense, o movimento de Cultura Viva Comunitária, com o apoio do Ministério de Cultura, organizou um foro com candidatos políticos, que assinaram a carta do Movimento de Cultura Viva Comunitária e se comprometeram nesse ato a apoiar a agenda de trabalho. Em maio de 2014, o Ministério de Cultura e Juventude designou Diego Zúñiga (um dos líderes locais deste movimento) como assessor, e eu, Fresia Camacho, fui nomeada como diretora nacional de Cultura de Costa Rica. Um ano depois, Sylvie Durán, outra companheira do movimento, foi nomeada ministra de Cultura de Costa Rica.
A tomada dos espaços políticos
O desafio foi, para alguns de nós, a tomada dos espaços políticos: um trabalho muito mais articulado com instâncias do Estado para o desenvolvimento de programas conjuntos; o diálogo e a construção conjunta com instâncias de cooperação (como a Organização de Estados Ibero-americanos, OEI), o assumir responsabilidades públicas, tudo isso foi novo para muitas das pessoas que estávamos levantando estas agendas. Tratava-se de transcender o momento dos discursos e da incidência para assumir a responsabilidade no âmbito público. Acompanhados de excelentes gestores públicos, como Jorge Melguizo (Colômbia) e Célio Turino (Brasil), tivemos que “nos jogar na água” e reconhecer as instâncias do Estado como um espaço em que é necessário intervir, a partir do qual pode-se gerar transformações. Tivemos que mudar a perspectiva de olhar para estes espaços como algo alheio, distante, e entendemos que se não assumimos como nossas estas responsabilidades, com toda a complexidade que implicam, não podemos estar na oposição levantando agendas e apontando as coisas que precisam ser mudadas.
Estamos aprendendo a lidar com o emaranhado de leis, regulamentos e dinâmicas organizativas das instituições públicas, que muitas vezes são contrárias às necessidades e possibilidades das comunidades e das organizações. Temos aprendido a dialogar com os funcionários públicos, que muitas vezes se sentem ameaçados por outros olhares sobre o comunitário. Seguimos aprendendo a lidar com os tempos do Estado, que são muito mais lentos que os tempos do movimento e da sociedade civil. Compreendemos que para transformar o Estado é preciso ter armas diferentes e apoiar-se em saberes especializados; que a consolidação de programas ou projetos requer a instalação de mecanismos legais e de tecidos institucionais diferentes.
Aprendemos dia a dia a eleger as lutas, a enfocar as energias, a desenvolver a paciência, a escutar e aprender de quem tem mais experiência, a ter humildade (a presença em um posto político é algo temporal e em qualquer momento pode acabar). A tomar isso com calma, mas com pressa; a sério, mas com risos. De maneira constante.
Muitas perguntas, algumas sem respostas. Uma pergunta é como manter o vínculo e o trabalho conjunto entre o movimento e a institucionalidade, e ao mesmo tempo cuidar da autonomia do processo social, da própria liderança: como evitar a cooptação. Outra pergunta é como evitar o clientelismo para não repetir a política que beneficia os próprios e abandona ou debilita os outros. O Estado está a serviço de todas as pessoas, e neste caso a serviço de todos os grupos e organizações, reconhecidos ou não como parte do movimento de Cultura Viva Comunitária.
Na Direção de Cultura Nacional de Costa Rica estamos trabalhando em uma agenda com três pontos básicos: a instalação de fundos de estímulo que permitam canalizar recursos para as organizações socioculturais, mediante o programa Pontos de Cultura na Costa Rica e o IberCultura Viva; o impulso de programas de formação em gestão cultural; e o fortalecimento de espaços de participação efetiva na construção de planos e políticas nos territórios, na busca de modelos de participação viáveis e que se sustentem no tempo. Trata-se de estabelecer políticas públicas com mecanismos transparentes, participativos, equitativos e abertos.
Do gabinete da ministra de Cultura e Juventude, Diego Zuñiga continua ao lado do movimento, apoiando as caravanas para incidir nas políticas municipais, os encontros, os festivais, o fortalecimento de sua autonomia e seu acionar.
Tempo de autonomia, conectar e crescer
E o movimento começa a cultivar sua autonomia. De baixo para cima, desde as suas próprias lógicas. Na Costa Rica, no fim de 2014, o encontro anual propôs como tarefa a desconcentração: com Carolina Picado e Oriana Sujey Vindas, se iniciou um novo tempo no movimento de Cultura Viva Comunitária da Costa Rica. Identificaram-se os principais problemas: a participação das pessoas das regiões e a desconcentração; a autonomia política do movimento; a representatividade; a permanência. Em cada região do país são convocados os “círculos de ressonância”, responsáveis por eleger referências para o espaço de coordenação e para o espaço de comunicação. De baixo para cima. Constrói-se um plano e propostas baseadas nestas dinâmicas. Abrem-se espaços de diálogo nas regiões, com referências políticas ou institucionais. O movimento se enriquece, cresce, não tem donos.
Assim como abaixo, é acima
Com o crescimento vêm novos desafios: a discussão sempre presente do poder: quem toma as decisões, quem representa, como se garante a socialização de informação e conhecimentos. Discussões que retratam que o movimento está em uma nova dinâmica, que já não são aqueles 20 loucos iniciais, e sim 40, 80, 100… as loucas e os loucos visionários que querem transformar o mundo a partir da arte e que encontram neste espaço o lugar para fazer as perguntas e buscar as respostas.
Tempo de construir uma ética compartilhada, de convocar, de ampliar, de deixar de sentir que este movimento é uma organização com alguns donos. Tempo de ampliar os círculos até o infinito e integrar todos aqueles que se sintam parte e compartilhem a agenda e as perspectivas, que abonem este novo modelo de vida, em que a cultura está no centro.
* Fresia Camacho é diretora nacional de Cultura do Ministério de Cultura e Juventude de Costa Rica
* Fonte: Este artigo faz parte do livro Cultura Viva Comunitária: Convivência para o bem comum, lançado durante o 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em San Salvador, em outubro de 2015 (Compilação e edição: Jorge Melguizo).
** Quipo: conjunto de cordões de cores variadas, com nós, usado pelos índios peruanos para fazer cálculos e transmitir mensagens.
Caravana pela Vida – De Copacabana a Copacabana: a aventura que fez história
Em 28, jan 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Uma nova história foi escrita quando o pequeno ônibus de placa 2717BPE saiu do Lago Titicaca, na Bolivia, rumo à Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, naquele fim de maio de 2012. Dentro dele estavam umas 25 pessoas, a maioria integrantes do Teatro Trono – Compa, criado em 1989 na cidade de El Alto. Junto a eles ia o teatro-caminhão da companhia, de onde o grupo apresentaria a obra Até a última gota em algumas cidades do caminho. Além de propor debates e reflexões sobre as mudanças climáticas, a ideia era recolher ao longo do percurso demandas de meninos e meninas para tentar responder a uma questão: Que mundo queremos ter em 20 anos?
A pergunta vinha por causa da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que se realizaria no Rio de Janeiro de 20 a 22 de junho, 20 anos depois da histórica Cúpula da Terra no Rio, em 1992. O evento era o destino final da “Caravana pela Vida – De Copacabana a Copacabana”, e ainda que a aventura não fosse tão extraordinária aos olhos dos atores bolivianos, já acostumados a caravanas como aquela, para os brasileiros aquilo parecia algo heroico, mítico, espetacular.
“A Caravana pela Vida foi uma jornada épica, que veio do altiplano boliviano para a Rio+20 afirmando que cultura + natureza = cultura viva”, lembra Alexandre Santini, diretor da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. “Foi muito forte a chegada deles à Cúpula dos Povos na Rio+20. Nós os recebemos como heróis. Muita gente chorou, muita gente se comoveu com eles”, diz Marcelo das Histórias, gestor do Ponto de Cultura Nina, de Campinas (SP).
Por que uma caravana pela vida
Iván Nogales, o sociólogo boliviano fundador do Teatro Trono e da Comunidade de Produtores em Artes (Compa), conta que desde a criação da Plataforma Puente (em 2010) buscavam-se maneiras de visibilizar a Cultura Viva Comunitária, algo que permitisse impactar o continente na relação com os governos e a sociedade. Houve até uma campanha pelos Pontos de Cultura e muitos propuseram fazer um pequeno festival, uma obra de teatro, etc. O Teatro Trono, como tinha um teatro caminhão, propôs uma caravana. Na verdade, eles tinham pensado em algo maior, “do Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico”, mas não tinham dinheiro para isso.
Um dia, um amigo alemão entusiasta da ideia disse a Nogales que poderia conseguir “algum fundo”. “No final, conseguiu bem pouco, mas foi bom”, afirma o diretor boliviano. “Então aproveitei e disse, ‘Companheiros do Brasil, há esta possibilidade, podemos fazer uma caravana de Copacabana a Copacabana. Vamos com o teatro-caminhão, com uma obra de teatro maiúscula, grande, mas que trate de denunciar a venda do planeta com a economia verde na Rio+20.”
E assim começou a jornada que acabou se transformando numa espécie de patrimônio do movimento de Cultura Viva Comunitária. O teatro-caminhão saiu de Copacabana, Bolívia, no dia 26 de maio e chegou a Copacabana, Brasil, em 18 de junho. Antes de chegar ao Rio de Janeiro, passou por La Paz, El Alto, Huanuni, Oruro, Cochabamba, Villa Tunari, Santa Cruz, Puerto Suárez, Corumbá, Campo Grande, Rio Claro, São Paulo e Taubaté. Como não havia muito dinheiro, foram os Pontos de Cultura que os acolheram para dormir e comer e beber, numa espécie de “financiamento complementar”. (*)
De ponto a ponto, aplausos e braços abertos
A viagem foi narrada pela internet. No blog caravanario.wordpress.com, eles contavam o que acontecia no trajeto, as alegrias e os contratempos. Em Villa Tunari, por exemplo, chegaram justo no dia do aniversário do lugar e estava tudo cheio, não havia nem como entrar na praça central onde atuariam. À noite, quando finalmente conseguiram subir ao palco, um grupo começou a tocar. E eles tiveram que gritar muito alto para que a plateia os escutasse. “Fizemos o que podíamos. A obra continuou e, por sorte, nosso público também seguiu conosco.”
O percurso brasileiro, por sua vez, começou “cheio de carinho” em Corumbá (MS), com “corpos intercambiando arte” no Ponto de Cultura Moinho Cultural. Depois veio Campo Grande, onde foram “carinhosamente recebidos por Dudu e Andrea” e tiveram um “reencontro cálido” no mercado central com Célio Turino. “Passamos o resto da tarde com a gente muito aberta e amigável que assiste ao curso de Célio… Eles nos dão as boas-vindas com aplausos calorosos e braços abertos”, escreveram.
A recepção calorosa se repetiu nas cidades seguintes, Presidente Prudente, Rio Claro, São Paulo, Taubaté… até o ponto final, Rio de Janeiro. Marcelo das Histórias, que vinha acompanhando a saga dos bolivianos pelas redes, foi um dos que se comoveram com a chegada deles à Rio+20. “A expectativa era grande e eles chegaram justamente no momento em que começaria a plenária da Cúpula dos Povos. Foi muito emocionante ver os meninos, tão desgastados, começando a montar os banners, com aquele discurso poético, dizendo que cultura + natureza = cultura viva”, afirma o campineiro contador de histórias.
As mensagens de esperança pelo caminho
A pintura e a exposição dos banners estavam entre as atividades lúdicas previstas para a caravana, assim como as apresentações de teatro, os debates e a mostra de curtas que marcaram seu trajeto até o Rio de Janeiro. Até a última gota, a obra central apresentada durante a viagem, tinha a água como fio condutor, como elemento vital, relacionado a diferentes temáticas (mineração, pesticidas, mudanças climáticas, etc).
Com a caravana, o grupo de atores conseguia atravessar fronteiras levando não apenas propostas e demandas de crianças e jovens, mas também mensagens de esperança por um futuro que compete a todos. Rio+20, afinal, era uma oportunidade de olhar para o mundo que queremos ter e debater questões urgentes, como a redução da pobreza, o fomento da equidade social e a proteção do meio ambiente num planeta cada vez mais povoado.
“Seria mais natural, pelo poder aquisitivo, ver uma caravana brasileira fazendo isso. E a iniciativa veio da Bolívia, um dos países mais pobres (economicamente) da América Latina”, comenta Marcelo das Histórias. “Isso foi um fator crucial para a decisão de fazer na Bolívia o primeiro Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. Aquela noite fomos à Lapa comemorar a chegada deles e o assunto vinha a todo momento, a bravura deles, o esforço que fizeram para chegar. Ali tivemos a ideia de fazer o caminho de volta: se os bolivianos mobilizaram uma caravana para vir ao Brasil, todos os países iam se mobilizar em caravanas para fazer o primeiro congresso na Bolívia. Ali organizamos a Caravana por La Paz”.
A caravana como expressão da vida
Iván Nogales sorri quando se lembra da reação dos brasileiros ao ver o grupo de atores chegando à conferência global do meio ambiente, com seus desenhos e mensagens em defesa de um futuro que pode ocorrer já (act now, “atue agora” era a frase formada pelos banners quando montados). “Foi surpreendente porque para nós (uma caravana) é um pouco cotidiano, algo que fazemos com frequência. No entanto, para os brasileiros pareceu uma ação muito heroica”, confirma Nogales.
“Isso marcou um rito, um acontecimento que acredito que agora se transformou em uma espécie de mito porque conseguiu o que não esperávamos, que uma ação visibilizasse e impactasse, enamorasse a sociedade, os governos, todas as instâncias (…) Daí em diante, as pessoas começam a ter maior respeito porque a Cultura Viva Comunitária é capaz desse tipo de acontecimentos, que vão quebrar a cotidianidade, vão marcar um outro rumo, uma outra forma de relacionamento através de impactos que rompem o ordinário da nossa vida, a forma de incidir no espaço público”.
Segundo Nogales, uma caravana atravessando fronteiras, aproximando uns aos outros, “nessa busca do encontro em direção ao outro”, gera (em todos os sentidos) uma mobilidade, um fluxo, uma potenciação do intercultural, intergeneracional. Mostra que os sonhos não são remotos, “e sim estão presentes e estão aqui”, porque a Cultura Viva Comunitária é também o bairro, e a partir do pequeno é possível acontecimentos de impacto continental.
“A Caravana pela Vida é como uma pegada da Cultura Viva Comunitária que, no fundo, explicita a cultura como fluxos migratórios contínuos e permanentes de aproximação dos povos”, acredita Nogales. “A arte através da caravana, a única coisa que faz é explicitar isso que os povos são permanentemente: caravanas. As culturas são caravanas sempre. Por isso, as nossas caravanas culturais nada mais fazem que deixar claro que a caravana da vida está permanentemente em todo o planeta.”
A descolonização do corpo e o sonho de outra vida
Iván Nogales Bazan trabalha com arte comunitária e educação desde 1980. Sob sua direção nasceu em 1989 o Teatro Trono – Compa e, com ele, toda uma tecnologia que tem a ver com caravanas. “Fomos fundadores da kinder kultur karawane, a caravana cultural das crianças, que circula na Europa há 18 anos”, conta. Nessas caravanas, que duram quase três meses, de 6 a 8 grupos circulam por ano na Alemanha e em grande parte da Europa até parte da África e da América Latina.
Resultado do trabalho do Teatro Trono – o grupo de teatro independente que começou com meninos de rua em um centro de reabilitação há 26 anos –, a Fundação Comunidade de Produtores em Artes (Compa) já realizou mais de 40 excursões internacionais. Ainda que desenvolva suas atividades principalmente em El Alto, cidade da área metropolitana de La Paz onde abriu quatro centros culturais, a organização tem sedes em Cochabamba e Santa Cruz. Em 2010 também ganhou uma sucursal na Europa: a Compa Berlín.
A principal metodologia da Compa se denomina “descolonização do corpo” (“arte que se faz abraço”). Como eles explicam no site www.fundacioncompa.com, “é uma proposta que pretende mudar a lógica de aprendizagem, passando de um processo meramente intelectual a um processo vivencial, criativo, emotivo, envolvendo todo o potencial corporal”. Colonização, dizem, é “o domínio, a imposição, a submissão de um sobre outro/a ou outros/as”. Ou seja, de uma forma de pensar sobre outra, de entender e sentir o corpo sobre outra. Descolonização, portanto, seria “o processo de liberação da estrutura colonial interna como indivíduos e coletivos, base para projetar utopias”.
Com vistas a experimentar de forma permanente suas metodologias alternativas de arte e educação, o grupo vem construindo pouco a pouco seu projeto mais ambicioso: o Pueblo de Creadores. O espaço já existe: um terreno de três hectares adquirido na comunidade de Santa Gertrudis, em Nor Yungas. No povoado vizinho, Mururata, de população predominantemente afro e cultura aymara muito presente, a Compa vem criando espaços de diálogo, aproximação e construção de comunidade por meio da arte, com oficinas de teatro, música, rádio, vídeo e outras ações para o resgate da memória e o fortalecimento dos saberes locais.
Nesta comunidade onde tentam construir o sonho coletivo de descolonização, eles pretendem se inspirar nos saberes indígenas para recuperar seu legado de convivência harmoniosa com a natureza e mostrar, assim como fizeram poeticamente na Rio+20, sua equação mais básica: a que ensina que cultura + natureza = cultura viva.
(*Texto publicado em 28 de janeiro de 2016)
Assista aos vídeos sobre a Caravana pela Vida:
https://www.youtube.com/watch?v=jv34hlnGbvM
https://www.youtube.com/watch?v=wGF12nloSes
https://www.youtube.com/watch?v=Bs4zdPGsdzA (trailer)
https://www.youtube.com/watch?v=zOWchkZqkc8L (spot)
Saiba mais:
www.facebook.com/CaravanaPorLaVida
* A Caravana pela Vida teve o apoio de instituções como Terre des Hommes (Alemanha), Fundación Cultural del Banco Central de Bolivia, Gobierno Autónomo Municipal de La Paz, Fundación Solón e Universidad de la Cordillera.
Lei Cultura Viva: de programa de governo a política de Estado
Em 19, jan 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
“Se a partir de um ponto a gente pode refazer o mundo, a partir de muitos pontos, reunidos, fortes, visíveis, presentes, ativos, vamos desenhar muitas linhas para mudar as coisas e derrotar preconceitos.”
As palavras do então ministro Gilberto Gil na entrega do Prêmio Cultura Viva, em 06/06/2006, referiam-se ao Brasil “de alma, espírito e imaginário simbólico” que enfim começava a ser reconhecido nas políticas públicas como um grande desenho construído ponto a ponto, linha a linha. Era o primeiro de vários ciclos que viriam com o programa Cultura Viva, criado em 2004 como uma política pública de mobilização e encantamento social, um “reconhecimento plural e democrático de quem já é, já faz, já diz, já mostra”.
Neste caminho traçado há uma década, com muitas linhas e algumas curvas, há algumas datas marcantes. A começar pelo 22 de julho de 2014, dia em que a presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei nº 13.018, que institui a Política Nacional de Cultura Viva, valorizando a diversidade cultural brasileira, simplificando e desburocratizando os processos de prestação de contas e o repasse de recursos para as organizações da sociedade civil.
Com a aprovação da lei, os Pontos de Cultura passaram a ser não apenas a ação estruturante de um programa de governo, e sim uma política de Estado. Ou seja, a lei garante a permanência e continuidade desta política baseada no protagonismo da sociedade civil, que reconhece as práticas, saberes, fazeres e manifestações culturais das comunidades, independentemente do viés ideológico dos governos que estejam no poder.
“A Lei Cultura Viva é uma lei inovadora, transformadora e muito importante como política de Estado. É uma lei que entende o Brasil em sua totalidade. Que desburocratiza, credencia, cadastra, reconhece”, afirmou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), autora do projeto da Lei Cultura Viva, aprovado após três anos de tramitação no Congresso Nacional. “Foi uma grande vitória da sociedade brasileira, do chamado Brasil profundo, da pluralidade, da criatividade, da diversidade cultural.”
Participação social
A Política Nacional Cultura Viva foi resultado de um longo processo de debates envolvendo Pontos de Cultura, parlamentares, gestores estaduais e municipais, universidades e órgãos de controle. Com a Lei nº 13.018 vieram dois novos instrumentos de gestão: a autodeclaração dos Pontos de Cultura, por meio do Cadastro Nacional de Pontos e Pontões de Cultura, e o Termo de Compromisso Cultural (TCC).
Pensado como um instrumento jurídico mais simples e adequado à realidade dos agentes culturais, o TCC substitui os convênios no repasse dos recursos para as entidades culturais. Com a prestação de contas simplificada, fundamentada essencialmente nos resultados (e não nos números), pode-se demonstrar a boa aplicação dos recursos com o envio de documentos como a relação de pagamentos e o extrato bancário da conta específica do projeto. Os convênios permanecem apenas para as parcerias entre o governo federal e os estados e municípios, para implantação de redes de Pontos de Cultura.
“Precisamos mudar a cultura jurídica do pais. A Lei Cultura Viva tem potencial para contagiar políticas de saúde, economia, educação e as próprias políticas do Minc”, ressaltou Ivana Bentes, secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (MinC) e presidente do IberCultura Viva, à época do lançamento da lei e da regulamentação da Política Nacional de Cultura Viva, em abril de 2015.
Encontro de redes
O lançamento da Lei Cultura Viva se deu em 8 de abril de 2015, em Brasília, com a presença do ministro da Cultura, Juca Ferreira, de gestores estaduais e municipais de cultura, de parlamentares e representantes da sociedade civil. Nos dois dias anteriores foram realizados encontros, debates, reuniões e oficinas envolvendo temas como mídia livre, culturas de matriz africana, política indígena, cultura periférica, ação griô, cultura LGBT e novos movimentos urbanos.
“Esta legislação traz uma ferramenta muito importante, que é autodeclaração. Agora, qualquer manifestação cultural com mais de dois anos de atividade poderá ser reconhecida como Ponto de Cultura”, afirmou Juca Ferreira. “Existem mais de 100 mil grupos culturais no Brasil, dos mais diversos segmentos, e o Estado tem obrigação de se relacionar com eles, de disponibilizar recursos para que esses grupos cresçam e aumentem seu raio de ação”.
Para Ivana Bentes, a autodeclaração é uma “demanda histórica” dos Pontos de Cultura, proposta desde o início da experiência no país, e uma “vitória importantíssima, decisiva”. “Estamos criando uma política pública para além do financiamento”, destacou a secretária. “Não vamos mais falar em 4 mil Pontos de Cultura financiados pelo Estado. Serão 10 mil, 20 mil, 30 mil, 100 mil. Vamos articular, construir, dar visibilidade nesse espelho virtual que é a rede, para a dimensão imensurável da cultura. E de forma mais concreta também, fazer um mapa, uma cartografia dos Pontos de Cultura.”
Criada em software livre, a ferramenta que permitirá o reconhecimento e o mapeamento de entidades e coletivos culturais foi lançada com a plataforma da Rede Cultura Viva (www.culturaviva.gov.br), em 5 de outubro de 2015, dia em que a Constituição da República Federativa do Brasil completou 27 anos — e o país que se redesenha há uma década com os Pontos de Cultura ganhou um novo marco em seu traçado de muitas linhas para mudar as coisas e derrotar preconceitos.
Conheça a Lei Cultura Viva e sua Instrução Normativa
Veja a linha do tempo do programa Cultura Viva
Leia também:
Sobre a Lei Cultura Viva e a Instrução Normativa: https://www.cultura.gov.br/cultura-viva1
Juca Ferreira: “A Rede Cultura Viva é um avanço enorme”
Discurso do ministro Gilberto Gil na entrega do Prêmio Cultura Viva (Rio de Janeiro, 6/6/2006)
Como organizar nossa esperança: O movimento de Cultura Viva Comunitária no Uruguai
Em 11, jan 2016 | Em Artigos e publicações, Notícias | Por IberCultura
Por Paula Simonetti*
Me proponho através deste texto fazer um primeiro desenho do movimento pelas Culturas Vivas Comunitárias no Uruguai que, ainda que incompleto e parcial, possa trazer tanto uma retrospectiva do processo como uma série de ideias, avanços, desafios e perguntas para esta grande festa latino-americana que é ao mesmo tempo celebração e conflito, esperança e disputa, cultura e política.
Este percurso terá três grandes marcos: o primeiro refere-se a uma contextualização e história do recente movimento da Cultura Viva Comunitária em nosso país; o segundo tentará trazer algumas leituras e concepções para pensarmos e, por último, uma série de perguntas e questões um tanto “espinhosas” pelas quais nos parece necessário, e urgente, transitar.
1.“Criar um novo mundo é encontrar as palavras para nomeá-lo”. Um pouco de história
No Uruguai, os primeiros passos para a formação de uma incipiente rede de articulação entre as experiências nacionais autodefinidas como “cultura comunitária” coincidem com a participação de um grupo de coletivos no 1º Congresso Latino-americano celebrado em La Paz, Bolívia, em maio de 2013. Surge, então, a partir da percepção das possibilidades que tinha este conceito, trabalhado em centenas de espaços latino-americanos através dos anos, para nominar, reunir, articular, fortalecer e incidir politicamente em uma realidade que, prévia ao conceito, encontrava uma forma. “Criar um novo mundo é encontrar as palavras para nomeá-lo” — esta frase de Gertrude Stein é, portanto, alusiva a este interessante processo. Entendemos que o conceito “Cultura Viva Comunitária” vem dar nome, uma vez que potencializa, a uma série de experiências existentes, pujantes e transformadoras.
De concreto, a partir do nosso incipiente movimento, realizamos encontros em distintos lugares de Montevidéu e Canelones, participamos de todas as instâncias regionais-continentais possíveis, foram feitas articulações com atores institucionais diversos e se realizou um encontro regional de Cultura Viva Comunitária em Paysandú (litoral do país), em 2014.
A premissa fundamental no aqui e agora é trabalhar sobre um registro nacional de organizações de cultura comunitária e no crescimento, a partir de uma convocatória o mais aberta possível, de todas as experiências culturais comunitárias que existem, que são muitas e de vital incidência na vida de homens e mulheres em todo o território uruguaio, com vistas a um Encontro Nacional de Cultura Viva Comunitária Uruguai.
O encontro
Devido ao fato de que o movimento das culturas comunitárias é e deve ser plural, aberto e diverso, e dada a impossibilidade de dar conta dessa abertura em um artigo que é necessariamente parcial e tendencioso, tentarei fazer uma síntese do conversado e debatido neste Primeiro Encontro Regional, como forma de integrar algumas vozes que compõem este entramado, muitas vezes harmônico, outras tantas tenso.
No encontro de Paysandú, do qual participaram umas trinta organizações sociais e comunitárias, além de atores representativos de programas estatais (com destaque para os Centros MEC, do Ministério de Educação e Cultura, presentes em todo o território nacional, e o Programa Esquinas da Cultura, pertencente à Prefeitura de Montevidéu) os debates giraram em torno dos eixos “Gestão cultural e comunicação comunitária”, “Juventude e arte para a transformação social”, e “Democratização cultural”, enquanto se transversalizavam estes temas: Incidência em políticas públicas, Conceitualização de Cultura Viva Comunitária e trabalho em rede.
Temas-chave
Do registro do conversado emergem certos desafios que considero importante mencionar aqui. Como num mosaico, estas foram algumas frases surgidas no contexto do Encontro:
“Aquele projeto que se gesta para responder a uma necessidade determinada, num âmbito social determinado, mobilizando um coletivo para perseguir um fim comum, costuma ser sustentável e permanente, enquanto aquele projecto que nasce do Estado para atender aquilo que o governo da vez considera uma necessidade, provavelmente seja um projeto destinado ao fracasso”.
“Os coletivos se vêm imersos num giro paradigmático em que a democracia representativa e o capitalismo estão na ordem do dia, esquema muito questionado que tenta incursionar um novo discurso assentado em modelos de democracia participativa. Talvez o não ficar com o estabelecido e tentar modificar ou criar novos modelos de gestão cultural que acentuem uma mudança consiga paliar a perversidade deste sistema capitalista”.
“Foram nomeados e reconhecidos organismos concretos (Esquinas, Prefeitura de Montevidéu, Centros MEC – Ministério de Educação e Cultura) que trabalham na mesma direção que a cultura comunitária e são permeáveis às propostas, mas ‘isso não alcança’, sem um ‘antes’ que conte com a ação participativa das pessoas”.
Uma síntese
O primeiro encontro regional de Cultura Comunitária Paysandú 2014 superou em sua convocatória as expectativas que tínhamos previamente na rede. A participação em número e qualidade é uma prova de que a cultura comunitária é uma realidade extremamente presente em todo o território nacional. Que conseguir reconhecimento e legitimidade é possível e o esforço vale a pena. Como dizemos no documento de síntese elaborado após o encontro: “O primeiro elemento a ter em conta é a valorização das individualidades, as mulheres e os homens que de alguma maneira participamos deste encontro, com seriedade, compromisso, liberdade de pensamento e alegria. Poucas vezes nos fica tão claro que formamos pessoas para as organizações e instituições. E é partir desta dimensão do indivíduo que vai se tecendo o compromisso, uns se aproximando dos outros, formando conceitos, grupos, coletivos sumamente diferentes entre si, redes, movimento”.
A cultura comunitária nos precede e este tipo de acontecimentos nos envolve definitivamente nela e nos dá a possibilidade de fazer parte deste momento histórico: o reconhecimento longamente postergado para a cultura viva e comunitária. Entendemos que este encontro foi um passo importantíssimo no caminho que estamos iniciando e que tem a ver com o fortalecimento, a visibilidade e a articulação deste setor de nossa cultura no Uruguai. Nos permitiu, entre outras coisas, comprovar que os objetivos e as metas que traçamos fazem sentido em nosso território e que é no trabalho em rede, a partir dos coletivos, pessoas e grupos que realizam práticas culturais comunitárias, que vamos avançando neste processo.
Neste sentido, atualmente trabalhamos em direção aos seguintes objetivos:
. Propiciar o intercâmbio e o conhecimento entre as experiências de cultura comunitária no Uruguai.
. Trabalhar para a visibilidade, legitimação e fortalecimento do setor.
. Georreferenciar, mapear, documentar as experiências que atuam em todo território nacional a partir da perspectiva da cultura comunitária.
. Avançar em termos de formação em gestão cultural comunitária.
. Propiciar a troca de saberes e conhecimentos que circulam em cada um dos coletivos, a fim de afiançar uma conceitualização e definição da cultura comunitária no Uruguai.
. Incidir na elaboração de políticas públicas de alcance nacional que contemplem esta dimensão da cultura através da geração de fundos nacionais para as Culturas Vivas Comunitárias, fundos e recursos que os próprios atores executem e gestionem.
. Aprofundar no trabalho de articulação da Cultura Viva Comunitária em nível latino-americano.
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De onde pensar nossa esperança
Depois deste breve passeio pelos principais “ritos” da história deste emergente movimento no Uruguai, no qual sem dúvida há recortes imperdoáveis, me interessa expor algumas ideias conceituais que acredito permear nossa construção.
Neste sentido, abordar estes espaços, movimentos e experiências coletivas de cruzamento ou encontro entre a arte, a estética e o político, implica também construir, reconstruir e criar juntos um marco a partir do qual poder pensá-las, nomeá-las e debatê-las. Sobre isso, proponho retomar alguns conceitos:
. Entender este movimento como um espaço de esperança, de possibilidade e de construção de alternativas, um espaço que possibilita, desde as práticas, pensar e repensar estas categorias, assumindo, por outra parte, seus limites. Dizia Bloch que nestes tempos a possibilidade tem tido “muita má fama”. A falta de alternativas é o estribilho que escutamos, reproduzimos e argumentamos (frequentemente com muito bons argumentos) uma e outra vez; o que vai reduzindo as experiências que resistem ou propõem em inúteis, irracionais e ingênuas.
Harvey, por sua parte, em Spaces of hope, se pergunta por que é que estamos tão absolutamente convencidos de que não há alternativas, sugerindo que seguramente não é por falta de imaginação, e diz: “O mundo acadêmico, por exemplo, está cheio de explorações do imaginário. Em física, a exploração dos mundos possíveis é a norma mais que a exceção. Em humanidades, aparece por todas as partes uma fascinação pelo que se denomina o imaginário. E o mundo dos meios de comunicação de que agora dispomos nunca havia estado tão repleto de fantasias e possibilidades de comunicação coletiva sobre mundos alternativos”.[1]
Tudo lembra uma anedota que Zizek comenta sobre a China, quando o governo proibiu na televisão, no cinema e na literatura qualquer tema relacionado com realidades alternativas ou viagens no tempo: “É um bom sinal sobre a China: os chineses são gente que ainda sonha com alternativas, por isso deve-se proibi-las. Aqui não faz falta, não necessitamos de proibições porque o sistema imperante tem danado até a capacidade de sonhar. Vejam os filmes que vemos todo o tempo: é fácil imaginar o fim do mundo ou um asteroide destruindo a vida, mas não podemos imaginar o fim do capitalismo”.[2]
. Rebellato, intelectual (“radical”) uruguaio, que decidimos retomar para que volte a nos interpelar neste movimento, utiliza o conceito de ética da esperança, delimitada na construção de projetos políticos emancipatórios, que confiam nas capacidades e nos potenciais dos “sujeitos populares” e das construções em coletivo.
. No terreno da possibilidade vinculada com o artístico e o político voltamos a olhar para a Antiguidade, por exemplo, repensamos aquela famosa distinção de Aristóteles em Poética, entre a poesia e a história: a poesia e a história, nos diz Aristóteles, não se diferenciam por estar escritas em verso ou em prosa, e sim porque a história se ocupa do que sucedeu e a poesia do que poderia suceder; quer dizer, da possibilidade. Neste sentido, poderíamos acrescentar, a política lhe é inerente.
Estas possibilidades de que falamos se encarnam sim no terreno da proximidade e da micropolítica, mas não perdem de vista um projeto político maior. Voltando a Rebellato, não é possível resistir sem abrir espaços alternativos e, portanto, é preciso fortalecer microalternativas e microprocessos que se encaminham em direção a uma alternativa global. O mesmo autor faz uma diferença entre utopias totalizadoras e utopias liberadoras, as últimas: constituem os horizontes de sentido, tanto para o pensamento como para a ação, de uma ética da esperança [3].
. Por outra parte, aparece a pergunta sobre como lemos, desde onde e a partir de que estas experiências que mesclam o artístico com o social, o estético com o político. Em algum sentido aceitamos que isso é “uma mescla”, ainda que também podemos pensar que é um giro forte em direção à “função social da arte” tão visitada e revisitada desde as vanguardas históricas até nossos dias, ou uma volta a reconectar elementos que se desconectaram historicamente, mas que funcionam muito bem juntos, no sentido de uma arte e uma estética vividos como experiência (recordando a Dewey) artística sim, mas também política, social, pedagógica, etcétera. Nesta direção, também necessitamos da “mescla” conceitual para pensar o que fazemos.
. Para Rancière, o que têm em comum a arte e a política (ou melhor, em seus próprios termos, “o político”) é que ambas se ocupam da reconfiguração material e simbólica do território comum. Rancière considera que o político é o conflito sobre a existência deste espaço comum, e a partir disto retoma a reflexão de Aristóteles quando define que o homem é político por ter uma linguagem que põe em comum o justo e o injusto, enquanto que os animais apenas têm o grito para expressar a dor ou o prazer. Diz Rancière que a questão, então, reside em saber quem tem a linguagem e quem só o grito:
“A resistência a considerar determinadas categorias de pessoas como indivíduos políticos teve a ver sempre com a negativa a escutar os sons que saíam de suas bocas como algo inteligível. Ou mesmo com a constatação de sua impossibilidade material para ocupar o espaço-tempo dos assuntos políticos. Os artesãos, diz Platão, não têm tempo para estar em outro lugar além de seu trabalho. Esse “em outro lugar” em que não podem estar é, claro, a assembleia do povo. A «falta de tempo» é de fato a proibição natural, inscrita inclusive nas formas da experiência sensível. A política sobrevém quando aqueles que «não têm» tempo tomam este tempo necessário para erigir-se em habitantes de um espaço comum para demonstrar que sua boca emite perfeitamente uma linguagem que fala de coisas comuns”.[4]
. Gustavo Remedi, professor e teórico uruguaio contemporâneo, se pergunta em seu texto “As bases estéticas da cidadania”: quais são ou deveriam ser as intervenções estéticas de base para resgatar nosso papel de cidadãos, isto é, para dar sentido à democracia. Maneja neste texto uma definição amplia e includente da estética que resulta pertinente na hora de pensar em nossas práticas: “Pode-se dizer então que a experiência estética não é outra coisa que a forma em que nos conectamos, nos comunicamos e interatuamos com o mundo, em que visualizamos e representamos o mundo, em que construímos, transformamos e damos valores ao mundo”. De fato, o autor chama a atenção sobre as raízes etimológicas do termo estética, que remitem a percepção, a sensação. Há também no texto de Remedi um interessante jogo que, retomando a Barilli, transita pela ideia de estética como contraposto ao conceito de anestesia. No sentido de que se mediante a anestesia perdemos o corpo, a consciência e o sentido, a experiencia estética supõe recuperar o corpo, reencontrar-nos com o mundo. [5]
. Por último, mas fundamental, é necessário e urgente pensar nossas práticas, nossas estéticas e nossas produções artísticas “mais pra lá e mais pra cá” de si mesmas, insertas no contexto da criação de espaços sólidos no âmbito da participação social e da política, assentando-nos — ao mesmo tempo, e talvez sobretudo, reinventando-os — em modelos de democracia participativa, que nos envolvam na gestão de esquemas verdadeiramente alternativos.
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Para não “pisar o palito”
“Pisar o palito” é uma maneira de nos referirmos a algo como “cair em nossas próprias armadilhas”, ou nos descobrir, na ação ou no discurso, no lado contrário ao que dizemos estar. Armadilhas que também existem neste nosso terreno, onde uma parte muito importante da construção está em ter a capacidade crítica e a coragem de enfrentar uma série de questões mais “espinhosas” que vão se abrindo neste processo.
Por um lado, aparecem as formas, os dispositivos e a organização que damos ao movimento. Certamente, neste caso como nos demais, a forma é nem mais menos que conteúdo político.
O que acontece com o Estado? Quando o político nos despolitiza
. Por mais que entendamos o Estado como um (heterogêneo, diverso, múltiplo, contraditório) administrador e gestor da “coisa” pública, e a nossas experiências e práticas como outra maneira de fazer e operar no “público”, cujo reconhecimento e apoio por parte do primeiro é um direito exigível e legítimo (como demonstra o valioso estudo sobre o 0,1% coordenado por Tomás Raffo), não podemos deixar de ver com que frequência surgem em nossos encontros a disputa que se encarna na oposição “Estado sim, Estado não”. Esta dicotomia, exposta neste termos, pode ser muito daninha ao nosso movimento, sobretudo se a lemos em relação à urgência de considerar, propor e levar adiante modelos alternativos do político. Em todo caso, talvez seria mais produtivo perguntar-se: “Estado… como?”.
. E nesse como, também, é necessário ver de que forma nos afastamos e construímos à margem, no lado ou nas fendas de uma lógica que, ao menos no Uruguai, impera e tem a ver com a “transferência” – vinculada a uma “desresponsabilização” — estendida do Estado para a sociedade civil organizada no formato de ONG, sobretudo no que está se convertendo em um tipo de “gestão da pobreza” nas mãos do terceiro setor. A proliferação de convênios de ONG com organismos estatais para esta “gestão ou aplicação” de políticas territoriais, vai deteriorando substancialmente os conteúdos e as formas da participação social auto-organizada, no sentido de que as despolitiza.
O que acontece com o “saber” técnico e com o controle que exerce?
. Alguns dos questionamentos mais profundos que têm atravessado minha própria prática neste terreno têm a ver com o papel do “profissional”, por um lado, e com o papel tão preponderante que vem tomando a cultura e a arte como chave da “transformação social”.
A cultura vem tomando um papel predominante em nosso século XXI que contamina e cruza agendas antes especificamente políticas ou econômicas. Isso é uma notícia muito boa para os que trabalhamos com a cultura desde esta perspectiva, mas pode chegar a ser muito má para os objetivos políticos que nos propomos se não analisarmos com cuidado o seu alcance e nos embandeiramos acriticamente nesta qualidade já quase inquestionável da cultura/arte para transformar realidades socialmente injustas. Neste sentido, impõem-se a responsabilidade e a ética de não perder de vista sob nenhuma circunstância (por menor que nos pareça o trabalho que realizamos) a dimensão política do que fazemos e a capacidade crítica para pensar nisso.
O fenômeno da profissionalização de muitos projetos que tinham uma raiz mais próxima do popular, do vicinal e do comunitário, atendendo às políticas públicas e empresariais e aos apoios financeiros aos que hoje em dia parecem poder acessar “a piacere” estes projetos (à custa, claro, de que tenham uma retórica técnica e profissional muito sofisticada e específica, além de uma “pessoa jurídica”); e que em muitos casos, de maneiras diversas, apontam para neutralizar e “encausar” suas práticas, é um fenômeno a que temos que prestar especial atenção, os que trabalhamos precisamente desde o incômodo lugar “profissional”.
“O que parece claro é que no trabalho real conjunto com os atores populares é preciso recordar uma vez e outra que é na política e não na cultura onde a sociedade tem que buscar respostas à pergunta fundamental: que fazer?”, nos lembra Cevasco.[6]
. Os riscos de não poder visualizar-debater estas dificuldades em nossas práticas são diversos. Neste caso, um dos mais sobressalentes é que podemos estar trabalhando no sentido inverso de nossos discursos e, mais ainda, de nossa ética e dos autênticos objetivos políticos que perseguimos.
Podemos, efetivamente, estar contribuindo para uma espécie de bonito decorado da democracia, invisibilizando a pobreza e estetizando o conflito social.
Os discursos que muitas vezes fazem eco ou ressoam tanto nestes movimentos como nas políticas culturais do Estado, e que unem acriticamente palavras como cidadania e cultura, ou termos como democracia cultural, entre outros, operando no espaço público, podem estar perseguindo o fim de que – tal como advertem Delgado e Malet: “Os membros de outros setores sociais eventualmente conflitivos ou “perigosos” concebam a si mesmos como cidadãos, (…) no sentido de integrantes de uma esfera de confraternidade interclassista. Para isso se abre um dispositivo pedagógico de amplo espectro que concebe ao conjunto da população, e não apenas aos mais jovens, como estudantes perpétuos destes valores abstratos de cidadania e civilidade”.[7]
Estes autores nos lembram que “Se trata de divulgar o que Sartre teria chamado de esqueleto abstrato de universalidade, do qual as classes dominantes obtêm suas fontes principais de legitimidade e que se concretiza nesta vocação fortemente pedagógica que exibe em todo momento a ideologia “cidadanista”, da qual o espacio público seria sala de aula e laboratório”. E concluem: “O idealismo do espaço público – que é de interesse universal capitalista – não renuncia a se ver desmentido por uma realidade de contradições e misérias que se resiste a recuar ante o “vade retro” que esgrimem diante dela os valores morais de uma classe média bem-pensante e virtuosa, que vê uma e outra vez frustrado seu sonho dourado de um amansamento geral das relações sociais”.[8]
Além de levantar sem temores estes e outros conflitos, chegamos à ideia de que devemos tomar isso (este lugar, de certo modo, privilegiado) como ponto de partida para a construção conjunta de um cenário do coletivo sobre o qual, em algum momento, temos que ser capazes de perder o controle ou, ao menos, de criar as condições em que o controle seja verdadeiramente compartilhado, cuidando destes espaços de maneira que se afastem dos múltiplos simulacros de participação que conhecemos.
Esse é o projeto político que acredito ter validade nestas práticas, e o horizonte a não perder de vista.
“Hoje, como nunca, necessitamos organizar a esperança”, dizia Rebellato. E aí estamos.
* Paula Simonetti é licenciada em Letras, escritora, poeta e jornalista. Integra a Rede Cultura Viva Comunitária Uruguai
[1] Harvey, David. Espacios de esperanza, Madrid: Akal, 2003.
[2] Entrevista, 2006. Disponível em: https://www.lavaca.org/seccion/actualidad/1/1392.shtml
[3] Brenes, Alicia et. Alt (comps.) José Luis Rebellato, intelectual Radical. Montevideo, SCEAM, 2009
[4] Ranciére, Jacques. Sobre políticas estéticas. Barcelona: Universitat Autónoma de Barcelona, 2005.
[5] Remedi, Gustavo “Las bases estéticas de la ciudadanía”, en Revista Aisthesis, 2005.
[6] Cevasco, Maria Elisa. Diez lecciones sobre estudios culturales. Montevideo: Trilce, 2013.
[7] Delgado, Manuel y Daniel Malet. “El espacio público como ideología”, 2007. Disponible: https://www.fepsu.es/docs/urbandocs/URBANDOC1.pdf.
[8] Isso se conecta, certamente, com aquela “beleza do muerto” a que fazia menção De Certeau na maneira em que pensamos as culturas populares.
* Fonte: Este artigo faz parte do livro Cultura Viva Comunitaria: Convivencia para el bien común, lançado no 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em San Salvador, em outubro de 2015 (Compilação e edição: Jorge Melguizo)