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Mundo Puckllay e Pé no Chão: um intercâmbio cultural e pedagógico entre Peru e Brasil
Fotos: Soile Heikkilä e Guillermo Vásquez
Mundo é um jogo infantil que ainda hoje em dia se pratica nos bairros, ruas e comunidades em vários pontos do mundo. Também conhecido em alguns lugares como “rayuela” (no Brasil, é “amarelinha”), faz alusão ao fato de ir avançando, rompendo fronteiras, ganhando espaços novos a partir do jogo, da alegria, da arte e da cultura.
Mundo é também um projeto de duas organizações – Puckllay (Peru) e o Grupo de Apoio Mútuo Pé no Chão (Brasil) –, interessadas em enlaçar as experiências artísticas, pedagógicas e comunitárias que cada uma vem desenvolvendo de maneira permanente e intensiva em seus respectivos lugares. A população infantil e juvenil em situação de risco é o público-alvo em ambas as experiências.
O projeto, um dos premiados no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015, propõe um intercâmbio artístico e pedagógico, buscando desta maneira ampliar os horizontes e o olhar de seus jovens participantes, fortalecendo-os e enriquecendo assim sua experiência.
A primeira etapa de Mundo consistiu em um intercâmbio cultural e pedagógico para o qual se trasladou do Peru a Recife (Brasil) uma equipe de 12 pessoas, entre artistas, participantes e educadores. Do lado do Pé no Chão participaram aproximadamente 50 pessoas. Este primeiro intercâmbio teve uma duração de 10 dias, tempo para que ambas as organizações pudessem se conhecer, aprender um do outro, trocar saberes e experiências.
“Os dias transcorreram entre ritmos de tambores, danças afro-brasileiras, sons peruaníssimos de zampoñas, sikuris, marinera, waylarsh, e sons de diablos. Além disso, houve oficinas de capoeira, acrobacia e máscaras”, conta Anabelí Pajuelo, diretora geral de Puckllay.
Seguindo a dinâmica de trabalho de Pé No Chão, os encerramentos das oficinas contaram com rodas de conversa e avaliação, em que os participantes e educadores fizeram uma revisão das conquistas, dos problemas e acontecimentos da jornada. As oficinas se deram principalmente na zona limítrofe das comunidades de Arruda e Santo Amaro. Os ensaios e primeiros encontros foram na Praça do Carmo, em Olinda.
Os espaços
As apresentações artísticas foram realizadas em diferentes espaços. Um deles foi o Festival Eco da Periferia, na Praça do Diário, que Pé no Chão vem impulsando e recuperando há vários anos e que consiste na intervenção de um espaço que sofre uma problemática séria de delinquência e prostituição. Pé no Chão chega com seu mar de crianças e jovens e eles tomam o espaço público com ritmos de tambores e danças afro-brasileiras, dando-lhe outras energia e cara. Desta vez, Puckllay também esteve para tomar a praça.
Duas salas teatrais também receberam apresentações. No caso de Puckllay, o Teatro Apolo. Ali, durante o Festival Cenas Cumplicidades, o grupo apresentou “Caminhos”, uma obra testimonial de teatro, música e dança que conta a história de como se formou a comunidade onde os jovens peruanos cresceram. Por sua parte, Pé no Chão apresentou a obra “Lili” no Teatro Barreto Junior. “Lili” quer dizer raiz e fala dos meninos e meninas como a raiz na construção de uma sociedade, além de fazer uma alusão à identidade. O espetáculo é fruto de um intercâmbio artístico com Karim e Abou Konaté, dois artistas griô de Burkina Faso, na África.
Os jovens de Puckllay se alojaram nas comunidades onde vivem os jovens e crianças com que Pé no Chão trabalha. “A ideia foi poder aproximar mais os garotos e garotas da realidade em que vivem dia a dia e fazer a experiência muitíssimo mais enriquecedora”, comenta Anabelí. A Casa de Pé no Chão, localizada na comunidade de Campo Grande, como a pequena sede na comunidade de Arruda, para guardar materiais pedagógicos, são consideradas pontos de apoio para executar o trabalho maior. As oficinas e atividades se realizam nas ruas, favelas e bairros, os quais vêm a ser os espaços prioritários onde se encontram os meninos, meninas, adolescentes e jovens com que Pé no Chão trabalha.
A pedagogia
A pedagogia aplicada nas oficinas de Puckllay (“jogue” em quéchua) é uma experiência de aprendizagem para ambas as partes, professor e aluno, inspirada nas teorias do pedagogo brasileiro Paulo Freire. Em Puckllay se ensina aprendendo e se aprende ensinando. Vinculados à esperança de transformação social com arte e educação, a pedagogia de Puckllay propôe respeitar a diferença e o ritmo de cada um.
A filosofia de ensino que impulsa Pé no Chão tem um nome – a educação de rua – e um objetivo: apagar o estereótipo de que todas as crianças da rua não têm perspectivas de vida. Pé no Chão tem o sonho de ajudar na formação e na educação de suas vidas.
“A viagem que Pé no Chão e Puckllay têm empreendido juntos é uma intenção, uma busca, uma convicção”, afirma Anabelí. “Ambas as organizações somos Puntos de Cultura em seus respectivos países e trabalhamos essencialmente com a linguagem da arte, a arte que é um direito fundamental. Porque te permite expressar, ser livre e pensar um mundo melhor para todos e todas. O objetivo é reivindicar os espaços de nossos meninos e meninas como raiz de sua identidade, de suas ações e de sua vida. Só rompendo nossas fronteiras e irmanando nossas possibilidades poderemos construir um mundo mais possível, mais humano e solidário para todos e todas”.
Reencontro
Enquanto se encontravam em pleno intercâmbio, Puckllay completou 12 anos de existência. Chegou a esta idade com três turmas de formados e com uma escola de arte na comunidade que viu o grupo nascer, que vem se construindo aos poucos e cujo coração é um palco ao redor do qual gravitam todas as suas atividades.
Graças ao prêmio de IberCultura Viva, eles puderam conhecer o Pé no Chão, um grupo com o dobro da idade e que em muitas maneiras lhes inspira, reflete e também questiona. “Estamos profundamente agradecidos pela oportunidade de ter podido vivenciar a experiência de um projeto tão potente e tão inserido em sua problemática e sua gente, tão genialmente integrado em sua mais profunda essência, como é o Pé no Chão”, comenta Anabelí.
“Voltamos à nossa terra, às nossas famílias, ao nosso projeto, à nossa selva de meninos e meninas… Desde Recife e seu terremoto de tambores e ritmos brasileiros, de sua intensidade, sua grandeza e suas tragédias também, temos olhado para nosso país e não sentimos em absoluto as distâncias. Somos parte de um continente e de uma mesma luta, nos unem os mesmos problemas e as mesmas necessidades, nos une a mesma capacidade de sobreviver e resistir com criatividade e alegria. Agora cabe a nós preparar o cenário para receber o Pé no Chão, porque há que seguir fazendo caminho e contribuir para a construção deste Mundo possível para todos e todas.”
Representantes de 17 países participarão do 1º Encontro de Redes IberCultura Viva
Em 21, nov 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Representantes de governos, redes e organizações sociais que desenvolvem políticas culturais de base comunitária de 17 países ibero-americanos estarão reunidos na Argentina de 30 de novembro a 3 de dezembro para o 1° Encontro de Redes IberCultura Viva. Serão quatro dias de trabalho sobre as temáticas de participação social e cooperação, marco normativo para as políticas culturais, mapas e indicadores e formação para as políticas culturais de base comunitária no âmbito ibero-americano. As atividades serão realizadas no Centro Cultural San Martín, em Buenos Aires, durante o 3º Encontro Nacional de Pontos de Cultura, organizado pelo Ministério de Cultura da Argentina.
“Esperamos com muito entusiasmo o 1º Encontro de Redes IberCultura Viva e celebramos que ele acompanhe o 3º Encontro Nacional de Pontos de Cultura de Argentina”, afirma Emiliano Fuentes Firmani, secretário executivo da Unidade Técnica do IberCultura Viva. “Cada espaço de encontro e intercâmbio que conseguimos produzir fortalece os processos de cooperação e contribui para estimular o fortalecimento das políticas culturais de base comunitária e o vínculo entre os governos e nossa cultura viva”.
Os participantes serão distribuídos em grupos de trabalho simultâneos nos primeiros três dias do evento. Um grupo se dedicará ao tema “Participação social e cooperação cultural”; outro a “Legislação para as políticas culturais de base comunitária”, e o terceiro, dividido em dois momentos, sobre a construção de mapas e indicadores e sobre a formação para as políticas culturais de base comunitária. O quarto dia será dedicado à 5ª Reunião do Comitê Intergovernamental IberCultura Viva, formado pelos representantes de governos dos países membros do programa (Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, El Salvador, Espanha, México, Peru, Paraguai e Uruguai).
Além das mesas temáticas, os convidados poderão acompanhar parte da programação do Encontro Nacional de Pontos de Cultura, como a mostra artística das organizações locais, e conhecer algumas experiências bem-sucedidas de cultura de base comunitária nos países ibero-americanos. Entre elas, as propostas desenvolvidas por Thydewá (Brasil), Red de Mujeres Rurales (Costa Rica), Asociación TNT – Tiempos Nuevos Teatro (El Salvador), Casa Tomada (El Salvador-España), e Microcine Chaski (Peru).
As experiências
A Red de Mujeres Rurales de Costa Rica, que em 2016 completou 10 anos, é um espaço organizativo que articula mulheres camponesas e indígenas em defesa de seus interesses e direitos. Autonomia e soberania alimentar são dois temas prioritários para a rede, que coordena cursos, oficinas e capacitações em vários pontos do país, especialmente no que se refere às sementes nativas, o direito humano à alimentação e a equidade de gênero. Matilde Gómez Bolaños será a representante da rede costa-riquenha no encontro em Buenos Aires.
De El Salvador estará Walter Romero, da Asociación Tiempos Nuevos Teatro (TNT), uma organização nascida em 1993, nas montanhas de um departamento historicamente excluído, Chalatenango, e que ali permanece depois de 23 anos. E a partir dali, um povoado de 1.300 habitantes, projeta-se como uma referência de arte comunitária para a América Latina, montando obras de reconhecidos dramaturgos e espetáculos de criação coletiva, inspirados na realidade cotidiana.
Outra experiência desenvolvida em El Salvador que estará presente no encontro é a Casa Tomada, um espaço de criação, produção e pesquisa impulsado pelo Centro Cultural Espanha em San Salvador. Blanca Lidia Cerna Serpas falará deste sistema de gestão baseado no intercâmbio em espécie, em troca de serviços, com vistas a promover a criação colaborativa, multidisciplinar e transversal para a busca de significados coletivos e a construção de identidade.
Do Brasil estará Sebastián Gerlic, um dos fundadores da Thydewá, organização responsável por um Pontão de Cultura (Esperança da Terra) em Olivença, Bahia. Criada em 2002, Thydêwá nasceu de um coletivo formado por indígenas de Alagoas, Bahia e Pernambuco, dois paranaenses, uma gaúcha, um baiano, um chileno e um argentino. Seu objetivo é “promover a consciência planetária, valendo-se do diálogo intercultural, da valorização da diversidade e das culturas tradicionais”. Entre os principais projetos realizados pela ONG estão a rede Índios On-Line, a Oca Digital e a série de livros “Índios na visão dos índios”.
Pelo Peru, Magno Ortega Huasacca apresentará o Ponto de Cultura Microcine Chaski Ayacucho. Esse proyecto de cinema comunitário realizado pelo Grupo Chaski foi formado para realizar projeções de filmes e um cine-fórum com conteúdos sociais, culturais e educativos; descentralizando as atividades para os bairros vizinhos. A equipe de gestão do microcine é integrada por cinco jovens empreendedores, que estão se formando como gestores culturais de cinema para o desenvolvimento e gestão de microempresas culturais sustentáveis.
O evento também contará com representantes de redes e organizações como Caja Lúdica (Guatemala), Museu da Maré (Brasil), Walabis (Honduras), Caracol (Belize), Guanared (Costa Rica), Red Salvadoreña de Cultura Viva Comunitaria (El Salvador) e Red de Cultura Viva Comunitaria de Medellín e Valle de Aburrá (Colômbia).
(Imagen em destaque: Encuentro Federal de la Palabra en Tecnópolis, abril de 2014. Foto: Romina Santarelli / Secretaría de Cultura de la Presidencia de la Nación)
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Termina em Rapa Nui a “Oficina comunitária de criação cinematográfica para crianças”
Em 19, nov 2016 | Em Cinema comunitário, Editais, Notícias, Oficinas | Por IberCultura
Com a apresentação do curta-metragem “A história do rei Hotu Matu’a” no Dia da Língua Rapa Nui, chegou ao fim na Ilha de Páscoa (Chile) a segunda etapa da “Oficina comunitária de criação cinematográfica intercultural com e para crianças”. O projeto, um dos premiados no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015, teve sua primeira etapa em Valparaíso de 17 a 25 de outubro.
“A história do rei Hotu Matu’a” foi realizado por meninas e meninos da ilha, com diálogos em sua língua originária e legendas em espanhol. O curta narra a chegada dos primeiros moradores a Te Pito ou Te Henua (“O umbigo do mundo”, nome antigo de Rapa Nui ou Ilha de Páscoa) desde a terra de Hiva, assim como o nascimento da primera pessoa na ilha e o conflito entre o rei Hotu Matu’a e seu irmão Oroi, que termina com a morte deste último.
A apresentação foi no Colégio Lorenzo Baeza Vega, num estande preparado especificamente para isso, sob a coordenação da professora Vianca Díaz Tucki. “O curta teve uma recepção muito boa. Foi apresentado várias vezes durante o dia e em cada uma delas a equipe recebeu muitos elogios do público, de todas as idades”, afirma o cineasta Eduardo Bravo Macías, do coletivo mexicano Cinematequio, que divide o projeto com os chilenos Museo Fonck e Grupo Tacitas.
A ideia era apresentá-lo no dia 4 de novembro, junto aos festejos do Dia da Língua, mas o clima acabou adiando a comemoração. “Durante quatro dias choveu sem parar, o que nos obrigou a reprogramar a gravação de algumas cenas. Da mesma maneira, a chuva fez com que a celebração do Dia da Língua passasse do dia 4 para o dia 8, o que nos permitiu completar as cenas”, conta Eduardo.
As crianças
Participaram do curta-metragem 28 crianças, entre 5 e 14 anos, principalmente alunos do Colégio Lorenzo Baeza Vega, ainda que também tenham participado crianças de outras escolas. Além disso, o grupo contou com a presença do coro do colégio para a gravação do hino “I’he a Hotu Matu’a”.
A equipe técnica mirim foi comandada por Tomás Ignacio Lorca Navarrete na direção, enquanto a fotografia ficou a cargo de Walter Darío Durán; e o som direto, por Isabella Vaikaranga Reyes Pakarati e Ro-Iti Francisca Pate Paoa.
O elenco contou, entre outros, com Renga Kio Pate Teao como narradora, Mautu’u Henua Icka Otero como o rei Hotu Matu’a, Maho Rangi Ko Rangi Atan Hotu como Oroi, e Nohorangüi Tuki Rioroko Petero como um dos sete exploradores.
“Para a escrita do roteiro, consultamos diferentes especialistas locais buscando contrastar a versão mais conhecida do relato, documentada por Sebastián Englert, com a versão viva na tradição oral da própria comunidade, e acabamos dando prioridade a esta última. Nossos assessores foram Moiko Teao Hotu, Mike Pate Haoa e Niso Tucki Tepano”, ressalta o cineasta mexicano.
Ao terminar a etapa en Rapa Nui, Eduardo Bravo regressou a Valparaíso e à Escola Carabinero Pedro Cariaga, onde foi realizada a primeira oficina do projeto no Chile. Ali, junto a Marcos Moncada, do Grupo Tacitas, cogestor do projeto, a equipe apresentou o curta gravado em Rapa Nui, assim como o gravado pelas crianças da comunidade mapuche de Valparaíso (“Nguillatún”). “Em ambas as escolas nos falaram da intenção e do interesse em dar continuidade ao projeto”, comenta Eduardo.
A carta de Valparaíso
Em 14 de novembro eles assinaram a “Carta de Valparaíso”, em que definem as características e os fins que devem ter os curtas-metragens realizados eminentemente por crianças, com a metodología de Cinematequio, em criação coletiva e comunitária com base nos relatos da tradição oral. Assinaram a carta Eduardo Bravo Macías (Cinematequio), Marcos Alonso Moncada Astudillo (Comunidad Lircay), Vicente Tureo Arratia (professor intercultural mapuche), Alexis Antinao Valenzuela (encarregado do Departamento de Povos Originários do Conselho Regional de Valparaíso). Ficaram pendentes as assinaturas de Tania Basterrica, do Grupo Tacitas, e Cecilia Hormozabal Araki, de Maohi ou Rapa Nui.
“Esta carta define as bases para continuar e fortalecer a rede de cooperação e criação conjunta de conteúdos culturais entre Chile e México a partir de nossos coletivos”, afirma o cineasta mexicano, que desde 2013 encabeça o coletivo Cinematequio ao lado da escritora e professora Alejandra Domínguez Sánchez. Suas oficinas, baseadas no trabalho comunitário, a solidariedade e o compromisso, iniciados no México e agora também no Chile, buscam a (re)valorização do patrimônio cultural imaterial que constituem os contos, mitos, lendas, relatos da tradição oral e as línguas originárias.
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Encontro de Pontos de Cultura da Argentina reunirá referências da cultura comunitária
Em 17, nov 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
O 3º Encontro Nacional de Pontos de Cultura de Argentina será realizado no Centro Cultural San Martín (Sarmiento, 1551, Buenos Aires) de 30 de novembro a 2 de dezembro. Serão três dias de conferências, capacitações, oficinas, fóruns regionais e de redes, grupos de trabalho temáticos, mostras de produções artísticas e espetáculos.
As atividades buscam consolidar o trabalho de articulação dos Pontos de Cultura, e propor espaços de formação e reflexão acerca das práticas das organizações de cultura comunitária e da gestão cultural. Na Argentina, a Rede Nacional de Pontos de Cultura conta com 650 organizações, que se dedicam a potenciar o desenvolvimento artístico, comunicacional, produtivo e a valorização da identidade local.
Durante o encontro também será realizado o 1º Encontro de Redes IberCultura Viva, com a presença de mais de 30 convidados de 17 países ibero-americanos.
Primeiro dia
A programação começa na quarta-feira, 30 de novembro, às 9h, com uma apresentação sobre políticas de cultura viva comunitária e o Programa Pontos de Cultura. Para as 11h30 está prevista uma conferência do historiador Célio Turino, um dos impulsores do programa Cultura Viva e dos Pontos de Cultura no Brasil.
Das 14h30 às 17h, a programação está destinada a representantes de Pontos de Cultura que busquem desenvolver estratégias de fortalecimento para seus projetos comunitários. As oficinas são simultâneos, em espaços distintos, e abordam as seguintes temáticas: “Gestão cultural das organizações”, “Como gestar a personalidade jurídica”, “Apresentação de projetos culturais”, “Registro audiovisual”, “Sistematização de experiências comunitárias” e “Como armar sua oficina de Entrelaçando Experiências”. (Entrelaçando Experiências é uma iniciativa dos Pontos de Cultura para o intercâmbio de saberes)
Das 17h30 às 20h haverá duas oficinas de economia colaborativa e sobre a metodologia do Museu da Pessoa, e conversas sobre “A relação com o Estado e a autodeclaração como Ponto de Cultura” e “Qual é o impacto de nosso trabalho?”, além de espetáculos e mostra de produções dos Pontos.
Segundo dia
A quinta-feira, 1º de dezembro, começa com as seguintes mesas de exposições das 9h às 11h: “Cultura, território e desenvolvimento”, “Movimento de Cultura Viva Comunitária”, “Cultura e participação cidadã”, “Identidades, saberes comunitários e diversidade cultural”, “Cultura e comunicação”, “Descolonização e despatriarcalização”, “Arte e transformação social”, “Cultura e economia social” e “Direitos culturais”.
Às 11h30 serão abertos os fóruns, com uma apresentação sobre a experiência da Comissão Nacional de Pontos de Cultura no Brasil e a metodologia do trabalho em rede. Em seguida vêm os fóruns regionais e os fóruns temáticos, a partir das 14h30: “Coletivos de comunicação popular”, “Coletivos artísticos, grupos de teatro comunitário, expressões de carnaval”, “Centros culturais independentes e autogestivos”, “Bibliotecas populares, clubes sociais e esportivos e espaços educativos” e “Coletivos de diversidade”.
Dois bate-papos estão previstos para as 17h30: “Qual é o impacto de nosso trabalho?” e “Relação com o Estado e a autodeclaração como Ponto de Cultura”. Às 19h30 tem a conferência “Redes e Cultura Viva Comunitária”, e às 20h30, a mostra e os espetáculos artísticos.
Terceiro dia
A sexta-feira, 2 de dezembro, estará dedicada a experiências ibero-americanas de Cultura Viva Comunitária, abordando as temáticas “criatividade comunitária”, “criação coletiva” e “trabalhos de identidade”. Propostas de criatividade e criação coletiva também estão programadas para este dia, além de fóruns regionais e apresentações de produções de Pontos de Cultura. Um festival cultural comunitário encerra a programação do encontro nacional no Galpão de Catalinas (Benito Pérez Galdós 93).
Entre os palestrantes do encontro estão Enrique Avogadro, secretário de Cultura e Criatividade do Ministério da Cultura da Argentina; Victor Vich, pesquisador e professor da Universidade Católica do Peru; e Iván Nogales, sociólogo boliviano fundador do Teatro Trono e Comunidad de Productores en Artes (Compa).
Também estão na programação a socióloga Marisa Revilla Blanco, professora na Universidade Complutense de Madrid; Francisco Benítez, coordenador geral do Programa de Economia das Culturas e Produção Cultural do Instituto de Cultura do Chaco; Benjamín González Pérez, gestor cultural, professor e fundador da Fábrica de Artes y Oficios (FARO) de Oriente na Cidade do México; e Carolina Wajnerman, psicóloga especialista em arte-terapia, integrante de Mujertrova, Colectivo FindeUNmundO y Artecipación.
Saiba mais: https://encuentropdc.cultura.gob.ar.
Carta Cultural Ibero-americana: 10 anos de compromisso
Em 08, nov 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Em novembro de 2006, durante a XVI Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, foi assinada em Montevidéu (Uruguai) a Carta Cultural Iberoamericana. Este documento de referência – que deu base ao fortalecimento institucional da região como espaço de cooperação, a favor da preservacão e do desenvolvimento de sua diversidade cultural – foi o primeiro documento regional inspirado na Convenção sobre Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da Unesco (Paris, 2005). O primeiro documento da região a mostrar uma visão plena e integral da cultura.
Os 10 anos da assinatura da Carta Cultural Ibero-americana serão celebrados esta semana em Montevidéu com algumas atividades comemorativas e de reflexão, com a intenção de reforçar e ressignificar suas incumbências. Esta terça-feira (8/11), na Sala Hugo Balzo del Auditorio Nacional del Sodre, será realizado o Seminário Internacional sobre Políticas Culturais na Ibero-América. Entre os participantes estão Rebeca Grynspan, secretária-geral da Secretaria Geral Ibero-americana (Segib); Paulo Speller, secretário geral da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), e Enrique Vargas, coordenador do Espaço Cultural Ibero-americano.
Durante o seminário, ministros e secretários de Cultura dos países ibero-americanos se reunirão em um conversatorio sobre a incidência da Carta Cultural nas políticas culturais nacionais, experiências e boas práticas. A programação também inclui um painel sobre o processo e a consolidação do Espaço Cultural Ibero-americano e sua inserção no contexto multilateral.
Nesta quarta-feira (9/11), a partir das 17h, na esplanada e no hall do Teatro Solís haverá uma exposição interativa, DJs, VJs e projeção de videoclipes. A gala será às 19h30, na sala principal do teatro, com a presença de autoridades nacionais e internacionais, projeção de vídeo comemorativo, saudação do embaixador cultural Julio Boca, designação dos novos embaixadores culturais Jorge Drexler e Gioconda Belli, e encerramento musical.
As finalidades
Todos os programas de cooperação cultural da Ibero-América se fundamentan neste documento adotado há 10 anos. Além de afirmar o valor central da cultura como base indispensável para o desenvolvimento integral do ser humano e para a superação da pobreza e da desigualdade, a Carta Cultural Ibero-americana tem como fim promover e proteger a diversidade cultural, que é origem e fundamento da cultura ibero-americana, assim como a multiplicidade de identidades, línguas e tradições que a conformam e enriquecem.
Também estão entre seus objetivos consolidar o Espaço Cultural Ibero-americano como um âmbito próprio e singular, com base na solidariedade, o respeito mútuo, a soberania, o acesso plural ao conhecimento e à cultura, e o intercâmbio cultural; facilitar os intercâmbios de bens e serviços culturais na região; incentivar laços de solidariedade e de cooperação com outras regiões do mundo, assim como promover o diálogo intercultural entre todos os povos; e fomentar a proteção e a difusão do patrimônio cultural e natural, material e imaterial ibero-americano através da cooperação entre países.
Os âmbitos de aplicação
A Carta é uma declaração política. Um compromisso voluntário de cooperação, que surge da solidariedade entre Estados. Seus âmbitos de aplicação são amplos e variados: os direitos humanos e os direitos culturais, as culturas tradicionais, indígenas, de afrodescendentes e populações migrantes, a criação artística e literária, as indústrias culturais, os direitos de autor e o patrimônio cultural, as relações da cultura com outros âmbitos das políticas públicas, como a educação, o ambiente, a ciência e a tecnologia, a comunicação, a economia solidária e o turismo.
Ao assumir a região como um espaço cultural dinâmico e singular – em que reconhecem profundos vínculos históricos e uma pluralidade de origens e variadas manifestações e expressões culturais –, a Carta defende a diversidade como um patrimônio comum que deve ser valorizado e preservado, “uma vez que sustenta um mundo mais rico e variado, nutre as capacidades, as potencialidades, a creatividad e os valores e constitui um motor para o desenvolvimento sustentável de povos e nações”.
O documento concebe a cultura como condição, meio e fim para o desenvolvimento pessoal e social. Afirma que não é possível alcançar um certo nível de bem-estar se não existe uma ampla participação cidadã no acesso, no desfrute e na construção compartilhada dos bens culturais. Além disso, propões reflexões sobre o papel da cultura no desenvolvimento dos povos em um mundo globalizado, multicultural e diverso. Em uma de suas páginas, assinala também que el Espaço Cultural Ibero-americano se caracteriza por sua capacidade de transformação e de constante adequação aos novos contextos e realidades sociais, econômicas e políticas.
Para conseguir a consolidação deste espaço cultural como um âmbito próprio e singular e facilitar os intercâmbios de bens e serviços entre os 22 países da região, a Secretaria Geral Ibero-americana (Segib) e a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) têm desenvolvido uma série de iniciativas de cooperação internacional. Neste sentido, uma estratégia fundamental são os programas “Iber” coordenados pela Segib, como IberCultura Viva, Iberescena, Ibermúsica, Ibermedia, Ibermuseos, entre outros.
Surgidos a partir das Conferências Ibero-americanas de Cultura e das Cúpulas de Chefes de Estado e de Governo, estes programas e iniciativas de cooperação se fundamentam na Carta Cultural Ibero-americana com vistas a favorecer a articulação entre os países da região, buscando impulsar políticas e atividades concretas e reafirmando seu compromisso de respeito aos direitos humanos e culturais, às culturas tradicionais, aos afrodescendentes, aos indígenas, aos migrantes.
Nestes 10 anos, o campo da cultura tem experimentado avanços importantes em sua institucionalidade, inspirados neste marco conceitual. Exemplo disso é a criação de órgãos públicos específicos e de legislações nos países ibero-americanos. A ampliação do intercâmbio nesta década também foi fundamental para a promoção e o fortalecimento da cultura no âmbito das políticas públicas.
Saiba mais:
XVI Cumbre Iberoamericana de Jefes de Estado y de Gobierno
Metodologia do Museu da Pessoa no Brasil é tema de curso na Argentina
Em 01, nov 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Interessados em conhecer a metodologia de registro de histórias de vida desenvolvida pelo Museu da Pessoa no Brasil podem participar do curso Tecnologia Social da Memória, que será realizado de 8 a 10 de novembro na Universidade de Belgrano (Zabala 1837, Piso 16, Buenos Aires). Nos dias 11 e 12, no mesmo local, haverá um encontro com profissionais e organizações que tenham interesse em colaborar com a implantação de um núcleo Museu da Pessoa na Argentina.
O programa de formação faz parte do projeto “Museu da Pessoa – Rede Internacional de Histórias de Vida”, um dos ganhadores do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015. É uma iniciativa do Instituto Museu da Pessoa no Brasil e do professor Emiliano Polcaro, da Universidade de Belgrano, com o propósito de sensibilizar os participantes para a valorização das histórias de vida como uma fonte singular de conhecimento de culturas e histórias de diferentes povos.
Nos três dias do curso, os participantes terão a oportunidade de revisitar suas histórias, aprender a entrevistar e refletir sobre o valor da história de vida como patrimônio cultural. Os interessados devem escrever para info@museodelapersona.org (aos cuidados de Emiliano Polcaro). O resultado desse trabalho poderá ser conhecido no portal www.museudapessoa.net.
O museu
Fundado em São Paulo em 1991, o Museu da Pessoa é um museu virtual colaborativo que tem por objetivo democratizar a construção da memória social por meio da valorização de histórias de vida de toda e qualquer pessoa da sociedade. Hoje, seu acervo reúne 16 mil depoimentos gravados e 60 mil fotos e documentos digitalizados, que ajudam a contar a história de instituições, cidades e de grupos sociais diversos.
Nestes mais de 20 anos de atividades, o museu vem atuando na construção de uma rede internacional de histórias de vida, repassando a tecnologia social a grupos e organizações que possam disseminar a metodologia em seus países. Em 1999, apoiou a criação de um núcleo em Portugal (Universidade de Minho). Em 2001 foi a vez da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e em 2003, do Centro Histórico de Montreal, no Canadá. Agora, o objetivo é criar um Museo de la Persona na Argentina.
Prazo de inscrições do Edital de Apoio a Redes é prorrogado para dezembro
Foi prorrogado para 1º de dezembro o prazo de inscrições do Edital IberCultura Viva de Apoio a Redes 2016. Com a intenção de fortalecer o trabalho e fomentar a articulação de redes de cultura de base comunitária nos países ibero-americanos, o edital distribuirá um total de US$ 100 mil entre os ganhadores de duas categorias. Cada projeto poderá receber até US$ 5 mil.
Uma das duas categorias é dirigida ao apoio para a realização de eventos de redes de cultura de base comunitária municipais, estaduais, nacionais ou regionais. Por eventos se entendem encontros, congressos, seminários, festivais, feiras, colóquios e simpósios. As propostas devem referir-se a eventos realizados entre 1º de fevereiro e 31 de outubro de 2017.
A outra categoria é voltada ao apoio a eventos de redes nacionais e/ou regionais que tenham como objetivo a preparação para o 3º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária (CVC), que será realizado em 2017 em Quito (Equador). As primeiras edições dos congressos, organizadas pelas redes latino-americanas de Cultura Viva Comunitária, ocorreram na Bolívia em 2013, e em El Salvador, em 2015.
Saiba mais:
Edital de apoio a redes de cultura de base comunitária
IberCultura Viva lança seus três editais de 2016
Os congressos latino-americanos
Em maio de 2013, a cidade de La Paz foi “tomada poeticamente por assalto” por cerca de 1.200 ativistas artístico culturais provenientes de 17 países de América Latina. Participaram 35 representantes de governos, formando uma aliança em torno de políticas públicas que garantam 0,1% dos orçamentos públicos para a Cultura Viva Comunitária e uma rede de cidades criativas pela Cultura Viva Comunitária. Finalizado o congresso, foi elaborado de maneira coletiva um manifesto denominado “Declaração de La Paz”, em que ressaltavam o que havia significado este evento e algumas de suas perspectivas.
O 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária se deu em El Salvador, um país marcado por lutas, conflitos, massacres, e que vive um momento histórico com um governo que busca promover a mudança social por meio da cultura. O evento foi organizado pela sociedade civil (a Red Salvadoreña de Cultura Viva Comunitaria) com o apoio da Secretaria de Cultura da Presidência, de 27 a 31 de outubro de 2015, sob o lema “Convivência para o bem comum”.
Durante cinco dias, cerca de 500 congressistas da América Latina e do Caribe participaram de conferências, fóruns, debates, reuniões, oficinas, apresentações e visitas a comunidades. A cordialidade, o respeito e o espírito de irmandade marcaram o encontro antes, durante e depois. Na plenária final, na Concha Acústica da Universidade de El Salvador, se juntaram para celebrar o encontro e anunciar que o próximo “congresso da cultura da alegria e do afeto” seria em Equador, em 2017.
Leia também:
https://culturavivacomunitaria.org/cv/2013/06/la-declaracion-de-la-paz/
https://iberculturaviva.org/es-cinco-dias-de-cultura-viva-en-el-salvador/
Buenos Aires sediará o 1º Encontro de Redes IberCultura Viva
Em 31, out 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Foto: Romina Santarelli
O 1° Encontro de Redes IberCultura Viva será realizado em Buenos Aires, Argentina, de 30 de novembro a 3 de dezembro. Durante quatro dias, organizações e representantes governamentais formarão um espaço de intercâmbio para trabalhar sobre as temáticas de participação social e cooperação, marco normativo para as políticas culturais, mapas e indicadores e capacitação em políticas culturais de base comunitária em âmbito ibero-americano. As atividades estão programadas em conjunto com a terceira edição do Encontro Nacional de Pontos de Cultura, que é organizado pelo Ministério de Cultura da Argentina e tem como tema “Inovação e criatividade”.
Os participantes, provenientes de 10 países ibero-americanos, serão distribuídos em grupos de trabalho simultâneos, durante os primeiros três dias do evento. O grupo “Participação social e cooperação cultural” prevê avançar na construção de uma mesa intersetorial da sociedade civil de acompanhamento do programa IberCultura Viva. Estará formado por integrantes do Comitê Intergovernamental, representantes de redes ibero-americanas de cultura e representantes de governos locais.
“Legislação para as políticas culturais de base comunitária” será o tema do segundo grupo, que contará com a presença de representantes governamentais, parlamentares e especialistas que tenham trabalhado nas redações das legislações vigentes de seus países ou cidades. A ideia é colocar em comum os avanços e estimular a criação de novas normas que fortaleçam as políticas públicas da área.
O terceiro grupo terá dois temas para tratar: a construção de mapas e indicadores e a formação em políticas culturais de base comunitária. O primeiro, que tem como objetivo a constituição de um observatório de políticas culturais de base comunitária, contará com a presença de investigadores e funcionários dos sistemas de informação cultural dos países membros. Para debater o tema da formação serão convidados representantes de instituições de formação em políticas culturais de Ibero-América e universidades.
Além das mesas temáticas, os participantes poderão conhecer algumas propostas inovadoras em cultura comunitária desenvolvidas nos países ibero-americanos e os resultados dos projetos premiados no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio 2015. Também vão poder acompanhar parte da programação do Encontro Nacional de Pontos de Cultura, como a mostra artística das organizações locais e a conferência magistral de Célio Turino. No dia 3 de dezembro será realizada a reunião do Comitê Intergovernamental do programa IberCultura Viva, onde se poderá avançar sobre o planejamento em curso e formalizar propostas que tenham surgido do encontro.
Fazer cinema é, sim, coisa de criança
Como seriam as lendas e os mitos das comunidades indígenas contadas a partir da visão infantil? E se estas crianças narrassem as histórias de seus povos em curtas-metragens em que eles mesmos atuam, produzem, dirigem e se encarregam da parte técnica? No México a experiência resultou em filmes falados em mazateco, chinanteco, chatino, zapoteco, cuicateco, ikoot, chontal, ayuuk, mixteco… Agora a proposta chega ao Chile com o “Taller comunitario de cine con y para niños” (“Oficina comunitária de cinema com e para crianças”), um dos projetos premiados no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015. Os trabalhos começaram em Valparaíso em 17 de outubro e seguem na Ilha de Páscoa até 4 de novembro. Dois curtas vão resultar das atividades: um em mapuche e o outro em rapa nui.
Cinematequio, a organização que divide o projeto com os chilenos Museo Fonck e Grupo Tacitas, é um coletivo mexicano encabeçado desde 2013 pelo cineasta Eduardo Bravo Macías e a escritora e professora Alejandra Domínguez Sánchez. O nome vem de um jogo de palavras que junta a arte e a técnica da criação e apreciação cinematográfica com o “tequio”, o trabalho comunitário para o bem comum.
Com oficinas baseadas no trabalho comunitário, na solidariedade e no compromisso, “sem fins políticos nem religiosos”, como ressaltam Alejandra e Eduardo, o coletivo busca contribuir para o desenvolvimento do país por meio da arte e da cultura, com ênfase na (re)valorização do patrimônio cultural imaterial que constituem os contos, mitos, lendas, relatos da tradição oral e das línguas originárias.
Fazer cinema, para eles, é um trabalho comunitário. São pelo menos sete dias de convívio com uma comunidade ou grupo em cada oficina, para dar a conhecer elementos teóricos e práticos, escrever um roteiro original baseado em um relato tradicional, permitir que os participantes escolham os papéis que desejam exercer dentro da produção, sejam eles técnicos ou artísticos, produzir o curta-metragem e apresentá-lo à comunidade ao final do processo.
Atividades
De segunda-feira, 17, a terça, 25 de outubro, foi realizada uma oficina na Escola Intercultural “Carabinero Pedro Cariaga”, de Valparaíso. Um curta-metragem intitulado “Nguillatún” foi feito por crianças da escola, com apoio de seus professores e de uma autoridade tradicional mapuche, o “lonko” Iván Coñuecar Millán. Além do colégio e redondezas, foram gravadas cenas no Museo Fonck de Viña del Mar. A apresentação de “Nguillatún” à comunidade se deu no Parque Cultural Valparaíso.
Em 27 de outubro foi feito o traslado a Rapa Nui. O começo dos trabalhos no Colegio Básico Lorenzo Baeza Vega estava previsto para o dia 28. A apresentação do curta-metragem feito com e para os meninos e meninas rapa nui está agendada para 4 de novembro, durante os festejos do Dia da Língua Rapa Nui.
Antes do começo das atividades no Chile, em apresentação do projeto no Museo Fonck, o cineasta Eduardo Bravo comentou a ideia de fazer uma adaptação de um relato da tradição oral de cada comunidade, para que as crianças mapuche e rapa nui pudessem atuar e fazer parte de todo o processo de produção. “Além de transferir o conhecimento técnico, (buscamos) a possibilidade artística, e que ajude a revalorizar a parte lingüística, de identidade. Ao colocá-los em contato com outros grupos, outras comunidades que tenham trabalhado com as oficinas no México, buscamos estender laços que podem ir crescendo, para que possam trocar mensagens e histórias desta maneira”.
Impressões
Terminadas as gravações em Valparaíso, Eduardo Bravo considerou a experiência muito enriquecedora. “Nos demos conta de que mesmo estando tão longe temos muitos pontos em comum. E é muito gratificante trabalhar com crianças nativas, propositivas e criativas. Elas precisaram de muito poucas tomadas para fazer suas cenas”, observou.
Para Alejandra Domínguez, a oficina também pareceu muito boa. “Nos receberam com muita amabilidade, tanto os professores como os alunos. Eles estavam emocionados (por saber) que éramos de outro país, nos perguntavam mil coisas. E realmente tomaram a responsabilidade pela gravação. Foi muito rápido. Uma excelente participação de toda a escola.”
Para a diretora da escola de Valparaíso, Ana Maria Salazar Zepeda, foi importante para os alunos conhecer de perto o que é trabalhar em cinema.“Uma experiência única, feita aqui pela primeira vez. As crianças estão interessadas em ter este aprendizado e compartilhar com seus companheiros os diversos papéis de trabalho em cinema. Me sinto honrada de poder participar. (…) Que possamos semear a arte de fazer cinema com crianças. Que seja o começo de outros momentos de cinema na escola. Estamos muito agradecidos”, afirmou.
Contrapartida
A primeira atividade oficial da equipe Cinematequio no Chile foi visitar o Instituto de História da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso, que – por meio do braço universitário do Grupo Tacitas- criou um projeto para adquirir o equipamento de chromakey, iluminação e acessórios utilizados durante a produção dos curta-metragens no Chile.
O Grupo Tacitas é um “clube de excursionismo” formado em 2006, quando voluntários convocados pela arqueóloga Gabriela Carmona, do Museo Fonck, participaram de uma excursão à “piedra tacita” de El Morro, na parte mais alta do setor de “Quebrada Escobares”, comuna de Villa Alemana, Quinta Região. Desta excursão e do intercâmbio de experiências surgiu a iniciativa de visitar outros pontos da região com lugares de interesse arqueológico, com o objetivo de conhecê-los, difundir seu valor e assim ajudar sua preservação.
Já o Museo Fonck de Viña del Mar, criado em 1937, conta com salas dedicadas à cultura rapa nui e às culturas do Chile continental, além de uma mostra de história natural e duas bibliotecas. Uma, com cerca de 10 mil volumes, está voltada a diversas especialidades; a outra é a Biblioteca Rapa Nui, dedicada apenas a essa cultura. O museu tem como missão “preservar, investigar, difundir e ensinar o patrimônio natural, arqueológico e etnográfico do Chile, entretendo e estimulando o interesse pelo conhecimento, com espírito de serviço e estando atentos às necessidades da comunidade”.
Saiba mais:
Começa a segunda etapa do intercâmbio entre organizações de Costa Rica e Chile: integração em busca de um bem comum
Em 31, out 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Começou no dia 17 de outubro, no Chile, a segunda etapa do projeto “Intercâmbio entre organizações socioculturais de Costa Rica e Chile”, uma das iniciativas ganhadoras do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015. Ao longo de duas semanas, Joselyn Ávila e Ronald Corrales León, representantes do movimento costa-riquenho de Cultura Viva Comunitária, dividiram experiências com as redes culturais da Quinta Região do Chile, a região de Valparaíso. O intercâmbio, que teve sua primeira etapa na Costa Rica em setembro, é um projeto das organizações chilenas Nodo Valpo e Trafon e do Movimento CVC Costa Rica.
“Está sendo muito enriquecedor para nós, tanto para o Movimento de Cultura Viva Comunitária como para NodoValpo e Trafon”, afirma Joselyn, ressaltando que a rede Ensamble Kultural se uniu ao projeto e vem acompanhando todo o processo no Chile. “Além disso, conseguiu-se impulsar a integração e união dos diferentes agentes culturais chilenos em busca de um bem comum”.
Joselyn conta que eles têm se “retroalimentado” da experiência cultural vivida no Chile e de diversas metodologias que poderiam ser replicadas na Costa Rica. “Me sinto muito feliz por ter tido a oportunidade de viver este intercâmbio, que me permitirá ter um panorama mais amplo da situação cultural, social e ambiental, como também da nossa riqueza latino-americana, para nos reconhecermos como um só povo, porque além de apresentar diversidade temos muitas semelhanças”.
Os percursos
No primeiro dia dos costa-riquenhos no Chile houve um encontro com a equipe de cultura do governo do país, o Conselho da Cultura e das Artes, e um percurso por lugares de interesse de Valparaíso, entre eles a Bioescola Valparaíso de Cerro Larrain. Os dias seguintes foram de intercâmbio de experiências (com a Escola Municipal de Bellas Artes de Valparaíso, Proyecto Trama e Espacio Cowork BAJ Valparaíso), encontros com círculos de ressonância nas províncias de Valpo, Quillota e Catapilco, sessões de capacitação comunicacional e visitas a lugares como a Casa da Cultura (Rocas de Santo Domingo), a casa-museu de Pablo Neruda na Ilha Negra e o Centro Cultural La Mandrágora.
Também pelo projeto do IberCultura Viva o grupo conheceu o colégio rural da escola de Pullally e diversos grupos de Chincolco que colaboram com o projeto “Mi Barrio es Cultura“, que a rede Ensamble Kultural realiza em parceria com o Conselho da Cultura e das Artes da Região de Valparaíso. Ensamble se define como “uma mistura de organizações, coletivos, agentes e pessoas que trabalham ativamente pela transformação social e o bem comum”.
As organizações
A primeira etapa do projeto foi realizada em Costa Rica entre os dias 5 e 19 de setembro, com a visita dos chilenos Rodrigo Benítez Marengo, José Tapia Pizarro e Rodrigo Letelier Balaguer. Benítez e Tapia são integrantes do coletivo Nodo Valpo; Letelier é o diretor-geral dol Centro Cultural Trafon.
O Centro Cultural Trafon busca ser uma plataforma de gestão das indústrias culturais próxima de artistas, gestores e público. Localizado num antigo bairro industrial de Valparaíso, funciona como um espaço aberto para trabalhar com a comunidade, de maneira autogestionada e em prol da articulação de redes culturais solidárias e comunicativas. No centro se realizam feiras de vizinhos, recitais, eventos beneficentes e ciclos audiovisuais. O espaço conta com uma sala de ensaio e um estúdio de gravação equipado. Estão sendo implementados uma galeria de arte, uma sala de teatro e um centro de aprendizagem.
Nodo Valpo, por sua vez, é um espaço aberto à comunidade que trabalha a partir de uma lógica colaborativa e de rede, promovendo as dinâmicas de criação, gestão e produção de atividades e projetos em nível cultural, patrimonial, educativo e artístico. Sustentabilidade, formação e comunidade são palavras-chave para o grupo, que atua nas seguintes áreas: arquitetura, artesanato, artes cênicas, artes visuais, fotografia, letras, artes do movimento, empreendimentos criativos e culturais.
NodoValpo e Trafon apresentaram este projeto com o Movimento CVC Costa Rica buscando o fortalecimento do trabalho colaborativo e em rede mediante a realização de intercâmbios de experiências, circuitos culturais e práticas locais de desenvolvimento cultural que estão sendo executados em ambos os países. A ideia veio dos encontros que chilenos e costa-riquenhos tiveram durante o 2° Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, realizado em outubro de 2015 em El Salvador.
O Movimento Cultura Viva Comunitária Costa Rica é formado por mais de 100 grupos, redes e pessoas que trabalham em todo o território nacional. O coletivo foi constituído há cinco anos com a formação de um núcleo intersetorial em que participavam instâncias do Ministério da Cultura e Juventude e representantes dos movimentos culturais de Costa Rica. Sua metodologia de trabalho se renovou em 2015 com a criação dos chamados círculos de ressonância. Estes círculos estão nas nove regiões do país e são representados pelas “vocerías”, uma equipe de três pessoas encarregadas a agitá-los a partir de três aspectos fundamentais: comunicação, fortalecimento e incidência. Joselyn Ávila e Ronald Corrales León, os dois que encerram sua viagem a Chile neste 31 de outubro, são “voceros” do movimento.