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IberCultura Viva abre seminário que comemora os 10 anos do programa: mirando no horizonte para mais uma década de travessia
Em 28, nov 2024 | Em Notícias | Por IberCultura
(Fotos: Filipe Araújo/MinC e LR Fernandes)
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Depois dos dois dias de debates e acordos na 14ª Reunião do Conselho Intergovernamental, teve início na noite desta quarta-feira (27/11), em Brasília, o seminário comemorativo dos 10 anos do programa IberCultura Viva. O encontro, pensado como um espaço para refletir sobre os resultados alcançados nesta primeira década de cooperação e os desafios que se encontram nesta travessia, contou com a presença da ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, na cerimônia de abertura, na sede do Banco do Brasil.
Margareth Menezes fez uma saudação carinhosa, especial pelos 10 anos do IberCultura Viva, “programa que nos conta uma história, uma história que a gente acredita, porque nós que trabalhamos com arte e cultura sabemos que nesse âmbito não existe fronteira”. Falou da “costura” que faz a política de Cultura Viva, “esse enlace para chegar a quem está lá na ponta, dignificando e contando com o reconhecimento da comunidade”, numa união de forças, numa rede que se alastra a todo momento.
Ao lembrar que os 10 anos do IberCultura Viva coincidem com os 20 anos de Cultura Viva no Brasil, a ministra afirmou que, para além da celebração, a ideia é fortalecer o compromisso com as culturas vivas comunitárias, que refletem a riqueza e a diversidade ibero-americana. Ao celebrar a incorporação da República Dominicana, anunciada no dia anterior, ela disse que a cooperação Internacional vem mostrando que pode ser uma ferramenta poderosa de transformação social e cultural na busca por um mundo mais justo e um planeta sustentável.
“Idealizado há uma década como espaço de integração e valorização das expressões culturais locais, o IberCultura Viva tem se tornado uma força transformadora para as políticas culturais de base comunitária dos países que integram este programa de cooperação. Desde sua criação, tem garantido o protagonismo das mais diversas organizações culturais comunitárias, dos povos e comunidades indígenas, afrodescendentes, camponeses, grupos urbanos, periféricos e de cultura digital, promovendo a criação de redes culturais que ultrapassam nossas fronteiras geográficas, reforçando a cultura como promotora de desenvolvimento, emancipação e justiça social”, destacou.
Segundo ela, o programa materializa a conexão entre cultura, educação, desenvolvimento, inclusão social e cidadania com uma prática de política abrangente, descentralizada, em rede e em diálogo e escuta com as comunidades, com os territórios. “O IberCultura Viva nos ensina que a cultura é o coração pulsante das nossas sociedades. É a alma, a identidade do nosso povo, e pode ser a força de transformação na paz. Que este seminário seja um espaço de inspiração, mobilização e diálogo. E que possamos continuar tecendo essas redes que conectam nossas comunidades, nossos territórios, nossos sonhos e corações”, complementou.
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Reatando laços
Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (MinC) e presidenta do IberCultura Viva, lembrou que voltou ao cargo neste 2024, depois de 10 anos (ela estava no MinC entre 2011 e 2014 e foi a primeira presidente do programa), e que considera “uma honra” fazer parte dessa história. “São momentos de reatar laços. Se o ministro Gilberto Gil tocou o corpo com a sua poética, eu digo que com a sua estética, que a gente redesenhou, a ministra veio dar a sua métrica, que é trazer a cultura viva para o tamanho do Brasil, e o seu reforço ético, de ter uma cultura efetiva, que fale com os seus propósitos maiores, que seja inclusiva”, afirmou.
Como diz o Manifesto IberCultura Viva +10 Anos, o momento é de tecer memórias, celebrar a diversidade, ampliar as redes e construir o futuro. É de resgatar a história para pensar o futuro, “assim como uma flecha que quanto mais a puxarmos para trás, mais a projetamos para frente”. “Vamos seguir lado a lado, trabalhando irmanados. Mirando no horizonte, lançamos uma flecha adiante para conquistar mais uma década de travessia. Com cooperação, com política cultural de base comunitária e com participação social, vamos seguir tecendo esse futuro linha a linha, ponto a ponto, numa grande teia para enfrentar os desafios da emergência climática, para habitarmos um mundo cada vez mais sustentável, igualitário, sem preconceitos e guiados por valores democráticos e de justiça social”, finalizou a presidenta.
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Construindo juntos
Sara Díez Ortiz de Uriarte, que participou do seminário como representante da Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB), explicou que o IberCultura Viva é um dos 14 programas de cooperação cultural adscritos ao Espaço Cultural Ibero-americano e que, portanto, é um instrumento de cooperação bi-regional e horizontal adscrito às Cúpulas Ibero-Americanas. Ao agradecer o convite para comemorar a história “dessa política de aprofundamento democrático”, ela destacou que um dos maiores logros do programa é a gradual construção e implementação dessa política nos países da América Latina.
“Queremos continuar construindo futuros, ampliando redes, pensando em memórias e celebrando a diversidade. São valores muito importantes neste momento, num contexto mundial de questionamento do multilateralismo, dos fundamentos da democracia”, observou. “Comemoramos 10 anos de uma política que fomenta autonomia em termos de desenvolvimento cultural. Dos 14 programas culturais que temos, acho que o IberCultura Viva é o mais solidário e o mais imaginativo. É o mais solidário porque adota a agenda da justiça social e climática. E o mais imaginativo por sua articulação com sociedade civil, academia, governos locais. Sigamos juntos construindo este instrumento de cooperação que teve tantos desafios, alegrias e logros nesta primeira década”.
O embaixador Laudemar Gonçalves de Aguiar Neto, secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Ministério de Relações Exteriores, destacou a celebração dos 10 anos do programa como “um ato importante que comprova o fortalecimento de um ideal que une os países ibero-americanos em torno de uma causa comum, a promoção da cultura como ferramenta de transformação, inclusão e integração”. “Nesses 10 anos, o IberCultura Viva consolidou-se como essa ponte que conecta histórias, línguas, identidades, reafirmando a centralidade da cultura de base comunitária como mediadora intercultural e construtora de consensos”.
Segundo o embaixador, o IberCultura Viva celebra e difunde as expressões culturais de nossas comunidades, reconhecendo nelas a base para uma sociedade mais justa, solidária e democrática. “Ao celebrarmos esta primeira década, vamos olhar para o futuro com a flecha que foi dita e que os próximos anos sejam de ainda mais colaboração, criatividade e inclusão. (…) Que o programa siga sendo um exemplo de como a cultura pode e deve atuar como mediadora em tempos de crise, em tempos de oposições e como força motriz em momentos de esperança”, completou.
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Na abertura da cerimônia, o vice-presidente de Negócios de Governo e Sustentabilidade Empresarial do Banco do Brasil, José Ricardo Sasseron, ressaltou a relevância do seminário e a importância da integração entre os povos, entre a cultura dos povos latinos, americanos e ibéricos, e os brasileiros. “Vocês que trabalham com cultura têm um papel muito importante que é conservar a memória do povo de cada país e trocar experiências”, disse o anfitrião.
Júlia Pacheco, secretária das Culturas de Niterói (Rio de Janeiro), compareceu como representante da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais e também destacou a importância do intercâmbio de experiências entre municípios. “É no território das cidades que a cultura acontece”, ressaltou. “Cada gestor, cada Ponto de Cultura, cada um que está aqui quer transformar o mundo para fazer com que a gente viva num lugar melhor. A cultura tem esse potencial, é esse espaço.”
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Com os esforços das organizações
A mexicana Rut Mendoza García, por sua vez, falou em nome do Grupo Impulsor do 6º Congresso Latino-americano de Culturas Vivas Comunitárias (que se realizará em Cherán, Michoacán, em abril de 2025) e da Equipe de Acompanhamento Continental do Movimento de Cultura Viva Comunitária. Em sua intervenção na abertura, ela mencionou alguns dos esforços que foram feitos pela sociedade civil e que acabaram contribuindo para a criação do programa, em outubro de 2013, na 23ª Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, no Panamá (o lançamento formal se deu em abril de 2014, no 6º Congresso Ibero-americano de Cultura, na Costa Rica).
“Em 2010 começaram a buscar fundos para que as organizações de base pudessemos nos reunir, falar, saber que acontece nos nossos territórios e para onde vamos. Em 2011, as redes foram convocadas através da Plataforma Puente, para promover e difundir a cultura viva comunitária. Em 2013, celebramos nosso primeiro Congresso Latino-americano de CVC na Bolívia, com cerca de 1.200 pessoas participantes. E agora, passados 10 anos, estamos aqui, onde também há um esforço das coletividades, das organizações, para saber o que se passou nesses 10 anos e para onde vamos. Felicitamos esta celebração, e que estes 10, 20, 30 anos mais sejam acompanhados, sim, dos governos, mas que também sejam consideradas as organizações de base, porque estamos fazendo esforços muito grandes em nossos territórios”, observou a mexicana.
O argentino Eduardo Balán, líder do grupo El Culebrón Timbal que veio representando o Instituto Latino-americano de Promoção da Cultura Viva Comunitária, disse ser um motivo de muita alegria poder estar em Brasília para celebrar os 10 anos do IberCultura Viva e falar da integração ibero-americana, de seu valor para a construção da democracia e do desenvolvimento dos povos. Ao questionar como essa integração se posiciona diante dos desafios que a região terá nos próximos 10 ou 20 anos, Balán busca trazer a perspectiva das organizações culturais comunitárias da “Abya Yala” (América), que, segundo ele, está numa encruzilhada.
“Há dois futuros possíveis para nosso continente: ser uma zona liberada para o extrativismo, a violência, a desigualdade e a pobreza; ou ser uma região com a rede de economias colaborativas e comunitárias mais poderosas do planeta. É uma possibilidade, uma potencialidade. Nosso destino como continente está ligado à luta pela vida e isso implica uma relação distinta com a mãe natureza, com a produção de alimentos, com outros tipos de tratamentos de saúde e de educação”, explicou. “Outro desafio que temos é o de ser protagonistas de um modelo de desenvolvimento baseado na democracia participativa. Em uma economia social, na cultura viva comunitária, num modo de abordar a vida que seja mais colaborativo que competitivo.”
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⇒ Confira o vídeo da transmissão no canal do IberCultura Viva no YouTube