Destaque
GT de Sistematização lança livro “Desafios, debates e experiências sobre culturas comunitárias”
Entre maio e novembro de 2022, o Grupo de Trabalho de Sistematização do IberCultura Viva realizou um ciclo de seminários virtuais, com o objetivo de contribuir para a construção de um referencial teórico e o debate de categorias vinculadas às políticas culturais de base comunitária. Sem a intenção de apresentar definições ou conceitos absolutos, as pessoas integrantes do GT se propuseram a dialogar e repensar coletivamente essas ideias, em reuniões por videoconferência com três ou quatro palestrantes. As produções preparadas para estes seminários deram origem a um livro, com 203 páginas, já disponível para download no site www.iberculturaviva.org.
Coordenado por Clarisa Fernández, Paula Simonetti, Camila Mercado, Robert Urgoite e Vânia Brayner, o livro “Desafios, debates e experiências sobre culturas comunitárias na Ibero-América: reflexões a partir do Grupo de Trabalho de Sistematização do Programa IberCultura Viva” está dividido em sete capítulos (reformulados pelos/as autores/as para esta edição) correspondentes aos quatro seminários realizados em 2022. A publicação procura recuperar as análises realizadas em algumas das apresentações, esperando ser ao mesmo tempo uma contribuição teórica significativa e um insumo para o desenho de políticas culturais de base comunitária.
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Os capítulos
Os capítulos 1 e 2 correspondem ao seminário “Culturas Comunitárias e Diversidades”, realizado em 14 de maio de 2022. No primeiro capítulo, “Culturas e diversidades comunitárias, itinerários para caminhar”, Marcelo Fabián Vitarelli (Argentina) traça um percurso por conceitos e práticas-chave para culturas vivas comunitárias, em caminhos que relacionam culturas, diversidades, territorialidades, direitos humanos, sujeitos coletivos e intervenções inclusivas dialógicas. Numa segunda parte do texto, Vitarelli se concentra na experiência da Universidade Nacional de San Luis, membro fundador da Rede de Culturas Comunitárias, na Argentina.
No capítulo 2, Andrea Mata Benavides (Costa Rica) reflete sobre o Movimento Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, tomando especialmente os casos da Costa Rica e da Argentina. Além de caracterizar o movimento, reconstrói alguns marcos, eventos e ações significativas que fazem parte dessa história iniciada em 2010, em Medellín (Colômbia), após o Encontro Latino-americano Plataforma Puente Cultura Viva Comunitária. Entre os eixos problemáticos que a autora aborda estão as desigualdades e divergências a respeito de como o movimento se desenvolveu em diferentes países e as modalidades de participação e construção que vem sendo adotadas durante os congressos (como os círculos da palavra) e em outras instâncias de encontro.
Os capítulos 3 e 4 são do seminário “Políticas Públicas de Base Comunitária”, que ocorreu em 18 de junho de 2022. No primeiro deles, Clarisa Fernández (Argentina) reconstrói histórica e conceitualmente a categoria de políticas culturais comunitárias, buscando articular as experiências coletivas e as iniciativas governamentais que moldaram esse conceito. Ela também propõe diretrizes para a reflexão sobre seu alcance e incorporação tanto nos espaços de gestão como no campo acadêmico.
No capítulo 4, “Cultura de barra. O caso da Trincheira Celestial: modelo de gestão cultural baseado na realidade de La Banda del Capo”, Francisca Jara (Chile) apresenta um projeto de pesquisa que investiga as características fundamentais e a dinâmica da torcida do Clube Deportivo O’Higgins, na cidade de Rancagua, no Chile. O capítulo procura, a partir desta análise do trabalho territorial da organização, contribuir para o desenvolvimento de um plano cultural para a organização.
O capítulo 5 (“Saúde comunitária e cultura de vivência comunitária, modos de viver e produção de territórios”), de Robert Urgoite (Uruguai), vem do terceiro seminário do ciclo, sobre “Gestão Cultural Comunitária”, realizado em 13 de agosto de 2022. O autor propõe pensar de forma articulada a saúde e a vivência das culturas comunitárias, colocando a saúde como uma questão territorial, indissociável dos contextos. Para aprofundar sua proposta, Urgoite conta com a experiência do Coletivo Paranáuticxs, da cidade de Fray Bentos, no litoral uruguaio.
No capítulo 6, um dos dois correspondentes ao quarto seminário, “Património Cultural, Memórias e Museus Comunitários”, de 2 de novembro de 2022, Martina Inés Pérez (Argentina) aborda a gestão do patrimônio arqueológico desde uma perspectiva comunitária, aproveitando a experiência de uma equipe de pesquisa multidisciplinar em Antofagasta de la Sierra, Catamarca. O caso permite refletir sobre um fenómeno de maior escala que implica mudanças profundas na dinâmica de vida das comunidades rurais afetadas pelo crescimento exponencial da atividade turística.
Por fim, o capítulo 7, de Vânia Brayner (Brasil), propõe repensar o conceito antropológico de cultura nas políticas públicas, especificamente no campo da memória e do patrimônio cultural. A autora analisa o impacto dessas políticas no campo da memória, dos museus e da museologia, em particular, da chamada museologia social brasileira.
Como destacam os autores na publicação, “este percurso permite-nos dar conta de uma articulação de temas, abordagens disciplinares e perspetivas teóricas que abordam uma mesma preocupação: a necessidade de repensar as experiências, os atores, as políticas e as instituições do mundo cultural comunitário. Nesse sentido, este livro apresenta-se como uma contribuição para o mapa das discussões que ocorrem tanto nas áreas da gestão pública, como no campo acadêmico e dentro das organizações, na busca por uma cultura mais igualitária e democrática para toda a Ibero-América”.
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Sobre o GT
O Grupo de Trabalho de Sistematização e Difusão de Práticas e Metodologias de Políticas Culturais de Base Comunitária (GT de Sistematização) foi formado há dois anos, por meio de uma convocatória lançada pelo IberCultura Viva em junho de 2021. Das 87 inscrições recebidas nesta chamada pública, foram selecionadas 59 pessoas de 10 países: 17 do Brasil, 14 da Argentina, 7 do México, 6 do Equador, 4 da Colômbia, 4 do Peru, 3 do Uruguai, 2 do Chile, 1 da Costa Rica e 1 da Espanha.
As candidaturas aceitas foram aquelas de pessoas que exerciam atividades de pesquisa, ensino e/ou vinculadas a projetos de extensão cultural em instituições de ensino (universidades, centros de pesquisa ou formação, institutos ou similares). A primeira reunião do grupo se deu no dia 30 de setembro de 2021, de forma virtual, para que as pessoas participantes pudessem se encontrar e discutir uma forma de organizar este espaço de trabalho.
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Na reunião seguinte, no dia 9 de dezembro de 2021, foram debatidas algumas propostas que haviam sido apresentadas antes do encontro, como a criação de um seminário permanente e de um repositório ou revista digital. Também foram propostas mais algumas reflexões e redefinidas as equipes de trabalho para 2022, ano em que realizaram este ciclo de seminários e também acompanharam o 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, que ocorreu no Peru de 8 a 15 de outubro. Com o apoio do IberCultura Viva, seis integrantes do GT viajaram ao Peru para realizar entrevistas e participar de algumas atividades do congresso, como os círculos da palavra “Legislação e políticas públicas” e “Educação popular e criativa”.