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Experiencias

La Colmena e a “rádio da esperança”: um bairro unido para romper o silêncioLa Colmena e a “rádio da esperança”: um bairro unido para romper o silêncioLa Colmena e a “rádio da esperança”: um bairro unido para romper o silêncioLa Colmena e a “rádio da esperança”: um bairro unido para romper o silêncio

Por IberCultura

Em24, set 2015 | Em | PorIberCultura

La Colmena e a “rádio da esperança”: um bairro unido para romper o silêncio

Na região metropolitana de Buenos Aires – mais especificamente em Villa Hidalgo, José León Suárez, partido de San Martín –, há uma rádio que não só diz, mas também faz, que não apenas denuncia violação de direitos, mas também anuncia as boas-novas, as boas experiências. Seu lema? “FM Reconquista, para voltar a acreditar e deixar mais forte a esperança.”

No ar desde 1988, a “rádio da esperança”, gerida pela Associação Civil de Mulheres La Colmena, é uma das organizações que surgiram a partir do Centro de Comunicação Popular Renascendo, criado por um grupo de vizinhos em 1982, 1983, quando a Argentina começava a despertar do pesadelo da ditadura militar.

O Centro de Comunicação Popular Renascendo surgiu com a intenção de dar voz àqueles que haviam estado silenciados por tanto tempo, com a proposta de fazer da comunicação comunitária uma ferramenta para que as organizações e o bairro pudessem se expressar autêntica e livremente, sendo donos e protagonistas das próprias mensagens.

Começou como uma organização territorial, onde se incluía proprietários e não proprietários (villeros) para levar adiante tarefas próprias do desenvolvimento local, como a titularidade das terras, a criação de escolas, a provisão de água potável, luz elétrica, construção de calçadas, cruzamento de ruas, etc.

FMReconquista

Simultaneamente veio a proposta cultural, “como uma ponte que entrelaça vidas, sonhos, experiências das províncias de origem de cada um de seus habitantes”, como diz Margarita Palacio, dirigente da Associação de Mulheres La Colmena.

Surgiram, então, o teatro de rua, os músicos locais, os audiovisuais (feitos em slides, musicalizados e editados com fitas de gravação), o grupo de leitura crítica de meios de comunicação, o grupo de fotografia e de cinema em super 8, a revista do bairro.

A Revista Renaciendo, que chegou a ter uma tiragem de 2.000 exemplares vendidos casa por casa, megafone nas mãos, anunciou em seus últimos números a entrada no ar da FM Reconquista, em 1988. Dois anos depois, em 1990, as mulheres reunidas, reclamando seu lugar, se constituíram juridicamente como organização, com a Associação de Mulheres La Colmena.

Direitos

La Colmena tem como missão trabalhar pela promoção integral dos direitos das mulheres e suas famílias, por meio do desenvolvimento de estratégias de inclusão educativa, política, econômica e social, baseadas no respeito à cultura do trabalho, ao meio ambiente e aos direitos das crianças e adolescentes, a partir de uma perspectiva de gênero.

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“Mateando juntas”, um dos programas da FM Reconquista, é conduzido por mulheres da associação La Colmena

A rádio coordena um espaço em rede constituído por 30 organizações sociais e comunitárias do território, a Rede Comunicacional e Social Reconquista. Um de seus programas se chama “Mateando juntas”. Produzido e conduzido por mulheres da associação, tem como temática central a questão de gênero e trata de coisas que dizem respeito ao bairro. Outro programa é “Façam correr a voz”, com transmissão ao vivo das atividades realizadas na vila.

Atualmente, La Colmena é responsável pela Casa del Niño, com 170 crianças de 6 a 12 anos; um grupo de 160 adolescentes, que compartilham cursos de reflexão, passeios e capacitações; uma orquestra juvenil, formada por 45 integrantes; um refeitório infantil, com mais de 720 comensais; um jardim maternal e infantil, com 340 meninos e meninas.

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Colônia de férias e passeios com as crianças também estão entre as atividades da associação

Além de colônia de férias, oferece vários cursos. Para crianças e jovens, há oficinas de teatro, cinema, dança, música, informática e esportes, entre outros. A associação também oferece capacitação em micro-empreendimentos, formulação de projetos, desenvolvimento de horta orgânica, cursos sobre violência, maltrato infantil e abuso, prevenção de adição em drogas, capacitação, assessoramento, assistência e acompanhamento até os centros especializados.

Décadas de luta

“Nos anos 80, o desejo dos argentinos, pelo menos em sua maioria, era respirar o ar puro da democracia logo depois da sangrenta ditadura. A primeira década foi de reacomodação de metas deixadas de lado pelo golpe militar”, comenta Margarita Palacio. “Nos anos 90, surge o ‘vale tudo’, a destruição da indústria nacional se aprofunda, o pensamento e a ação dos argentinos adormecem.”

A partir deste marco histórico, a experiência de comunicação comunitária, educação popular e reconstrução de cultura identitária se fortaleceu, levando adiante o lema “Para voltar a acreditar e deixar mais forte a esperança”. Segundo Margarita, porque eles tinham que voltar a acreditar neles unidos, organizados como um coletivo local, lutando por suas necessidades e seus sonhos.

“Hoje, olhando a distância, podemos afirmar que o desenvolvimento de nossa proposta comunicacional, cultural e popular foi pelo desenvolvimento local. E dizemos que nossa rádio não é uma rádio que diz somente, mas que também faz, já que seus membros integram distintas organizações que trabalham incansavelmente a serviço das comunidades.”

Três perguntas para Margarita Palacio

1. Vocês cresceram bastante nestes anos. Quando começaram as atividades, imaginavam que seria assim?

O grupo fundador desta experiência, em sua maioria, vinha com saberes e vivências prévias, realizadas com muito compromisso. Além disso, alguns do grupo vínhamos nos capacitando e trocando experiências com muitos grupos da América Latina, já que estávamos cursando os anos 1983, 1984, 1985, até 1990, no Centro de Comunicação Educativa La Crujia. Estivemos em contato com experiências de comunicação e educação popular muito importantes na América Central e na América Latina. Desenvolvíamos planos e projetos com perspectivas a curto, médio e longo prazo, buscando recursos financeiros, formando e fortalecendo recursos humanos, com a criatividade de aplicá-los ao território urbano empobrecido.

margarita

Margarita é presidente da associação

2. Uma sala para gravação foi construída e equipada quando a associação se tornou Ponto de Cultura, em 2011. Algo mais mudou com o Ponto de Cultura?

A sala de gravação foi construída com recursos do Ponto de Cultura, assim como parte do equipamento. O equipamento restante foi obtido mediante outros recursos. E, sim, mudou muito, já que pudemos destinar um espaço exclusivamente à comunidade e não apenas aos integrantes da rádio. As equipes dos programas de rádio puderam gravar ali seus spots, editar suas entrevistas, a orquestra juvenil pôde gravar suas canções, jovens de outras localidades puderam gravar suas demos e ensaiar antes de uma apresentação. Talvez, em meio a tantas necessidades, inundações, desemprego etc, isso poderia parecer algo desnecessário. Mas assim como há um pão que provê alimento ao nosso corpo, também deve existir necessariamente este outro, o pão da alma, que dá valor à cultura, à comunicação, à educação popular.

3. A experiência tem valido a pena?

Sim, nos sentimos orgulhosos e orgulhosas do realizado. E sentimos que cada vez mais temos que seguir oferecendo possibilidades. Neste momento, estamos nos primeiros passos de uma linguagem audiovisual mais profissional. (O programa) Pontos de Cultura, em sua segunda etapa, nos proveu de uma boa câmera filmadora. E lá vamos com a mesma força, iniciando um novo olhar para estes tempos. Como neste caso somos “novos”, vamos com a humildade de quem inicia um novo recorrido. Colocamos em marcha o “Crescer a partir do pé”: de baixo, com os sólidos cimentos de nossa experiência anterior, com o desejo de nos capacitar nesta nova linguagem, com as novas estéticas do momento, tratando ou sonhando produzir novos conteúdos, próprios, que partam do coração de nossas comunidades.

Saiba mais:

https://www.fmreconquista.org.ar/
https://www.facebook.com/lacolme