Experiencias
Por IberCultura
Em08, jan 2020 | EmMéxico | PorIberCultura
Colmenas de Zapopan: uma rede de centros comunitários de inclusão e empreendimento
(Texto e fotos: Dirección de Desarrollo Comunitario del Gobierno Municipal de Zapopan)
No município de Zapopan (Jalisco, México) existe uma rede de Centros Comunitários de Inclusão e Empreendimento, conhecidos como “las Colmenas”, que procura enfrentar a crise ambiental, social e econômica por meio da construção de um sentir comum e a promoção dos princípios essenciais da Cultura Viva Comunitária.
As Colmenas buscam ser espaços seguros e inclusivos, que possam gerar comunidades de aprendizagem através da gestão de serviços (oficinas, capacitações, assessorias e eventos) cujo propósito seja o desenvolvimento de ferramentas e a socialização de conhecimentos que promovam o desenvolvimento integral, fortaleçam a coletividade, regenerem o tecido social e estimulem a criação de projetos comunitários.
Esta iniciativa do Governo Municipal de Zapopan aposta no espaço público como um elemento articulador, estruturante e regulador da cidade, de onde se pode contribuir para melhorar questões ambientais, dinâmicas e práticas sociais, e a qualidade de vida dos cidadãos. Concebidas como espaços vivos, cheios de cultura e dinâmicas coletivas, as Colmenas buscam consolidar o bem comum a partir dos elementos característicos que o espaço público deveria ter. Ou seja, de interesse público, includente e com um desenho universal que fomente a integração social.
Para isso, as Colmenas propõem um modelo de trabalho em rede que consiste em alcançar um balanço adequado entre a participação da comunidade, do setor público, das organizações da sociedade civil, da iniciativa privada e de outros atores capazes de incidir positivamente em cada âmbito estratégico. Dentro deste modelo inovador, a participação comunitária se destaca em todas as etapas e processos, através de entrevistas, diagnósticos e assembleias, que têm permitido que as Colmenas estejam – na medida do possível – verdadeiramente aterradas nos problemas, necessidades e desejos das e dos vizinhos.
Antecedentes
Em 2013, o Governo Municipal de Zapopan firmou um convênio com ONU-Habitat, o programa das Nações Unidas para os assentamentos humanos. Desta colaboração surgiu a Estratégia Territorial Zapopan 2030 (ETZ2030), elaborada sob as diretrizes da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável por uma equipe interdisciplinar de especialistas locais e internacionais e o Escritório de Projetos Estratégicos de Zapopan, com um forte componente de participação cidadã.
Em termos territoriais, Zapopan é o município mais extenso da Área Metropolitana de Guadalajara (AMG) e também o que mais tem crescido em termos absolutos nos últimos 20 anos. Em termos de infraestrutura, seu crescimento tem sido desordenado e disperso, e em seu território se observam grandes contrastes, pois enquanto abriga uma das áreas socioeconômicas mais dinâmicas do país, também mantém muitos setores na informalidade e sem serviços básicos. Em Zapopan, zonas funcionais e bem conectadas convivem com territórios de urbanização dispersa, sem serviços e equipamentos públicos.
A ETZ2030 diagnosticou o município através de âmbitos estratégicos (Distrito Centro, Arco Primavera, Valle de Tesistán, Las Mesas e Santa Ana – El Colli) que posteriormente foram delimitados como polígonos de intervenção. Em cada um deles foram feitos diagnósticos técnicos, que analisaram sua localização, população, meio físico natural e vulnerabilidade, espaço e estrutura urbana, serviços e equipamento e conectividade. As Colmenas foram colocadas em três dos âmbitos estratégicos, considerados os mais desiguais e com maior índice de marginalização: Colmena Miramar para Santa Ana-Tepetitlán, Colmena San Juan de Ocotán para Arco Primavera, e Colmena Villa de Guadalupe para Las Mesas.
A rede de Colmenas faz parte dos Projetos Urbanos Integrais Sustentáveis (PUIS), instrumentos de desenvolvimento sustentável alinhados com a ETZ2030, onde a articulação de ações estratégicas resulta mais próxima à realidade das comunidades de Zapopan. Os PUIS foram definidos a partir de um diagnóstico que considerou os níveis de marginalidade, criminalidade, oferta econômica, equipamento médico e educativo, conectividade do transporte público, limites naturais, análise de redes sócio-urbanas, densidade populacional, possibilidades reais de trabalho, entre outros. As Colmenas buscam contribuir para a solução da falta de oportunidades educativas, laborais e culturais nestas comunidades.
Grupos de trabalho
O modelo de operação das Colmenas contempla grupos de trabalho, programas transversais, redes de trabalho e oferta de serviços como oficinas, capacitações, assessorias e eventos. Os grupos de trabalho – ou clusters – organizam suas atividades e delineamentos em torno de áreas específicas de conhecimento que se definem a partir das necessidades detectadas nas comunidades. Os grupos de trabalho são os encarregados de diagnosticar, elaborar e avaliar os serviços para a comunidade relativos à sua área específica de conhecimento: educação, tecnologia, meio ambiente, arte, cultura e esporte, e saúde integral.
O grupo de trabalho de educação articula os serviços que buscam o aprendizado de conhecimentos úteis para a vida comunitária, assim como habilidades que facilitem o exercício do direito à cidade e ao espaço público. Este cluster aproxima a comunidade de oportunidades acadêmicas, sociolaborais e de empreendimento através de opções autogeridas e coletivas de ingresso. A oferta de serviços abarca a educação formal, oficinas socioprodutivas e de empreendimento como alternativas de autoemprego e educação não formal como gestão de formas de organização coletiva para a solução de problemas.
Já o grupo de trabalho de tecnologia aproveita os recursos tecnológicos para a solução de problemas comunitários. Está profundamente relacionado com o grupo de trabalho de educação, pois colaboram na oferta de ferramentas digitais e de comunicação para o desenvolvimento social. Este cluster também faz trabalhos de comunicação interna e externa e atende às necessidades de tecnologia das Colmenas, já que seus afazeres são transversais ao trabalho dos outros clusters.
O cluster de meio ambiente promove a sustentabilidade de cada Colmena e o melhor aproveitamento de recursos através do manejo de resíduos e o cuidado, proteção e manejo dos centros naturais vinculados às Colmenas. Este grupo de trabalho busca gerar na comunidade uma melhor compreensão dos sistemas naturais e sua relação com a sociedade. Para isso, promove a educação ambiental, a agricultura urbana, a sustentabilidade e o consumo responsável. Com o tratamento desses assuntos, criam ferramentas gerais de consciência ambiental, para reconectar com o entorno natural, de trabalho em equipe e de regeneração do tecido social.
O grupo de arte, cultura e esporte, por sua vez, trabalha para gerar processos de integração, desenvolvimento social, inclusão e construção da interculturalidade através de processos artísticos, culturais e desportivos. Este cluster busca transformar a Colmena em um espaço onde se promova o exercício cultural e se identifiquem, facilitem e fortaleçam os processos que já se dão no território, assim como relacionar pessoas, saberes e recursos. Este grupo propicia o intercâmbio de saberes comunitários intergeracionais, interculturais e promove o nascimento de novos processos comunitários. O cluster anima e motiva a participação comunitária e a ressignificação de experiências culturais, utilizando a arte como ferramenta de transformação social, revigora o exercício dos direitos culturais, e sua defesa.
Por fim, o cluster de saúde integral compreende a atenção à saúde integral – desde o médico, nutricional e odontológico –, a atenção à saúde psicossocial, e à saúde comunitária, que aposta em práticas de cuidados pessoais, familiares e coletivas que permitam a gestão de ferramentas individuais e coletivas para a regeneração do tecido social que derivam no bem-estar físico, social e psicológico da população.
Programas transversais
Para que os grupos de trabalho articulem a oferta de serviços, foi elaborada uma série de programas transversais comuns às atividades das três Colmenas. Os programas transversais são dinâmicos, transformam-se e adaptam-se segundo a realidade específica de cada Colmena. Atualmente existem os programas transversais de gênero, inclusão, interculturalidade, cuidados comunitários, saberes comunitários e empreendimento.
O programa transversal de gênero promove a implementação da perspectiva de gênero em todos os serviços das Colmenas. Seu objetivo geral é criar ferramentas para que todos reflexionem sobre sua posição e seus privilégios – ou a falta deles – no contexto social, familiar, laboral, político e público, com vistas a identificar violências e reconhecer a maneira com que se reproduzem e se reforçam. O programa de gênero cria espaços seguros e redes de solidariedade que permitem o empoderamento das mulheres através da construção de vínculos que possam impulsionar projetos pessoais e coletivos dirigidos a transformar sua realidade.
O programa de cuidados comunitários se desprende do programa transversal de gênero e promove o aprendizado de estratégias de criação positiva e desenvolvimento pessoal psicoafetivo, trabalhadas desde dois grupos simultâneos, um com adultos e outro com crianças. Em ambos os grupos se trabalham temas que vão desde a comunicação e o estabelecimento de limites até as relações inter e intrapessoais. A intenção é fortalecer a identidade coletiva do grupo e sua capacidade de cooperação e autogestão.
O programa transversal de inclusão é o encarregado de capacitar o pessoal das Colmenas e dotá-los de ferramentas que ajudem a oferecer atenção aos usuários com deficiência física ou intelectual. Aqui se administram recursos que contribuam para a acessibilidade em cada Colmena e sua respectiva oferta. O programa fomenta, ainda, a coesão social entre as pessoas com e sem deficiência das comunidades.
O programa transversal de interculturalidade delineia as ações conjuntas com as pessoas de povos originários que beneficiem a coletividade e seus integrantes, com base no reconhecimento e no respeito mútuo, com a intenção de gerar uma relação de igualdade entre grupos e pessoas de culturas distintas que são igualmente dignas e valiosas.
O programa de empreendimento se encontra em fase de diagnóstico e desenho. No entanto, está concebido para suscitar processos autogestivos e coletivos de empreendimento, e devem identificar quais são as dimensões que devem ser cobertas para promover o empreendimento integral. Propicia-se a economia sustentável, solidária e local.
O programa de saberes comunitários mantém um processo estruturado de acompanhamento aos aspirantes a voluntários/as, e àqueles que se desempenhem dessa forma através de voluntariado, serviço social, práticas profissionais ou alguma outra modalidade sem fins de lucro. Este programa é especialmente importante para que a comunidade se envolva ativamente nas atividades das Colmenas, ao compartilhar seus conhecimentos e consolidar-se como agentes de ensino e transformação que fortaleçam em capital social a cada PUIS.
O programa de saberes comunitários é um efeito positivo do modelo de governança participativo das Colmenas, que aborda os aspectos da vida comunitária que mais afetam a qualidade de vida de seus membros e que retoma os elementos valiosos que possam detonar outras formas de relacionar-se afetivamente.
Redes de trabalho
Este modelo de trabalho tem resultado em redes que supõem tecer e nutrir mutuamente aprendizagens, conhecimentos, vínculos e capacidades que possam potenciar os pontos fortes e reparar as fraquezas. As redes têm se consolidado a partir da presença de outros atores no terreno, e se proposto como um espaço de encontro entre comunidade, Colmenas, setor público, sociedade civil organizada, iniciativa privada e qualquer outro ator cujo objetivo seja melhorar as condições de cada âmbito.
Para cada Colmena existe uma rede: Sul para Miramar, Norte para San Juan de Ocotán e Villa de Guadalupe. Nas redes se discutem os principais problemas a resolver, se priorizam ações e se coordenam iniciativas. Esta maneira de trabalhar tem feito com que uma grande variedade de atores se envolvam nos processos das Colmenas e gerado comunidades de aprendizagem, para que todas e todos se beneficiem e que se traduza em uma melhora tangível e mensurável do entorno e das condições de vida das comunidades.
Para fortalecer as redes, as Colmenas organizam assembleias periódicas e mantêm comunicación constante com cada uno dos atores. A intenção é avaliar o impacto dos serviços, atualizar os diagnósticos e promover o encaminhamento de novos serviços e colaborações para que realmente possam aportar na solução dos problemas mais importantes das comunidades e remediar os possíveis efeitos negativos que as mesmas Colmenas possam gerar.
Este modelo de governança participativo permite que setores historicamente vulneráveis possam retomar o protagonismo através das ferramentas necessárias para incidir ativamente em seu contexto social, político, econômico e cultural. Ademais, as redes permitem que usuários e colaboradores se mesclem, e assim se aposta na sustentabilidade das Colmenas, de forma que as comunidades e suas necessidades possam ditar o rumo de sua operação.
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(*) Texto publicado em 8 de janeiro de 2020
- Zapopan é um dos municípios integrantes da Rede Ibercultura Viva de Cidades e Governos Locais. Saiba mais sobre a iniciativa em https://iberculturaviva.org/rede-de-cidades/
Leia o artigo na íntegra:
La cultura comunitaria, eje central de las Colmenas en Zapopan