Cinema comunitário
Termina em Rapa Nui a “Oficina comunitária de criação cinematográfica para crianças”
Em 19, nov 2016 | Em Cinema comunitário, Editais, Notícias, Oficinas |
Com a apresentação do curta-metragem “A história do rei Hotu Matu’a” no Dia da Língua Rapa Nui, chegou ao fim na Ilha de Páscoa (Chile) a segunda etapa da “Oficina comunitária de criação cinematográfica intercultural com e para crianças”. O projeto, um dos premiados no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015, teve sua primeira etapa em Valparaíso de 17 a 25 de outubro.
“A história do rei Hotu Matu’a” foi realizado por meninas e meninos da ilha, com diálogos em sua língua originária e legendas em espanhol. O curta narra a chegada dos primeiros moradores a Te Pito ou Te Henua (“O umbigo do mundo”, nome antigo de Rapa Nui ou Ilha de Páscoa) desde a terra de Hiva, assim como o nascimento da primera pessoa na ilha e o conflito entre o rei Hotu Matu’a e seu irmão Oroi, que termina com a morte deste último.
A apresentação foi no Colégio Lorenzo Baeza Vega, num estande preparado especificamente para isso, sob a coordenação da professora Vianca Díaz Tucki. “O curta teve uma recepção muito boa. Foi apresentado várias vezes durante o dia e em cada uma delas a equipe recebeu muitos elogios do público, de todas as idades”, afirma o cineasta Eduardo Bravo Macías, do coletivo mexicano Cinematequio, que divide o projeto com os chilenos Museo Fonck e Grupo Tacitas.
A ideia era apresentá-lo no dia 4 de novembro, junto aos festejos do Dia da Língua, mas o clima acabou adiando a comemoração. “Durante quatro dias choveu sem parar, o que nos obrigou a reprogramar a gravação de algumas cenas. Da mesma maneira, a chuva fez com que a celebração do Dia da Língua passasse do dia 4 para o dia 8, o que nos permitiu completar as cenas”, conta Eduardo.
As crianças
Participaram do curta-metragem 28 crianças, entre 5 e 14 anos, principalmente alunos do Colégio Lorenzo Baeza Vega, ainda que também tenham participado crianças de outras escolas. Além disso, o grupo contou com a presença do coro do colégio para a gravação do hino “I’he a Hotu Matu’a”.
A equipe técnica mirim foi comandada por Tomás Ignacio Lorca Navarrete na direção, enquanto a fotografia ficou a cargo de Walter Darío Durán; e o som direto, por Isabella Vaikaranga Reyes Pakarati e Ro-Iti Francisca Pate Paoa.
O elenco contou, entre outros, com Renga Kio Pate Teao como narradora, Mautu’u Henua Icka Otero como o rei Hotu Matu’a, Maho Rangi Ko Rangi Atan Hotu como Oroi, e Nohorangüi Tuki Rioroko Petero como um dos sete exploradores.
“Para a escrita do roteiro, consultamos diferentes especialistas locais buscando contrastar a versão mais conhecida do relato, documentada por Sebastián Englert, com a versão viva na tradição oral da própria comunidade, e acabamos dando prioridade a esta última. Nossos assessores foram Moiko Teao Hotu, Mike Pate Haoa e Niso Tucki Tepano”, ressalta o cineasta mexicano.
Ao terminar a etapa en Rapa Nui, Eduardo Bravo regressou a Valparaíso e à Escola Carabinero Pedro Cariaga, onde foi realizada a primeira oficina do projeto no Chile. Ali, junto a Marcos Moncada, do Grupo Tacitas, cogestor do projeto, a equipe apresentou o curta gravado em Rapa Nui, assim como o gravado pelas crianças da comunidade mapuche de Valparaíso (“Nguillatún”). “Em ambas as escolas nos falaram da intenção e do interesse em dar continuidade ao projeto”, comenta Eduardo.
A carta de Valparaíso
Em 14 de novembro eles assinaram a “Carta de Valparaíso”, em que definem as características e os fins que devem ter os curtas-metragens realizados eminentemente por crianças, com a metodología de Cinematequio, em criação coletiva e comunitária com base nos relatos da tradição oral. Assinaram a carta Eduardo Bravo Macías (Cinematequio), Marcos Alonso Moncada Astudillo (Comunidad Lircay), Vicente Tureo Arratia (professor intercultural mapuche), Alexis Antinao Valenzuela (encarregado do Departamento de Povos Originários do Conselho Regional de Valparaíso). Ficaram pendentes as assinaturas de Tania Basterrica, do Grupo Tacitas, e Cecilia Hormozabal Araki, de Maohi ou Rapa Nui.
“Esta carta define as bases para continuar e fortalecer a rede de cooperação e criação conjunta de conteúdos culturais entre Chile e México a partir de nossos coletivos”, afirma o cineasta mexicano, que desde 2013 encabeça o coletivo Cinematequio ao lado da escritora e professora Alejandra Domínguez Sánchez. Suas oficinas, baseadas no trabalho comunitário, a solidariedade e o compromisso, iniciados no México e agora também no Chile, buscam a (re)valorização do patrimônio cultural imaterial que constituem os contos, mitos, lendas, relatos da tradição oral e as línguas originárias.
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