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Para o Topo.

GT de Sistematização

GT de Sistematização reúne-se para discutir projeto de criação de Rede de Universidades

Na sexta-feira, 22 de setembro, o Grupo de Trabalho de Sistematização e Divulgação de Práticas e Metodologias de Políticas Culturais de Base Comunitária (GT de Sistematização) se reuniu por videoconferência para discutir algumas pendências, além da proposta de criação da Rede de Universidades do IberCultura Viva, apresentada por membros do GT duas semanas antes. Doze pessoas participaram do encontro.

Marcelo Vitarelli (Argentina), que apresentou o projeto da Rede de Universidades junto com Elena Román (México), Paola de la Vega (Equador), Rocío Orozco (México), Daniel Zas (Argentina) e Francisca Jara Pájara (Chile), abriu o encontro lembrando algumas conquistas do GT, como a realização dos quatro seminários em 2022 e a recente edição do livro digital Desafios, debates e experiências sobre culturas comunitárias na Ibero-América (“uma importante carta de apresentação dos nossos espaços e que já circula pelas universidades e grupos comunitários”). Lembrou, ainda, que entre os principais objetivos do GT está promover a construção de uma Rede de Universidades vinculadas ao programa IberCultura Viva.

“Somos um grupo de colegas que se mantém curiosos, ativos e preocupados com a cultura comunitária. Cada um de nós tem um papel diferente na universidade, uns com mais representatividade institucional, outros menos, mas o importante é que estamos trabalhando com abertura para o assunto, e começamos a trabalhar questões operacionais: quais são as nossas ideias, o que temos feito, como nos vemos dentro das universidades… porque (a ideia) não é criar uma superestrutura, algo utópico, mas sim algo concreto que sirva também como uma ferramenta mais possível e possibilitadora”, comentou Vitarelli.

O projeto apresentado procura contribuir para o desenvolvimento da formação, da pesquisa, da gestão e do apoio aos diversos setores envolvidos na abordagem das culturas comunitárias nos territórios. Além disso, tem como objetivo fortalecer os laços de cooperação entre as universidades latino-americanas, os atores sociais dos territórios e os governos locais, construindo agendas comuns baseadas em um compromisso social, ético e político com as culturas comunitárias, sua gestão e as políticas culturais que as acompanham. 

O documento que o grupo entregou à Unidade Técnica reúne fundamentação, objetivos da rede, campos de atuação e uma apresentação de algumas das universidades que participaram da construção da proposta, para mostrar o que estão fazendo, “para mostrar que há um movimento de cultura comunitária dentro das universidades da América Latina”. “Somos professores universitários que trabalham com organizações de base, seja por meio de pesquisa, extensão ou gestão. Nós vamos e voltamos (às comunidades), conhecemos isso concretamente”, destacou Vitarelli.

A possibilidade de esta iniciativa proporcionar intercâmbios entre estudantes de vários territórios latino-americanos foi apontada por Rocío Orozco, que integra o coletivo mexicano CulturAula e participa do GT Sistematização por conta de um projeto de vinculação comunitária na Universidade Jesuíta de Guadalajara (ITESO), focada por um lado na formação e, por outro, no trabalho de base no bairro Mexicaltzingo. Para Orozco, que também participa da Escola de Artes da Secretaria de Cultura de Jalisco, esta rede poderia inclusive apoiar as atividades do 6º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, que acontecerá em 2024 no México.

Elena Román, pesquisadora da Universidade Autônoma da Cidade do México (UACM), destacou o interesse do grupo em formalizar esta proposta de rede, e ver como podem fazer para que mais membros possam aderir, para que se fortaleça e se torne um organismo autônomo de várias maneiras. “Nós que estamos nesta configuração de rede também apostamos que é um trabalho de e para as pessoas que constituem esta rede. A rede tem que ser fluida, porque o que nos interessa é trabalhar. E sim, queremos que haja uma formalização do programa, pois esta era uma aposta do programa, e também para que possamos sustentar o nosso trabalho dentro das nossas instituições.”

Ricardo Klein, professor pesquisador do Departamento de Sociologia da Universidade de Valência (Espanha), parabenizou os/as colegas por esse esforço e chamou a atenção para que seja levado em conta o trabalho conjunto no âmbito ibero-americano, embora os primeiros membros desta proposta sejam de universidades da América Latina. Ele também pensa que seria bom amadurecer esse processo com as comunidades, conversando com os coletivos, para uma retroalimentação. Em seguida, Elena Román explicou que o documento foi criado justamente para que isso fosse formalizado e que depois trabalhariam em equipe. “Uma vez formalizado, podemos sentar-nos para fazer esse trabalho minucioso, real e concreto, porque sabemos que já há apoios”, afirmou.

A importância de pensar nessa ida e volta com as comunidades também foi defendida por Marcelo Vitarelli, que participa do GT Sistematização por seu trabalho na Universidade Nacional de San Luís, mas também é um dos membros fundadores da Rede de Universidades da Argentina para a Cultura Comunitária. Nos últimos cinco anos, a Universidade Nacional de San Luis vem trabalhando em conjunto com a Universidade Nacional de Córdoba e a Universidade Nacional do Litoral no que diz respeito às dimensões de formação, investigação e vínculos no campo problemático das culturas comunitárias do país. Atualmente, esta rede é formada por 14 universidades públicas da Argentina. “É formado por universidades e coletivos de base comunitária que estão dentro ou trabalham com as universidades”, destacou Vitarelli, destacando também o interesse de algumas dessas instituições em trabalhar de forma colaborativa com o IberCultura Viva.

Diego Benhabib, representante da Argentina no programa IberCultura Viva, parabenizou a todos/as pelo trabalho que vêm realizando e disse que a proposta de articulação da Rede de Universidades reflete um dos objetivos centrais do GT Sistematização. Ele também explicou que, tal como foi feito com o Grupo de Trabalho de Governos Locais, que nasceu em 2017 e em 2019 foi formalizado como Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, o processo de formalização da Rede de Universidades exigirá que haja uma assinatura e uma carta de adesão, para estabelecer um compromisso de participação institucional de universidades ou centros acadêmicos.

“Podemos trabalhar coletivamente neste documento, para que ele se adapte às diferentes realidades que temos na Ibero-América. (…) Claro que o nosso espírito e o nosso trabalho são abertos, mas a ideia é que a universidade ou espaço académico que queira participar nesta rede tenha que se comprometer com algumas questões, e por outro lado, definir quem é a pessoa .ou qual é a área que ficará responsável pela gestão operacional desses acordos”, detalhou.

Uma vez construído o instrumento para esta formalização, o tema será discutido no âmbito do Conselho intergovernamental do IberCultura Viva, que é o órgão de decisão sobre as diferentes iniciativas promovidas pelo programa. A intenção é poder incluir a proposta da Rede de Universidades no Plano Estratégico Trienal 2024-2026 que será elaborado nos próximos meses, além de refletir sua formação no Plano Operacional Anual 2024, para que esta instância possa ter recursos no orçamento do programa.

Manuel Trujillo, responsável técnico da presidência do IberCultura Viva, reforçou a importância de uma revisão conjunta do projeto, dos seus objetivos e necessidades, com a intenção de que no próximo ano possa ser aberto a mais participantes, para que mais instituições possam integrar-se e aderir e se possa trabalhar diretamente com as organizações. Neste sentido, deve ser desenvolvido um plano de trabalho para garantir o orçamento e o apoio institucional dos 12 países membros do Conselho Intergovernamental.

Para Elena Román, neste momento o mais importante é ter, por parte do programa, a ata de adesão. “Porque a nossa abordagem é muito clara: ‘sim, queremos trabalhar, seja como for’, mas há quem esteja nas instituições públicas, há quem não esteja. Há quem seja professor pesquisador em tempo integral, o que nos permite ter um tipo de negociação diferente, e há quem tenha uma estrutura muito hierárquica nas suas universidades”, comentou a pesquisadora da UACM, destacando que seria bom ter alguma flexibilidade nos parâmetros gerais de adesão à rede. “Assim que tivermos isso, poderemos saber quem vai estar lá, como vai ser, se as nossas universidades vão querer entrar e formalizar.”

A amplitude de possibilidades de adesão à rede foi citada por outros participantes da reunião, em diferentes contextos. Marcelo Vitarelli, por exemplo, responde como coordenador institucional da Universidade Nacional de San Luis para IberCultura Viva. Outros/as colegas do GT, no entanto, não contam com essa representação institucional. Por isso, o grupo defende que a carta de adesão permita a participação como universidade, mas de lugares diferentes, porque as instituições têm lógicas identitárias distintas. “Temos o nome de uma instituição em nossa representação, mas nem todos respondemos às políticas institucionais do mesmo lugar”, disse Vitarelli, oferecendo ajuda na revisão desta carta, para que ela seja redigida da melhor forma possível.

Daniel Zas mencionou o caso da Escola de Música Popular (Argentina), que junto com a Universidade de La Plata desenhou e executou a Tecnicatura em Música Popular. Ao falar das dificuldades que os projetos de extensão têm tido em receber recursos, perguntou como seria no caso da rede, como poderiam se unir a partir de cada cátedra ou criar um grupo de cátedras, pensando em outras possibilidades além do caminho direto da universidade para conseguir institucionalizar a rede. Um pouco antes, Zas havia mencionado as dificuldades que as organizações comunitárias estão passando, e questionado sobre a possibilidade de circulação de algum orçamento para apoiar atividades realizadas nos territórios.

Bárbara Vega, que ingressou no GT devido ao seu trabalho no Instituto Tecnológico de Sonora (México), também comentou que não está vinculada à universidade em tempo integral; ela trabalha por horas e por grupos especiais, mas sim, tem interesse em participar da rede. “Eu tinha comentado isso esta semana com o coordenador da área onde trabalho. Entendo que a universidade tem que se envolver, mas não sei exatamente o que eles precisam fazer ou o que eu precisaria pedir a eles, porque no final o trabalho da rede recairia sobre as pessoas que fazem parte dela, certo?”, indagou.

Rocío Orozco citou o seu caso, em que a Secretaria da Cultura de Jalisco tem sua própria licenciatura, e também manifestou sua preocupação com a adesão de universidades muito grandes, com muitos departamentos. “Se essas universidades não têm muita clareza sobre os benefícios que vão obter, não participam. Os benefícios devem ser muito claros e concisos nessa construção”, recomendou. Além disso, ela queria saber o que acontece com o orçamento do GT que não foi executado este ano e se seria possível utilizá-lo em algumas das ações que se propuseram iniciar, como a edição de um site.

Diego Benhabib explicou um pouco mais sobre as questões da institucionalidade, da participação no orçamento, e do grau de formalidade que existe e que exige a assinatura de autoridades. “Neste caso, vamos pedir a ajuda de vocês para reunir a estrutura institucional existente neste grupo de trabalho, para saber que tipo de institucionalidade têm e quem poderá assinar este instrumento para a adesão à rede. O reitor ou reitora da universidade, talvez um decano/a de determinada faculdade, poderia assinar a ata de adesão e comprometer-se a participar da rede. Vocês é que vão dizer que tipo de quadro institucional temos hoje disponível para pensar em uma ata de adesão viável”, afirmou.

Sobre o orçamento proposto por Daniel Zas e Rocío Orozco, Benhabib esclareceu que os recursos são destinados ao GT Sistematização e à produção realizada pelo grupo de trabalho. Ele afirmou ainda que o programa não costuma fazer repasses do fundo para uma universidade ou respectivas instituições. “Trabalhamos com projetos”, destacou. Quer dizer, os membros da Rede de Universidades deverão apresentar um projeto ou vários projetos que serão discutidos no plenário ou nas assembleias desta rede (que terá autonomia, mas com acompanhamento da Secretaria Técnica do IberCultura Viva). Uma vez definida a proposta, ela será levada ao programa como a proposta acordada para ser trabalhada durante aquele ano, já com o orçamento estabelecido.

“Não seria especificamente um projeto do IberCultura Viva, porque é basicamente de vocês. O trabalho que nos resta é pensar e começar a desenhar este instrumento de adesão, uma estruturação e regulação do que implica uma Rede de Universidades ou de espaços de formação e conhecimento”, resumiu o representante do governo argentino, que também sugeriu que o grupo tente sintetizar as diversas estruturas possíveis de participação institucional, com a correspondente autoridade e assinatura institucional.

Benhabib mencionou ainda a possibilidade de o programa continuar com o Grupo de Trabalho de Sistematização, mesmo com a formalização da Rede de Universidades. Uma vez que a rede estaria vinculada a um ambiente institucional, o GT atuaria em um ambiente mais “pessoal” ou profissional, inclusive para atender às pessoas interessadas que não conseguem ter sua correlação institucional, no sentido de que a instituição a que pertence não esteja realmente interessada no fortalecimento da cultura comunitária, por desinteresse ou desconhecimento, ou por uma estrutura burocrática demasiado complexa.

Ao final da reunião, ele disse que levaria o tema para a próxima reunião do Conselho Executivo do IberCultura Viva, marcada para o dia 3 de outubro, e que nos dias seguintes o programa trabalharia na construção dos instrumentos de adesão e discutiria com o grupo as diversas estruturas de participação que poderiam ser geradas. Foi estabelecido um prazo de 15 dias para que ambas as partes tenham seus documentos delineados e avancem com a formalização da Rede de Universidades.

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