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GT de Sistematização lança livro “Desafios, debates e experiências sobre culturas comunitárias”
Entre maio e novembro de 2022, o Grupo de Trabalho de Sistematização do IberCultura Viva realizou um ciclo de seminários virtuais, com o objetivo de contribuir para a construção de um referencial teórico e o debate de categorias vinculadas às políticas culturais de base comunitária. Sem a intenção de apresentar definições ou conceitos absolutos, as pessoas integrantes do GT se propuseram a dialogar e repensar coletivamente essas ideias, em reuniões por videoconferência com três ou quatro palestrantes. As produções preparadas para estes seminários deram origem a um livro, com 203 páginas, já disponível para download no site www.iberculturaviva.org.
Coordenado por Clarisa Fernández, Paula Simonetti, Camila Mercado, Robert Urgoite e Vânia Brayner, o livro “Desafios, debates e experiências sobre culturas comunitárias na Ibero-América: reflexões a partir do Grupo de Trabalho de Sistematização do Programa IberCultura Viva” está dividido em sete capítulos (reformulados pelos/as autores/as para esta edição) correspondentes aos quatro seminários realizados em 2022. A publicação procura recuperar as análises realizadas em algumas das apresentações, esperando ser ao mesmo tempo uma contribuição teórica significativa e um insumo para o desenho de políticas culturais de base comunitária.
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Os capítulos
Os capítulos 1 e 2 correspondem ao seminário “Culturas Comunitárias e Diversidades”, realizado em 14 de maio de 2022. No primeiro capítulo, “Culturas e diversidades comunitárias, itinerários para caminhar”, Marcelo Fabián Vitarelli (Argentina) traça um percurso por conceitos e práticas-chave para culturas vivas comunitárias, em caminhos que relacionam culturas, diversidades, territorialidades, direitos humanos, sujeitos coletivos e intervenções inclusivas dialógicas. Numa segunda parte do texto, Vitarelli se concentra na experiência da Universidade Nacional de San Luis, membro fundador da Rede de Culturas Comunitárias, na Argentina.
No capítulo 2, Andrea Mata Benavides (Costa Rica) reflete sobre o Movimento Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, tomando especialmente os casos da Costa Rica e da Argentina. Além de caracterizar o movimento, reconstrói alguns marcos, eventos e ações significativas que fazem parte dessa história iniciada em 2010, em Medellín (Colômbia), após o Encontro Latino-americano Plataforma Puente Cultura Viva Comunitária. Entre os eixos problemáticos que a autora aborda estão as desigualdades e divergências a respeito de como o movimento se desenvolveu em diferentes países e as modalidades de participação e construção que vem sendo adotadas durante os congressos (como os círculos da palavra) e em outras instâncias de encontro.
Os capítulos 3 e 4 são do seminário “Políticas Públicas de Base Comunitária”, que ocorreu em 18 de junho de 2022. No primeiro deles, Clarisa Fernández (Argentina) reconstrói histórica e conceitualmente a categoria de políticas culturais comunitárias, buscando articular as experiências coletivas e as iniciativas governamentais que moldaram esse conceito. Ela também propõe diretrizes para a reflexão sobre seu alcance e incorporação tanto nos espaços de gestão como no campo acadêmico.
No capítulo 4, “Cultura de barra. O caso da Trincheira Celestial: modelo de gestão cultural baseado na realidade de La Banda del Capo”, Francisca Jara (Chile) apresenta um projeto de pesquisa que investiga as características fundamentais e a dinâmica da torcida do Clube Deportivo O’Higgins, na cidade de Rancagua, no Chile. O capítulo procura, a partir desta análise do trabalho territorial da organização, contribuir para o desenvolvimento de um plano cultural para a organização.
O capítulo 5 (“Saúde comunitária e cultura de vivência comunitária, modos de viver e produção de territórios”), de Robert Urgoite (Uruguai), vem do terceiro seminário do ciclo, sobre “Gestão Cultural Comunitária”, realizado em 13 de agosto de 2022. O autor propõe pensar de forma articulada a saúde e a vivência das culturas comunitárias, colocando a saúde como uma questão territorial, indissociável dos contextos. Para aprofundar sua proposta, Urgoite conta com a experiência do Coletivo Paranáuticxs, da cidade de Fray Bentos, no litoral uruguaio.
No capítulo 6, um dos dois correspondentes ao quarto seminário, “Património Cultural, Memórias e Museus Comunitários”, de 2 de novembro de 2022, Martina Inés Pérez (Argentina) aborda a gestão do patrimônio arqueológico desde uma perspectiva comunitária, aproveitando a experiência de uma equipe de pesquisa multidisciplinar em Antofagasta de la Sierra, Catamarca. O caso permite refletir sobre um fenómeno de maior escala que implica mudanças profundas na dinâmica de vida das comunidades rurais afetadas pelo crescimento exponencial da atividade turística.
Por fim, o capítulo 7, de Vânia Brayner (Brasil), propõe repensar o conceito antropológico de cultura nas políticas públicas, especificamente no campo da memória e do patrimônio cultural. A autora analisa o impacto dessas políticas no campo da memória, dos museus e da museologia, em particular, da chamada museologia social brasileira.
Como destacam os autores na publicação, “este percurso permite-nos dar conta de uma articulação de temas, abordagens disciplinares e perspetivas teóricas que abordam uma mesma preocupação: a necessidade de repensar as experiências, os atores, as políticas e as instituições do mundo cultural comunitário. Nesse sentido, este livro apresenta-se como uma contribuição para o mapa das discussões que ocorrem tanto nas áreas da gestão pública, como no campo acadêmico e dentro das organizações, na busca por uma cultura mais igualitária e democrática para toda a Ibero-América”.
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Sobre o GT
O Grupo de Trabalho de Sistematização e Difusão de Práticas e Metodologias de Políticas Culturais de Base Comunitária (GT de Sistematização) foi formado há dois anos, por meio de uma convocatória lançada pelo IberCultura Viva em junho de 2021. Das 87 inscrições recebidas nesta chamada pública, foram selecionadas 59 pessoas de 10 países: 17 do Brasil, 14 da Argentina, 7 do México, 6 do Equador, 4 da Colômbia, 4 do Peru, 3 do Uruguai, 2 do Chile, 1 da Costa Rica e 1 da Espanha.
As candidaturas aceitas foram aquelas de pessoas que exerciam atividades de pesquisa, ensino e/ou vinculadas a projetos de extensão cultural em instituições de ensino (universidades, centros de pesquisa ou formação, institutos ou similares). A primeira reunião do grupo se deu no dia 30 de setembro de 2021, de forma virtual, para que as pessoas participantes pudessem se encontrar e discutir uma forma de organizar este espaço de trabalho.
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Na reunião seguinte, no dia 9 de dezembro de 2021, foram debatidas algumas propostas que haviam sido apresentadas antes do encontro, como a criação de um seminário permanente e de um repositório ou revista digital. Também foram propostas mais algumas reflexões e redefinidas as equipes de trabalho para 2022, ano em que realizaram este ciclo de seminários e também acompanharam o 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, que ocorreu no Peru de 8 a 15 de outubro. Com o apoio do IberCultura Viva, seis integrantes do GT viajaram ao Peru para realizar entrevistas e participar de algumas atividades do congresso, como os círculos da palavra “Legislação e políticas públicas” e “Educação popular e criativa”.
Célio Turino apresenta a versão em espanhol do livro “Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina”
Em 20, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura
Célio Turino passou os últimos 12 anos viajando pela América Latina. Convidado a participar de conferências, conversatórios e os mais variados encontros para falar sobre Cultura Viva e Pontos de Cultura – ideia que ajudou a criar no Ministério da Cultura, onde foi secretário de Cidadania Cultural entre 2004 e 2010 –, o historiador, escritor e gestor cultural brasileiro realizou mais de 50 viagens nesse período. O convite sempre foi para falar, mas nessas visitas ele também ouviu muitas histórias, viu e sentiu os processos nas comunidades, e voltou querendo sistematizar tudo. Quem o incentivou a fazer em formato de livro foi o Papa Francisco.
No lançamento do livro “Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina” no Peru, Turino detalhou esta história: “O Papa Francisco é um grande entusiasta dos Pontos de Cultura. Ele conheceu a experiência quando ainda era arcebispo em Buenos Aires, quando organizou um programa chamado Escuelas de Vecinos. A ideia dos Pontos de Cultura era muito parecida com o que ele pensava, com o que pretendia fazer com as Escolas de Vizinhos. Em 2015 nos encontramos no Vaticano, depois tivemos outros encontros, e num desses momentos eu estava contando essas histórias e ele me disse: ‘Por que você não escreve um livro sobre a América Latina?’ Como uma sugestão de Francisco não pode ser negada, aceitei o desafio e, com o apoio de uma organização do Brasil, o Instituto Olga Kos, conseguimos fazer as viagens. Não para falar. Viajei apenas para ouvir e anotar as histórias”.
A versão em espanhol deste livro, publicada em formato digital pela argentina RGC Ediciones com o apoio da IberCultura Viva, foi lançada na quarta-feira, 12 de outubro, na Feira de Saberes do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. Em uma das tendas montadas no Parque Cívico Santa Clara, no distrito de Ate (Lima), cerca de 30 pessoas se reuniram para ouvir Célio Turino em sua participação por videoconferência. Ao longo de mais de 30 minutos, ele falou sobre a experiência de escrever este livro, ouviu comentários e respondeu algumas perguntas dos participantes, que vieram de vários países, como Panamá, Chile, Argentina e Paraguai.
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A força das comunidades
Turino iniciou sua apresentação falando sobre o início do movimento, como foi decidido que o 1º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária teria como sede a Bolívia. Contou que tudo começou com a “Caravana pela Vida – De Copacabana a Copacabana”, que saiu do Lago Titicaca, na Bolívia, rumo à Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no final de maio de 2012. Cerca de 25 pessoas estavam neste ônibus, a maioria integrantes do Teatro Trono, fundado por Iván Nogales (1963-2019), que foram à Cúpula dos Povos da Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, e fizeram uma série de apresentações ao longo do caminho. (Esta caravana foi um marco no movimento de Cultura Viva Comunitária. A bravura de seus integrantes inspirou pessoas de vários países a quererem fazer o caminho de volta, mobilizando-se para realizar o primeiro congresso na Bolívia, com a Caravana para La Paz.)
“Agora estamos no 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. Parabéns a todos que estão nessa empreitada autogestionada e muito potente”, comemorou o escritor, que também parabenizou a editora argentina RGC, que já havia lançado um livro de sua autoria em 2013 (Puntos de Cultura, cultura viva en movimiento). “É uma editora significativa que compila este novo fazer da gente que produz de baixo para cima, a partir da potência das comunidades”, destacou. Os dois livros de Turino lançados pela RGC em formato digital têm acesso gratuito, porque segundo o autor, o importante é lançar as ideias ao vento, “oferecer as sementes para alguém apanhar, plantar e cultivar”. “É assim que nasce a cultura viva.”
As viagens relatadas no livro foram realizadas em sua maior parte em 2017. A primeira versão dessas narrativas foi publicada em uma edição especial do Instituto Olga Kos, com o título Cultura a unir os povos: a arte do encontro. Esta edição (esgotada), em formato de livro de mesa, foi lançada em 2018 em Castel Gandolfo, o castelo de verão do Papa Francisco. A segunda versão, revisada e ampliada, saiu em 2020 pelas Edições Sesc São Paulo, com 360 páginas, e o título Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina. A publicação em espanhol que agora sai com o apoio do IberCultura Viva é uma tradução desta versão 2020 adaptada para leitura em tela, com 565 páginas.
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Capítulos extras
A edição em espanhol conta com dois capítulos extras, dedicados ao Chile e ao Paraguai. O Ministério da Cultura, das Artes e do Patrimônio do Chile convidou Turino para conhecer o trabalho de organizações culturais comunitárias de diferentes regiões do país depois que o Conselho Intergovernamental IberCultura Viva decidiu financiar a tradução do livro para o espanhol. O convite para ir ao Paraguai partiu de um Ponto de Cultura de Areguá, El Cántaro Bioescuela Popular, para uma participação na segunda edição dos Intercâmbio de Saberes para a Gestão Cultural Comunitária.
O escritor contou em sua apresentação que, no caso do Chile, optou pelo tema da construção do ser coletivo a partir da experiência do país (daí o nome do capítulo: “Cultura y el sujeto colectivo. Sembrando semillas en la cordillera“). As histórias do Paraguai entraram no capítulo final, “Cultura: Tiempo y espacio compartido en el vientre de Sudamérica”. Turino explicou que, assim como vê a Bolívia como “o coração da América do Sul”, vê o Paraguai como “o ventre” do continente. “É como uma ilha, mas rodeada de terra, e mais interior, como o útero, como o ventre”, comparou o autor, que partiu da ideia do ñanduti (“teia de aranha” em guarani), das rendas de fios delicados, mas também fortes, de tecelãs locais, para expressar o refinamento cultural do povo paraguaio.
Joe Giménez, fundadora do El Cántaro, esteve no lançamento da publicação na Feira de Saberes do 5º Congresso e aproveitou para agradecer mais uma vez a Célio Turino pela visita à bioescola de Areguá e por somar a experiência ao livro. “Houve um antes e depois no meu país”, disse Joe a Célio Turino. “A frase ‘Dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo’ (do matemático grego Arquimedes de Siracusa, também citado por Turino no livro) ficou muito na nossa memória. Para nós, é incrível que os funcionários públicos comecem a falar de você, comecem a usar essa frase. Sua presença no Paraguai nos ajudou muito a fortalecer esse vínculo. Celebro sua existência! O Paraguai, esta terra guarani, está sempre esperando por você”.
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Agradecimento ao trabalho
Quem também agradeceu ao escritor pelo trabalho que vem desenvolvendo foi a argentina Gisela Pérez, do Centro Cultural e Biblioteca Popular La Carcova, um Ponto de Cultura localizado em um bairro popular da região metropolitana de Buenos Aires (José León Suárez, distrito de San Martín), na periferia do aterro sanitário e também de um complexo prisional. “Gostaríamos de agradecer o seu trabalho em toda a América Latina e convidá-lo a vir a San Martín e à Área da Reconquista, para visitar as bibliotecas e espaços de cuidado, as cooperativas de reciclagem. Existe toda uma rede de organizações que se unem e confiam umas nas outras, para que a partir dessa confiança possamos construir o desenvolvimento local, a boa convivência no nosso bairro. Essa comunidade produz cultura, produz economia, produz presente e futuro”, afirmou a presidenta de La Carcova, também integrante da Mesa Reconquista.
Diego Benhabib, coordenador do programa Pontos de Cultura na Argentina e representante (REPPI) do país no IberCultura Viva, reforçou sua gratidão a Célio Turino, “uma pessoa que nos inspira, não só para desenvolver e trabalhar políticas culturais de base comunitária, mas também transformar nossas percepções sobre as questões relacionadas à natureza, ao bem viver, ao poder colocar um ponto e poder modificar as coisas, com um horizonte coletivo de transformação”.
Por fim, o editor Emiliano Fuentes Firmani, ex-secretário técnico do IberCultura Viva, falou em nome da RGC Ediciones, citando o que Célio Turino disse anteriormente sobre a ideia de trabalhar para lançar ideias ao vento. “O paradigma da cultura viva comunitária tem a ver com o que chamamos de 4Cs da cultura: cuidar, compartilhar, colaborar e cooperar”, destacou, comentando o fato de o autor ter permitido que o livro estivesse aberto a todos, em acesso público, o que considera “coerente com a prática comunitária”.
Para Emiliano, a primeira parte do livro, mais teórica, deveria ser leitura obrigatória para todas as pessoas que trabalham com políticas públicas: “Célio trabalha com a matemática da vida. Originalmente, havia armado essa equação de que um ponto de cultura = autonomia + protagonismo social elevado à potência das redes. Aí ele aprofunda seu pensamento matemático, incorpora o tema de Arquimedes (que trouxe Joe Gimenez) e vai além, fazendo uma ligação entre a cultura viva comunitária e a cultura do encontro (da qual fala o Papa Francisco), para construir um novo horizonte civilizatório.
A cultura do encontro, explicada no livro, é um conceito desenvolvido por Jorge Bergoglio, o Papa Francisco, que pressupõe o encontro das três linguagens do ser: coração, mente e mãos. Expressa-se na ideia de sentir-pensar-agir e se realiza a partir da integração e diversidade entre indivíduos e comunidades, rompendo com a fragmentação e buscando a unidade. É o estímulo para o encontro entre os diferentes, buscando a unidade na diversidade.
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Baixe o livro gratuitamente em https://bit.ly/PorTodosLosCaminos
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(Fotos: Mario Miranda Filho)
Célio Turino dedicou sua vida a pensar e executar políticas públicas em larga escala, atraído pelas ideias da cultura do encontro. Escritor, historiador e gestor cultural, foi secretário de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura do Brasil e um dos idealizadores e do programa Cultura Viva, implantado no país em 2004 e transformado em política de Estado em 2014 com a sanção da Lei 13.018. Suas andanças pelo continente para falar sobre esse modelo de política pública “de baixo para cima” resultaram no livro Por todos los caminos: Puntos de Cultura en América Latina, que foi lançado em português em 2020 e agora ganha tradução para o espanhol com o apoio do IberCultura Viva.
A publicação será apresentada no Peru, na quarta-feira, 12 de outubro, na Feira de Saberes do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. O lançamento será às 11:00, no Parque Cívico Santa Clara, no distrito de Ate (Lima), aberto a todas as pessoas interessadas.
A edição que sai em espanhol – em formato digital, com acesso aberto – é a tradução da edição revisada e ampliada que saiu em 2020 no Brasil, por Edições Sesc São Paulo. (Antes, em 2017, ele havia publicado uma edição mais visual, pelo Instituto Olga Kos, como um livro de arte, com o título Cultura para unir os povos: a arte do encontro). O livro agora publicado pela RGC Ediciones tem mais de 550 páginas e dois capítulos extras dedicados ao Chile e ao Paraguai.
Os capítulos que encerram a publicação foram escritos no segundo semestre de 2022, após as viagens do autor ao Chile e ao Paraguai para conhecer o trabalho e as histórias de diferentes organizações culturais comunitárias nos dois países. O Ministério das Culturas, das Artes e do Patrimônio do Chile, que convidou Turino para esta visita, implementará um programa de Pontos de Cultura em 2023. No Paraguai, o convite partiu de uma organização reconhecida como Ponto de Cultura, El Cántaro Bioescuela Popular, para que ele participasse da segunda edição dos Intercâmbios de Saberes para a Gestão Cultural Comunitária, realizada com o apoio da Secretaria Nacional de Cultura.
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Andanças
Desde que deixou o Ministério da Cultura do Brasil, em 2010, Célio Turino tem sido convidado a viajar para diferentes países da América Latina, para falar sobre este modelo de política pública que ajudou a criar e que estabeleceu novos parâmetros de gestão e democracia, aplicando conceitos como “Estado-rede” (Manuel Castells) e “Estado ampliado” (Antonio Gramsci). Tendo como base de apoio os Pontos de Cultura – ou seja, as entidades ou coletivos culturais certificados pelo Ministério da Cultura –, o programa apostou num processo vindo de baixo para cima, dando força e reconhecimento institucional a organizações da sociedade civil que já desenvolviam atividades culturais em suas comunidades.
Nos últimos 12 anos, foram mais de 50 viagens a países da América Latina para falar sobre Pontos de Cultura e compartilhar suas ideias sobre cultura viva comunitária, bem viver e cultura do encontro. Convidado para conferências, palestras e encontros com representantes de governos, instituições e organizações culturais comunitárias, Turino se acostumou a falar. Para este livro, no entanto, quis ouvir e observar.
Para recolher as experiências apresentadas em Por todos os caminhos, o historiador passou quatro meses de 2017 viajando, visitando comunidades, reencontrando amigos, conhecendo pessoas, ouvindo histórias, observando, anotando. Em suas andanças, do México ao Chile, do Atlântico ao Pacífico, “atravessando a América Central, com seus vulcões e memórias, passando da selva ao deserto, das planícies às montanhas, das metrópoles às cidades e vilas”, pôde observar laboratórios originais para a reinvenção da vida social, da política, da economia e da relação entre o ser humano e a natureza. Era isso o que ele queria compartilhar com este livro.
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“Livro carta”
Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina é um “livro carta”, segundo o autor, com histórias que viu, viveu e sentiu. Uma carta com histórias de práticas ancestrais e comunitárias que nos cercam, com narrativas de personagens vivos, atuantes em seus territórios, que lhe chamaram a atenção pelo que tinham de excepcional e também pelo que tinham em comum. Uma carta ao passado, “em busca de luz e força para a reinvenção do futuro”. Uma carta ao presente, para aquelas pessoas que, diariamente, mudam o mundo a partir de suas comunidades.
“Para esse livro mudei o meu papel, fui um escutador e na escuta me esforcei em transmitir as histórias como um narrador, oferecendo elementos para que as pessoas pudessem penetrar nessas histórias, conhecendo as pessoas e suas formas de pensar e agir. Nos tempos atuais fala-se muito de identidades, mas identidade sem alteridade não gera solidariedade e emancipação coletiva. Com o livro procurei demonstrar que é possível fazer com que alteridade e identidade caminhem lado a lado”, comentou o autor em entrevista ao IberCultura Viva.
A publicação está dividida em duas partes. Na primeira, mais teórica, o autor explica os conceitos fundamentais e tenta demonstrar como a cultura viva é realizada a partir de equações matemáticas. Na segunda parte, dedicada a histórias de vida e processos culturais promovidos por organizações em seus territórios, ele muda sua forma de escrever, posicionando-se como um narrador que vai alinhavando pontos de identidade ancestral e contemporânea dos diversos países por onde passou, falando de “pessoas comuns” e sua capacidade de mudar suas realidades. “Comum talvez não seja a palavra mais adequada, embora esse seja o conceito historiográfico, porque são pessoas e histórias extraordinárias”, diz.
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Compromisso
A decisão de financiar a tradução do livro para o espanhol foi acordada* na 12ª Reunião do Conselho Intergovernamental do IberCultura Viva, realizada no México nos dias 24 e 25 de março de 2022. Para os e as representantes dos países membros do IberCultura Viva, este apoio reforça o compromisso dos governos com as organizações culturais comunitárias, sujeitos principais com os que se trabalha no programa, e em particular com os Pontos de Cultura, que são a principal referência de política cultural de base comunitária no Espaço Ibero-americano.
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. Onde baixar a versão em espanhol: https://bit.ly/PorTodosLosCaminos
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(*) Considerada uma importante contribuição para a constituição do sistema de informação cultural que promove o programa, a tradução para o espanhol deste livro faz parte da atividade “Promoção para a realização de estudos e pesquisas sobre políticas culturais de base comunitária”, prevista no Plano Operativo Anual (POA 2022).
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Confira o vídeo editorial do SESC-SP em que Célio Turino fala sobre o livro
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Scholas Occurrentes e Cultura Viva: el arte do encontro em um projeto do Papa Francisco
Pontos de Cultura: Cultura Viva em Movimento (RGC Ediciones, 2013)
“Redes en la Red”: terceiro livro da coleção IberCultura Viva compila palestras de encontro de 2020
Em 09, out 2022 | Em Notícias | Por IberCultura
O maior evento realizado pelo IberCultura Viva desde o início de sua implementação, em 2014, ocorreu justamente no ano em que quase tudo parou. Em 2020, quando as ações de intercâmbio previstas no Plano Operativo Anual não puderam ser realizadas devido à pandemia de Covid-19, o Conselho Intergovernamental encontrou uma alternativa surpreendente: o 4º Encontro de Redes IberCultura Viva. Esta edição especial, realizada em modo virtual, durou 38 dias. Foram mais de 45 horas de transmissão ao vivo, iniciadas em 8 de setembro e finalizadas em 15 de outubro de 2020.
Três das palestras realizadas nesse período deram origem a um livro, “Redes en la red: Relatos del 4º Encuentro de Redes IberCultura Viva – Tomo I”, que será apresentado na próxima quarta-feira, 12 de outubro, na Feira de Saberes do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, no Peru. O lançamento está marcado para as 11h (horário do Peru), no Parque Cívico de Santa Clara.
A publicação é o terceiro volume da coleção IberCultura Viva, que a Prefeitura de Medellín (Colômbia) desenvolve em parceria com o programa, no âmbito da Rede de Cidades e Governos Locais. Esta edição, agora apresentada em formato digital, com 85 páginas, resume as palestras “Gênero e cultura comunitária”, “Saúde comunitária”, “Educação popular, arte e transformação social”.
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Um segundo volume, com a sistematização de outras conversas, sintetizará as principais ideias e propostas apresentadas nas mesas “Estudos sobre cultura comunitária”, “Políticas culturais e cultura comunitária viva” e na discussão da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos (“Habitar territórios locais e cidades no novo normal”). Cada livro inclui as apresentações dos ministros, ministras e secretárias da Cultura que participaram, dividindo a publicação em ordem alfabética.
Ao longo de seus 38 dias de duração, o 4º Encontro de Redes apresentou uma conferência (que reuniu autoridades de ministérios e secretarias de Cultura de 8 países), 15 palestras, 3 seminários, 8 espetáculos de marionetes e um trabalho de animação. A programação contou, ainda, com a Mostra de Cinema Comunitário Ibero-americano, organizada pela Secretaria de Cultura do Governo do México. Nesta mostra foram realizados outros 5 conversatórios, 4 ciclos de cinema, 2 entrevistas, uma retrospectiva e uma oficina, num total de 83 curtas-metragens e 7 longas-metragens exibidos.
O evento teve uma grande diversidade de referências, com 110 pessoas convidadas como painelistas (numa proporção de 60% mulheres). Destes, 52 eram representantes de organizações culturais comunitárias, 4 representantes de povos indígenas e 54 representantes do governo. Além disso, foram organizadas instâncias de capacitação em conjunto com CRESPIAL, FLACSO e Ministério da Cultura do Peru, nas quais participaram 335 pessoas, e uma instância de participação social que teve 3 sessões com 30 pessoas.
. Para baixar: https://bit.ly/3EEQywX
Histórias escondidas: Célio Turino lança livro sobre experiências comunitárias na América Latina
Em 26, mar 2021 | Em Notícias | Por IberCultura
(Fotos: Mário Miranda Filho)
Uma história de abraços reais, muito reais. E de histórias imaginadas, “belissimamente imaginadas por muita gente que faz e acontece”. É assim, com histórias de encontros, que o escritor e historiador Célio Turino conta suas andanças por comunidades de 11 países no livro Por todos os caminhos – Pontos de Cultura na América Latina (Edições Sesc, 2020), lançado recentemente em novo formato. Com 380 páginas, a publicação traz uma série de relatos de coragem, alegria e destemor, de sonhos impossíveis que se fazem possíveis. Ou, como diz o autor, “histórias que vêm de longe e atravessam o tempo, histórias de bem perto, que nos foram negadas e escondidas, ou que nós mesmos escondemos de nós”.
Ex-secretário de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura, um dos idealizadores do programa Cultura Viva, lançado no Brasil em 2004, Célio Turino tem dedicado a vida a pensar e realizar políticas públicas em larga escala, atraído pelas ideias da cultura do encontro e do cultivo de sociedades e civilizações. É autor de Na trilha de Macunaíma: ócio e trabalho na cidade (Edições Sesc e Editora Senac, 2005) e Ponto de Cultura: o Brasil de baixo para cima (Anita Garibaldi, 2009), que ganhou versão em espanhol pela editora argentina RGC, Puntos de Cultura: Cultura viva en movimiento (2013). Desde 2018, cursa doutorado em diversidade e outras legitimidades pela Universidade de São Paulo (USP). Sua tese trata de temas como sabedorias ancestrais, tradição em dormência, tradição e invenção, decolonialidade e emancipação.
Para coletar as experiências que apresenta neste livro, ele passou quatro meses de 2017 viajando, visitando dezenas de comunidades na América Latina, revendo amigos, conhecendo gente, escutando histórias. Passou por México, Peru, Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, El Salvador, Honduras, Guatemala, Belize, Chile e Uruguai. Depois foram mais dois meses dedicando-se à escrita do livro, que ganhou inicialmente uma edição mais visual, como um livro de arte, com o nome de Cultura a unir os povos: a arte do encontro. “Após apresentar a proposta ao SESC, fiz uma revisão profunda e detalhada, não apenas do ponto de vista teórico e ensaístico, como também literário”, conta o autor em entrevista por e-mail ao programa IberCultura Viva.
Esta edição revista e ampliada começa com um convite às leitoras e aos leitores para que imaginem um mundo onde a potência e a criatividade das comunidades fossem valorizadas e, a partir dessas, acontecesse um programa mundial de aprendizagem-serviço para jovens, os Agentes Jovens da Comunidade, proposta que o escritor apresentou ao Papa Francisco na Academia de Ciências do Vaticano, em 2016. Na sequência, Turino desenvolve a teoria e os conceitos da cultura viva comunitária, do bem viver e da cultura do encontro. O restante do livro é dedicado à narrativa das histórias escondidas na América Latina, do México ao Chile, com uma passagem especial pela Argentina. “Na Argentina, as paralelas se encontram. Argentina são muitas e, na leitura, as pessoas compreenderão a necessidade de haver me detido mais neste grande e múltiplo país”, ele comenta.
São muitos os movimentos que aparecem em Por todos os caminhos: entre eles, a cidade de Medellín se reinventando com iniciativas de corporações culturais como Nuestra Gente, Barrio Comparsa e Canchimalos, a Guatemala começando a mudar por meio da arte e do empenho de organizações como Caja Lúdica, a Bolívia se “descolonizando” com Compa e Wayna Tambo, o Brasil se “desescondendo” com os Pontos de Cultura… São muitas as histórias, as gentes, as rodas, os círculos, os pontos, as peñas. “São teias, caravanas, congressos. São encontros. São memórias. Histórias de feiura e histórias de beleza, histórias de um povo que vai se fazendo protagonista. São histórias de Quixotes”, define o escritor na parte final do livro, antes de dedicá-lo aos que andam por aí e não perdem a coragem.
ENTREVISTA// CÉLIO TURINO
Nos últimos 10 anos, depois do período em que passou no Ministério da Cultura, você foi convidado muitas vezes para falar da experiência brasileira dos Pontos de Cultura… Nessas andanças você aproveitou para ir colhendo material, já pensando na possibilidade de um livro? Ou as viagens para estes 11 países foram realizadas especialmente para a feitura do livro?
Sim, foram dezenas de viagens ao longo da última década. Mais de 50 para ser preciso, tendo passado por, praticamente, todos os países da América Latina, visitando favelas e aldeias indígenas. Nessas viagens pude perceber regularidades e pontos em comum que precisam ser compreendidos em conjunto pela potência conceitual e de práxis que representam. Sou historiador e gosto mais de escutar do que falar. Porém, eu era requisitado para falar e, daí, em 2017, refiz as viagens aos lugares que considerava mais expressivos para apresentação dessa regularidade, isso sem nenhum compromisso oficial, viajando apenas para observar, escutar, anotar. O resultado está no livro e espero ter honrado cada uma das histórias reais.
Em 2016, quando esteve com o Papa Francisco no Vaticano, você chegou a comentar que ele o incentivou a escrever um livro sobre experiências similares às dos Pontos de Cultura encontradas na América Latina. E que via muito do conceito de cultura viva no que ele chamava de “cultura do encontro”… Havia até um projeto para Scholas Occurrentes, que incluía um livro e um filme, não? O livro já está aí. O filme ainda tem alguma chance de sair?
Sim. Em 2015 tive meu primeiro encontro com o papa Francisco e entreguei um exemplar em castelhano do meu livro “Puntos de Cultura – Cultura Viva en Movimiento”, pela editora argentina RGC. Quando nos reencontramos, em 2016 , ele comentou sobre o livro, que tinha foco na experiência brasileira, e me estimulou a escrever um outro relatando e analisando experiências comunitárias nos demais países da América Latina. Confesso que, por vezes, me via escrevendo o livro como se fosse uma carta ao Papa Francisco, como um narrador, tal qual descreve Walter Benjamin, talvez as pessoas percebam isso na leitura, ao menos deixei algumas pistas.
Exatamente, a intenção era o livro e o filme, a ser dirigido pelo cineasta Silvio Tendler, mas infelizmente ainda não conseguimos recursos para o filme, mas, com a edição pronta, meu desejo é transformá-lo em uma série, quem sabe para a Netflix, pelo alcance. São muitas histórias e há uma profunda filosofia ancestral e comunitária que precisa ser melhor compartilhada e compreendida pelo mundo que vem da América Latina e seus rincões mais esquecidos e desprezados. Agora quero me dedicar a isso e, quem sabe, consiga apoio para realizar essa série. São histórias muito bonitas, originais e potentes que surpreenderão o público. Tenho certeza.
O livro está dividido em duas partes, uma primeira mais teórica, e outra em que conta histórias. Histórias de pessoas comuns, histórias de guerrilheiros, de padres “villeros”, pequenas grandes histórias que, como você diz, nos fazem perceber no mundo. Desde o princípio a ideia era esta, contar as histórias dos coletivos/ organizações comunitárias por meio de seus personagens?
Sim, a primeira parte é teórica, explicito os conceitos fundamentais, desenvolvo a teoria e procuro demonstrar como ela se realiza a partir de equações matemáticas. Na segunda parte, mudo até mesmo minha forma de escrita, colocando-me como um narrador que vai alinhavando pontos de identidade ancestral e contemporânea dos diversos países por onde passei, mas sempre a partir do método da micro-história e da descrição densa, falando de pessoas comuns e da capacidade que elas têm em mudar suas realidades. Comum talvez não seja a palavra mais apropriada, se bem que é esse o conceito historiográfico, isso porque são pessoas e histórias extraordinárias, conforme (Eric) Hobsbawm apresenta em livro sob o qual também me inspirei. A escolha das histórias vai no sentido de apresentar conexões e identidades, mesmo em realidades tão distintas.
Geralmente você é chamado para falar (em palestras, entrevistas, etc). Para o livro, parece ter invertido o papel, e viajado disposto a escutar… Foi como imaginava? Algo ou alguém em particular o surpreendeu?
Como disse, para esse livro mudei o meu papel, fui um escutador e na escuta me esforcei em transmitir as histórias como um narrador, oferecendo elementos para que as pessoas pudessem penetrar nessas histórias, conhecendo as pessoas e suas formas de pensar e agir. Nos tempos atuais fala-se muito de identidades, mas identidade sem alteridade não gera solidariedade e emancipação coletiva. Com o livro procurei demonstrar que é possível fazer com que alteridade e identidade caminhem lado a lado.
Você fala muito em alteridade, na capacidade de se perceber no outro (por mais diferente que este ‘outro’ possa parecer), e do papel da arte neste processo. Isso parece ganhar um peso ainda maior nestes tempos tão difíceis, não?
Sem dúvida! O esforço com o livro foi demonstrar exatamente isso, contando histórias aparentemente díspares de realidades sociais, econômicas e culturais muito diferentes, mas que se encontram. Se, ao final da leitura, as pessoas tiverem conseguido perceber isso, o livro terá cumprido sua missão.
As fotografias do livro são do seu irmão, Mario Miranda Filho. Vocês já fizeram outros projetos juntos?
Quem organizou as viagens foi a minha esposa, Silvana (Bragatto), que é engenheira especializada em logísticas e economia circular e que, ao longo da década, me acompanhou na maioria das viagens. As fotos são do meu irmão mais novo e este foi nosso primeiro projeto em comum. Já penso em outro…Gostaria de contar histórias de fluxos migratórios na América Latina, acompanhar o trem, La Bestia, que, na verdade, são vários trens e caminhos, no México, a fronteira norte no Brasil, os desplazados na Colômbia… Enfim, quero contar as histórias dessas pessoas com a dignidade que elas merecem e com registro fotográfico feito por meu irmão. Já trato disso em alguns capítulos, como a história de três irmãs de El Salvador, crianças com 9, 7 e 6, capturadas no sul dos EUA quando brincavam na rua e que foram deportadas para a Guatemala, colocadas em uma Casa do Migrante e que lá vivem sem os pais.
Note a situação: crianças nascidas nos EUA, filhas de migrantes não documentados, arrancadas de seus pais, levadas para um país estranho que nem é o de origem familiar, vivendo praticamente em cárcere. Nos últimos anos, notícias de deportação de crianças por parte do governo dos EUA tornaram-se públicas e chocaram o mundo. Para mim, o choque aconteceu quando quando me deparei com essa história na Guatemala, daí conto a história de um casal que tem um ponto de cultura na Cidade da Guatemala e como eles trabalham com essas crianças. São, talvez, o único fio de humanidade, gentileza e afeto a quem essas crianças podem se ligar. Relato, inclusive, a metodologia do borboletário, para meninas violadas, mas prefiro não dar spoiler.
Já recebeu alguma proposta de tradução para o espanhol?
Ainda não. Junto com a ideia da série documental, e por que não, em ficção, é minha prioridade, quero muito que o livro possa ser lido em espanhol. A propósito, já incorporei muitas palavras do mais fino portunhol (risos). Como disse, são histórias escondidas dos rincões mais afastados e que precisam ser desveladas em toda a sua força. Este é um livro decolonial e que se pretende depatriarcal, mesmo escrito por um homem, em exercício de alteridade, registro, bem como de desmercantilização das relações sociais. Esforcei-me muito para bem contar essas histórias e espero que o público aprecie. Mas gostaria que a tradução para o castelhano, e mesmo para outros idiomas, tivesse o mesmo tratamento editorial, forma e fotos que a edição brasileira para passar essa ideia de conjunto.
⇒Leia a Introdução de “Por todos os caminhos” (páginas 11 a 13)
Conheça as entidades culturais de base comunitária que ajudaram a contar essas histórias:
MÉXICO
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Huehuecoyotl – Ecovila da Paz: Tepoztlán, estado de Morelos
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Centro das Artes Indígenas do povo totonaca: Tajín, estado de Vera Cruz
EL SALVADOR
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Tiempos Nuevos Teatro (TNT): Los Ranchos, departamento de Chalatenango
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Museo de la Palabra y la Imagen (Mupi): San Salvador
HONDURAS
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Copán – cidade arqueológica do povo maia
GUATEMALA
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Caja Lúdica: Cidade de Guatemala
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Escola Frida Kahlo para ninõs y niñas pintores: Cidade da Guatemala
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La Asociación de Estudios y Proyectos de Esfuerzo Popular – Eprodep: Quetzal
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EducArte: Antigua
BELIZE
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Caracol – desenvolvimento da comunidade juvenil: Arenal
COLÔMBIA – MEDELLÍN
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Corporación Cultural Nuestra Gente
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Corporación Cultural Barrio Comparsa
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Corporación Cultural Canchimalos
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Fundación Ratón de Biblioteca
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Biblioteca El Limonar
PERU – LIMA E CUSCO
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La Tarumba
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Vichama Teatro
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5 minutos 5
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Biblioteca Comunitaria Don Quijote y su manchita
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Centro Cultural Waytay
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Colegio Pukllasunchis
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Waynakuna Tikarisunchis Paqarimpaq
BOLÍVIA – EL ALTO
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Fundación Compa
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Fundación Wayna Tambo
ARGENTINA
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Fundación Crear Vale la Pena: San Isidro, grande Buenos Aires
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Grupo de Teatro Catalinas Sur: La Boca, Buenos Aires
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Fundação Pontifícia Scholas Occurrentes: Buenos Aires
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Orquesta-Escuela de Chascomús: Chascomús, província de Buenos Aires
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Centro Cultural Chacras de Coria: cidade de Mendoza, província de Mendoza
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Grupo de Jovens de San Antonio de los Cobres: La Puna
BRASIL
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Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural: São Paulo
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Instituto Pombas Urbanas: Cidade Tiradentes, São Paulo
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Thydêwá – Índios On-Line: Olivença, Bahia
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Grãos de Luz e Griô: Lençóis, Chapada Diamantina, Bahia
Por todos os caminhos: Pontos de Cultura na América Latina
Autor: Célio Turino
Edições Sesc São Paulo, 2020
380 páginas
ISBN: 978-65-86111-06-4
Preço: R$ 90,00
www.sescsp.org.br/livraria
Segundo livro da Coleção IberCultura Viva reúne textos sobre experiências de organizações culturais comunitárias
Em 10, out 2019 | Em Notícias | Por IberCultura
Em setembro de 2016, o programa IberCultura Viva lançou um edital de seleção de textos com o objetivo de organizar uma publicação de referência sobre políticas culturais de base comunitária na região ibero-americana. Esta chamada pública buscava recolher relatos de organizações culturais comunitárias que tivessem sido colaboradoras de políticas governamentais e que pudessem retratar diferentes experiências de participação e trabalho conjunto entre Estado e sociedade civil. Dos 15 artigos apresentados, 10 estão no livro Ideas de Cultura Comunitaria. Trabajos seleccionados en la convocatoria de textos IberCultura Viva 2016, já disponível na página web do programa.
A publicação, uma parceria da Alcaldía de Medellín (Colômbia) com o programa, é o segundo volume da Coleção IberCultura Viva. O primeiro livro apresentado foi Puntos de cultura viva comunitaria iberoamericana. Experiencias compartidas, uma compilação das experiências compartilhadas pelos participantes do 2º Encontro de Redes IberCultura Viva, realizado em Quito (Equador) em novembro de 2017. A edição conta com relatos de iniciativas de governos locais e de organizações culturais comunitárias que tiveram incidência no desenvolvimento políticas públicas locais.
Neste segundo livro, os textos selecionados (a maioria em português) abordam temas como a inovação social por parte dos Pontos de Cultura do Rio de Janeiro e o caráter e as práticas internacionalistas dos Pontos de Cultura do Brasil, e como o sentido de rede fez com que o ideário de Cultura Viva Comunitária e seus Pontos de Cultura se propagasse pelo mundo. Também apresentam iniciativas como o programa Favela Criativa, implementado pelo governo do estado do Rio de Janeiro, que se mostrou inovador ao fortalecer o protagonismo juvenil a partir da economia criativa, do fomento, da formação e circulação artística.
Os exemplos seguem pelas diferentes regiões do Brasil, com experiências como o processo de elaboração de uma cartografia do patrimônio cultural local de um bairro de Belém, no Norte do país; o empreendedorismo cultural que se viu na cidade de Serra Talhada, em Pernambuco, com o Museu do Cangaço; e a proposta de uma escola pública de São Paulo que buscou construir uma comunidade escolar democrática e participativa com práticas educativas pensadas a partir das matrizes culturais africanas e indígenas, formadoras do povo brasileiro.
Ademais, são apresentadas histórias como a de um grupo teatral que surgiu numa favela de Belo Horizonte, em Minas Gerais, com personagens e histórias inspiradas no dia a dia, e que deu origem a um Ponto de Cultura com teatro, biblioteca e salas destinadas a ensaios e cursos. Outro projeto relatado, resultado de uma colaboração entre uma associação de moradores de uma vila e um grupo de “poéticas universitárias” no Sul do Brasil, buscou adotar a noção de ecologia de saberes (proposta pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos) e contar com práticas colaborativas para intensificar os laços entre a comunidade, a universidade e a cidade.
Do Equador se toma como base um encontro de marimbeiros organizado por uma rede cultural para tratar temas como os processos de investigação da marimba e suas expressões. Por fim, da Galícia (Espanha) vem a história de uma associação que se dedica a trabalhar com jovens da região desenvolvendo projetos nascidos de iniciativas trazidas por eles. A ideia surgiu como forma de pensar o que fazer com o tempo livre e o tempo de ócio, e as ações se sustentam por três metas ordenadoras que dão identidade ao trabalho do coletivo: entreter, motivar e educar.
A difusão de experiências por meio de registros de boas práticas e sistematizações é um dos eixos do Grupo de Trabalho de Governos Locais, formado em Quito em 2017 para a articulação da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais. Estas compilações de experiências, que deram início a uma coleção “iber”, pretendem ser um espaço de encontro para incentivar mais cidades e governos locais a seguir se encontrando e se (re)conhecendo no caminho da cultura viva comunitária.
(Fotos: o Museu do Cangaço de Serra Talhada, em Pernambuco, é tema do artigo de Karl Marx Santos Souza, que abre o livro “Ideas de Cultura Comunitaria”)
Para baixar a versão digital de “Ideas de Cultura Comunitaria”:
https://iberculturaviva.org/wp-content/uploads/2019/10/LibroDigital_Interactivo.pdf
**Encontre outros livros sobre cultura comunitária no site www.iberculturaviva.org. Acesse “Documentos” no menu e depois, “Livros”. A página web também reúne artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre o tema (clique em “Documentos” e depois “Artigos”).
Leia também:
Experiências ibero-americanas de cultura comunitária estão reunidas em livro que será lançado em Mendoza
Em 10, Maio 2019 | Em Notícias | Por IberCultura
Nesta sexta-feira (10/05), na cidade de Mendoza (Argentina), será lançado o livro “Puntos de cultura viva comunitaria iberoamericana. Experiencias compartidas“. A publicação é uma parceria da Alcaldía de Medellín (Colômbia) com o programa IberCultura Viva e reúne textos escritos por representantes de governos locais e de organizações culturais comunitárias que tiveram incidência no desenvolvimento de políticas públicas locais. O lançamento será no Espaço Le Parc, das 17h30 às 19h30, dentro da programação do 4º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária.
A edição, que dá início a uma “Coleção IberCultura Viva”, é uma compilação das experiências compartilhadas pelos participantes do 2º Encontro de Redes IberCultura Viva, realizado en Quito (Equador) em novembro de 2017, durante o 3º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária.
O 2º Encontro de Redes reuniu representantes de uma província (Entre Ríos, Argentina) e 11 municípios: Córdoba e Devoto (Argentina); Niterói (Brasil); Medellín (Colômbia); Ibarra (Equador); Zapopan e Cherán (México); La Molina e Lima (Peru); Canelones e Montevideo (Uruguai). Também participaram representantes de organizações culturais comunitárias de México, Peru, Guatemala e Costa Rica e representantes do Conselho Intergovernamental IberCultura Viva.
Um grupo de trabalho (GT) foi formado nesta reunião para a articulação da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, que tem como objetivo fortalecer e fomentar o desenvolvimento de políticas culturais de base comunitária em nível local. Esta rede será formalizada (e ampliada) na próxima semana em Buenos Aires, no 3º Encontro de Redes IberCultura Viva.
A difusão das experiências, por meio de registros de boas práticas e sistematizações, é um dos eixos de trabalho deste grupo formado em Quito. Esta compilação de experiências pretende ser um espaço de encontro para incentivar mais cidades e governos locais a seguir se encontrando e se (re)conhecendo no caminho da cultura viva comunitária.
Experiências compartilhadas
Os trabalhos reunidos neste livro dão conta de experiências diversas, desenvolvidas em conjunto por Estado e sociedade civil na Ibero-América. Do Uruguai, por exemplo, fala-se de “Esquinas de la Cultura”, programa da Intendência de Montevidéu que parte do reconhecimento das expressões artísticas e culturais que já existem no território. Também está presente uma iniciativa do governo de Canelones, “Para que las ideas broten”, criada para desenvolver estratégias que favoreçam a democracia cultural, gerando âmbitos e espaços de participação popular onde a própria cidadania organizada participe da tomada de decisões.
Outros dois textos são dedicados a experiências do Peru. Uma delas, “Aprende Más – Allinta Yachay”, é um programa de alfabetização com enfoque intercultural que se desenvolve em comunidade sob a direção da Municipalidade de La Molina. A outra aborda os Pactos de Gobernabilidade construídos pelo Grupo Cultural Pukllay no distrito de Ate, em Lima.
O capítulo de Medellín, por sua vez, narra a experiência do governo com a cultura comunitária a partir das vozes de seus protagonistas, entrevistando líderes que marcaram a história local, “muito além da história de suas próprias organizações, comunidades e territorios”.
Da Argentina, a Direção de Cultura Comunitária de Córdoba lembra a importância de amplificar as vozes dos territórios que estão além do centro urbano e narra os achados de uma política que há anos busca abordar certas propostas e problemáticas dos bairros, e que tem encontrado no território muitas respostas e potencialidades para construir uma vitalidade, uma memória coletiva.
Do México, o capítulo do município de Cherán, em Michoacán, narra a história de um povoado, organizado principalmente por mulheres, que muda seu rumo e põe um freio nos abusos e maus-tratos sofridos como comunidade, iniciando assim uma nova etapa que se organiza com uma lógica comunitária de administrações comunais, em que a tomada de decisões se dá mediante o consenso da assembleia.
A compilação traz também o caso do Programa Sócio-Educativo Recuperando Consciências, da Asociación Yarä Kanic, que conseguiu, em articulação com o Estado, consolidar uma política local integral em torno do aqueduto das comunidades de Poás e do bairro Corazón de Jesús, no município de Aserrí, em San José, Costa Rica.
Para guardar
Na próxima semana, o livro “Puntos de cultura viva comunitaria iberoamericana. Experiencias compartidas” estará disponível para download na aba “Documentos” do site www.iberculturaviva.org.
O segundo volume desta “coleção Iber” será dedicado aos trabalhos selecionados na Convocatória de Textos IberCultura Viva 2016. Esta chamada pública teve como objetivo recolher experiências de organizações da sociedade civil que tenham sido colaboradoras das políticas governamentais de culturas de base comunitária e que pudessem formar uma publicação de referência na região ibero-americana.