Intercâmbio
Mundo Puckllay e Pé no Chão: um intercâmbio cultural e pedagógico entre Peru e Brasil
Em 22, nov 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Fotos: Soile Heikkilä e Guillermo Vásquez
Mundo é um jogo infantil que ainda hoje em dia se pratica nos bairros, ruas e comunidades em vários pontos do mundo. Também conhecido em alguns lugares como “rayuela” (no Brasil, é “amarelinha”), faz alusão ao fato de ir avançando, rompendo fronteiras, ganhando espaços novos a partir do jogo, da alegria, da arte e da cultura.
Mundo é também um projeto de duas organizações – Puckllay (Peru) e o Grupo de Apoio Mútuo Pé no Chão (Brasil) –, interessadas em enlaçar as experiências artísticas, pedagógicas e comunitárias que cada uma vem desenvolvendo de maneira permanente e intensiva em seus respectivos lugares. A população infantil e juvenil em situação de risco é o público-alvo em ambas as experiências.
O projeto, um dos premiados no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015, propõe um intercâmbio artístico e pedagógico, buscando desta maneira ampliar os horizontes e o olhar de seus jovens participantes, fortalecendo-os e enriquecendo assim sua experiência.
A primeira etapa de Mundo consistiu em um intercâmbio cultural e pedagógico para o qual se trasladou do Peru a Recife (Brasil) uma equipe de 12 pessoas, entre artistas, participantes e educadores. Do lado do Pé no Chão participaram aproximadamente 50 pessoas. Este primeiro intercâmbio teve uma duração de 10 dias, tempo para que ambas as organizações pudessem se conhecer, aprender um do outro, trocar saberes e experiências.
“Os dias transcorreram entre ritmos de tambores, danças afro-brasileiras, sons peruaníssimos de zampoñas, sikuris, marinera, waylarsh, e sons de diablos. Além disso, houve oficinas de capoeira, acrobacia e máscaras”, conta Anabelí Pajuelo, diretora geral de Puckllay.
Seguindo a dinâmica de trabalho de Pé No Chão, os encerramentos das oficinas contaram com rodas de conversa e avaliação, em que os participantes e educadores fizeram uma revisão das conquistas, dos problemas e acontecimentos da jornada. As oficinas se deram principalmente na zona limítrofe das comunidades de Arruda e Santo Amaro. Os ensaios e primeiros encontros foram na Praça do Carmo, em Olinda.
Os espaços
As apresentações artísticas foram realizadas em diferentes espaços. Um deles foi o Festival Eco da Periferia, na Praça do Diário, que Pé no Chão vem impulsando e recuperando há vários anos e que consiste na intervenção de um espaço que sofre uma problemática séria de delinquência e prostituição. Pé no Chão chega com seu mar de crianças e jovens e eles tomam o espaço público com ritmos de tambores e danças afro-brasileiras, dando-lhe outras energia e cara. Desta vez, Puckllay também esteve para tomar a praça.
Duas salas teatrais também receberam apresentações. No caso de Puckllay, o Teatro Apolo. Ali, durante o Festival Cenas Cumplicidades, o grupo apresentou “Caminhos”, uma obra testimonial de teatro, música e dança que conta a história de como se formou a comunidade onde os jovens peruanos cresceram. Por sua parte, Pé no Chão apresentou a obra “Lili” no Teatro Barreto Junior. “Lili” quer dizer raiz e fala dos meninos e meninas como a raiz na construção de uma sociedade, além de fazer uma alusão à identidade. O espetáculo é fruto de um intercâmbio artístico com Karim e Abou Konaté, dois artistas griô de Burkina Faso, na África.
Os jovens de Puckllay se alojaram nas comunidades onde vivem os jovens e crianças com que Pé no Chão trabalha. “A ideia foi poder aproximar mais os garotos e garotas da realidade em que vivem dia a dia e fazer a experiência muitíssimo mais enriquecedora”, comenta Anabelí. A Casa de Pé no Chão, localizada na comunidade de Campo Grande, como a pequena sede na comunidade de Arruda, para guardar materiais pedagógicos, são consideradas pontos de apoio para executar o trabalho maior. As oficinas e atividades se realizam nas ruas, favelas e bairros, os quais vêm a ser os espaços prioritários onde se encontram os meninos, meninas, adolescentes e jovens com que Pé no Chão trabalha.
A pedagogia
A pedagogia aplicada nas oficinas de Puckllay (“jogue” em quéchua) é uma experiência de aprendizagem para ambas as partes, professor e aluno, inspirada nas teorias do pedagogo brasileiro Paulo Freire. Em Puckllay se ensina aprendendo e se aprende ensinando. Vinculados à esperança de transformação social com arte e educação, a pedagogia de Puckllay propôe respeitar a diferença e o ritmo de cada um.
A filosofia de ensino que impulsa Pé no Chão tem um nome – a educação de rua – e um objetivo: apagar o estereótipo de que todas as crianças da rua não têm perspectivas de vida. Pé no Chão tem o sonho de ajudar na formação e na educação de suas vidas.
“A viagem que Pé no Chão e Puckllay têm empreendido juntos é uma intenção, uma busca, uma convicção”, afirma Anabelí. “Ambas as organizações somos Puntos de Cultura em seus respectivos países e trabalhamos essencialmente com a linguagem da arte, a arte que é um direito fundamental. Porque te permite expressar, ser livre e pensar um mundo melhor para todos e todas. O objetivo é reivindicar os espaços de nossos meninos e meninas como raiz de sua identidade, de suas ações e de sua vida. Só rompendo nossas fronteiras e irmanando nossas possibilidades poderemos construir um mundo mais possível, mais humano e solidário para todos e todas”.
Reencontro
Enquanto se encontravam em pleno intercâmbio, Puckllay completou 12 anos de existência. Chegou a esta idade com três turmas de formados e com uma escola de arte na comunidade que viu o grupo nascer, que vem se construindo aos poucos e cujo coração é um palco ao redor do qual gravitam todas as suas atividades.
Graças ao prêmio de IberCultura Viva, eles puderam conhecer o Pé no Chão, um grupo com o dobro da idade e que em muitas maneiras lhes inspira, reflete e também questiona. “Estamos profundamente agradecidos pela oportunidade de ter podido vivenciar a experiência de um projeto tão potente e tão inserido em sua problemática e sua gente, tão genialmente integrado em sua mais profunda essência, como é o Pé no Chão”, comenta Anabelí.
“Voltamos à nossa terra, às nossas famílias, ao nosso projeto, à nossa selva de meninos e meninas… Desde Recife e seu terremoto de tambores e ritmos brasileiros, de sua intensidade, sua grandeza e suas tragédias também, temos olhado para nosso país e não sentimos em absoluto as distâncias. Somos parte de um continente e de uma mesma luta, nos unem os mesmos problemas e as mesmas necessidades, nos une a mesma capacidade de sobreviver e resistir com criatividade e alegria. Agora cabe a nós preparar o cenário para receber o Pé no Chão, porque há que seguir fazendo caminho e contribuir para a construção deste Mundo possível para todos e todas.”
Intercâmbio entre organizações socioculturais de Costa Rica e Chile: reconhecimento e irmandade
Em 26, set 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
Durante o 2° Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, realizado em outubro de 2015 em El Salvador, organizações de vários países puderam se encontrar, se reconhecer e compartilhar experiências, identificando as semelhanças e diversidades de suas realidades. Desses encontros nasceu o projeto “Intercâmbio entre organizações socioculturais de Costa Rica e Chile”, um dos ganhadores do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015.
O projeto, que propõe a integração entre agentes culturais do movimento costa-riquenho de Cultura Viva Comunitária e as organizações chilenas Centro Cultural Trafon e Nodo Valpo, teve sua primeira etapa realizada em Costa Rica entre os dias 5 e 19 de setembro de 2016. A segunda será no Chile, de 17 a 31 de outubro.
Ainda que tenham mantido o intercâmbio no âmbito sociocultural, organizações dos dois países têm desenvolvido práticas, dinâmicas e percursos diferentes. A iniciativa tem como finalidade, portanto, o fortalecimento do trabalho colaborativo em seus distintos contextos mediante a troca de experiências, saberes, sentires e práticas locais de desenvolvimento cultural executadas em ambos os países.
A equipe de Costa Rica vem podendo compartilhar, por exemplo, sua experiência em diálogo intersetorial e horizontal com comunidades e o Estado, suas metodologias e estruturas descentralizadas. A equipe chilena, por sua parte, contribui com suas experiências em iniciativas de autogestão, recuperação de imóveis com fins artísticos/culturais, meios de comunicação comunitários, trabalho colaborativo e redes de articulação em nível local, nacional e internacional.
A visita
Em sua primeira etapa o projeto contemplou a visita de Rodrigo Benítez Marengo e José Tapia Pizarro (Nodo Valpo) e Rodrigo Letelier Balaguer (Trafon) a Costa Rica. Os três vivem em Valparaíso (Chile). Benítez é pedagogo em dança e músico; José Tapia, engenheiro civil, mestre em inovação e economia criativa; Letelier, comunicador, diretor de Trafon TV e do Centro Cultural Trafon.
Os três chegaram a San José em 5 de setembro e no dia seguinte visitaram o Centro de Comunicação Educativa Voces Nuestras e o adido cultural da Embaixada do Chile em Costa Rica. Ao longo de duas semanas puderam conhecer diversas iniciativas e projetos socioculturais, artísticos, educativos e festividades em localidades como San José, La Carpio, Puerto Viejo, Caribe, Cartago, Talamanca, San Ramón e San Carlos. Tiveram encontros com animadores socioculturais, com representantes de círculos de ressonância, com habitantes de zonas indígenas, com a Red Sancarleña de Mujeres Rurales e com a diretora de Cultura do Ministério de Cultura e Juventude, Fresia Camacho.
Impressões
“Estamos muito agradecidos de poder participar deste projeto, que nos permite confirmar que a criação de propostas a partir das bases, em um diálogo permanente entre a sociedade civil e a institucionalidade, cimentam um andar mutuamente benéfico, alcançando mudanças profundas tão necessárias no contexto mundial atual”, afirma José Tapia Pizarro. “Se esse trabalho além disso se projeta amorosa, carinhosa e coletivamente, fortalecendo os laços emocionais que permitem se sustentar apesar das dificuldades, possibilita um fazer sociocultural transformador”.
Aos chilenos lhes chamaram a atenção muitas coisas em Costa Rica, como a ativa participação dos jovens na política, a beleza e o carinho de sua gente, “sempre atenta e disposta a ajudar”, e à natureza, “a sorte de poder desfrutar de tantas paisagens sempre verdes, tanta diversidade de climas, costumes, influências que se integram e convivem nesta ‘multi e pluriculturalidade’”, como eles ouviram dizer em um dos encontros.
Anfitriões
Para Ronald Corrales Leon, vozeiro da região de Cartago do movimento de Cultura Viva Comunitária Costa Rica, intercâmbios como este são importantes para a solidariedade entre grupos, o reconhecimento, a irmandade. “Tem sido gratificante poder expor para os amigos chilenos as fortalezas e fraquezas que temos como movimento em Costa Rica a partir do vivencial, do afetivo e do prático”, afirma. “É muito satisfatório saber que isso lhes dá insumos que podem levar para as organizações com que trabalham em Valparaíso.”
Encontrar semelhanças nas dificuldades que enfrentam aqui e ali é um dos pontos altos da experiência. “Embora, como movimiento, sentirmos que há muito que avançar na articulação e dinamização da rede e na coordenação das diferentes organizações”, ressalta Ronald, “os companheiros chilenos nos dizem que é um exemplo para eles, já que talvez o avanço deste tema no Chile não tenha alcançado os mesmos níveis. Isso nos surpreende em dois sentidos: por saber que nossa experiência pode potenciar o processo chileno, e no sentido de que nos dá um alento para seguir com o trabalho de articulação aqui”.
No Chile
Em 17 de outubro começam as atividades no Chile, com uma visita ao entorno de Nodo Valpo e um encontro com organizações vizinhas. Os dias seguintes serão de visitas a iniciativas culturais comunitárias, intercâmbio de experiências com a equipe Nodo e colaboradores, encontro com conselheiros e encarregados municipais de cultura, encontros com círculos de ressonâncias e sessões de capacitação comunicacional, entre outras atividades.
Saiba mais:
https://www.facebook.com/CcTrafon/videos/648366121980359/
https://www.facebook.com/NodoValpo/videos/1133807260041647/
https://www.facebook.com/170601253004452/videos/1235538526510714/
Ganhadores do concurso do projeto Oralidade Escrita recebem prêmios em Formosa
Em 12, ago 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
No Dia Internacional das Populações Indígenas, 9 de agosto, foi realizada em Bartolomé de las Casas (Formosa, Argentina) a entrega de prêmios do concurso literário de lendas dos povos originários promovido pelo projeto Oralidade Escrita, um dos sete ganhadores da categoria 3 do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio.
Executado pela Fundación Abriendo Surcos (Argentina) e o Coletivo Aty Saso (Brasil), o projeto contou com a participação de 46 escolas provinciais secundárias de modalidade intercultural bilíngue. Foram recebidos mais de 70 relatos de três etnias: Qom, Wichi e Pilagá.
Foram premiados três alunos de língua Qom, do 4º ao 6º ano (Víctor Danilo Claudio, Eduardo Maza e Susy Gemalis Nuñez); três de língua Wichi, também do 4º ao 6º ano (Rodrigo Hilario, Adriana Zigarán e Maximiliano Maidana), e dois de língua Pilagá (Karen Maidana e Raúl Matías), ambos estudantes do 5º ano. Os ganhadores de cada etnia receberam US$ 500 (1° prêmio), um tablet (2° prêmio) e uma mochila (3° prêmio).
Organizado pela Coordenação de Educação Intercultural Bilíngue junto ao Instituto de Comunidades Aborígenes da província de Formosa, o evento contou com a atuação dos MEMAs (Maestros Especiales Modalidad Aborigen) na elaboração dos textos e da logística. Também houve manifestações artísticas realizadas por parte dos moradores locais. O concurso foi declarado de interesse cultural pela Legislatura da província de Formosa.
Participaram da premiação em Formosa a subsecretária de Educação da província, Analia Heinzenreder; o coordenador do programa Puntos de Cultura do Ministério de Cultura da Argentina, Diego Benhabib; os representantes de ambas as fundações, caciques das comunidades e autoridades locais.
Entre aplausos e risos
Para Diego Benhabib, o momento mais emotivo foi quando um dos ganhadores leu seu conto no idioma original. “Os risos contagiavam, por mais que alguns não entendessem nada do que dizia. Pareceu uma dessas passagens mágicas, nas quais se interconectam sensações entre cosmovisões distintas em mundos compartilhados… Tanto o texto como as ilustrações que acompanharam o texto em espanhol foram maravilhosos”, afirmou.
O coordenador do programa Pontos de Cultura também destacou que a premiação foi um evento de grande importância para toda a comunidade de Bartolomé de las Casas, que esteve mobilizada ao redor da escola secundária. (Também assistiram à cerimônia famílias de distintas comunidades dos alunos participantes do concurso, não necessariamente próximas à localidade.) “Os jovens estavam muito entusiasmados com o ato de premiação e tiveram uma participação ativa. Além do ato, deram cor à premiação os MEMAs, cuja função é central no desenvolvimento do processo pedagógico da educação intercultural bilíngue”, ressaltou Benhabib.
Daniela Landin, representante do Coletivo Aty Sâso, contou que o grupo foi muito bem recebido na escola Cacique Kanetori e que um dos pontos altos da premiação, além da leitura dos contos dos ganhadores, foi o das atuações musicais, “com a participação de uma professora e de estudantes de diferentes etnias, o que indica diálogo e integração”.
Daniela trabalha como narradora de historias, locutora, pesquisadora de teatro, crítica de teatro de rua e atriz. Em Formosa ela pôde falar um pouco do trabalho do Aty Saso em São Paulo e do Coletivo Cafuzas, que pesquisa culturas indígenas, africanas e afro-brasileiras com foco nas narrativas orais e escritas. Também pôde conhecer um pouco da vida dos estudantes, que, segundo ela, se mostraram muito afetuosos, com abraços e fotos. “Muito significativo que o evento tenha sido no Dia Internacional das Populações Indígenas (ou Dia Mundial das Populações Aborígenes, como estava escrito no palco da cerimônia). Foi realmente uma celebração das culturas originárias com destaque para a força da palavra, oral e escrita”.
O projeto
Além do concurso literário, o projeto Oralidade Escrita previa a realização de uma oficina de redação e contação de histórias para a sistematização da oralidade. O objetivo era registrar por escrito as lendas das etnias mataco-guaycuru que habitam a região, com vistas à aproximação e à difusão das línguas originárias e a troca de experiências e saberes de agentes culturais do Brasil, da Argentina e povos originários.
Os relatos mais amplos nas questões da cultura matriz identitária recebidos no concurso serão selecionados para edição e publicação em formato de antologia de relatos/contos. A publicação dos textos se dará no idioma original dos povos com tradução para o espanhol e o português. O livro será lançado em versão digital.
Antecedentes
A província de Formosa foi eleita por sua numerosa população de povos originários e seu grau de desenvolvimento jurídico na legislação aborígine/indígena. Em Formosa, com o apoio do governo provincial, foi editado o livro Lecturas en Lenguas Originarias de Formosa, produzido pela Coordenação da Modalidade Educação Intercultural Bilíngue (EIB), área do Ministério de Educação encarregada do desenvolvimento e fortalecimento das línguas e culturas da província. O livro é composto de textos recopilados e produzidos por autores indígenas dos povos Qom, Pilagá e Wichí, com histórias, relatos de vida e costumes em suas línguas originais.
As organizações
A Fundación Abriendo Surcos, uma das duas entidades que apresentaram o projeto Oralidade Escrita ao programa IberCultura Viva, tem domicílio legal em Formosa. Criada em 2012, trata-se de uma organização social sem fins lucrativos, voltada para assistência cultural e capacitação. Seu nome faz alusão aos sulcos deixados pelo arado ao preparar a terra para a semeadura. Uma imagem que deriva de seu objetivo: “Preparar e capacitar as pessoas para que, por seus próprios meios, semeiem e colham o produto de seu trabalho”.
O Coletivo Aty Sâso, a outra organização executora do projeto, desenvolve ações no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Porto Alegre) e na Argentina (Buenos Aires, Rosário, Córdoba e Formosa). Suas atividades estão relacionadas às artes como instrumento de empoderamento da população que está ou esteve em processo de reclusão por quadro clínico de saúde mental.
Fórum Educativo Centro-americano: uma proposta de currículo para a região
Em 05, ago 2016 | Em Notícias | Por IberCultura
O Fórum Educativo Centro-americano, um dos sete projetos ganhadores da categoría 1 do Edital IberCultura Viva de Intercambio, foi realizado em duas fases. A primeira reuniu em Honduras, em setembro de 2015, representantes de organizações da Rede Maraca, com vistas ao que chamaram de “desenho curricular”. A ideia era consolidar o imaginário das propostas do fazer cultural que tinham em seus países a partir de metodologias alternativas baseadas na arte e na cultura. A segunda reunião, realizada em Costa Rica de 5 a 7 de junho de 2016, teve como objetivo formular o que denominaram “desenvolvimento curricular”.
Foi essa proposta de desenvolvimento curricular regionalizado, com a intenção de ser uma forma de intervenção social e artística dirigida à juventude, a que contou com recursos do prêmio IberCultura Viva (US$ 5 mil). O projeto foi apresentado ao edital pelas organizações Guanared (Costa Rica) e Walabis (Honduras), mas envolve também outras entidades da Rede Maraca, como Colectivo Altepee Son (México), Caracol-YCD (Belice), Caja Lúdica (Guatemala) e Mente Pública (Panamá).
O II Fórum Educativo Centro-americano “Currículo e Arte Social” foi inaugurado no domingo, 5 de junho, no Centro de Amigos para a Paz, em San José, como um laboratório com dois objetivos gerais: a) fortalecer e ampliar a Rede Maraca, para contribuir com o processo de integração regional a partir do ativismo cultural; e b) oferecer um espaço de reflexão que permitisse aprofundar no conhecimento e análise de diferentes experiências curriculares artísticas da região como estratégia de intervenção social dirigida à população vulnerável.
Participaram do encontro Sael Blanco (Colectivo Altepee, México), Claudia Orantes (Caracol-YCD), André De Paz (Caja Lúdica), Julio Matteo (Mente Pública), Caridad Cardona (Walabis), Oriana Ortiz Vindas (Cooperativa Viresco e Guanared), Cristina Venegas (Cenderos, Red Permanezca y proyecto B’atz Tejiendo Vida, Costa Rica), María José Bermúdez (Yara Kanic, Costa Rica) e Carlos Rodezno (consultor educativo, Honduras). Também estiveram presentes três convidados locais: Karol Montero, da Direção de Cultura do Ministério de Cultura e Juventude, Rafael Murillo e Italo Fera, formados em gestão local pela Universidade Estatal a Distancia (UNED).
Três etapas
A jornada em Costa Rica teve início com uma exposição da memória do I Foro Educativo, realizado em Honduras. Carlos Rodezno, facilitador do evento, apresentou material contendo a informação geral e descritiva da la jornada, como antecedentes, propósitos, objetivos, metodologia a desenvolver e os produtos esperados. Depois vieram as três etapas: a) pesquisa curricular: desafios para a construção do currículo centro-americano da Rede Maraca (dia 5); b) redação de objetivos curriculares e declaração de princípios (dia 6); c) proposição do plano de formação (dia 7).
Registrados por meio de fichas, os três dias de trabalho geraram espaços de reflexão e análise de experiências particulares que permitiram propor um desenho e um desenvolvimento curricular baseado no trabalho de campo até então realizado em cada país. O resultado deste laboratório curricular é considerado a segunda parte de três, e abrange o desenho curricular e o desenvolvimento do currículo como tal; ficando por desenvolver a revisão e verificação do currículo, revisão de resumos de conteúdo como etapa preliminar na construção desta oferta educativa.
Em informe elaborado por Carlos Rodezno, o grupo conta que a participação no II Foro foi concentrada, responsável, interessada e eficiente, e que os resultados têm sido positivos. Segundo eles, a visão dos integrantes da Rede Maraca é variada e diversa, o que enriquece a proposição da oferta curricular, e a metodologia sociocrítica empregada durante o laboratório, assim como suas técnicas de diálogo problematizador, estudo de caso etc, foram adequadas para as características dos participantes.
Visita às comunidades
Além dos três dias de trabalho na casa que ganhou o nome de Centro de Amigos para a Paz, os participantes do encontro estiveram em visitas a experiências de gestão cultural e educação em comunidades (em Guadalupe, Heredia e La Carpio), em 8 de junho, e em um encontro no Ministério de Cultura e Juventude, onde houve uma apresentação de jovens do programa de formação Técnico em Animação Sociocultural Comunitária (Cooperativa Viresco).
O intercâmbio de experiências, além de aportar para a ideia de criar una certificação do fazer cultural na região centro-americana, também busca responder a uma necessidade de elevar e reconhecer os profissionais da cultura. “Uma experiência a partir da gente, para a gente e pela gente”, como ressaltou o guatemalteco André De Paz, no evento “Políticas públicas e participação cidadã: experiências de gestão sociocultural”, realizado em 8 de junho, em San José, no encerramento da 4a Reunião do Comitê Intergovernamental do programa IberCultura Viva.
Antecedentes
O Movimento de Arte Comunitária na Centro-américa (Maraca) nasceu num encontro de experiências de ativistas culturais realizado em Guatemala em 2006. A articulação de grupos artísticos do triângulo norte se deu para reivindicar os direitos humanos ante as múltiplas violações sofridas pela população jovem na região. Pouco a pouco outros somaram-se a esta proposta de integração regional, ampliando a articulação e a perspectiva da incidência juvenil. Tendo a arte comunitária como elemento em comum do acionar de cada organização, a rede oferece metodologias alternativas de inclusão, participação juvenil, memória histórica, recuperação dos espaços públicos, culturas vivas, defesa dos direitos humanos e bem viver.
Por solicitação de grupos integrantes da Rede Maraca, artistas, comunicadores, animadores, gestores e ativistas culturais realizam visitas para facilitar espaços de formação, rodas de conversas, fóruns e oficinas que têm como propósito o fortalecimento de processos formativos, organizativos e de incidência. As temáticas dos estágios são: a) formação: política e liderança; b) incidência: participação em pré-produção de encontros nacionais e festivais de Cultura Viva, artísticos, oficinas e criações coletivas.
O primeiro fórum
O I Fórum Educativo Centro-americano, realizado em Honduras, se deu em dois dias, 2 e 3 de setembro de 2015, na cidade de Comayagüela. A jornada se iniciou com um mapeamento das ofertas curriculares em matéria de arte na modalidade alternativa e de intervenção social desenvolvidas nos países centro-americanos. O segundo momento (“diálogo problematizador”) foi para análise e reflexão de situações e problemáticas enfrentadas no desenvolvimento curricular de cada uma das organizações em seu país de origem. O terceiro momento (“narrativa”) teve como propósito a redação acerca dos processos curriculares e seus resultados.
O quarto momento (“trabalho colaborativo”) serviu para analisar casos e situações dos processos educativos e especificamente sobre os diferentes currículos, contrastando a teoria do desenho frente à realidade de sua execução ou desenvolvimento, a fim de identificar os achados que a implementação curricular proporciona (acertos, vazios, promoção e outros) e sua valorização educativa e social.
No quinto e último momento, denominado desenho curricular, os participantes foram divididos em equipes por aspectos temáticos, como fundamentos, metodologia, enfoque educativo, perfil de ingresso, entre outros, com o propósito de realizar a construção de um documento que sirva de base à proposta de um currículo regional de arte social que possa ser implementado por cada organização da Rede Maraca. Depois deste trabalho em equipes, teve início uma plenária para conhecer e discutir o proposto, obtendo-se então um desenho curricular em termos da definição adotada durante o evento.
Ao final, los participantes concluíram que as experiências curriculares atuais da região são muito similares em termos de objetivos, população atendida, processos de certificação, e que os resultados das propostas curriculares em cada país demonstram êxito, apesar das dificuldades de implementação, certificação, desenvolvimento e financiamento.
À exceção da Nicarágua, os países têm consolidadas suas ofertas curriculares. A maioria está voltada para a juventude e o desenvolvimento comunitário, e algumas estão desenhadas para o empreendimento cultural, artístico, assim como a inserção no mercado de trabalho. Além disso, reconhece-se que a certificação curricular legitima os processos de formação por meido do desenvolvimento curricular tanto em nível social e educativo como de caráter individual ou institucional. E valoriza-se a intervenção social por meio de serviços educativos curriculares como uma forma acertada por considerar las características socioculturais da região.
IberCultura Viva lança edital de intercâmbio
São distintas e variadas as iniciativas governamentais na Ibero-América que buscam fortalecer as culturas de base comunitária partindo da ideia de empoderamento, compartilhamento e desenvolvimento de redes entre o Estado e a sociedade civil. Para incentivar o desenvolvimento de políticas públicas culturais comunitárias, os países ibero-americanos criaram o programa IberCultura Viva, uma iniciativa intergovernamental com sede no Brasil que tem por objetivo incentivar e potencializar a criação e o desenvolvimento de redes de atores culturais na região.
O programa está lançando seu primeiro edital de intercâmbio, dividido em três categorias: 1) intercâmbio (mobilidade e criação de redes) entre agentes culturais; 2) participação no II Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, realizado de 27 a 31 de outubro, em El Salvador; e 3) criação de conteúdos culturais (produtos) feita em conjunto por organizações da sociedade civil de dois ou mais países.
O Edital IberCultura Viva de Intercâmbio é destinado aos países membros do programa: Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, El Salvador, Espanha, México, Paraguai, Peru e Uruguai. As inscrições para as categorias 1 e 3, que incentivam o desenvolvimento de projetos culturais conjuntos, estão abertas até 1º de dezembro. Para a categoria 2, que visa apoiar a participação de pelo menos um agente cultural de cada país no congresso de El Salvador, o prazo terminou em 30 de agosto.
Ao todo, serão destinados US$ 90 mil. Desse montante, US$ 35 mil vão para categoria 1 (US$ 5 mil para os sete primeiros colocados); US$ 20 mil para a categoria 2 (US$ 2 mil para cada um dos 10 candidatos classificados); e US$ 35 mil para a categoria 3 (US$ 5 mil para os sete primeiros lugares).
Os formulários de inscrição estão disponíveis no site da Organização dos Estados Ibero-americanos (www.oei.org.br) e devem ser enviados via correio eletrônico para o email edital.iberculturaviva@gmail.com.
Seleção
Os candidatos podem fazer uma única inscrição por categoria. Os projetos apresentados nas categorias 1 e 3 devem contemplar alguns objetivos, como a valorização da diversidade cultural e da educação, a promoção da participação social como um direito cidadão, a defesa dos direitos humanos, a geração de oportunidades para o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, e a integração entre países. Podem participar entidades legalmente constituídas ou coletivos reconhecidos nacionalmente pelo desenvolvimento de atividades ou processos culturais.
Na categoria 2 (pessoa física), entre os critérios avaliados, estavam a experiência em atividades culturais comunitárias e articulação de redes culturais. Na categoria 3, serão avaliados a viabilidade do projeto, levando em conta orçamento, cronograma, recursos humanos e recursos materiais disponíveis, e os resultados esperados.
A etapa de habilitação dos projetos será de responsabilidade da Unidade Técnica do IberCultura Viva e da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI). A etapa seguinte, de julgamento, ficará a cargo do Comité Intergovernamental e do Comitê Técnico do programa. Os recursos para a premiação vêm do Fundo Ibero-americano IberCultura Viva, administrado pelo escritório da OEI em Brasília.