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Puckllay: o jogo como estratégia para uma comunidade mais justa e integradaPuckllay: o jogo como estratégia para uma comunidade mais justa e integradaPuckllay: o jogo como estratégia para uma comunidade mais justa e integradaPuckllay: o jogo como estratégia para uma comunidade mais justa e integrada

Por IberCultura

Em06, abr 2017 | Em | PorIberCultura

Puckllay: o jogo como estratégia para uma comunidade mais justa e integrada

Em Lima (Peru), no Km 34,5 da Panamericana Norte, encontra-se Lomas de Carabayllo, um assentamento urbano constituído por 54 comunidades. Entre duas delas, Juan Pablo II e Nueva Jerusalén, desenvolve-se desde 2004 a Escola Puckllay, um programa de formação que complementa a educação escolar e pessoal de crianças, adolescentes e jovens com oficinas artísticas e de integração (música, dança, teatro, circo, artes plásticas, imprensa e comunicação).

A escola é o maior ponto de ação da organização Puckllay Arte y Comunidad, um dos Pontos de Cultura reconhecidos pelo Ministério de Cultura do Peru. A associação cultural, formada por artistas, profissionais e voluntários que trabalham de maneira conjunta com as populações envolvidas nos projetos, tem como principal objetivo construir uma comunidade mais humana, justa e integrada.

A proposta da Escola Puckllay é dirigida a crianças, adolescentes e jovens em situação de pobreza e/ou risco, e tem duração variada, já que se trata de acompanhar a formação escolar dos participantes. (Sua última turma tinha entre sete e nove anos de permanência na escola, pois os alunos ingressaram quando tinham 6 ou 7 anos). A formação Puckllay dá aos participantes não somente as oficinas anuais, e sim a possibilidade de acessar, mediante convênios com outras instituições, a programas de estudo que lhes possam abrir oportunidades de trabalho.

Arte como linguagem

Puckllay, em vocábulo quechua, quer dizer “joga!”. É um convite para ação do jogo, a estratégia central de comunicação para os processos de aprendizagem. “Quando jogamos assumimos papéis, seguimos regras, nos impomos desafios, cumprimos objetivos, interagimos e desenvolvemos capacidades como na vida mesma”, explicam.

Convencidos de que a arte é uma ferramenta poderosa de mudança e transformação social, seus integrantes trabalham com teatro, dança, música, artes plásticas, comunicação e circo; elaboram e impulsionam programas de formação e também realizam criações artísticas, sempre buscando integrar diversos atores dentro e fora de cada comunidade. O intercâmbio é a base do trabalho da equipe, e o projeto cresce porque a comunidade trabalha nele.

O entorno

Villa Rica, San José, Juan Pablo II, Nueva Jerusalén, San Benito, Ampliación, Bello Horizonte, Valle Hermoso e Bosque são as comunidades de onde vêm os alunos. Trata-se de uma população eminentemente migrante, cuja principal fonte de renda é a reciclagem de lixo. É uma zona que tem o ar contaminado devido a uma série de fatores, entre eles as recicladoras clandestinas de baterias, e que não conta com água nem pistas ou parques.

Em Lomas de Carabayllo, 52% dos habitantes são crianças e adolescentes que necessitam de programas destinados a ocupar seu tempo e oferecem alternativas saudáveis de formação e recreação paralelas à formação escolar e pessoal. Atualmente, são 130 os participantes permanentes e mais de 400 os que viveram a experiência desde que Puckllay começou a caminhar.

O começo

A história da associação iniciou no fim de 2003, início de 2004, com um curso intensivo de teatro e dança criado por iniciativa de dois artistas, Anabelí Pajuelo e Milagros Esquivel. Uma mostra comovente resultou desta oficina, e Puckllay então passou a ser o Proyecto Escuela, voltado para a formação artística e humana de crianças e adolescentes de Lomas de Carabayllo.

Para dar respaldo legal ao Proyecto Escuela, as artistas fundaram a associação Generarte. Nos anos seguintes, mais artistas somaram-se à equipe, o projeto cresceu e se consolidou como um programa. Em 2009, o Proyecto Escuela se separou de Generarte e se constituiu como Puckllay Arte y Comunidad, com Anabelí Pajuelo, Pierr Padilla e Guillermo Vásquez à frente da iniciativa.

Em 2010, além da escola em Lomas, a organização desenvolveu na Casa de la Columna, no Cercado de Lima, um programa piloto chamado Puckllay Urbano. Tratava-se de uma casa velha habitada por 60 familias, parte do patrimônio histórico e cultural que vinha sendo recuperado pela Escuela Taller de Lima. Paralelamente ao trabalho dos restauradores, Puckllay oferecia oficinas de cajón e malabares às crianças e adolescentes que ali viviam (uns 20 ou 30).

A primeira escola

Puckllay demorou a ter um local fixo em Lomas de Carabayllo. Segundo Anabelí Pajuelo, diretora geral da organização, a Escola de Arte Puckllay está em uns 40% de execução, o que inclui palco, dois camarins com banheiros, pórtico de circo, biblioteca, sala de artes plásticas e cerca perimétrica.

“O que foi construído até este momento foi graças ao apoio da Asociación Arquitectos sin Fronteras de Valladolid España, a Cooperación Técnica Belga, a área de Responsabilidade Social da Pontifícia Universidade Católica do Peru, o estudo de arquitetura e urbanismo AOZ e a empresa privada Aruntani”, ressalta.

 

Antes da inauguração da escola de arte na comunidade de Nueva Jerusalén, as atividades eram desenvolvidas nos espaços públicos (o colégio, a igreja, o salão comunitário, etc) e nas casas dos moradores. As casas das famílias eram os espaços permanentes para o ditado de classes e o cuidado do material de ensino.

Os participantes eram atendidos no colégio Manuel Scorza Torre graças a um convênio, entretanto, somente era possível trabalhar a maior parte do ano os fins de semana, devido ao horário escolar. De igual maneira os materiais (livros, pernas-de-pau, instrumentos de música, elementos de malabares, colchonetes, etc) necessitavam um espaço idôneo para serem conservados.



O festival 

Desde 2010 Puckllay conta com um festival chamado Arte y Comunidad, que tem uma programação centrada em distintas criações cênicas, novas dramaturgias e propostas multidisciplinares. A finalidade principal é fortalecer, visibilizar e difundir a arte e a atividade cultural, como estratégia de desenvolvimento pessoal e social em benefício da comunidade. A ideia é que a comunidade atue como organizador e participante e que se mesclem distintas linguagens, culturas, pontos de vista, temas e identidades. Em 2012, graças ao apoio do programa de cooperação Iberescena, se realizou a primeira edição internacional do evento.

Intercâmbio

A ideia de enlaçar experiências artísticas e pedagógicas com organização de outros países também resultou no projeto “Mundo”, um dos premiados do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015. Apresentado por Puckllay e o Grupo de Apoio Mútuo Pé no Chão (Brasil), o projeto teve uma primeira etapa realizada em Pernambuco em 2016, para a qual se trasladou uma equipe de 12 pessoas de Lima a Recife.

Este primeiro intercâmbio teve uma duração de 10 dias, tempo para que ambas as organizações pudessem se conhecer, aprender uma com a outra e trocar saberes e experiência. “Temos toda a intenção de poder realizar a segunda parte do intercâmbio, que consistiria em que eles pudessem vir ao Peru”, comenta Anabelí. “Ambas as organizações são Pontos de Cultura em seus respectivos países e trabalhamos essencialmente com a linguagem da arte, a arte que é um direito fundamental, porque te permite expressar, ser livre e pensar um mundo melhor para todos e todas.”

Três perguntas para Anabelí Pajuelo

  1. Anabelí dirige a organização

    A pedagogia aplicada nas oficinas de Puckllay é uma experiência de aprendizagem para ambas as partes, professor e aluno, inspirada nas teorias do pedagogo brasileiro Paulo Freire. Em Puckllay sempre se ensinou aprendendo e se aprendeu ensinando?

Assim é o nosso trabalho e a aposta que veio e vem se construindo a cada dia. A comunidade te impõe desafios e dinâmicas, suas necessidades e demandas vão variando conforme vão variando o tempo, a situação do país e a própria comunidade.

  1. A organização completa 13 anos em 2017.  Quais seriam os principais resultados do trabalho de vocês?

O mais importante que temos conseguido foi poder permanecer todos estes anos, apesar de que as condições nem sempre tenham sido as mais ótimas. Isso tem nos permitido colocar a arte em uma plataforma importante para o acompanhamento na formação dos meninos e da zona. Temos atualmente um espaço físico próprio que pouco a pouco seguirá crescendo, há três turmas de formados e um elenco de jovens que já têm seus próprios caminhos –, além de ser uma referência em suas comunidades, eles ensinam na escola.

  1. De que maneira acredita que o projeto tem mudado a vida das comunidades?

Lomas de Carabayllo é um enorme assentamento humano, conformado por 54 comunidades. Se tivéssemos que falar de uma mudança substancial que tenhamos realizado, poderíamos falar pontualmente do espaço onde se executa nossa escola, pois consideramos que ainda temos como desafio poder realizar um trabalho mais intenso e profundo nas demais comunidades. Hoje viemos desenvolvendo um projeto de formação de líderes com a arte e a comunicação, com 25 adolescentes e jovens de sete comunidades da zona. A ideia é identificar com eles qual é a problemática de suas comunidades e pouco a pouco realizar e trabalhar propostas que ajudem a melhorar ou mudar a situação na zona.

A mudança ou melhor nas comunidades é um processo de médio e longo prazo. Puckllay tem 13 anos na zona e seus participantes maiores têm agora entre 19 e 23 anos de idade, creio que as mudanças estão por se dar. No entanto, sim, podemos falar de uma mudança pessoal em cada um dos participantes e pais de família que têm sido e são parte desta experiência.

(**Texto publicado em 6 de abril de 2017)

 

Leia também:

Mundo Puckllay y Pé no Chão: un intercambio cultural y pedagógico entre Perú y Brasil

Saiba mais:

https://www.puckllay.org

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