Experiencias
Por IberCultura
Em23, set 2015 | EmArgentina | PorIberCultura
Biblioteca Popular Sur: portas abertas e rodas para chegar a todos
Uma biblioteca com rodas passeia desde 2009 pela província de San Juan, na Argentina. Dentro dela há 10 computadores conectados à internet, livros para todas as idades, ludoteca, titereio, instrumentos musicais, materiais didáticos para cursos, tapetes, pequenas mesas e cadeiras. Assim, cheio de imaginação, o Bibliomóvel viaja pelo estado levando livros e magia, buscando formar novos leitores, querendo formar cidadãos.
O Bibliomóvel é um dos principais projetos da Biblioteca Popular Sur, criada em 2007 na cidade de Rawson. Localizada desde 2013 em um grande edifício entre as ruas Doctor Ortega e Mendoza, a biblioteca atualmente é um centro cultural onde se oferecem cursos de percussão, violino, guitarra, murga, salsa e bachata, folclore, teatro, balé, artesanato, tecido, porcelana, desenho, computação, xadrez e ginástica aeróbica.
De portas abertas para quem quiser chegar, a biblioteca conta com um salão de 320 metros utilizado para conferências, bate-papos, exposições, concursos, cinema, etc, e um primeiro piso, onde está todo o material bibliográfico e um espaço de formação com 25 computadores. O prédio está adaptado às necessidades inclusivas. No Espaço Integrador Braille, pessoas com deficiências assistem a alguns dos cursos, como os de música, artesanato, computação e folclore.
Primeiros livros
A Biblioteca Popular Sur nasceu em dezembro de 2007, na rua República do Líbano, como uma iniciativa de vizinhos, profissionais, funcionários e artistas que se organizaram para consolidar um programa integral de educação e cultura para a comunidade. Para eles, isso poderia dar resposta a uma problemática que percebiam em seu território em torno da falta de incentivo para a leitura e de apoio familiar para promover esta tarefa.
O resultado foi melhor do que esperavam. Dois anos depois do começo das atividades, o grupo já começava a colocar rodas no programa, ampliando com o Bibliomóvel o acesso de suas propostas a outras regiões da província.
Fazendo com que a biblioteca vá até o usuário, para que ele faça o caminho de volta até ela, o projeto tem possibilitado que crianças e jovens de todos os rincões de San Juan tenham acesso aos serviços, como fonte de informação e enriquecimento cultural, e que a comunidade os tenha também como uma ferramenta de participação e cidadania. No Bibliomóvel são realizados encontros de leitura, festejos, cursos e espaços de narração para todas as idades.
“O principal objetivo é poder aproximar as bibliotecas do usuário, mostrando que elas não são somente um depósito de livros, e sim um lugar culturalmente ativo a serviço da comunidade”, diz Andrea Narváez, coordenadora da Biblioteca Popular Sur.
A biblioteca andarilha começou a rodar em 2009. “Em 2011, com o aporte do programa Pontos de Cultura, pudemos fortalecer o projeto inicial com novos cursos e uma mudança completa interna (no ônibus), para que ficasse mais acessível a todos”, conta Andrea. Com o apoio do programa, o coletivo ganhou, entre outras coisas, rampas para o acesso de cadeiras de rodas.
Biblioinquieta
Outro projeto da Biblioteca Popular Sur que leva livros aonde estão os usuários é “Biblioinquieta, carrinhos andarilhos da imaginação”. Tendo em conta que a educação não se limite à educação escolar, e que aprendizagem e leitura estão intimamente ligados, o programa busca satisfazer as necessidades leitoras de alunos e docentes levando uma ampla variedade de livros a escolas da cidade de Rawson.
Trasladados de um lugar a outro em carrinhos andarilhos, os livros têm diferentes formatos (papel, digital, audiolivros) e são cuidadosamente escolhidos para que respondam a interesses reais, a necessidades expressivas, emocionais e de informação da maior parte dos leitores.
Em cada escola é distribuído um carro “infobot”, com um computador leitor de livros digitais e audiolivros, mais três caixas com 35 livros cada. Uma por cada ciclo do nível primário. O carrinho ali permanece durante oito semanas, período em que os professores seguem um plano de trabalho de atividades sugeridas, dando às crianças tarefas relacionadas com aqueles livros.
Entre os “exercícios inquietos para uma imaginação andarilha” estão conversações sobre os livros e seu conteúdo, improvisações de obras de teatro baseadas nos textos, invenções de contos, adivinhanças, frases, desenhos livres, representações de contos com marionetes, títeres ou bonecos.
Nos ciclos letivos de 2012, 2013 e 2014, foram distribuídos 295 livros a 52 estabelecimentos educativos de nível primário e de educação especial do município de Rawson.
Três perguntas para Andrea Narváez
1.Quando a biblioteca surgiu, em 2007, vocês tinham a intenção de consolidar um programa integral de educação e cultura para a comunidade, acreditando que isso podia dar uma resposta a uma problemática que percebiam em seu território. Depois de oito anos, já podem ver essa resposta?
A instituição e a comunidade avançaram muito nesses oito anos, já que não apenas tivemos o resultado, mas a demanda foi se estendendo a outras necessidades básicas da comunidade, como as capacitações para poder buscar trabalho como operador de PC, auxiliar de bibliotecário, os cursos baseados nas novas tecnologias. Na verdade, foi muito mais do que esperávamos, já que demos muito atenção ao que o território necessitava e fomos tratando de cobrir todas as suas expectativas.
2.Como surgiu o programa Biblioinquieta?
Biblioinquieta surgiu da inquietude da comunidade a partir do programa Bibliomóvel Popular Sur, onde se vê nosso objetivo inicial, que é colocar rodas na biblioteca e na cultura. O cronograma do Bibliomóvel consta de uma visita de uma jornada por escola ou instituição, onde as mesmas propõem a necessidade de que se estenda por mais tempo a visita. Como o programa não possui meios próprios para a manutenção de atividades por vários dias, surgiu a ideia de deixar carrinhos com bibliografia para que se siga trabalhando a leitura com mais profundidade.
3.Além de promover a leitura, vocês têm o objetivo de promover a cultura popular em San Juan. Quando se deram conta de que a biblioteca poderia ser uma ferramenta para visibilizar, por exemplo, a cultura huarpe, própria dos povos originários da região?
Sim, exatamente, a biblioteca é um importante centro cultural. Nos demos conta de que não apenas tínhamos que fomentar a leitura, e sim que podíamos fortalecer as identidades próprias da nossa região como uma forma de aprender nossa base cultural indígena, de nosso antepassados, os huarpes. Outro objetivo foi trazer à tona todas as comunidades indígenas que há na região e nos colocarmos à disposição para que não percam a identidade própria de sua cultura ao se misturar com a sociedade atual.