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Pistas de “Baile à sua maneira”: a linguagem do corpo e da dança em um intercâmbio entre Espanha e Argentina
Em 17, jan 2020 | Em Notícias |
Texto: Laura Szwarc (Associação Akántaros/Espanha)
Fotos: Vanina Acevedo e Claudia Quiroga
Desde o princípio de Akántaros, há 20 anos, nós, seus integrantes, pensamos em fazer de maneira coletiva e compartilhando com outros. Ser, desse modo, parte de uma rede que (se) integra, (se) entrelaça em uma malha ou várias, e levar a interconexão para os objetivos comuns que vão se ampliando. Ademais, uma rede favorece a descentralização. E o descentralizado tem sido uma proposta de nosso trabalho. Mobilizar o centro, acessar o horizontal.
Criar vínculos e que eles sejam duradouros, que os fios da rede sejam rotundos, esse tem sido um de nossos desejos desde o começo de Akántaros. Graças a esta forma de trabalho em rede, através de La Bombocova pudemos conhecer o edital Entrelaçando Experiências, de IberCultura Viva.
Assim foi que apresentamos uma de nossas linhas de investigação-ação vinculada ao corpo. Nesta ocasião, “Baile à sua maneira, o corpo como texto” (“Baila a tu manera, el cuerpo como texto”), em que nos perguntamos sobre a linguagem do corpo e a dança. Desde um tempo/espaço a que chamamos laboratório, onde se experimenta e se produzem criações.
Começaram a chegar correios desde distintas latitudes (Brasil, México e Argentina), interessados em nossa proposta. O júri de IberCultura selecionou Argentina como lugar de ação respondendo às organizações solicitantes.
Chegamos no mês de dezembro, em um contexto latino-americano sumamente complexo (Chile, Bolivia, Brasil, Equador, Colômbia…), enquanto na Argentina assumia um governo progressista e se realizavam atos festivos onde os corpos saíam às ruas para celebrar.
Empapadas de todo este contexto dual, seguimos trabalhando. Gerando material e vendo as mesmas interrogações que sempre produzem outro giro, assim como surgem novas, para cada comunidade.
Primeira parada
Recebidas por LEKOTEK, uma organização que há mais de 25 anos capacita e acompanha instituições de saúde, educação para o desenvolvimento e suporte de seus próprios espaços.
Com eles tivemos a possibilidade de ter duas experiências:
A primeira, com alunxs, docentes e graduadxs do Instituto Superior de Tempo Livre e Recreação (ISTLyR), pertencente ao Ministério de Educação da Cidade Autônoma de Buenos Aires (CABA), Formação de Nível Técnico Superior Terciária, com o qual o Lekotek vem desenvolvendo ações de pesquisa. Nos perguntamos nesta primeira parada pelo corpo como texto, e a relação com seu fazer profissional; assim como pelo corpo público e privado: sempre expostos?
A segunda, com organizações comunitárias e estatais vinculadas a Lekotek, com quem vêm realizando ações conjuntas a favor da infância em torno da importância do brincar. Nesta ocasião, o trabalho foi redescobrir as linguagens do corpo em movimento para acessar novas estratégias que pudessem levar para seus coletivos-bases.
Tivemos a oportunidade de nos encontrar e avaliar o realizado com os companheiros de Lekotek.
Parada 2
A atividade organizada pelo Centro Educativo Comunitário Ramón Carrillo foi realizada no Centro Comunitário Nuestra Señora de Luján, Villa 20, dentro do espaço de oficina, ginástica e dança, com a participação de 23 mulheres de diversas idades entre 20 e 70 anos.
Aqui nos interrogamos: É possível, através da dança, ter acesso a outro modo de ser dos corpos, a novas linguagens e narrativas, a um movimento que construa uma rede (coreográfica) comunitária?
Realizamos uma roda de conversa como encerramento da atividade.
Parada 3
Mujeres de Artes Tomar é um coletivo de profissionais nos âmbitos cênicos e visuais. Aqui “Baile à sua maneira” se desdobra em outras interrogações que se manifestam em bailes e em como inscrevemos em um corpo social onde estão meu corpo e teu corpo. Ao ser nomeadas, nos tocam o corpo? Como as texturas sensíveis se encarnam? Convites para narrar juntas a partir da dança.
Parada 4
Cheche Espacio Cultural, na província de Santa Fé.
Partindo das características que a dança possibilita, esboçamos uma trilha para pensar como se manifesta o corpo em estado de dança, de que maneira o faz e que possibilidades abre. Como nos faz entender ou pensar o corpo em sua vinculação ao espaço autogestionado e ao espaço público? Como a repetição se libera e o mesmo não é o mesmo? Como ocupamos os espaços, que corpo surge nos corpos coletivos, como avançamos juntas em uma dimensão do “ocupar”? E, a partir daí, coreógrafos constantes.
Dessas experiências:
Estar em outro contexto implica, nos implica, em uma agitação da realidade; assim como provoca novos dispositivos de pensamento e de criação.
O fazer coletivo foi parte fundamental desta textura experiencial. Ao dizer parte, ou parte fundamental, nesta concepção de corpo como texto, não haveria uma parte mais importante que outra. Cada situação fará de uma parte ou de outra a privilegiada.
Acreditamos que uma forma, ou a forma, de resistir à precariedade desses momentos históricos é colocar em prática sistemas coletivos e também atender a cada singularidade. Sabemos que é um momento em que se valoriza cada feito individual (que não implica singularidade, e sim o contrário) em detrimento do fazer coletivo, e nossa decisão é a de “desobedecer” a esse mandato e a tantos outros que conduzem à negação da existência do semelhante.
Como dizemos em nosso livro Entonces baila, el cuerpo como texto, editado em 2017 pela coleção El río suena, experiencias artísticas/educativas (Ediciones Las parientas), cada vez que realizamos um laboratório, que “re-conhecemos” um grupo de singularidades, aparece a suavidade potente das coisas, o perigo que encerra cada “ferida” própria e alheia. Nunca se sabe de antemão como será desta vez. Sempre varia.
Nossa proposta é, especialmente, uma pergunta que, a cada vez, encerra respostas e sobretudo novas perguntas: É possível através da dança ter acesso a outro modo de ser dos corpos, a novas linguagens e narrativas, a um movimento que construa uma rede (coreográfica) comunitária? Como recuperar neste momento histórico o reconhecimento do corpo, sua “fala”? Porque falamos até pelos cotovelos e movemos até o esqueleto, eu é ou não é meu corpo? E tu? E nós? Ao mesmo tempo, dançar é um feito discursivo inter-relacionado completamente com as outras linguagens?
Consideramos que colocar e mover o foco sobre os corpos, descobri-los, reconhecê-los em seu fazer laboral, afetivo, ocioso, implica um enlaçamento ético. E a via de enlace é conceito de criatividade.
Criar vínculos duradouros que reforcem o tecido social é uma chave de significação nesta viagem que termina, mas que também é um começo.
Este tempo na Argentina de trabalho processual nos permite seguir pensando em uma “Terra de baile”.
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