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Começam os encontros para a construção coletiva de um ciclo de formação em direitos culturais e cultura viva
Em 29, out 2022 | Em Notícias |
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Mais de 40 pessoas participaram do encontro inaugural do Ciclo de Vídeodiálogos e Laboratório “Direitos Culturais e Cultura Viva”, que se realizou em 11 de outubro no Centro Cultural de Ate (Lima), durante o 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. A atividade da Comissão de Formação da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais foi concebida como um espaço de construção participativa e intersetorial para imaginar coletivamente o que poderia ser um novo programa de formação e pesquisa do IberCultura Viva. Após este encontro inicial, as discussões continuarão virtualmente em novembro, com quatro sessões, uma por semana.
Federico Prieto, secretário de Gestão Cultural do Ministério da Cultura da Argentina e vice-presidente do IberCultura Viva, iniciou a sessão agradecendo a todas as pessoas presentes a disponibilidade para participar desta instância, “para criar um espaço de formação onde pessoas que participam de organizações e governos locais possam aprimorar suas habilidades técnicas, gerar espaços de diálogo, compartilhar conhecimento e divulgar as experiências realizadas para continuar fortalecendo o vínculo entre organizações e governos”.
Segundo ele, trata-se também de uma oportunidade de gerar instâncias para que outros governos saibam o que é cultura viva comunitária e políticas culturais de base comunitária. “Sim, acreditamos que um outro mundo é possível, e acreditamos no diálogo real e sincero entre organizações e governos, em busca de melhorar as condições, de garantir estruturas para que quem quiser fazer possa fazê-lo. E sobretudo manter vivos e bem desenvolvidos os conceitos que a cultura viva comunitária nos ensina o tempo todo: despatriarcalização, descolonização, bem viver, bem comum, (…) como nos relacionamos com a natureza, como indivíduo, como coletivo, e como um coletivo de coletivos”.
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Um espaço intersetorial
Alexandre Santini, secretário das Culturas de Niterói, que propôs essa atividade em nome da Comissão de Formação da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, comentou que há quase um ano o grupo trabalha nessa ideia de criar um espaço de formação intersetorial, com representantes de governos locais, governos nacionais e também representantes de organizações culturais. “Não se trata de competir com nenhum dos espaços autônomos de formação ou com os espaços acadêmicos formais de formação e gestão cultural que existem, mas sim de gerar algo novo para poder trabalhar com organizações culturais comunitárias”, explicou.
A intenção, segundo Santini, é gerar algo novo também na história da política e da gestão cultural. “Esta é uma novidade que a América Latina dá ao mundo: propor um novo olhar para as políticas públicas culturais, com uma visão civilizatória dentro da cultura comunitária”, observou, ressaltando também que o que desencadeou essa proposta foi a iniciativa das cidades de San Luis Potosí (México) e Niterói de construir coletivamente, de forma participativa, suas Cartas de Direitos Culturais.
“Estamos na vanguarda do mundo junto com Roma, Barcelona e algumas outras poucas cidades que desenvolveram suas Cartas de Direitos Culturais. Este é o ponto de partida, não o ponto de chegada. Estamos falando de direitos culturais, equidade territorial, cultura viva, para que seja possível, a partir desse diálogo, estabelecer a construção metodológica do que esse espaço de formação pode se tornar”, destacou o secretário de Culturas de Niterói. “A ideia é coletar insumos e contribuições no congresso, começar com sessões virtuais em novembro e depois avaliar coletivamente e ver que continuidade pode ser dada a essa iniciativa experimental.”
Luisa Velásquez, representante de Guadalajara (México) na Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, lembrou que a intenção é escutar, estar aberta ao diálogo. “Nos círculos da palavra ouvimos várias vezes sobre a necessidade de formação, e na Rede de Cidades vimos esta oportunidade para este ciclo de formação. Embora as linhas temáticas sejam direitos culturais e equidade territorial, e elas já estejam claras, acreditamos que é importante co-construir os conteúdos e perfis. Sabemos que dentro do movimento existem pessoas com muita experiência, com conhecimento empírico”, disse.
Gerardo Padilla, secretário técnico da Carta de Direitos Culturais Unesco-San Luis, mencionou o processo de construção participativa desse instrumento na cidade de San Luis Potosí, tentando imaginar uma sequência, uma vez que há alguma demanda por parte do movimento para espaços de formação, para capacitação, e por outro lado, a falta de um programa de formação com/para/das organizações.
Além disso, lembrou que em julho de 2021, após três sessões de trabalho no 2º Encontro de Cultura Viva Comunitária em Cidades e Governos Locais da América Latina, realizado em Zapopan e Guadalajara (Jalisco, México), a Rede de Cidades e Governos Locais chegou à redação final do seu Estatuto de Constituição. O documento, elaborado em colaboração com os representantes dos governos locais que participaram deste encontro, detalha a organização da rede em forma de comissões de trabalho. Uma delas, a Comissão de Formação, foi a que propôs a criação deste espaço de diálogo.
“Pensamos como este espaço de trabalho poderia ser desenhado, qual deveria ser o conteúdo, para onde deveria ir, quais capacidades deveria fortalecer, qual abrangência deveria ter, os melhores formatos… algo que a rede se propôs a resolver não só pelas miradas dos governos locais, mas pela perspectiva das organizações de base. O que estamos propondo hoje é pensar juntos, lançar as primeiras perguntas para saber qual deve ser o conteúdo, e até mesmo descobrir sua relevância, porque este é um passo importante para a Rede de Cidades e o programa IberCultura Viva, e o que queremos é pensar juntos todas e todos”, destacou Padilla.
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Questões norteadoras
Uma série de questões norteadoras foi elaborada para este encontro, para começar a delinear como deve ser um novo programa de formação promovido a partir do programa IberCultura Viva. A ideia era ter um espaço de conversa em torno de pelo menos seis perguntas, começando pela identificação desse espaço de capacitação. “Que capacidades precisamos fortalecer? Quais são as ausências? Quais são as necessidades? Quais são as capacidades que, entre todas, são as que precisamos ativar, trabalhar, gerar um dispositivo que as fortaleça?”, sugeriu Padilla.
A segunda questão que se projetou tinha a ver com as deficiências, com como resolver as ausências (quais são os conteúdos, que disciplina, que oficina, que espaço de troca não deve faltar neste espaço formativo que queremos imaginar?). A terceira versava sobre os melhores formatos de trabalho (virtual? híbrido? síncrono ou assíncrono?), e a quarta dizia respeito aos dispositivos que deveriam ser incluídos em um programa de treinamento com essas características.
A quinta pergunta, sobre como devem ser os perfis, foi dividida em várias: sobre o que queremos falar? O que queremos aprender? O que queremos ver acontecer em uma comunidade de aprendizagem? Que perfis devem ser? Existe um equilíbrio entre teoria e prática, uma equidade intergeracional? Por fim, quais são as prioridades?
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Dois dias de discussões
A conversa inicial deste ciclo incluiu as pessoas que se inscreveram para participar do laboratório por videoconferência (cerca de 15) e levou mais de uma tarde, com continuação no dia seguinte, na Feira de Saberes do 5º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária que aconteceu no Parque Cívico de Santa Clara, no distrito de Ate. Representantes de organizações culturais comunitárias, representantes de governos locais vinculados ao programa e membros do Grupo de Trabalho de Sistematização do IberCultura Viva participaram dos dois dias de discussões.
Entre os temas que os participantes mencionaram durante o encontro como importantes para essa construção coletiva estão desde acessibilidade e formação de formadores até influência política, estratégias de comunicação interna e externa, metodologias participativas, desenho de políticas públicas, monitoramento e avaliação de projetos, bem como a importância da adoção de metodologias de educação popular como ferramenta de trabalho e a necessidade de entrega de certificados de formação.
O grupo que participou virtualmente no primeiro dia de discussões trabalhou especialmente em torno de duas questões propostas: sobre as capacidades que deveriam ser fortalecidas e sobre como seria a estruturação desse espaço. Em relação à primeira questão, reforçaram a importância da capacidade decisória (“as organizações buscam mais protagonismo, mais participação”, defenderam). Também mencionaram a existência de valiosos projetos de formação, tanto de universidades como de organizações culturais, e recomendaram que isso fosse levado em consideração e que se reconhecesse que o processo não é homogêneo, que há países onde o acesso é mais fácil e outros menos.
Os participantes do debate por videoconferência também recomendaram que este projeto coloque em circulação um conjunto de conhecimentos da cultura viva comunitária e reconheça suas metodologias pedagógicas. Mencionaram também que os processos de pesquisa comunitária que não são publicados devem ser visibilizados, e que acham que não é necessário outro curso de pós-graduação, pois o IberCultura Viva já conta com o Curso de Pós-Graduação em Políticas Culturais de Base Comunitária ministrado pela FLACSO-Argentina (“não duplicar os esforços que já estão sendo feitos”, recomendaram). Por fim, comentaram que esse espaço poderia ser não só de pesquisa, mas também de ação, incidência, incluindo um observatório de políticas culturais comunitárias.
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Combinando saberes
“Estamos sempre no espírito de construção coletiva, e propomos isso também nesta área de trabalho”, reforçou Diego Benhabib, coordenador do programa Pontos de Cultura na Argentina e representante do país ante o programa, ao final do primeiro dia de discussões. “Sempre há tensões, (mas a ideia é) tentar combinar o conhecimento acadêmico e o popular, reavaliar e reconhecer os saberes populares e comunitários e colocá-los no lugar que deveriam estar.”
Como salientou Benhabib, este trabalho parte de uma proposta da Rede de Cidades e Governos Locais, que tinha um orçamento exclusivo e quis colocá-lo também à disposição do movimento e das organizações culturais comunitárias em geral, “o que é muito valioso” e demonstra a necessidade de continuar com esses mecanismos de trabalho intersetorial. “Devemos pensar que aqueles de nós que estão participando nestas áreas são militantes desta causa, e temos que continuar a construir coletivamente, para melhorar as condições para todos e todas.”