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20

jul
2022

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Cinema comunitário e diversidade indígena: os projetos regionais selecionados no Edital de Apoio a Redes 2022

Em 20, jul 2022 | Em Notícias |

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Além das propostas selecionadas por país, o Edital IberCultura Viva de Apoio a Redes e Projetos de Trabalho Colaborativo 2022 escolheu dois projetos que chamamos de “regionais”, por envolver organizações e coletivos de vários países. Um deles, “Histórias que nos abraçam: Tecendo cinema comunitário”, da Rede de Cine Comunitário da América Latina e Caribe, foi apresentado por uma organização argentina, mas envolve seis países (Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, México e Peru). O outro, “Diversidade Indígena Viva II”, da rede De Abya Yala con Amor, é a continuação de um projeto apresentado por um Ponto de Cultura brasileiro e desenvolvido em 2021 por 15 indígenas de 12 etnias. A primeira edição, que resultou em um e-book lançado no início deste ano, contou com a participação de indígenas de três países (Brasil, Argentina e Equador). A segunda amplia a proposta com a entrada de mais 15 indígenas, originários da Colômbia, do Chile, do Paraguai, do Peru e do México.

(Foto: Grupo Chaski)


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*Nome da rede ou articulação: Red de Cine Comunitario de América Latina y el Caribe

Nome do projeto: Histórias que nos abraçam. Tecendo cinema comunitário

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“Histórias que nos abraçam. Tecendo cinema comunitário” é um projeto da Rede de Cinema Comunitário da América Latina e do Caribe que se propõe a fortalecer a rede de experiências de cinema comunitário na região por meio de três instâncias: um espaço virtual de encontro, intercâmbio e formação; uma publicação digital, e atividades de projeção nos territórios. A proposta foi apresentada ao Edital IberCultura Viva de Apoio a Redes e Projetos de Trabalho Colaborativo 2022 por uma organização argentina, mas envolve coletivos e organizações de seis países: Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, México e Peru. 

Por um lado, o projeto prevê o desenvolvimento de um espaço virtual de encontro, intercâmbio e formação voltado para organizações sociais e coletivos que realizam atividades de cinema comunitário, cultura viva comunitária e educação popular. A ideia é promover um curso de oito encontros para trocar experiências, metodologias e ter novos projetos compartilhados. Essas oficinas são coordenadas de forma colaborativa, com os saberes de cada grupo, tendo como eixos memória, feminismo e território. 

Por outro lado, como parte da construção da memória da rede, será feita uma publicação digital que sistematiza a história das organizações integrantes da rede e dos espaços de formação e intercâmbio deste projeto. Também serão realizadas atividades de projeção presencial nos territórios das organizações em rede que apresentam o projeto para promover os processos comunitários das organizações participantes. As produções realizadas durante a capacitação serão exibidas nesses encontros.

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A rede

Os coletivos e organizações que compõem a Rede de Cinema Comunitário da América Latina e do Caribe têm origens diversas e vivem em territórios distintos, mas coincidem, se conectam e se organizam em torno do cinema comunitário como prática política, ética e estética que transforma a vida das comunidades. Desde o surgimento da rede, em 2014, as organizações associadas já compartilharam mais de 30 espaços de formação e intercâmbio em encontros, festivais e projetos.

Segundo eles, o cinema comunitário é conceituado como: 1) uma prática em que a própria comunidade se apropria de ferramentas audiovisuais para se representar e tornar visíveis suas realidades; 2) um modo de produção horizontal e coletivo que gera e valoriza saberes e identidades locais; 3) um processo audiovisual integral de gestão, produção, exibição, circulação e consumo que inclua ativamente a comunidade em cada uma de suas etapas. 

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Organizações participantes

Cine en Movimiento é uma organização de cinema comunitário de Buenos Aires, Argentina, que completa 20 anos em 2022. Ao longo desse tempo, desenvolveu oficinas de cinema e educação popular em mais de 350 organizações sociais. Junto com essas organizações, foram produzidos mais de 400 curtas-metragens e peças audiovisuais. 

Cinema e Sal é um projeto comunitário de cinema e educação popular realizado nas ilhas da Bahia, no Brasil. Desde janeiro de 2015, desenvolve um trabalho de acessibilidade dirigido principalmente a crianças e jovens das ilhas, utilizando o audiovisual como ferramenta para contar a própria história e reforçar a identidade e o território.

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Espora Media é um coletivo/organização transdisciplinar que baseia suas práticas na animação sociocultural, articulando artes e ciências por meio de narrativas audiovisuais e cinematográficas transmídia. Criada em 2016 em Xalapa (Veracruz, México), atua na criação cinematográfica, na educação audiovisual e na exibição de cinema comunitário por meio de eventos e festivais. Há cinco anos desenvolve o projeto de formação audiovisual comunitária “Cine de la Cuenca. Unidos pela água”. 

De Lima, Peru, vem Chaski Comunicación Audiovisual, grupo que em 2004 criou um grupo de pequenos cinemas comunitários, em 32 bairros localizados em 10 regiões do Peru (Puno, Cusco, Ayacucho, Apurímac, Ica, Lima, Ancash, La Libertad, Piura e Loreto). Os filmes nacionais, latino-americanos e independentes que estão programados na Rede Nacional de Microcinemas contribuem para fortalecer valores para o desenvolvimento integral das pessoas e a criação de espaços culturais de comunicação, reflexão e educação.

De Bogotá, Colômbia, quem integra a rede é o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Alternativo e Comunitário Ojo al Sancocho, uma iniciativa nascida em 2008, como alternativa de educação e comunicação comunitária, com a intenção de democratizar a cultura audiovisual na Colômbia.

Fundación El Churo, por sua vez, é uma organização que promove e acompanha processos de comunicação comunitária, cinema comunitário e audiovisual, pesquisa e incidência na legislação e políticas públicas de comunicação no Equador. Criada em Quito em 2016, a fundação coordena o Laboratório de Cinema e Audiovisual Comunitário Ojo Semilla, uma proposta de formação e educação popular que compartilha ferramentas técnicas e teóricas para o desenvolvimento e produção de audiovisuais comunitários para grupos de mulheres, feministas, jovens, indígenas e afrodescendentes.

(Foto: Ojo Semilla)

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Nome do projeto: Diversidade Indigena Viva II

Nome da rede: De Abya Yala com Amor

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Em 2021, 15 indígenas de 12 etnias da Argentina, do Brasil e do Equador formaram uma comunidade colaborativa de aprendizagem para compartilhar experiências, opiniões, visões, conhecimentos e sentimentos por meio de ferramentas digitais (Zoom, Whatsapp e redes sociais). Nesses encontros virtuais, que eles chamaram de “fogueiras digitais”, 7 homens e 8 mulheres deixaram correr a palavra, como tradicionalmente acontece nas comunidades indígenas quando se reúnem ao redor do fogo. 

O e-book “De Abya Yala com Amor”, lançado em fevereiro de 2022, em sua primeira versão com alguns textos em português e outros em espanhol, é um dos resultados dos intercâmbios digitais realizados ao longo de dois meses de 2021 no projeto “Diversidade Indígena Viva”. Neste livro coletivo, cada autor/a indígena traz uma mensagem para a humanidade que renasce neste momento de crises (ambiental, econômica, sanitária). Fragmentos de depoimentos (“faíscas”) dos/das autores também são encontrados em mais de 50 vídeos curtos que estão disponíveis no canal www.youtube.com/mensagensdaterra.

Este ano, no projeto apresentado ao Edital de Apoio a Redes e Projetos de Trabalho Colaborativo 2022, a rede De Abya Yala com Amor é ampliada com a entrada de mais 15 indígenas, originários da Colômbia, do Chile, do Paraguai, do Peru e do México. Os propósitos são os mesmos do projeto anterior: atuar como uma comunidade colaborativa de aprendizagem e produzir conteúdo a partir das cosmovisões originárias, para inspirar a humanidade que hoje renasce. A intenção é dar continuidade à produção de fogueiras digitais e suas faíscas, além de um novo e-book, De Abya Yala com Amor 2.

“Diversidade indígena viva” tem como objetivo geral valorizar os saberes indígenas vivo em Abya Yala e dialogar na diversidade. Os objetivos específicos são: 1) Aproximar e articular indígenas e redes indígenas; 2) Promover o intercâmbio de experiências e saberes entre diferentes culturas; 3) Fortalecer as capacidades dos indígenas e suas redes; 4) Valorizar os saberes indígenas e sua participação no mundo atual; 5) Incentivar diálogos interculturais e transdisciplinares que promovam a coesão social e o bem viver para todos, tendo a diversidade cultural como patrimônio vivo comum.

Entre os resultados esperados está a formação de uma comunidade colaborativa multiétnica plurinacional com mais de 20 indígenas fortalecidos em gestão compartilhada, salvaguarda do patrimônio imaterial, apropriação de novas tecnologias e diálogo intercultural. Espera-se também que um novo livro e novos vídeos circulem, valorizando o cruzamento de diversos saberes e provocando transformações socioculturais para o bem viver de todos.

Uma das fogueiras digitadas realizadas pelo projeto em 2021

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Organizações participantes

A organização que apresenta o projeto ao Edital de Apoio a Redes 2022 é a brasileira Thydêwá, criada em 2002 na Bahia. Entre as mais de 70 iniciativas idealizadas e promovidas pela Thydêwá, destacam-se o Ponto de Cultura Índios On-Line, o Pontão Esperança da Terra, a Rede de Pontos de Cultura do Nordeste Mensagens da Terra, a rede e coleção de livros Índios na Visão dos Índios, a Rede Índio Educa, a Rede Risada, a Rede Pelas Mulheres Indígenas, Kwatiara, AEI – Arte Eletrônica Indígena e AIRE – Arte com Indígenas em Residências Eletrônicas.

Premiada duas vezes como Ponto de Mídia Livre e três vezes como Ponto de Memória, a organização tem trabalhado com indígenas de 30 etnias diferentes, especialmente na valorização dos patrimônios imateriais, seus direitos e no uso da informação e da comunicação. Além das parcerias com povos indígenas da Argentina e Colômbia, mantém parcerias com o Reino Unido, a Alemanha e a França, promovendo o diálogo intercultural e o bem viver.

O trabalho conjunto com comunidades indígenas na Argentina remonta a 2015, ano em que a organização foi selecionada para o Edital IberCultura Viva de Intercâmbio e deu início aos primeiros projetos em conjunto com Mariela Jorgelina Tulián, casqui curaca de la Comunidad Indígena Territorial Comechingón Sanavirón “Tulián”, que também participa deste projeto.

Situada em San Marcos Sierras (Argentina), a Comunidade Indígena Comechingón Sanavirón “Tulián” foi fundada em 2010 e está presente em escolas, tramitando bolsas de estudos  secundários, dando palestras e cursos de cosmovisão, compartilhando cerimônias com os membros dessas instituições e, de maneira mais efetiva, na escola secundária IPEM nº 45 Dr. Ernesto Molinari Romero, por meio de uma tutora intercultural que realiza atividades constantemente. 

Há vários anos eles participam de encontros com outras comunidades indígenas, integrando a Coordinadora de Comunicación Audiovisual Indígena de Argentina (CCAIA), onde uma de suas autoridades comunitárias exerce a função de vice-presidenta. E há algum tempo integram o Consejo Continental de Ancianas, Ancianos y Guías Espirituales de América.

Foi Mariela Tulián quem apresentou a Thydewá a parceira equatoriana neste projeto: a Fundación Guanchuro. Criada em 2010, em Pichincha (Equador), esta fundação promove a interculturalidade, os processos de economia solidária, o turismo comunitário, a educação intercultural bilíngue, a promoção da língua e da cultura. É uma das participantes da Rede DVV Internacional, organização de cooperação com sede em Bonn (Alemanha), especializada em educação de jovens e adultos com presença em mais de 50 países do mundo. Angel Ramirez Eras, do povo Palta, é o representante da Fundação Guanchuro na rede.

Maria Pankararu (Pernambuco, Brasil) representa o canal Mensagens da Terra, um coletivo digital criado em 2020 com mais de 400 vídeos postados na internet, todos com indígenas. Mais de 20 etnias brasileiras e 10 de outros países participaram de alguma forma desse canal, que atualmente conta com indígenas Ymboré, Kariri-Xocó, Pankararu, Tupinambá, Pataxó, Pataxó Hãhãhãe, Waura, Desana, Kaingang, Guarani e Xucuru, entre outros.

Nhenety Kariri-Xocó (Alagoas, Brasil) representa a Comunidade Indígena Kariri-Xocó. Além de coordenar o Ponto de Cultura Horizonte Circular em sua comunidade, participou do projeto “Índios on-line”, do Ponto de Cultura Esperança da Terra e da Rede de Pontos de Cultura Indígena do Nordeste do Brasil. Também participou como autor em mais de 15 livros e atualmente coordena o fortalecimento da língua de seu povo em um projeto com colaboradores nacionais e internacionais.

Solita Pereyra ou Sapallitan Sanan Atojpa, outra representante da Argentina, lecionou por 27 anos em escolas das comunidades Tonokoté, em áreas inóspitas e fala Kichwa. Ela dedicou mais de 40 anos a reviver as raízes de seu povo Tonokoté, e é tinkina (autoridade e representante) do Conselho da Nação Tonokoté Llutki, composto por 38 comunidades (33 no território ancestral do que é hoje a província de Santiago del Estero, 1 em Tucumán, 1 em Santa Fé e 3 em Buenos Aires).

Liliana Claudia Herrera Salinas, também argentina, é ativista dos direitos indígenas, poeta, escritora e cantora na língua original. Omta (autoridade) da Comunidade Indígena Huarpe Guaytamari (Uspallata, Mendoza), é vice-presidente da Organização das Nações e Povos Indígenas da Argentina (ONPIA) e membro do Movimento Latino-Americano de Cultura  Viva Comunitária.

Do Chile vem Wilma Reyes, da Asociación Indígena Calaucan (San Antonio, Quinta Região, Valparaíso). Fundada em 1999, a associação tem entre suas atividades um projeto de saúde ancestral e intercultural, que vem sendo realizado desde 2008 no Centro Cerimonial de Desenvolvimento Indígena, em Llolleo, onde são ministradas oficinas de cosmovisão mapuche, ervas medicinais, tear mapuche, alimentação saudável, técnicas de arte com relevância indígena e formação de agentes de saúde. Também conta com atividades de educação intercultural bilíngue; cuidado ambiental e ecologia; projetos artísticos e arte-terapia, bem como estágios interculturais.

Outro participante desta comunidade colaborativa é Lecko Zamora, escritor, poeta, músico, jornalista, educador, referência e artesão do povo Wichí. Autor de vários livros sobre a cultura Wichí e de artigos jornalísticos e científicos relacionados aos direitos, saúde e educação dos povos indígenas, Zamora morou por muitos anos na Venezuela e na Bolívia e atualmente reside em Puerto Tirol, província do Chaco, Argentina.

De Huancayo, na região de Junín (Peru), está a Rede de Comunicadores Indígenas do Peru (REDCIP), fundada em 2007 por um grupo de comunicadores que defendem e promovem o direito à comunicação dos povos e comunidades indígenas do litoral e da Amazônia do Peru. A rede é resultado de um processo de confluência e articulação entre comunicadores indígenas de várias regiões, a fim de desenvolver uma agenda indígena comum sobre o tema das comunicações e tornar visíveis as demandas desse setor tanto para o Estado, quanto para o setor privado, sociedade e cooperação internacional.

Francisco Quiroga, por sua vez, representa o Conselho Continental de Anciãos Indígenas, Guias Espirituais da América. Ele é um Guahibo, um povo de San Agustín que vive na área de Huila, Colômbia, e um dançarino do Sol da tribo Lakota em Pipe Stone, Dakota do Sul, desde 2000.