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Arquivos Cultura Viva 20 Anos - IberCultura Viva

14

jul
2024

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Por IberCultura

20 Anos de Cultura Viva: um ato de celebração da “história vitoriosa” da política nacional de base comunitária

Em 14, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Fotos: Amanda Tropicana/MinC)

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Depois de três dias de reflexões, diálogos, debates e rodas de saberes – e tambores, cantos e danças e amorosidades –, o Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos chegou ao fim com um cortejo e um ato de celebração em Salvador (Bahia), no sábado 6 de julho. Participaram do encerramento a ministra da Cultura, Margareth Menezes; o ex-ministro Juca Ferreira; a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura e presidenta do IberCultura Viva, Márcia Rollemberg, entre outras autoridades, gestores/as, pesquisadores/as, mestres/as e fazedores/as de cultura de todas as regiões do Brasil.

No palco da Casa Rosa, além de citar algumas pessoas que contribuíram para a construção “dessa história vitoriosa que é a política de Cultura Viva”, a ministra lembrou as Bases de Apoio Cultural, que acabaram sendo uma semente para a construção e implementação da política Cultura Viva. Mandou, também, um abraço a todos os Pontos e Pontões de Cultura, “que são protagonistas e potencializadores das expressões e manifestações culturais, da memória, da identidade cultural do Brasil, a partir dos territórios”.

“Como chamas acesas em nosso país, ponteiros e ponteiras representam a pluralidade da nossa diversidade cultural em todas as mais diversas expressões e manifestações e pensares culturais, nas periferias, nas favelas, nas comunidades indígenas, nos quilombos, nas comunidades tradicionais, nas comunidades ribeirinhas, nas florestas, no campo, nas cidades. Cultura digital, cultura tradicional, cultura popular, cultura contemporânea, das juventudes, das infâncias, dos idosos. São espelhos da potencialidade cultural brasileira”, complementou.

Margareth Menezes também destacou que a Política Nacional Cultura Viva é resultado de um longo processo de escuta, de diálogo, de debate, envolvendo a sociedade civil, Pontos de Cultura, parlamentares, gestores municipais e estaduais e universidades. “É uma política construída por muitas pessoas. É um legado do povo brasileiro. A Cultura Viva materializa a conexão entre cultura, educação, desenvolvimento, inclusão social, cidadania, como política de cultura abrangente e descentralizada, em rede e em diálogo, junto com as comunidades, com os territórios, com todo o Brasil”.

Segundo ela, ao longo desses 20 anos, a política Cultura Viva demonstrou “a resiliência das pessoas, a força do fazer cultural de base comunitária, como ferramenta de transformação social, inclusão, e geradora também de emprego e renda”. “De maneira significativa, esta política parte da necessidade de construção de um mundo mais justo, mais igualitário, guiado por valores democráticos e justiça social. (…) “Como disse um dia Gilberto Gil, se a partir de um ponto a gente pode refazer o mundo, a partir de muitos pontos reunidos, fortes e visíveis, presentes, ativos, vamos desenhar muitas linhas para mudar as coisas e derrotar os preconceitos”.

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Uma ideia que surgiu numa conversa informal

Juca Ferreira, que em 2004, ano de lançamento do Cultura Viva, era secretário-executivo do ministro Gilberto Gil, contou que a ideia do programa nasceu nos primeiros meses do governo Lula. Segundo ele, depois de assumir o Ministério da Cultura em janeiro de 2003, Gil criou uma rotina com sua equipe: todos os dias, em torno das 18h, havia uma conversa informal na sala do ministro. Nessa roda, sem ordem pré-estabelecida, as pessoas que tinham saído para fazer suas tarefas contavam o que tinham visto, as ideias que haviam tido, as ideias que alguém havia sugerido. “Foi um dos momentos mais ricos do Ministério da Cultura”, lembrou Ferreira, que assumiria a Pasta em 2008.

Numa dessas conversas, Gil disse que por todo lugar onde andava era procurado por mestres da cultura popular. Uma turma que até então não era lá muito considerada no Ministério da Cultura, sempre cheio de confetes para a “arte consagrada”, para a elite brasileira. E ele foi logo perguntando aos gestores e gestoras: o que fazer com isso? “Essa provocação de Gil gerou uma conversa animadíssima. Todo mundo que estava ali tinha contato com grupos de capoeira, cineclubes, grupos de arte urbana, maracatus, era uma quantidade enorme. Aí, depois de muita conversa, ele me disse: ‘Juca, tome conta disso’”. Pesquisando aqui e ali, o então secretário-executivo chegou ao nome de Célio Turino para conduzir esse projeto, à altura da grandeza que queriam que tivesse. 

As dificuldades, no entanto, foram muitas, “imensas”. Inclusive porque o Estado, segundo ele, muitas vezes não está organizado para prestar serviços, mesmo quando tem a intenção de fazê-lo. “É preciso revolucionar o Estado brasileiro, colocá-lo a serviço do conjunto da sociedade. É preciso interromper essa continuidade da escravidão, do colonialismo. Somos uma das sociedades mais diversas e ricas culturalmente do mundo. A riqueza cultural da América Latina é gigantesca”, ressaltou.

Para Juca Ferreira, uma sociedade precisa de uma base cultural diversa, capaz de representar o conjunto da população. “O Brasil é uma Babilônia em termos de reunião de povos de todo lugar do mundo. Isso não é um problema, isso é uma riqueza. E os Pontos de Cultura são as expressões dessa rica diversidade cultural que nós temos. É preciso fortalecê-la, incentivá-la, valorizar os mestres, valorizar esses grupos culturais. Não existe coesão nacional de nenhum povo se a cultura não une. A cultura está acima da política nesse aspecto. O gaúcho, o mato-grossense, o baiano, o carioca, o paulista, o mineiro, o paraense tem que desenvolver o sentimento de pertencimento a uma mesma nação e saber que nós somos diferentes, mas aí é que está a nossa riqueza.”


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Uma política com quatro dimensões

Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, ressaltou que essa política tem quatro dimensões importantes: sua poética, sua estética, sua métrica e sua ética. Segundo ela, a poética vem do conceito do “do-in antropológico” lançado por Gilberto Gil, quando reconhece a relevância de incluir “os pontos de cultura” no fomento cultural. A métrica (“que agora tem que ter o tamanho do Brasil”) vem com a ministra Margareth Menezes, neste momento de “maioridade” e investimento histórico. A dimensão estética, por sua vez, garante a gestão compartilhada e participativa, da sociedade civil e do poder público. Já a dimensão da ética tem a ver com o seu propósito, de impactar de forma positiva a vida das pessoas e de suas comunidades.

“Cultura Viva é o exercício do amor, como diz Cris Alves. Cultura Viva são as culturas indígenas, as culturas populares e tradicionais, as culturas de matriz africana, as culturas ciganas, tantas vezes invisibilizadas e ainda necessitando seu lugar, seu espaço. E esse Brasil precisando compreender a sua história, a sua afro-latinidade, a sua essência como país, para poder andar para frente, mirar o futuro e construir um país menos desigual, com menos violência, com uma juventude viva. Cultura viva, sociedade viva”, completou a secretária.

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Um evento com quatro eixos estruturantes

O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, foi uma das entidades organizadoras deste encontro, que teve como base quatro eixos estruturantes: Memória, Reflexão, Futuro e Celebração. Buscando dialogar com elementos do passado para refletir sobre o presente e seguir tecendo o futuro, o evento procurou dar aos mestres e mestras das culturas populares e tradicionais um lugar de destaque em todas as atividades realizadas. A programação foi feita em conjunto com a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC) e o Consórcio Universitário Cultura Viva.

Formado para a realização do projeto “20 anos de Cultura Viva: pesquisa e formação”, que será desenvolvido ao longo de dois anos e meio, o Consórcio integra estudantes de graduação e de pós-graduação, professores/as e pesquisadores/as de três universidades: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Paraná (UFPR). A ideia do grupo é contribuir para a reformulação conceitual e institucional da ação governamental da Política Nacional Cultura Viva. 

“A gente queria muito deixar esse gesto de como é importante que o poder público olhe para a universidade como um parceiro. Um parceiro que pode ajudar a implementar a política pública, pode ajudar na conexão entre o saber acadêmico e o saber tradicional e comunitário”, comentou Guilherme Varela, professor da UFBA.

“Aprendemos com essa rede a repensar a troca, a prática tradicional, a prática comunitária, mas ainda precisamos aprender muito mais. E aqui nos colocamos, consorciadamente, a serviço da sociedade, das comunidades, para que a gente consiga dar toda a potência que essa política merece”, completou Deborah Rebello Lima, representante da UFPR no Consórcio Universitário.

Em nome da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, Marcelo das Histórias abriu o ato de celebração lembrando que “a cultura nasceu irmanada, germinada com a natureza” e que tem o poder de gerar a dominação ou libertação dos povos. “Ponteiros e ponteiras, numa trajetória de 20 anos, reconectando e ressignificando cultura e natureza, chegaram a vários países da América Latina. E quando a pandemia chegou, os Pontos de Cultura seguraram o rojão com a (Lei de) Emergência Cultural. Depois a gente construiu, junto com o Congresso Nacional, a Lei Paulo Gustavo, a Política Nacional Aldir Blanc. Agora que fazemos 20 anos, temos um grande desafio no pensar, no sentir, no agir. Que cada um de nós carregue no coração, na mente e no corpo, a alegria e o amor que a Cultura Viva tem e proporciona.”

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Confira o vídeo da transmissão do ato de encerramento no canal do MinC no YouTube:

https://www.youtube.com/live/MLpBmf7-2Z4?si=ejrIgLvTohuvh8ns

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Leia também:

Cultura Viva 20 anos: memória, reflexão, futuro e celebração. (Caderno digital elaborado pelo Consórcio Universitário Cultura Viva)

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07

jul
2024

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Cortejo marca celebração dos 20 anos da Cultura Viva no Brasil

Em 07, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Texto: MinC/ Fotos: Amanda Tropicana)

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Ao som de tambores, afoxés e outras expressões artísticas, um cortejo seguiu neste sábado (06/07) pela orla do bairro do Rio Vermelho, em Salvador, para marcar os 20 anos da Política Nacional Cultura Viva (PNCV), com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes. A caminhada teve início na Casa de Yemanjá e seguiu até a Casa Rosa, onde o ato celebrativo reuniu cerca de 250 pessoas, entre parlamentares, autoridades, mestres/as, gestores/as e fazedores/as de cultura de todas as regiões do país.

“É uma política construída por muitas pessoas. A Cultura Viva materializa a conexão entre cultura, educação, desenvolvimento, inclusão social, cidadania como política de cultura abrangente e descentralizada, em rede, em diálogo e escuta com as comunidades, com os territórios e com o povo brasileiro”, afirmou a ministra.

Segundo ela, ao longo das duas últimas décadas, a PNCV tem demonstrado a resiliência das pessoas e a força do fazer cultural de base comunitária como ferramenta de transformação social, de inclusão e geração de renda e emprego. “Quero deixar um abraço a todos os Pontões e Pontos de Cultura, que são os protagonistas e potencializadores das expressões e manifestações culturais, da memória e da identidade cultural do Brasil”, parabenizou.

Ela citou ainda a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), que vai irrigar o Brasil por cinco anos, até 2027, com um investimento recorde, que beneficiará, inclusive, os mais de 5.900 Pontos de Cultura espalhados pelo país. A PNCV receberá anualmente R$ 388 milhões da PNAB. O recurso será destinado pelo MinC a estados e municípios para investirem em seus territórios. Mas é preciso, segundo a ministra, que a sociedade civil se aproprie da política e acompanhe a execução do investimento.



Presente na celebração, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira também ressaltou que os Pontos de Cultura são a representação da diversidade brasileira. “O Brasil é uma babilônia interna de tudo, a reunião de povos de todo o mundo. Os Pontos de Cultura são as expressões dessa rica diversidade cultural que nós temos. É preciso fortalecê-la, incentivá-la, valorizá-la. Não existe coesão nacional de nenhum povo sem a cultura no mundo. A cultura está acima da política nesse aspecto. O gaúcho, o baiano, o paulista, o paraense têm que desenvolver um sentimento de pertencimento a uma mesma nação e saber que nós somos diferentes, nós somos desiguais, mas aí está a nossa riqueza”, explicou.

Para Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, a PNCV pode contribuir para o desenvolvimento do Brasil e o reconhecimento de sua identidade. “Cultura Viva são as culturas indígenas, as culturas populares e tradicionais, as culturas ciganas, as culturas de matriz africana tantas vezes invisibilizadas e que ainda necessitam do seu espaço. E esse Brasil precisando compreender a sua história, a sua essência como país para poder andar para frente, mirar o futuro e construir um país menos desigual e com menos violência”, completou.

O ato deste sábado contou também com uma programação artística, com a cantora Márcia Castro, os afoxés Filhos de Gandhi e Filhos do Congo, Bankoma, Charanga da Cultura Viva, Mãe Beth de Oxum, Ponto de Cultura Mestre Didi, Tambores de Maracás, Tambores do Tocantins, Treme Terra Esculturas Sonoras e Zambiapunga.

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Diálogo

Antes do cortejo, a ministra se reuniu com membros da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC). Das mãos de ponteiros e mestres, recebeu uma carta com sugestões de ações estratégicas para fortalecer a PNCV nos próximos 20 anos. Entre as demandas estão a institucionalização do Movimento Nacional Cultura Viva, a capacitação dos agentes culturais, a simplificação dos processos para acessar os recursos federais e a realização da Teia Nacional Cultura Viva e V Fórum Nacional Cultura Viva.

 

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Encontro

O ato celebrativo fez parte do Encontro Nacional Cultura Viva 20 anos, realizado entre os dias 3 e 6 de julho, com uma programação de debates sobre os avanços, desafios e o futuro da PNCV, além da capacitações da rede. O evento foi organizado pelo MinC e pelo consórcio formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC) e o apoio do Governo do Estado da Bahia, da Prefeitura de Salvador, da Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade Federal da Bahia (Proext) e da Casa Rosa.

 

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05

jul
2024

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IberCultura Viva é tema de duas mesas do Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos, em Salvador

Em 05, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Fotos: Amanda Tropicana/MinC)

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O terceiro dia do Encontro Nacional Cultura Viva 20 anos foi também o dia do IberCultura Viva nas duas mesas da programação na Casa Rosa, em Salvador. A primeira, “Políticas de base comunitária na cultura: rumos da Rede Cultura Viva e os desafios de fortalecimento da Política Nacional de Cultura Viva”, contou com a participação de Ana María Elosúa, profissional do Ministerio de las Culturas, las Artes y el Patrimonio do Chile, que veio a Bahia representando a vice-presidência do IberCultura Viva.

Na segunda, “O futuro e as novas fronteiras do Cultura Viva”, quem falou sobre o programa foi Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura e presidenta do Conselho Intergovernamental do IberCultura Viva.   Márcia foi a primeira presidenta do programa, há 10 anos, e está de volta ao cargo desde março deste ano.

Ana Elosúa fez uma apresentação do programa IberCultura Viva (o que é, como funciona, valores, principais convocatórias, etc) e também do programa Puntos de Cultura Comunitaria, lançado no Chile em 2022. Contou que o processo de participação começou em 2014, quando se lançou o programa IberCultura Viva, e Chile foi um dos primeiros países a aderir.

Em 2015, por meio do programa Red Cultura, o governo chileno apresentou um fundo de iniciativas culturais comunitárias que apoia o fortalecimento da participação nas comunidades, gerando mesas de trabalho, encontros, pesquisas, etc. Em 2022, vieram os instrumentos formais, decretos, resoluções, para criar o programa de Puntos de Cultura no Chile. “Foi um rito histórico, um rito muito importante, tanto para o ministério como para as comunidades”, comentou.

Em 2023, primeiro ano de implementação do programa no Chile, 538 organizações quiseram ser parte do registro nacional e 294 foram reconhecidas como Puntos de Cultura Comunitaria pelo Ministerio de las Culturas, las Artes y el Patrimonio. Desse total, 223 receberam financiamento para seus planos de fortalecimento e articulação. Em 2024, 506 solicitaram a inscrição no programa e estão em processo de avaliação e validação. O programa espera contar com cerca de 170 novos Puntos de Cultura Comunitaria este ano. 

Outro ponto importante que ela destacou foi o forte trabalho que vem sendo desenvolvido com o consórcio de universidades públicas do Chile, em várias regiões do país, onde estão desenvolvendo assessorias técnicas para colaborar com prestação de contas, âmbitos jurídicos, para apoiar as organizações nos processos formais e no vínculo com o MInisterio de las Culturas da maneira mais simples e colaborativa possível.

“Se olharmos o caminho percorrido, nos detemos no presente, refletimos em conjunto sobre o que fizemos e olhamos para o futuro. Podemos dizer que os países que  compõem o espaço Iber desenvolveram um compromisso, compenetrado e sem volta atrás, com a resistência dos territórios, com respeito pela Mãe Terra e todos os seus habitantes, com um profundo sentido de transformação social através da cultura e das artes, a liberdade de expressão, a igualdade e a inclusão, honrando a nossa herança cultural. Assim, convido vocês a não nos soltarmos, porque esse caminho se faz entre todos”, afirmou.

Vídeo exibido durante a apresentação de Ana Elosúa:

Na mesa da tarde,  “O futuro e as novas fronteiras do Cultura Viva”, Márcia Rollemberg destacou que a Política Nacional Cultura Viva é também uma política ancestral, por ter raízes em outras políticas, e falou da importância do Ibercultura Viva, como “uma das ações mais efetivas de impulsionamento dessa política de base comunitária na América Latina”. Nos 13 países que o integram (incluindo a República Dominicana, que está como país convidado em 2024), segundo a secretária, “há um sentido muito forte de que não somente o destino nos une, mas também o passado e esse reconhecimento da nossa história, das nossas tradições comuns, da nossa afro-latinidade, da nossa ocupação indígena, nos territórios que não tinham fronteiras, como têm hoje”.

Para ela, o IberCultura Viva traz para o Brasil a ideia de se ver como região, como América Latina, para ter essa força ampliada. “O Brasil tem um papel estratégico na América Latina, mas ele tem que estar incorporado a essa irmandade, ao sentimento da importância de dar as mãos. O IberCultura Viva nos deu as mãos quando estávamos em tempos sombrios, e agora a gente dá as mãos aos países que passam pelos percalços.”

Márcia Rollemberg comentou, ainda, uma fala do mestre Wertemberg Nunes (Comissão Nacional de Pontos de Cultura) sobre a importância de saber sensibilizar aqueles que não nos compreendem. “Este é um grande desafio no futuro: como a gente fura as bolhas, como a gente fala para os outros, não só para nós, como é que a gente sensibiliza corações”, afirmou. 

“E aí eu acho que a arte tem um grande papel”, assinalou. “A arte é a pedagogia da alma, como dizia Lygia Pape. A arte nos faz ampliar o sensorial, ampliar a capacidade sensível, que nos faz humanidade, que nos faz humano, porque somos animais. Nossa dimensão humana é nossa dimensão cultural. Daí a importância de dar significado ao que fazemos, dar significado aos nossos dias, porque não estamos aqui em vão. Estamos aqui para uma missão. Eu acredito muito nisso, isso nos move”.

IberCultura Viva na Bahia: Flor Minici, Ana María Elosúa, Márcia Rollemberg, Teresa Albuquerque e Diego Benhabib

 

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05

jul
2024

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Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos: um dia dedicado à memória (e à resistência)

Em 05, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Fotos: Amanda Tropicana/MinC)
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O Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos, que começou ontem em Salvador e segue até sábado, tem como base quatro eixos estruturantes: Memória, Reflexão, Futuro e Celebração. A primeira mesa desta quinta-feira (04/07), “Cultura Viva 20 anos: do do-in antropológico à política nacional e latino-americana”, foi dedicada ao primeiro desses eixos: a memória. 

No palco da Casa Rosa, Célio Turino (Instituto Casa Comum), Davy Alexandrinsky (Comissão Nacional de Pontos de Cultura – CNPdC), João Pontes (Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura – SCDC/MinC), Lia Calabre (Fundação Casa de Rui Barbosa/MinC) e Zulu Araújo (Universidade Federal da Bahia – UFBA). A mediação ficou a cargo de Luana Vilutis (Consórcio Universitário/UFBA).

Célio Turino começou sua apresentação lembrando como as ideias de Paulo Freire inspiraram a Cultura Viva e tirando o chapéu para a plateia, numa reverência a todos os ponteiros e ponteiras, gestores e gestoras que – apesar dos pesares – seguiram com esta política pública “que se mantém pela força das ideias, do compromisso e do encantamento social”. 

“Pessoas passaram por processos, por desrespeitos ao longo de anos, e ainda assim iam lá e abriam a porta do Ponto de Cultura de qualquer maneira. Com o Estado, contra o Estado, apesar do Estado, estavam lá, se mantendo. Esse é o maior legado da Cultura Viva”, afirmou o ex-secretário de Cidadania Cultural do MinC (2004-2010), um dos idealizadores do programa Cultura Viva, que tendo como base de apoio os Pontos de Cultura, estabeleceu novos parâmetros de gestão e democracia, aplicando conceitos como “Estado-rede” (Manuel Castells) e “Estado ampliado” (Antonio Gramsci).

Segundo Turino, o conceito de Estado é muito significativo para a Cultura Viva. “No primeiro texto, isso já estava escrito, que era necessário um Estado ampliado, moldado à imagem do povo. Hoje acrescento mais um conceito, que é o Estado ampliado e ‘obedencial’. O povo manda, o Estado obedece. Porque é o Estado que tem que se adequar à sociedade”, afirmou, somando também o conceito da gestão compartilhada e transformadora, “porque o que se faz a partir das potências da comunidade é buscar a transformação da sociedade. É buscar a revolução”. 

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O aprendizado da incompletude

Davy Alexandrisky, o segundo a tomar a palavra na mesa, lembrou a organização das Teias, a magia dos primeiros encontros, e o fórum para a criação da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, a “loucura” que foi criar uma comissão com 60 pessoas de todos os estados do Brasil, e como o então secretário de Cidadania Cultural do MinC, Célio Turino, bancou essa ideia, porque achava importante a gestão compartilhada. 

“Este programa foi uma decisão mais política do que burocrática. Ele feria todos os princípios das atividades-meio, e a gente embarcou nesta nave. Era uma nave que podia rodar pelas estradas, mas você tinha que trocar pneu com ela andando. Que podia alçar altos voos, mas você tinha que terminar de fazer a asa com ela voando, ou podia dar mergulhos profundos e você tinha que estar parafusando a escotilha. Era assim, mas era feita com muito esmero, porque esse inacabamento era um aprendizado do Paulo Freire, a incompletude era isso, era algo que precisava ser daquela maneira”, comentou o fotógrafo de Niterói, do Ponto de Cultura Campus Avançado.

Davy terminou sua intervenção citando trechos do discurso de posse de Gilberto Gil como ministro da Cultura, lido em 2 de janeiro de 2003 e sempre lembrado, principalmente pela menção ao “do-in antropológico”, que aparece no nome da mesa realizada nesta quinta-feira. Como destacou o representante da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, Gil dizia que o Ministério da Cultura não podia ser apenas “uma caixa de repasse de verbas para uma clientela preferencial” e que não cabia ao Estado fazer cultura, “a não ser num sentido muito específico e inevitável: no sentido de que formular políticas públicas para a cultura é, também, produzir cultura”. 

Ao ouvir a citação do “do-in antropológico” que massageia pontos vitais do corpo cultural do país, “para avivar o velho e atiçar o novo”, a pesquisadora Luana Vilutis lembrou também o ponteiro Franklin, de Minas Gerais, que fala da expansão da noção do do-in para o cafuné. “É com essa amorosidade, essa solidariedade, no sentido da alteridade, que está na gênese da Cultura Viva, que a gente precisa mais do que nunca se nutrir, se inspirar. Neste tempo de guerra cultural, de disputas de extrema violência, viver é resistência. É por meio desse cafuné, dessa generosidade, que a gente vai conseguir combater o fascismo e manter a Cultura Viva como ela é, sempre foi e precisa continuar sendo: pulsante”, ressaltou a mediadora. 

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“Juntos somos muito mais”

Dialogando com a fala inicial de Célio Turino, a pesquisadora Lia Calabre destacou que os Pontos de Cultura são ideias, compromissos e resistência social. “Ideias criativas, ideias múltiplas, ideias diversas que permitem, que transparecem, que pautam, que dão o ritmo das dinâmicas locais. É nos territórios onde a potência efetivamente acontece”, disse a diretora do Setor de Estudos de Políticas Culturais da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). 

Segundo Lia, a territorialização do programa trouxe muitos problemas a princípio, dificuldades, desafios, mas foi o que permitiu que o programa continuasse a existir. “Passamos por um momento de guerra cultural, um cabo de guerra em que a gente ficou o tempo inteiro se defendendo daquilo que explodia contra nós. Havia a ideia de que fazíamos ‘marxismo cultural’, que deveríamos retornar o fomento da cultura com ‘C maiúsculo’. Mas quanto mais a gente está no território, mais as pessoas enxergam que aquilo que elas fazem é a cultura, e não tem esse maiúsculo ou minúsculo”. 

Para ela, cada vez mais o conjunto dos cidadãos precisa se apropriar do conceito de democracia e cidadania cultural: “Todos têm direito à cultura: o direito a assistir, a fazer, a se envolver, a se profissionalizar, o direito que queira ter. Quanto mais a gente conseguir nos territórios que as pessoas se apropriem de seus direitos, mais a gente evita que ações como tivemos, de desmontes de políticas, aconteçam na mesma intensidade. Quanto mais as pessoas se apropriam dos direitos, elas serão mais resistência. Isolados nos nossos territórios individualizados, somos menos. Juntos, somos muito mais”. 

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De volta ao passado para pensar no futuro

Emocionado por estar neste encontro, nesta mesa dedicada à memória, João Pontes lembrou que a Comissão Nacional de Pontos de Cultura estava reunida na cidade de Salvador em 2016, ano em que Dilma Rousseff deixou a presidência da República e o Ministério da Cultura quase foi extinto (o que realmente aconteceria dois anos depois). “Foi a Bahia que nos acolheu, para pensar no futuro. Mas naquele momento era um futuro de medo, de indignação, de percepção da necessidade de resistência, de solidariedade. Eu estava aqui, lembro das pessoas chorando, se afastando. Pois estamos aqui, companheiros e companheiras. Resistimos, lutamos, reconquistamos e vamos avançar muito mais”.

Segundo o diretor da Política Nacional Cultura Viva, é a pressão popular, é a luta política que faz acontecer os processos da política pública. “Que bom que houve pessoas importantes, que tiveram sensibilidade e produção intelectual, mas, acima de tudo, a luta política é feita pelo povo, pelo movimento social organizado. Se a gente está celebrando 20 anos de Cultura Viva, é porque teve quem lutou, quem reivindicou”, afirmou Pontes, ressaltando o papel do povo da capoeira da Bahia nesse lugar de cobrança e luta. E também a participação dos três baianos que foram ministros da Cultura e apoiaram fortemente essa política pública de base comunitária: Gilberto Gil, Juca Ferreira e Margareth Menezes.  “A Cultura Viva deve muito ao povo da Bahia”.

Para João Pontes, no entanto, “por mais que tenha tido um avanço programático, institucional, extremamente rico e potente com a experiência do Ministério da Cultura, com a criação do Cultura Viva, talvez a gente não tenha tido a centralidade necessária, naquele momento histórico, para a dimensão do simbólico, da disputa de valores que o Brasil precisava, e agora precisa mais ainda do que nunca”. 

Os recursos trazidos pela Lei Paulo Gustavo (LPG) e pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), segundo ele, são marcos de um novo tempo dessa política. “É uma oportunidade histórica construída por nós na luta e que nos dá uma estrutura institucional, e também uma infraestrutura, capazes de dar suporte e intensificação da luta popular, da luta social no Brasil a partir do Cultura Viva, a partir das várias experiências que a gente tem desenvolvido”.

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O resgate da ancestralidade

O baiano Zulu Araújo, pesquisador e militante do movimento negro, ex-presidente da Fundação Palmares e ex-diretor do Grupo Olodum, começou sua intervenção citando Achille Mbembe, filósofo, cientista político e historiador da República dos Camarões. Zulu destacou um trecho de “A Era do Humanismo”, em que o autor diz que outro longo e mortal jogo começou. “O principal choque da primeira metade do século XXI não será entre religiões ou civilizações. Será entre a democracia liberal e o capitalismo neoliberal, entre o governo das finanças e o governo do povo, entre o humanismo e o niilismo”, escreve Achille Mbembe. Mais adiante, ele diz que as desigualdades continuarão a crescer em todo o mundo.

Neste contexto, o pesquisador da UFBA diz que a nossa memória de hoje, pensando no passado, está comprometida pelo presente. “O presente que nós vivemos é este. O neoliberalismo é o que comanda hoje o país. Nenhuma política pública, seja ela de que ordem for, terá sucesso no Brasil se antes de qualquer coisa nós não garantirmos o Estado democrático de direito. Não há mágica, não tem sonho que resista ao autoritarismo, à violência, à indignidade que nós vivemos recentemente no nosso país. Nós não estamos isolados do mundo. Os Pontos de Cultura não estão isolados do mundo nem da política brasileira.” 

Para ele, existem duas coisas que unem a América Latina: o colonialismo e a escravidão. “Nessas duas coisas, nós somos as vítimas”, ressaltou, lembrando que no preconceito, no viés atravessado com a população negra, indígena e periférica, também está a gênese do conservadorismo brasileiro. “Fingem que estão nos incluindo, mas continuam pensando e agindo para nos excluir. Hoje, no Brasil, não vai bastar apenas o sonho. O sonho é fundamental para que a gente possa impulsionar a cultura brasileira. Mas a gente vai precisar ter os pés no chão e saber que o nosso sonho estará ancorado na política, no que ela tem de mais essencial, que é a democracia”.

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O vídeo da transmissão desta mesa está disponível no canal do MinC no YouTube: https://www.youtube.com/live/CIMIEhs1G_Y?si=1gK_QwFvsHfg0ZJY

O Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos é uma realização do Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC), do Consórcio Universitário Cultura Viva (UFBA-UFF-UFPR) e da Comissão Nacional de Pontos de Cultura (CNPdC). Conta também com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, da Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador, da Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade Federal da Bahia (PROEXT) e da Casa Rosa.

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03

jul
2024

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Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos começa com roda de encantamento de mestres em Salvador

Em 03, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

 
(Fotos: Amanda Tropicana/MinC)

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Uma roda de encantamento de mestras e mestres de diferentes regiões do Brasil deu início ao Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos, na Casa Rosa, em Salvador (Bahia), nesta quarta-feira, 3 de julho. Cerca de 250 pessoas participaram deste primeiro dia de atividades, que incluiu painéis com grupos de trabalho (GTs) de gestoras e gestores públicos e de representantes dos 42 Pontões de Cultura selecionados no edital lançado em 2023 pelo Ministério da Cultura (MinC) para reativar a Rede Cultura Viva.

Pai Lula Dantas, Mestra Doci dos Anjos, Mestre Alcides de Lima, Mestra Nádia Akawã, Mestre Paulo Ifátide, Mestra Iara Aparecida, Mãe Carmen de Oxalá, Mestra Fatinha do Jongo e Mestra Susana Kaingang foram os/as responsáveis pelas palavras de boas-vindas, as saudações a Iemanjá, as louvações, os cantos e as danças que marcaram o começo do evento, nesta manhã. A programação segue até o próximo sábado (06/07), com atividades de formação, rodas de conversa, mesas de debate e apresentações artísticas.

O baiano Pai Lula, mestre de cerimônias do ato de abertura, estava emocionado por estar ali, podendo “rever, reencontrar, rediscutir, repensar, repactuar, neste momento de renovar nossas esperanças e expectativas”. “Este espaço é nosso, para que possamos construir o início das celebrações dos 20 anos de Cultura Viva e construir um novo momento para a política cultural brasileira”, destacou.

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A baiana-paraibana Mestra Doci lembrou que a criação do programa Cultura Viva, em 2004, foi feita com base em quatro pilares: os Pontos de Cultura, a Ação Griô Nacional, Cultura Digital e Escola Viva. Representante da Comissão Nacional de Griôs e Mestres, ela ajudou a construir a proposição da Lei Griô, um processo que mobilizou 700 mestras e mestres de todas as regiões do Brasil e que considera uma das coisas mais importantes que fez na vida. (O Projeto de Lei nº 1786/2011, que institui a Política Nacional Griô, “para proteção e fomento à transmissão dos saberes e fazeres de tradição oral”, foi recentemente desarquivado.)

“Não gosto de sair de casa, mas por conta desse projeto da Cultura Viva, caminhei o Brasil inteiro. Foi muito importante porque conheci e reconheci minhas irmãs e meus irmãos de alma que estão espalhados pelo Brasil. Uma coisa linda. Foram produzidos muitos materiais e, por fim, nós criamos a Lei Griô. Foi um aprendizado maravilhoso escrever uma lei para nós mesmos, e uma lei que chega dentro das escolas. Infelizmente, não somos políticos e ficamos apensados. Desde lá eu penso sobre isso e tenho colocado minhas pernas mais ágeis para estar lá na frente”, comentou, sobre a esperança de ver esse projeto de lei aprovado no Congresso Nacional.

Neste evento que marca o 20º aniversário do programa Cultura Viva no Brasil (o lançamento foi em 6 de julho de 2004), ela diz que espera poder “honrar este momento de aconchego, de celebração, de encontros e reencontros”, cheia de vida e esperança. “Sejamos esperança, mão segurando na mão. Sejamos mais irmãos. Sejamos pessoas melhores, para nós, e para poder olhar para o outro e ver que a diferença é que é o gostoso”, ensina a mestra fundadora da Escola Viva Olho do Tempo, que há 20 anos trabalha com crianças e adolescentes das comunidades do Vale do Gramame, na área rural de João Pessoa (Paraíba).

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O mineiro-paulista Mestre Alcides lembrou que a celebração é pelos 20 anos de Cultura Viva, mas que este é “um processo de germinação de séculos”. De volta ao tema trazido por Mestra Doci, ele falou da importância de agir, não ficar só na discussão. “A lei dos mestres (Lei Griô) está parada. A gente tem que trazer elementos propositivos, que funcionem; senão a gente vai ficar 100 anos discutindo políticas públicas, os povos de culturas tradicionais, os povos originários. Estou com 77 anos e quero dançar mais 77 anos; para isso é preciso ter política pública, ter garantia de território”, destacou o fundador do Centro de Estudos e Aplicação da Capoeira (Ceaca), de São Paulo, depois de cantar e dançar um ponto de congado de Minas Gerais.

Mestre Alcides chamou a atenção para a necessidade de garantia de território, porque nas culturas tradicionais, os terreiros, os espaços dos congados, dos quilombos, das aldeias, são lugares sagrados. “Estou há 25 anos numa escola e não consigo formar multiplicadores. Porque é um lugar por que todo mundo passa, ninguém fica. Nos terreiros, não. É um lugar sagrado. No meu terreiro, eu posso estar dormindo e estou produzindo, estou pensando”, afirmou.

Pedindo bênção aos mais velhos e aos seus iguais, Fatinha do Jongo, da cidade de Pinheiral (Rio de Janeiro), começou sua intervenção lembrando que conheceu o Cultura Viva por meio de Célia Dupin, de Vassouras. “Ela disse: ‘Fatinha, esse programa é a cara de vocês, é o que vocês fazem’. Por quê? Porque a gente trabalha isso a vida inteira; como o mestre Alcides disse, comunidade tradicional é vivência. A gente vive a nossa cultura, nossas tradições, 24 horas por dia”, destacou a mestra do Jongo de Pinheiral, que desde os anos 80 vem trabalhando a tradição dentro das escolas, levantando a autoestima das crianças pretas.

Para ela, que também integrava a Comissão Nacional de Griôs e Mestres, o trabalho em torno da elaboração da Lei dos Mestres foi de grande enriquecimento, porque lhe deu a oportunidade de conhecer leis de outros estados. “A Ação Griô foi um trabalho com o Brasil todo, com vários povos, várias manifestações. Foi lindo. Tenho muito orgulho de trabalhar nossa cultura afro, e o Cultura Viva é algo que a gente avançou, mas ainda precisa melhorar muito. É preciso ter novas visões, trabalhar as políticas públicas, porque é o que o nosso povo precisa. Quem faz cultura popular, tradicional, está lá na ponta, e os recursos dificilmente chegam lá. É preciso falar a linguagem do povo.”

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Já a Mestra Nádia Akawã Tupinambá destacou a importância dos saberes e fazeres dos povos originários e de dar visibilidade a eles, para que não sigam invisibilizados, despercebidos. “Não precisa do título, eu sou cultura viva. Eu nasci numa aldeia e essa aldeia é um pontão de cultura, ainda que não seja reconhecido como tal. O que é orgânico não precisa ter registro. Somos povos originários. A palavra cultura, ela vem depois de nós”, comentou.

Segundo Nádia, organicamente, todos os povos originários deste país são parte desse movimento, ajudaram a construí-lo. “Mas sinto falta, por exemplo, dos maracás, que não estão aqui”, reclamou a mestra da tradição oral, educadora e condutora de cerimônias com as medicinas da terra. “Precisamos mostrar realmente quem somos, usar os adereços, os artefatos que nos representam. A gente precisa dar nome a quem realmente, de fato, traz as origens, carrega esse movimento, carrega esse movimento cultural nas suas veias, do lugar de onde vem.

Mestre Paulo Ifatide, do Centro Cultural Orúnmilá/ Ponto de Cultura Ilê Lati Ede Dudu (Casa da Cultura Negra), chamou a atenção para a questão da ancestralidade, ao lembrar um vídeo exibido no Encontro Paulista Cultura Viva 20 Anos, em junho, com homenagens a mestres que já partiram, como Mestre Lumumba, Mestre Alceu, Mãe Isabel e Doné Eleonora. “Fiquei imaginando o que seria o Cultura Viva sem mestras e mestres da tradição. Talvez um grupo de tecnicistas discutindo outras coisas, computação, etc”, comentou, recordando também a Teia de Guarulhos, o momento em que o maracatu entrou no teatro e aquilo “pegou fogo”. “Nesse dia eu escrevi: Os europeus civilizaram a África com pólvora. Nós civilizamos o Brasil com nossos tambores.” 

Dizendo estar ali mais para cobrar do que para aplaudir (“é preciso política pública para nosso povo”), Mestre Paulo ressaltou que, durante séculos, a cultura foi colocada como “algo menor” neste país, e que esses 20 anos do Cultura Viva devem muito aos mestres e mestras. “Duvido que alguém aqui, um dos mestres e mestras, parou um dia de fazer suas coisas nesses anos sombrios que nós passamos sem apoio nenhum. Porque nós somos isso. Como eu já disse, meus antepassados dormem na minha língua, formam minhas palavras, pensamento que não pensei, me acompanham e me sustentam. É a minha cultura.”

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Mestra Iara Aparecida, da cidade de Uberlândia (Minas Gerais), se apresentou como filha da Mãe Preta, mulher que acolhe muita gente em seu terreiro, seu lugar sagrado, e que ela um dia gostaria de levar a um desses encontros, inclusive para falar dos antepassados, algo que lhes orgulha muito. Antes de cantar um ponto de congado, ela chamou ao palco algumas pessoas que ajudaram a fazer essa história: Damiana Campos, João Pontes, Leandro Anton, Marcelo das Histórias, Aderbal Ashogun, Márcia Rollemberg, Tião Soares. A eles, dirigiu um só verbo: resistir. 

“Nesses 20 anos de Cultura Viva, o que mais a gente fez foi resistir. Se estamos aqui hoje, foi porque resistimos a todos os atropelos que tivemos que passar. Fizemos uma marcha para que a Lei Cultura Viva fosse implementada como Plano Nacional de Cultura Viva, e isso acontece agora. Se falo de oralidade e memória, a gente não pode esquecer desses momentos importantes. Não temos dinheiro para ir? Vamos a pé, de carona. mas vamos”, disse a mestre mineira, madrinha do Ponto de Cultura Moçambique Estrela Guia.

Mestra Susana Kaingáng falou um pouco de seu povo, o terceiro maior povo indígena do Brasil (o país conta com 305 povos originários), e do Ponto de Cultura Kaingáng Jãre (significa “Raiz Kaingáng”), criado há 18 anos no município de Ronda Alta, no Rio Grande do Sul. Primeiro Ponto de Cultura situado em uma terra indígena a receber o reconhecimento do Ministério da Cultura, esta organização promove ações de valorização da cultura e conhecimentos tradicionais com os Kanhgág Kófa (ou anciãos Kaingáng), trabalhando em parceria com escolas e universidades.

“Nossa Raiz Kaingang está centrada no saber dos nossos velhos. Trazer a memória dos nossos ancestrais é muito importante para nós, povos indígenas, porque se a história é escrita aos olhos do colonizador, nós também temos que escrevê-la através dos nossos olhos, através da tradição oral, sentando com nossos velhos. São eles que nos ensinam, são eles que trazem a sabedoria dos nossos povos, nossa tecnologia, nossa ciência”, contou Mestra Susana.

Encerrando a roda, Mãe Carmen de Oxalá disse que é hora de dar início a um novo momento de fortalecimento da Política Nacional de Cultura Viva, por meio da palavra. “Que a gente consiga desenvolver o bom ebó da compreensão através da fala. Porque é conversando que a gente se entende, é conversando que a gente vai construindo caminhos.  Foi dessa forma, conversando, que houve a resistência do povo do batuque do sul. Tem horas que a fala fica mais apimentada, outras com um pouco de mel, mas a gente continua conversando”, disse a mestra gaúcha, representante do primeiro terreiro a ser reconhecido como Ponto de Cultura pelo MinC e do primeiro Pontão de Cultura de Matriz Africana no Estado do Rio Grande do Sul: a Associação Beneficente Cultural Africana Templo de Yemanjá (Assobecaty).

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O Encontro Nacional Cultura Viva 20 anos, que se realiza entre os dias 3 e 6 de julho na Casa Rosa, em Salvador, foi organizado pelo Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC/MinC), e pelo Consórcio Universitário Cultura Viva, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC).

A iniciativa teve o apoio do Governo do Estado da Bahia, da Prefeitura de Salvador, da Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade Federal da Bahia (Proext) e da Casa Rosa.

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Aqui o video da transmissão desta mesa no canal do MinC no YouTube: https://www.youtube.com/live/U4B4df9ZZKA?si=SAt57mQ6f3yzyv8a

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