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Arquivos Cultura Viva - IberCultura Viva

28

set
2024

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IberCultura Viva participa do 10º Encontro Cultura e Cidadania, na Espanha: olhar o passado para imaginar futuros

Em 28, set 2024 | Em Congressos, Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Foto: Casteleiro)

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Em Santiago de Compostela (Galícia), de 24 a 26 de setembro, realizou-se a décima edição do Encontro Cultura e Cidadania, promovido pelo Ministério da Cultura de Espanha. Foram três dias de debates, apresentações de projetos, visitas e atividades culturais em que as pessoas participantes (cerca de 600) puderam olhar para trás e refletir sobre as aprendizagens e os desafios que enfrentaram nesta década. 

Neste décimo aniversário que permitiu olhar para o passado e imaginar futuros atravessados ​​pela cultura, Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (MinC) e presidenta do IberCultura Viva, também lembrou os 10 anos deste programa de cooperação e os 20 anos do Cultura Viva no Brasil, usando a metáfora do arco que os povos indígenas nos ensinam. “Esse momento de resgate da história nos leva a pensar que o futuro é igual a uma flecha. Quanto mais puxamos para trás, mais longe podemos nos projetar para frente”, disse ela ao final de sua apresentação.

A presidenta do IberCultura Viva participou de uma das mesas do primeiro dia do encontro, “Abrir e ampliar o marco institucional: Políticas culturais para fortalecer as democracias vivas”, na terça-feira, 24 de setembro. Ela abriu sua intervenção explicando que apresentaria a experiência de Cultura Viva no Brasil, iniciada em 2004 com o então ministro Gilberto Gil, que propôs “um novo paradigma ao trazer pessoas das periferias, das culturas indígenas, da cultura de base africana como pessoas importantes para a cultura nacional”. 

O DNA dessa política desde o início é o de reconhecer que quem faz a cultura é a sociedade e que é preciso a participação social para que tenhamos uma política verdadeiramente pública. Agora, com o presidente Lula, a participação social e a diversidade são uma matriz em todos os ministérios. Todos têm uma assessoria que prima pela estruturação da participação social e pela diversidade nas políticas públicas”, destacou.

Além de ações afirmativas que incluem pessoas negras, indígenas, com deficiência e toda a diversidade, com bonificações e convocatórias específicas, Márcia Rollemberg explicou que a estratégia de gestão do Ministério da Cultura conta hoje com um novo marco regulatório, a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), que descentraliza os recursos da União para que os estados, o Distrito Federal e os municípios promovam projetos culturais em seus territórios. 

A Política Nacional Cultura Viva (PNCV), estabelecida como a política de base comunitária do Sistema Nacional de Cultura, também está sendo implementada com financiamento da PNAB. “Hoje há mais de 6.000 Pontos e Pontões de Cultura, em cerca de 1.600 municípios brasileiros. Estamos ampliando (o alcance para os territórios) em parceria com estados e municípios que recebem recursos para financiar essa política, que promove a diversidade, a democracia, reconhecendo o poder das atividades culturais de grupos, coletivos, comunidades, instituições, com ou sem pessoa jurídica, e também os mestres e mestras, guardiões do património imaterial”, destacou.

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Rollemberg lembrou que os Pontos de Cultura são grupos culturais da sociedade, grupos tradicionais que já existem, como pequenas orquestras, grupos de teatro, de capoeira, de diversas expressões do Brasil. E que, como disse Gilberto Gil, “são ativos; não são carentes, são potentes; não são vulneráveis, são vulnerabilizados”. “Esta mudança de paradigma é muito importante”, afirmou, destacando também a relevância das medidas tomadas “para a reparação e superação das desigualdades historicamente acumuladas que estruturam a sociedade.”

“Cultura Viva é uma política de reparação, de resistência, que reconhece toda uma matriz que compõe o Brasil e que sempre foi muito invisibilizada, embora muito presente na cultura brasileira. É uma política que procura reconhecer as nossas origens, reconhecer que somos formados por povos originários que já estavam lá no território quando vieram os portugueses, com pessoas escravizadas e depois também vários grupos de migrantes. O Brasil tem o maior grupo de diásporas do mundo. Tem uma grande população árabe, japonesa, italiana e europeia. É um país muito mesclado, muito mestiço, então há que se reparar”, defendeu.

Além do trabalho para reduzir as desigualdades (econômicas, de gênero, raciais, sexuais, entre outras opressões) e combater a violência, ela mencionou algumas das ações de formação cultural, de promoção de acessibilidade, e o trabalho com Pontões da Cultura sobre temas como culturas indígenas, comunidades tradicionais de origem africana, culturas populares, patrimônio e memória, entre outros. 

“Há uma tentativa de criar um amálgama, porque patrimônio e memória, audiovisual, livro e leitura, tudo se integra a partir da Cultura Viva. Cultura digital, territórios rurais e cultura alimentar, territórios fronteiriços, integração latino-americana… O programa Cultura Viva inspirou outros países e hoje não é apenas uma política de Estado. Há um movimento latino-americano da sociedade que dele fazem redes, trabalhos, e ocupam os espaços de democracia”, complementou. 

A secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC também destacou algumas estratégias de participação que são desenvolvidas no Brasil, como a Comissão Nacional de Pontos de Cultura (CNPdC), com quem o Ministério da Cultura discute, dialoga e propõe ações conjuntas. Uma das mais importantes que está por vir será a Teia, a conferência nacional de Pontos e Pontões de Cultura que se realizará em 2025, 11 anos depois da última edição. Foi durante a Teia Nacional de Diversidade, realizada em 2014, em Natal (Rio Grande do Norte), que aconteceu a primeira reunião do Conselho Intergovernamental do IberCultura Viva. (Márcia Rollemberg foi eleita presidenta naquela reunião e retornou ao cargo em março deste ano de 2024.)  

Ao apresentar este programa de cooperação que é realizado com 12 países membros, ela destacou algumas ações desenvolvidas nestes 10 anos, como as convocatórias de Apoio a Redes, IberEntrelaçando Experiências, Mobilidade e Sabores Migrantes Comunitários, e o Curso de Pós-Graduação Internacional em Políticas Culturais de Base Comunitária, uma construção conjunta do IberCultura Viva e da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO-Argentina) que já formou mais de 600 pessoas desde 2018.

A participação da presidenta do IberCultura Viva no 10º Encontro Cultura e Cidadania se deu na mesa sobre “Políticas culturais para fortalecer as democracias vivas”, que também contou com a presença de Isabel Ojeda, diretora da Área de Ação Cultural da Universidade Internacional da Andaluzia (UNIA); Jazmín Beirak Ulanosky, diretor de Direitos Culturais do Ministério da Cultura espanhol, e Ricardo Antón, da organização ColaboraBora.

Nesta décima edição do encontro, propôs-se fazer um balanço, atualização e projeção dos 10 anos do programa Cultura e Cidadania, recolhendo, testando a evolução e problematizando os temas, tendências, debates, projetos mais relevantes, experiências e aprendizagens do percurso traçado nestes anos, e apontando outros para os anos presentes e futuros.

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  • Os debates e apresentações no auditório do Centro Galego de Arte Contemporánea (CGAC) estão disponíveis em streaming: https://bit.ly/streaming_cyc

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27

set
2024

Em Cultura Viva
Notícias

Por IberCultura

MinC lança série de episódios em podcast para contribuir com a formação dos Agentes Cultura Viva  

Em 27, set 2024 | Em Cultura Viva, Notícias | Por IberCultura

O Ministério da Cultura (MinC) e o Consórcio Universitário Cultura Viva, formado pelas universidades federais da Bahia, Fluminense e do Paraná (UFBA-UFF-UFPR), realizarão na próxima segunda-feira (30/09), a live de lançamento do podcast “Cultura é Viva!”. A série, composta por 10 episódios, abordará temas ligados à diversidade cultural brasileira e à Política Nacional Cultura Viva (PNCV). 

O principal objetivo é contribuir com a formação dos Agentes Cultura Viva, jovens selecionados pelos Pontões de Cultura que formalizaram parceria com o MinC para atuar no mapeamento, diagnóstico, formação, articulação e mobilização da rede de Pontos de Cultura no país.

“O fomento aos pontões territoriais e temáticos de cultura faz parte da reativação da Política Cultura Viva neste momento em que celebramos seus 20 anos de existência. Essa estratégia envolverá, no mínimo, 570 Agentes Cultura Viva, entre 18 e 24 anos, que precisam de uma formação sobre temas essenciais para o projeto cultural que vão desenvolver em suas comunidades”, explicou Márcia Rollemberg, secretária da Cidadania e Diversidade Cultural do MinC e presidenta do IberCultura Viva, convidada especial deste primeiro episódio do podcast.

O evento contará com a participação das locutoras Luma Wyzykowska, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Larissa Herédia, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), jovens pesquisadoras vinculadas ao Consórcio Universitário Cultura Viva.

Deborah Rebello Lima, representante do consórcio pela Universidade Federal do Paraná, destaca: “A série Cultura é Viva é uma ação formativa que se apresenta como contribuição para o fortalecimento dos Agentes Cultura Viva em atuação nos Pontões de Cultura. Trata-se de um passeio para rememorar e/ou conhecer conceitos essenciais da PNCV e sua operação, mas sempre de uma forma leve, descontraída e ofertando uma paisagem sonora que dialogue com esse público.”

Já Luiz Augusto Rodrigues, representante da Universidade Federal Fluminense reforça que “os Agentes Cultura Viva são essenciais na retomada da PNCV, em especial como uma ação estruturante mobilizadora nos territórios e também por incluir os próprios conceitos da política de Cultura Viva junto à juventude”.

O podcast também será uma oportunidade para gestores e integrantes da Rede Cultura Viva ampliarem seus conhecimentos e compartilharem experiências. Luana Vilutis, pesquisadora do consórcio pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), sinaliza como esta ação formativa se insere no escopo das várias frentes de pesquisa e formação que o trabalho colaborativo das três universidades federais vem desenvolvendo nesta retomada da PNCV.

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Live de Lançamento: Podcast “Cultura é Viva!”
Quando: Segunda-feira, 30 de setembro, às 15h (de Brasília)
Onde: Canal do YouTube do Ministério da Cultura

Canal do YouTube do Consórcio Universitário Cultura Viva

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27

set
2024

Em Cultura Viva
Notícias
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Por IberCultura

MinC lança Editais Cultura Viva no Espírito Santo com R$ 3,7 milhões em investimentos

Em 27, set 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Foto: William Caldeira Hub/ES – Texto: MinC)

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O Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult/ES), lançou nesta quinta-feira, 26 de setembro, em Vitória, três Editais Cultura Viva, que vão apoiar 103 Pontos de Cultura no estado. Com investimento de R$ 3,7 milhões, provenientes da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), a iniciativa visa fortalecer a identidade cultural e a cidadania de base comunitária, com foco em projetos de relevância local.

Os recursos serão direcionados à Política Nacional de Cultura Viva (PNCV). Além de fortalecer a atuação de agentes culturais, os editais buscam valorizar a diversidade cultural e destacar projetos de relevância no estado, como a Instituição de Tradições e Cultura Afro-Brasileira São Judas Tadeu, que receberá R$ 400 mil.

“Desde que o presidente Lula decidiu recriar o Ministério da Cultura, sob a liderança da ministra Margareth Menezes, sabíamos que teríamos uma tarefa gigantesca pela frente: reconstruir o conjunto de políticas que haviam sido descontinuadas. Temos orgulho de fazer parte de um legado que remonta aos anos de 2003 a 2015, quando consolidamos políticas fundamentais para a cultura no Brasil”, afirmou Márcio Tavares, secretário-Executivo do MinC.

“Esse edital que lançamos hoje é o resultado dessa parceria entre o Governo Federal, estados e municípios, capitalizando e territorializando iniciativas culturais em todo o território nacional. A cultura é uma ferramenta poderosa para a promoção da identidade, da democracia e da superação das desigualdades. Este edital representa mais um passo nesse caminho, envolvendo todos os agentes que fazem da cultura um motor de transformação social”, complementou.

A secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC e presidenta do IberCultura Viva, Márcia Rollemberg, reforçou a importância da participação social e da gestão compartilhada. “A Política Cultura Viva ganha adesão cada vez mais forte de estados e municípios e o Espírito Santo dá o exemplo de como fazer a política crescer”, afirmou.

Segundo Fabrício Noronha, secretário de Estado da Cultura (Secult/ES), o impacto internacional da política dos Pontos de Cultura ganhou força além das fronteiras brasileiras. “Temos poucas políticas públicas que foram incorporadas em outros países, mas a dos Pontos de Cultura é uma delas. É uma grande alegria ver uma política dessa envergadura, agora, após 20 anos, sendo retomada com tanta força por meio da Política Nacional de Cultura Viva”, lembrou.

Thais Souto, gerente do setor de Territórios e Diversidade (GETD) da Secult/ES, o momento atual do fomento vai além dos editais. “É fundamental refletirmos sobre a importância do território e de uma política que seja verdadeiramente territorializada. Esse é o marco mais importante que temos discutido e aprendido, especialmente com aqueles que já estão à frente dos Pontos de Cultura. Não somos apenas fazedores de cultura; nós somos a cultura. E essa cultura se manifesta em suas diversidades, territorialidades e pluralidades, desde o funk até os terreiros. Precisamos reconhecer a ancestralidade e a mobilização comunitária que impulsionam essa força cultural”, declarou.

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Editais

Os editais serão divididos por três temáticas: Premiação por Trajetória, Fomento a Projetos Continuados de Pontos de Cultura e Fomento a Projetos Continuados de Pontões de Cultura. Ao todo, serão premiados e financiados mais de 50  projetos que têm impacto direto nas comunidades, em um esforço contínuo para descentralizar e democratizar o acesso à cultura. As inscrições começam no dia 1º de outubro e vão até o dia 30 do mesmo mês. 

  • Edital de Premiação por Trajetória –  Dividido em duas categorias: Pontos de Cultura sem constituição jurídica e Pontos de Cultura com constituição jurídica, os prêmios visam reconhecer a trajetória de coletivos e entidades que, há anos, promovem o desenvolvimento cultural de suas comunidades, mesmo sem estrutura formalizada. O intuito é fomentar a continuidade de suas atividades, fortalecendo suas raízes locais. Para ambas as modalidades, é necessário comprovar, no mínimo, dois anos de atuação cultural na comunidade local, por meio de fotos, materiais gráficos, publicações impressas ou eletrônicas, entre outros documentos comprobatórios.
Pontos de Cultura sem constituição jurídica: Serão concedidos 30 prêmios no valor de R$ 30 mil cada.
Pontos de Cultura com constituição jurídica: Serão distribuídos 20 prêmios no valor de R$ 60 mil cada.
  • Edital de Fomento a Projetos Continuados de Pontos de Cultura O edital vai selecionar quatro entidades que receberão o valor de R$ 120 mil cada para a execução de projetos continuados que promovam o acesso aos bens e serviços culturais em seus territórios de atuação. O objetivo é fortalecer iniciativas culturais que já estão em andamento, garantindo que a população local continue a ter acesso a atividades artísticas e educativas, nos termos da Política Nacional de Cultura Viva.
  • Edital de Fomento a Projetos Continuados de Pontões de Cultura – Voltado para projetos de maior envergadura, esse edital selecionará quatro entidades, que receberão R$ 30 mil cada. Os Pontões de Cultura têm como foco a articulação e mobilização de redes culturais regionais e temáticas. O objetivo é promover o desenvolvimento de atividades em parceria com redes de Pontos de Cultura, bem como a mobilização e articulação com governos locais. Esses projetos buscam capacitar, mapear e executar ações conjuntas em nível estadual, regional ou temático, sempre visando o fortalecimento da cultura local.

Consultas: culturaviva@secult.es.gov.br e culturaviva.secult@gmail.com

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(*Texto publicado originalmente no site do MinC)

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GT de Sistematização do IberCultura Viva participa de uma das mesas do 20º Enecult, em Salvador

Em 26, ago 2024 | Em Cultura Viva, GT de Sistematização, Notícias, Universidades | Por IberCultura

As universidades são relevantes nos processos de cultura viva comunitária? Essa foi a pergunta que serviu de base para a mesa do Grupo de Trabalho (GT) de Sistematização de Políticas Culturais de Base Comunitária do IberCultura Viva, no dia 22 de agosto, no Encontro Internacional de Pesquisa sobre Cultura Viva, realizado em programação conjunta com o 20º Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (20º Enecult), em Salvador (Bahia).

Com mediação de Laura Elena Román García (Universidad Autónoma de Ciudad de México-UACM), este painel contou com apresentações da mexicana Rocío Orozco (Universidad Jesuita de Guadalajara-ITESO) e dos argentinos Marcelo Vitarelli (Universidad Nacional de San Luis-UNSL) e Daniel Zas (Escuela Popular de Música-EPM). 

Esses quatro integrantes do GT Sistematização viajaram ao Brasil com o apoio do IberCultura Viva, com a proposta de estabelecer um diálogo sobre o trabalho de sistematização, divulgação e metodologias horizontais de políticas culturais de base comunitária que o grupo vem realizando e sua contribuição a processos no território de diversas comunidades: infâncias, vizinhos em contextos urbanos, comunidades artísticas.

Elena Román e Luana Vilutis (UFBA)

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Elena Román abriu o painel explicando que a ideia desta mesa, além de apresentar o trabalho que realizam em suas universidades, era contar de forma geral como nasceu este grupo, em 2021 (IberCultura Viva lançou uma chamada para pessoas de universidades que trabalham com a cultura comunitária e selecionou 59 pesquisadores de 10 países), e comentar a proposta que o GT apresentou ao programa em 2023 para formar uma rede de universidades que trabalham para promover a cultura viva comunitária.

“Essa rede ainda não está formada. Especificamente, o que queremos é que se juntem a esta rede, (…) que pode fortalecer os laços de cooperação entre universidades, mas também entre agentes múltiplos, diversos, heterogêneos, que trabalham pela cultura viva comunitária”, destacou a professora-pesquisadora da Universidade Autônoma da Cidade do México, onde coordena o Observatório de Políticas Culturais.

Segundo ela, a ideia é que as pessoas que trabalham nas universidades sejam “uma ponte que detona processos, um espaço de mediação, de cooperação, um espaço de diálogo que possa fortalecer processos comunitários”, e que também possam defender a cooperação e o coletivo. o território que lhes é comum, em termos gerais. 

“Achamos que as universidades podem aprender, formar nos processos territoriais de agentes da cultura viva comunitária. Mas também podemos cooperar e colaborar com os processos de formação de agentes do território, de gestão comunitária, para fortalecer esta defesa e a construção de indicadores que nos permitam dialogar como território latino-americano”, acrescentou Elena Román.

Rocío Orozco, Marcelo Vitarelli e Daniel Zas, que participaram desta mesa redonda apresentando suas pesquisas, fazem parte da equipe impulsora desta rede de universidades. Assim como a equatoriana Paola De La Vega, outra integrante do GT Sistematização que viajou a Salvador para apresentar seu trabalho no 20º Enecult, a convite do Consórcio Universitário Cultura Viva, formado pelas universidades federais da Bahia, Fluminense e Paraná (UFBA-UFF-UFPR).

Daniel Zas, Rocío Orozco e Marcelo Vitarelli

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A rede argentina de universidades

Em sua intervenção, Marcelo Vitarelli comentou que a manutenção de uma rede de universidades que trabalham com cultura viva comunitária na região ibero-americana foi considerada o objetivo final da criação do Grupo de Sistematização, em 2021. “A rede está sendo definida e estamos contribuindo para essa construção de consenso, tentamos chegar a um acordo baseado no trabalho em nossos territórios. No meu caso, venho da Argentina, de uma universidade pública onde trabalhamos há mais de cinco anos de forma sistemática, problematizando o papel da cultura viva comunitária”, afirmou.

Vitarelli lembrou um conceito que é compartilhado no Río de la Plata (Argentina e Uruguai): a ideia de compromisso social universitário, presente em diferentes momentos históricos desde a Reforma de 1918. “Se a Universidade é um ator comprometido, a Universidade participa desses diálogos e aprende a linguagem dos vários atores. Este é o desafio, pelo menos para a minha universidade: a academia falar na língua da comunidade, e a comunidade falar na academia, na sua própria língua, e aí gerar diálogos comunitários em torno de problemas sociais comuns”, afirmou. Para ele, isso significa comprometer-se, dialogar, produzir em conjunto.

A Universidade Nacional de San Luis, onde trabalha, tem 50 anos de história na vida pública do território. Com sede em diferentes locais da província de San Luis, no centro da Argentina, a UNSL uniu forças com a Universidade Nacional de Córdoba e a Universidade Nacional do Litoral para estabelecer redes sobre as dimensões da formação, da pesquisa e dos vínculos no problemático campo das culturas comunitárias do país. Atualmente, 14 universidades públicas da Argentina compõem o Encontro de Universidades para Cultura Comunitária.

Um dos propósitos desta rede argentina é contribuir para o fortalecimento dos laços de cooperação entre universidades, atores sociais e governos locais na busca da construção de agendas comuns baseadas em um compromisso social, ético e político, apostando na cultura comunitária como estratégia voltada para o desenvolvimento humano. Segundo Vitarelli, a responsabilidade de se colocar a serviço das comunidades – numa perspectiva reflexiva, crítica e proativa – baseia-se em alguns princípios como o diálogo de saberes, a construção conjunta de conhecimentos, visões descolonizadoras e ancoragens territoriais.

Sobre o trabalho de diálogo comunitário dentro da universidade pública, o investigador disse que o programa institucional da UNSL conta com oito unidades académicas que vão desde o social, da saúde, até às engenharias e ao turismo, e que é justamente nessa diversidade que está a riqueza da perspectiva comunitária. “Quando o turismo fala em turismo rural comunitário, por exemplo, os engenheiros contribuem e geram coisas maravilhosas, porque se vê que o diálogo é possível”, afirmou.

Marcelo Vitarelli também mencionou conceitos que de alguma forma marcam o debate atual em torno da ideia de território não como espaço geográfico, mas de territorialidades. “Como um conceito antropológico complexo, que implica o sujeito, a representação e a abordagem e ancoragem da cultura”, sublinhou, citando ainda o trabalho sobre diversidades, gêneros e variabilidades linguísticas, um problema que tem atravessado nos últimos 10 anos a universidade.

Mencionou, ainda, a importância de construir a partir do consenso, a partir de visões comuns nos territórios, de pensar e continuar dialogando em rede, porque isso tem a ver com as visões das territorialidades que os sujeitos constroem. “Nesses diálogos aqui, por exemplo, apesar da dificuldade de a gente entender o português, e de quem fala português nos entender, quando a gente senta para ouvir o outro a gente aprende. E vemos que é possível trabalhar em rede”, observou.

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Cultura comunitária em Jalisco: rumo a uma proposta formativa 

Após a apresentação de Marcelo Vitarelli, a mexicana Rocío Orozco Sánchez tomou a palavra para contar um pouco do trabalho que desenvolve como professora pesquisadora da Universidade Jesuíta de Guadalajara e bacharel em Artes da Secretaria de Cultura de Jalisco. É também gestora cultural comunitária, cofundadora do Coletivo CulturAula, organização comunitária de Guadalajara que integra o Banco de Saberes IberCultura Viva com três projetos.

Nesta mesa do encontro, Rocío Orozco apresentou uma pesquisa sobre um modelo de formação de agentes culturais comunitários no estado de Jalisco, desenvolvido a partir de um processo participativo, com o objetivo de fortalecer as organizações e assim contribuir para o impacto das políticas culturais. Além disso, apresentou avanços em torno da construção de novas poéticas para construir conhecimento colaborativo entre universidades e organizações comunitárias. 

No artigo “Cultura Viva Comunitária em Jalisco, desafios e oportunidades, rumo a uma proposta de formação”, que serviu de base para sua apresentação em Salvador, ela explica que esta pesquisa se baseia em uma abordagem de sistematização de mais de uma década de análise e estudo do Movimento Cultura Viva Comunitária, e também na experiência do Coletivo CulturAula no México. 

O estudo abrange o espaço temporal correspondente da Área Metropolitana de Guadalajara, Tonalá, El Salto, Tlaquepaque e Zapopan, com o objetivo de desenhar uma proposta de formação integral que englobe as necessidades dos diversos atores socioculturais que, todos os dias, realizam, projetam, acompanham ou participam de diversas práticas e ações em prol da exaltação da cultura em suas comunidades e/ou projetos.

Em sua intervenção, Rocío comentou como ocorreu o processo de pesquisa e fez uma comparação com o contexto atual, já que desde 2019 a Secretaria de Cultura do Governo do México, por meio da Direção Geral de Vinculação Cultural, executa o programa Cultura Comunitária, estabelecendo uma nova forma de pensar e fazer política cultural. Em seguida, detalhou o trabalho que foi realizado na região metropolitana de Guadalajara, com o objetivo de conhecer a opinião dos agentes culturais comunitários sobre seus processos de formação, capacitação e atualização no tema gestão cultural comunitária. 

Para identificar perfis dos agentes e obter os primeiros resultados em relação à categoria análise de necessidades de aprendizagem, foi elaborada uma pesquisa, aplicada a partir de uma plataforma virtual e divulgada nas redes sociais. Também foram realizadas quatro entrevistas com três funcionários do Programa de Cultura Comunitária de Jalisco e um acadêmico especialista em profissionalização em gestão cultural. 

Os resultados obtidos mostraram três grupos de agentes socioculturais, denominados grupos A, B e C. O grupo A é formado majoritariamente por funcionários/as, acadêmicos/as e gestores/as culturais com pós-graduação relacionada à gestão cultural ou carreira afim, e com experiência em gestão pública da cultura, mas sem experiência em processos comunitários.

O Grupo B, por sua vez, reúne oficineiras/os, artistas, promotores/as e lideranças de bairro, com idade entre 25 e 60 anos, com ampla experiência em trabalho comunitário e aprendizagem que recai na prática. São pessoas com ensino médio, bacharelado, carreiras técnicas, algumas com cursos ou diplomas voltados para cultura comunitária ou gestão cultural; muitas autodidatas. Algumas trabalham para o governo; outras de forma independente, resolvendo seus projetos por meio da autogestão.

O grupo C é o das organizações de bairro ou de vizinhança, cuja ação cultural inclui vários eixos, como social, cultural, perspetiva de gênero, economia solidária, educação, entre outros. Estas organizações, coletivos, grupos e redes com experiência em trabalho comunitário costumam trabalhar de forma colaborativa, dificultando a identificação de um único ator como organizador ou responsável. 

Como detalhou Rocío Orozco em seu artigo, a pesquisa mostrou que os agentes possuem estudos de formação em gestão cultural comunitária por meio de diplomas, cursos e oficinas, seguidos de algumas ofertas na modalidade virtual. Destacou, ainda, a importância dada por alguns participantes à aprendizagem autodidata e à articulação com outros agentes com foco na cultura comunitária. “Descobrimos que frequentar encontros, conhecer experiências, é uma forma de partilhar saberes, e que participar de congressos contribui para o seu processo de formação e recupera práticas e processos”, afirmou a investigadora, destacando a ênfase dada a este tema, uma vez que mostra a falta de programas curriculares focados na gestão cultural comunitária. 

O desenho curricular do modelo de formação de agentes culturais comunitários em Jalisco surgiu da análise das características metodológicas descritas pelos participantes da pesquisa. Foram aplicados 73 questionários entre 7 de abril e 17 de junho de 2020. No ano seguinte, de 16 a 29 de março de 2021, foi desenvolvido o “Ciclo de Capacitação e Diálogo em Gestão Cultural Comunitária”, uma série de encontros virtuais que reuniu mais de 70 pessoas, com o apoio da Secretaria de Cultura do Governo do México, Museus, Exposições e Galerias de Jalisco (MEG) e da Secretaria de Cultura de Jalisco.

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Uma Escola de Música Popular no Espaço da Memória e dos Direitos Humanos

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O argentino Daniel Zas, por sua vez, apresentou a experiência da Escola de Música Popular, espaço que surgiu da vontade das Madres de Plaza de Mayo-Línea Fundadora, em convênio com a Fundação Música Esperanza. A iniciativa faz parte do projeto de recuperação do Espaço Memória e Direitos Humanos (antiga ESMA), e é uma das muitas atividades realizadas pela Casa ”Nuestros Hijos, Vida y Esperanza” no prédio que funcionou como centro clandestino de detenção, tortura e extermínio durante a última ditadura civil-militar na Argentina. 

Daniel iniciou sua intervenção contando um pouco da história e do contexto do projeto comunitário que está sendo desenvolvido em Villa Hidalgo (José León Suárez, distrito de San Martín, província de Buenos Aires), um dos bairros mais pobres da Zona Norte de Buenos Aires, e que assim como muitos territórios da América Latina, está repleto de assentamentos que foram construídos por vizinhos/as, migrantes de províncias e países que fazem fronteira com a Argentina. “Foi-se conformando aí uma integração cultural de um monte de pessoas que vinham de lugares diferentes, e para conseguir trabalho, ter acesso a uma vida melhor, foram habitando esses terrenos baldios, construindo precariamente suas casas neste bairro que fica sobre um lixão, um aterro sanitário”, comentou.

Em Villa Hidalgo foi criado há 40 anos o Centro de Comunicación Popular Renaciendo, uma iniciativa de ativistas, professores/as e catequistas que contaram com a comunicação popular como ferramenta de unidade do bairro e de desenvolvimento social. O centro criou a revista “Renaciendo” e, em 1988, a FM Reconquista, uma das primeiras rádios comunitárias da Argentina, administrada pela Asociación de Mujeres La Colmena. Em 1990, é criado lá um jardim materno-infantil, o  primeiro jardim comunitário reconhecido no município de General San Martín. E em 2009, um grupo de jovens da FM Reconquista passou a ministrar oficinas artísticas e musicais (guitarra, canto, baixo, teclado e percussão) para meninas e meninos do bairro.

É neste contexto que surge a Escola Popular de Música, tema do artigo apresentado por Daniel Zas neste encontro. O espaço está em funcionamento há mais de 13 anos e mais alguns desde que as Madres de Plaza de Mayo- Línea Fundadora decidiu apelar à Fundação Música Esperanza para criar uma escola de arte popular com uma perspectiva de direitos humanos.

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Madres de Plaza de Mayo é uma organização criada em 1977 por um grupo de mulheres que se reuniram em frente à Casa Rosada (sede da presidência da República Argentina), em plena ditadura, para exigir informações sobre seus filhos e filhas sequestrados, dos quais nada se sabia. Durante o período da ditadura civil-militar no país (1976-1983), mais de 30 mil pessoas foram detidas-desaparecidas.

Como detalhou Daniel Zas em sua apresentação, esses desaparecimentos ocorreram em mais de 800 centros de detenção clandestinos administrados pelo Estado. “Nesses centros funcionavam maternidades clandestinas, para onde foram levados mais de 500 bebês. Conseguimos recuperar algumas centenas pelo trabalho das Avós da Praça de Maio, mas há muitos que ainda procuramos”, explicou.

Um destes centros clandestinos funcionou na Escola de Mecânica da Marinha (ESMA), onde se estima que mais de 5 mil pessoas foram detidas e torturadas durante a ditadura. Em 2004, após 20 anos de recuperação da democracia na Argentina, o governo federal decidiu que a Ex-ESMA se tornaria o Espaço Memória e Direitos Humanos, um local administrado de forma tripartite pelo Estado nacional, pela prefeitura de Buenos Aires e entidade que reúne organizações de Direitos Humanos nos edifícios que estavam dentro da propriedade da Ex-ESMA, para que aí desenvolvam atividades e políticas de forma a sustentar a memória, a verdade e a justiça.

As Mães da Plaza de Mayo – Línea Fundadora administram um desses edifícios da propriedade, a Casa “Nuestros HIjos, Vida y Esperanza”, onde funciona a sede da entidade e a Escola Popular de Música. Esta iniciativa foi idealizada em conjunto com a Fundação Música Esperanza, pelo pianista argentino Miguel Ángel Estrella (1940-2022), que foi sequestrado por membros da ditadura civil-militar no Uruguai (1973-1985). ).

 “Durante a tortura, suas mãos ficaram feridas e ele não pôde continuar tocando piano, porque parte do seu trabalho era tocar em sindicatos, em organizações comunitárias, em bairros populares. Este trabalho social que Miguel realizou não foi bem visto pela ditadura. Ele foi preso, sequestrado e torturado. Conseguiu sobreviver, e ao retornar à vida artística, depois de muitos anos, decidiu criar a Fundação Música Esperanza e atuar em diversos territórios da Argentina no desenvolvimento de oficinas de música para crianças, jovens e adultos”, contou Daniel Zas.

Uma das principais iniciativas destas duas organizações, em 2011, foi projetar e executar, em conjunto com a Universidade de La Plata, uma Tecnicatura de Música Popular, com formação universitária de quatro anos, onde se realiza uma construção muito particular. “Ali a universidade propõe um programa de disciplinas relacionadas com a formação musical, propõe seus professores, mas as organizações também têm uma participação concreta na montagem e na proposta de disciplinas e da equipe docente”, sublinhou Zas.

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O próprio Daniel, que cresceu no bairro de Villa Hidalgo e trabalha na FM Reconquista desde 2006, estudou com um grupo de colegas na primeira turma. “Eu estava trabalhando na construção do projeto da Orquesta Estable de Rádio Reconquista quando este curso começou e nos chamaram a diferentes organizações territoriais para que pudéssemos nos formar nesses espaços. Como disse a colega Ro (Orozco), temos experiência, muitos anos de trabalho no território, e estamos construindo a forma de fazer, aprender e ensinar, mas há momentos em que é difícil para nós ampliar ou aprofundar o desenvolvimento de projetos por falta de profissionalização dos nossos trabalhadores”, afirmou. 

Daniel Zas foi uma das pessoas que se formaram em 2014 e passaram a integrar o corpo docente da Escola Popular de Música. Convocado pela área de Direitos Humanos, coordenado pelas Mães da Plaza de Mayo, ele atua em projetos desenvolvidos simultaneamente à tecnicatura, como a Rede Arte, Memória e Territórios, que potencializa a ideia de transformação social e territorial por meio da arte, em articulação com organizações sociocomunitárias. “Lá conseguimos articular o trabalho de organizações comunitárias, orquestras populares e oficinas de música do território com a tecnicatura, gerando um espaço de prática”, observou. 

Outro espaço fundamental, tanto como contribuição para a carreira, como para as organizações territoriais que integram a rede, é a Oficina-Escola de Luteria, dedicada à arte e ao ofício de criação e reparação de instrumentos musicais. “Temos também um espaço de formação naquilo que tem a ver com audiovisual, redes sociais, com o qual apoiamos espaços comunitários a partir da virtualidade, e oficinas para a terceira idade. E estamos construindo diversos projetos, tentando fazer com que essa construção – que tem muitas pernas e que visa construir comunidade – também possa profissionalizar e potencializar projetos comunitários em articulação, pensando no coletivo como estratégia.”

Entre os desafios que surgem está o de fortalecer o trabalho em rede com as organizações e poder gerar maiores vínculos, para que o acesso, especialmente para moradores/as de bairros populares, tenha uma chegada concreta e direta aos espaços de formação profissionais e universitários. “Temos universidades públicas e gratuitas, mas se os setores populares não tiverem acesso a elas, continuaremos segmentando”, disse o professor.

Ao encerrar sua apresentação, Daniel Zas destacou a importância de valorizar pública e socialmente o papel dos agentes comunitários e de perpetuar o legado das Mães da Praça de Maio na busca pela memória, verdade e justiça. “As mães têm idade média de 93, 94 anos. Procuramos trabalhar lado a lado com elas para poder compreender e conhecer toda a sua luta, tudo o que conquistaram, não só na Argentina mas no mundo, pela promoção em defesa dos direitos humanos”, destacou.

E acrescentou: “Estamos empenhados em sustentar esse legado e continuar a trabalhar nesse sentido para podermos articular concretamente as experiências de cultura comunitária com a Academia. Não só a partir de um lugar onde a Academia formará o território, mas onde se partilham experiências e há uma chegada real dos setores populares à universidade, o que nos parece uma dívida pendente das nossas democracias e dos nossos governos populares.” 

O Encontro Internacional de Pesquisa Cultura Viva foi promovido pelo Consórcio Universitário Cultura Viva, formado pelas universidades federais da Bahia, Fluminense e do Paraná (UFBA-UFF-UFPR), com apoio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura do Brasil (SCDC/MinC), no âmbito do projeto “Cultura Viva 20 anos: Pesquisa e Formação”.

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19

ago
2024

Em Cultura Viva
GT de Sistematização
Notícias

Por IberCultura

Começa a 20ª edição do Enecult, que destaca os 20 anos de Cultura Viva no Brasil

Em 19, ago 2024 | Em Cultura Viva, GT de Sistematização, Notícias | Por IberCultura

De hoje a sábado, 24 de agosto, se realiza em Salvador (Bahia, Brasil) o 20º Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult). O evento, criado como um espaço de discussão sobre temas relacionados à cultura, numa perspectiva transversal e multidisciplinar, este ano conta com uma programação especial, com apresentação de artigos e mesas coordenadas de 23 Grupos de Trabalho (GTs), além de encontro de redes, exposição e lançamento de 15 livros. Os 20 anos de Cultura Viva no Brasil são um dos destaques desta edição.

A programação tem formato híbrido, com atividades online nos dois primeiros dias e um conjunto de atividades presenciais entre os dias 20 a 24, em diferentes espaços da Universidade Federal da Bahia, e uma confraternização na Casa Rosa. A primeira mesa, organizada pelo GT Políticas Culturais, foi “Políticas Públicas de Cultura e Geração de Conhecimento”, transmitida ao vivo na tarde desta segunda-feira (19/08).

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O Encontro Internacional de Pesquisa sobre a Cultura Viva, que começa nesta terça-feira (20/08), é uma iniciativa do GT Cultura Viva, coordenado por Deborah Rebello Lima (Universidade Federal do Paraná – UFPR), Luana Vilutis (Universidade Federal da Bahia – UFBA) e Luiz Augusto Fernandes Rodrigues (Universidade Federal Fluminense – UFF). Além de contemplar propostas que discutem a Política Nacional de Cultura Viva, criada como um programa do Ministério da Cultura em 2004, o GT visa debater as interações e contribuições entre esta política brasileira e políticas de cultura viva comunitária na América Latina.

Pesquisadoras e pesquisadores de várias partes do Brasil e da América Latina foram convidados para este encontro internacional que se realiza em programação conjunta com o Enecult. A mesa da tarde desta terça-feira será “Cultura Viva en América Latina. Cultura viva comunitaria”, mediada por Luana Vilutis e coordenada pelo argentino Emiliano Fuentes Firmani (Universidad Nacional Tres de Febrero), que apresentará o artigo “Cultura Viva en la cooperación: Ibercultura Viva y Comunitaria”. Também participarão desta mesa Paola de la Vega (Pontificia Universidad Católica del Ecuador – PUCE) e Guillermo Valdizán Guerrero (Movimiento Latinoamericano de CVC – Peru)

No dia 22, quinta-feira, quatro integrantes do GT de Sistematização de Políticas Culturais de Base Comunitária participarão de uma mesa do evento com o apoio do programa IberCultura Viva: as mexicanas Elena Román (Universidad Autónoma de la Ciudad de México – UACM) e Rocio Orozco (Universidad de Guadalajara – UDG) e os argentinos Marcelo Vitarelli (Universidad Nacional de San Luis – UNSL) e Daniel Zas (Escuela Popular de Música).  

Essas mesas do Encontro Internacional de Pesquisa sobre a Cultura Viva terão início às 16h30 (hora de Brasília) e transmissão pelo canal de YouTube do Enecult.

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No dia 21, às 16h, Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura e presidenta do IberCultura Viva, falará sobre “A importância da pesquisa para a Política Nacional Cultura Viva”. Às 16h30, será a vez da mesa “Cultura Viva – Programa, Política e Poesia”, que reunirá parte da equipe da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC/MinC), com mediação de Deborah Rebello Lima (UFPR). Serão apresentados os trabalhos “Cultura Viva: rede de poema e poema em rede”, por Leandro Anton; “A dimensão econômica solidária na Cultura Viva”, a cargo de Juliana Caetano e Carolina Freitas; “Cultura Viva e Pontos de Cultura celebram 20 anos com o maior investimento da história”, por João Pontes, diretor da Política Nacional Cultura Viva e representante do Brasil no IberCultura Viva.

Além da programação do Encontro Internacional de Pesquisas sobre a Cultura Viva, o Enecult contará com pesquisadores latino-americanos em outros painéis, como a mesa online “Mondiacult y después: el futuro de las políticas culturales en América Latina”, do GT Políticas Culturais, que se realizará nesta terça-feira, às 16h.  Estarão presentes Alexandre Barbalho (Universidade Estadual do Ceará), María Adelaida González (Universidad de Antioquia, Colômbia), María Elena Figueroa Díaz (Universidad Nacional Autónoma de México) y Tomás Peters (Universidad de Chile). A mesa será coordenada por Nicolás Sticotti (Universidad Nacional de Avellaneda, Argentina) e transmitida pelo YouTube do Enecult.

Já a mesa “Cultura e políticas culturais na América Latina”, que faz parte do GT Culturas e América Latina, tem como objetivo apresentar e discutir o progresso de pesquisas recentes sobre cultura e políticas culturais no Brasil, na Argentina e no Uruguai no século XXI. A pesquisa faz parte do programa 2023-2025 dos Grupos de Trabalho do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso). Esta mesa, que tem a coordenação de Rubens Bayardo (UNSAM, Argentina), será apresentada no dia 21 de agosto, às 14h (também com transmissão online). Participarão deste encontro Antônio Albino Canelas Rubim (UFBA), Jacqueline Gama (UFBA) e Alexandre Santini (Fundação Casa de Rui Barbosa – FCRB).

No sábado, dia 24 de agosto, às 9h, o GT Cultura e Políticas Culturais de Clacso promoverá a mesa “Democracias e culturas na América Latina”, que também terá transmissão online. A mesa será mediada pela professora e pesquisadora Lia Calabre (Universidade Federal Fluminense/ Fundação Casa de Rui Barbosa) e contará com a exposição de Albino Rubim (UFBA, Brasil), Carlos Yanez (Universidad Nacional de Colombia), Eduardo Nivón (Universidad Nacional Autónoma de México), Rubens Bayardo (Universidad de Buenos Aires) y Guillermo Valdizán (TECUS, Peru).

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O 20º Enecult é realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), por meio do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT), em parceria com o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-Cultura) do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) e Faculdade de Comunicação (Facom), e pelo Ministério da Cultura. Este ano, conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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Confira aqui a programação das sessões e mesas coordenadas.

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14

jul
2024

Em Cultura Viva
Notícias
Países membros

Por IberCultura

20 Anos de Cultura Viva: um ato de celebração da “história vitoriosa” da política nacional de base comunitária

Em 14, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Fotos: Amanda Tropicana/MinC)

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Depois de três dias de reflexões, diálogos, debates e rodas de saberes – e tambores, cantos e danças e amorosidades –, o Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos chegou ao fim com um cortejo e um ato de celebração em Salvador (Bahia), no sábado 6 de julho. Participaram do encerramento a ministra da Cultura, Margareth Menezes; o ex-ministro Juca Ferreira; a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura e presidenta do IberCultura Viva, Márcia Rollemberg, entre outras autoridades, gestores/as, pesquisadores/as, mestres/as e fazedores/as de cultura de todas as regiões do Brasil.

No palco da Casa Rosa, além de citar algumas pessoas que contribuíram para a construção “dessa história vitoriosa que é a política de Cultura Viva”, a ministra lembrou as Bases de Apoio Cultural, que acabaram sendo uma semente para a construção e implementação da política Cultura Viva. Mandou, também, um abraço a todos os Pontos e Pontões de Cultura, “que são protagonistas e potencializadores das expressões e manifestações culturais, da memória, da identidade cultural do Brasil, a partir dos territórios”.

“Como chamas acesas em nosso país, ponteiros e ponteiras representam a pluralidade da nossa diversidade cultural em todas as mais diversas expressões e manifestações e pensares culturais, nas periferias, nas favelas, nas comunidades indígenas, nos quilombos, nas comunidades tradicionais, nas comunidades ribeirinhas, nas florestas, no campo, nas cidades. Cultura digital, cultura tradicional, cultura popular, cultura contemporânea, das juventudes, das infâncias, dos idosos. São espelhos da potencialidade cultural brasileira”, complementou.

Margareth Menezes também destacou que a Política Nacional Cultura Viva é resultado de um longo processo de escuta, de diálogo, de debate, envolvendo a sociedade civil, Pontos de Cultura, parlamentares, gestores municipais e estaduais e universidades. “É uma política construída por muitas pessoas. É um legado do povo brasileiro. A Cultura Viva materializa a conexão entre cultura, educação, desenvolvimento, inclusão social, cidadania, como política de cultura abrangente e descentralizada, em rede e em diálogo, junto com as comunidades, com os territórios, com todo o Brasil”.

Segundo ela, ao longo desses 20 anos, a política Cultura Viva demonstrou “a resiliência das pessoas, a força do fazer cultural de base comunitária, como ferramenta de transformação social, inclusão, e geradora também de emprego e renda”. “De maneira significativa, esta política parte da necessidade de construção de um mundo mais justo, mais igualitário, guiado por valores democráticos e justiça social. (…) “Como disse um dia Gilberto Gil, se a partir de um ponto a gente pode refazer o mundo, a partir de muitos pontos reunidos, fortes e visíveis, presentes, ativos, vamos desenhar muitas linhas para mudar as coisas e derrotar os preconceitos”.

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Uma ideia que surgiu numa conversa informal

Juca Ferreira, que em 2004, ano de lançamento do Cultura Viva, era secretário-executivo do ministro Gilberto Gil, contou que a ideia do programa nasceu nos primeiros meses do governo Lula. Segundo ele, depois de assumir o Ministério da Cultura em janeiro de 2003, Gil criou uma rotina com sua equipe: todos os dias, em torno das 18h, havia uma conversa informal na sala do ministro. Nessa roda, sem ordem pré-estabelecida, as pessoas que tinham saído para fazer suas tarefas contavam o que tinham visto, as ideias que haviam tido, as ideias que alguém havia sugerido. “Foi um dos momentos mais ricos do Ministério da Cultura”, lembrou Ferreira, que assumiria a Pasta em 2008.

Numa dessas conversas, Gil disse que por todo lugar onde andava era procurado por mestres da cultura popular. Uma turma que até então não era lá muito considerada no Ministério da Cultura, sempre cheio de confetes para a “arte consagrada”, para a elite brasileira. E ele foi logo perguntando aos gestores e gestoras: o que fazer com isso? “Essa provocação de Gil gerou uma conversa animadíssima. Todo mundo que estava ali tinha contato com grupos de capoeira, cineclubes, grupos de arte urbana, maracatus, era uma quantidade enorme. Aí, depois de muita conversa, ele me disse: ‘Juca, tome conta disso’”. Pesquisando aqui e ali, o então secretário-executivo chegou ao nome de Célio Turino para conduzir esse projeto, à altura da grandeza que queriam que tivesse. 

As dificuldades, no entanto, foram muitas, “imensas”. Inclusive porque o Estado, segundo ele, muitas vezes não está organizado para prestar serviços, mesmo quando tem a intenção de fazê-lo. “É preciso revolucionar o Estado brasileiro, colocá-lo a serviço do conjunto da sociedade. É preciso interromper essa continuidade da escravidão, do colonialismo. Somos uma das sociedades mais diversas e ricas culturalmente do mundo. A riqueza cultural da América Latina é gigantesca”, ressaltou.

Para Juca Ferreira, uma sociedade precisa de uma base cultural diversa, capaz de representar o conjunto da população. “O Brasil é uma Babilônia em termos de reunião de povos de todo lugar do mundo. Isso não é um problema, isso é uma riqueza. E os Pontos de Cultura são as expressões dessa rica diversidade cultural que nós temos. É preciso fortalecê-la, incentivá-la, valorizar os mestres, valorizar esses grupos culturais. Não existe coesão nacional de nenhum povo se a cultura não une. A cultura está acima da política nesse aspecto. O gaúcho, o mato-grossense, o baiano, o carioca, o paulista, o mineiro, o paraense tem que desenvolver o sentimento de pertencimento a uma mesma nação e saber que nós somos diferentes, mas aí é que está a nossa riqueza.”


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Uma política com quatro dimensões

Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, ressaltou que essa política tem quatro dimensões importantes: sua poética, sua estética, sua métrica e sua ética. Segundo ela, a poética vem do conceito do “do-in antropológico” lançado por Gilberto Gil, quando reconhece a relevância de incluir “os pontos de cultura” no fomento cultural. A métrica (“que agora tem que ter o tamanho do Brasil”) vem com a ministra Margareth Menezes, neste momento de “maioridade” e investimento histórico. A dimensão estética, por sua vez, garante a gestão compartilhada e participativa, da sociedade civil e do poder público. Já a dimensão da ética tem a ver com o seu propósito, de impactar de forma positiva a vida das pessoas e de suas comunidades.

“Cultura Viva é o exercício do amor, como diz Cris Alves. Cultura Viva são as culturas indígenas, as culturas populares e tradicionais, as culturas de matriz africana, as culturas ciganas, tantas vezes invisibilizadas e ainda necessitando seu lugar, seu espaço. E esse Brasil precisando compreender a sua história, a sua afro-latinidade, a sua essência como país, para poder andar para frente, mirar o futuro e construir um país menos desigual, com menos violência, com uma juventude viva. Cultura viva, sociedade viva”, completou a secretária.

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Um evento com quatro eixos estruturantes

O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, foi uma das entidades organizadoras deste encontro, que teve como base quatro eixos estruturantes: Memória, Reflexão, Futuro e Celebração. Buscando dialogar com elementos do passado para refletir sobre o presente e seguir tecendo o futuro, o evento procurou dar aos mestres e mestras das culturas populares e tradicionais um lugar de destaque em todas as atividades realizadas. A programação foi feita em conjunto com a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC) e o Consórcio Universitário Cultura Viva.

Formado para a realização do projeto “20 anos de Cultura Viva: pesquisa e formação”, que será desenvolvido ao longo de dois anos e meio, o Consórcio integra estudantes de graduação e de pós-graduação, professores/as e pesquisadores/as de três universidades: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Paraná (UFPR). A ideia do grupo é contribuir para a reformulação conceitual e institucional da ação governamental da Política Nacional Cultura Viva. 

“A gente queria muito deixar esse gesto de como é importante que o poder público olhe para a universidade como um parceiro. Um parceiro que pode ajudar a implementar a política pública, pode ajudar na conexão entre o saber acadêmico e o saber tradicional e comunitário”, comentou Guilherme Varela, professor da UFBA.

“Aprendemos com essa rede a repensar a troca, a prática tradicional, a prática comunitária, mas ainda precisamos aprender muito mais. E aqui nos colocamos, consorciadamente, a serviço da sociedade, das comunidades, para que a gente consiga dar toda a potência que essa política merece”, completou Deborah Rebello Lima, representante da UFPR no Consórcio Universitário.

Em nome da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, Marcelo das Histórias abriu o ato de celebração lembrando que “a cultura nasceu irmanada, germinada com a natureza” e que tem o poder de gerar a dominação ou libertação dos povos. “Ponteiros e ponteiras, numa trajetória de 20 anos, reconectando e ressignificando cultura e natureza, chegaram a vários países da América Latina. E quando a pandemia chegou, os Pontos de Cultura seguraram o rojão com a (Lei de) Emergência Cultural. Depois a gente construiu, junto com o Congresso Nacional, a Lei Paulo Gustavo, a Política Nacional Aldir Blanc. Agora que fazemos 20 anos, temos um grande desafio no pensar, no sentir, no agir. Que cada um de nós carregue no coração, na mente e no corpo, a alegria e o amor que a Cultura Viva tem e proporciona.”

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Confira o vídeo da transmissão do ato de encerramento no canal do MinC no YouTube:

https://www.youtube.com/live/MLpBmf7-2Z4?si=ejrIgLvTohuvh8ns

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Leia também:

Cultura Viva 20 anos: memória, reflexão, futuro e celebração. (Caderno digital elaborado pelo Consórcio Universitário Cultura Viva)

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08

jul
2024

Em Cultura Viva
Notícias
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Por IberCultura

Comissão Nacional dos Pontos de Cultura entrega “manifesto político poético” à ministra Margareth Menezes

Em 08, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Fotos: Amanda Tropicana/MinC)
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Antes do ato de celebração que encerrou o Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos na Casa Rosa, em Salvador (Bahia), no último sábado (06/07), a ministra da Cultura, Margareth Menezes, esteve reunida com a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC), que lhe entregou um  “manifesto político poético” sobre a Política Nacional Cultura Viva (PNCV). Iniciado com um cordel para trazer o “encantamento da diversidade cultural”, o documento destaca alguns desafios transformadores e propõe estratégias para aprimorar a implementação da PNCV.

Entre essas estratégias estariam a institucionalização do Movimento Nacional Cultura Viva; a simplificação dos processos burocráticos que regulamentam a política; a capacitação dos agentes culturais da Rede dos Pontos de Cultura, “para fortalecer suas capacidades produtivas e de interatividade com a comunidade de seus territórios”; a criação de um Cadastro Único dos Trabalhadores da Cultura por meio das inscrições da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB); a elaboração do Plano Nacional Cultura Viva, e a realização da• Teia Nacional Cultura Viva e 5º Fórum Nacional Cultura Viva, em julho de 2025.

“Para tecer e avançar com todas estas propostas e propósitos, com ampla participação e encantamento social, convidamos todas as mestras e mestres, ponteiras e ponteiros, gestores públicos municipais e estaduais de todo o Brasil, a realizarem seus respectivos Fóruns e Teias Municipais, Regionais e Estaduais, com etapas preparatórias e essenciais para a realização do V Fórum Nacional dos Pontos de Cultura”, convoca a comissão.

O documento também propõe a formação do Comitê Gestor de Pactuação da Política Pública Cultura Viva, coordenado pela CNPdC, pela Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC), pelo Consórcio Universitário Cultura Viva (composto por representantes da Universidade Federal da Bahia – UFBA, da Universidade Federal Fluminense – UFF e da Universidade Federal do Paraná – UFPR), além de gestores e gestoras municipais e estaduais.

O Encontro Nacional Cultura Viva 20 anos, realizado entre os dias 3 e 6 de julho na Casa Rosa, em Salvador, foi organizado pelo MinC e o Consórcio Universitário Cultura Viva, em parceria com a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura. A iniciativa teve o apoio do Governo do Estado da Bahia, da Prefeitura de Salvador, da Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade Federal da Bahia (Proext) e da Casa Rosa.

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⇒Leia o Manifesto Político Poético da CNPdC sobre a Política Nacional Cultura Viva

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07

jul
2024

Em Cultura Viva
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Por IberCultura

Cortejo marca celebração dos 20 anos da Cultura Viva no Brasil

Em 07, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Texto: MinC/ Fotos: Amanda Tropicana)

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Ao som de tambores, afoxés e outras expressões artísticas, um cortejo seguiu neste sábado (06/07) pela orla do bairro do Rio Vermelho, em Salvador, para marcar os 20 anos da Política Nacional Cultura Viva (PNCV), com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes. A caminhada teve início na Casa de Yemanjá e seguiu até a Casa Rosa, onde o ato celebrativo reuniu cerca de 250 pessoas, entre parlamentares, autoridades, mestres/as, gestores/as e fazedores/as de cultura de todas as regiões do país.

“É uma política construída por muitas pessoas. A Cultura Viva materializa a conexão entre cultura, educação, desenvolvimento, inclusão social, cidadania como política de cultura abrangente e descentralizada, em rede, em diálogo e escuta com as comunidades, com os territórios e com o povo brasileiro”, afirmou a ministra.

Segundo ela, ao longo das duas últimas décadas, a PNCV tem demonstrado a resiliência das pessoas e a força do fazer cultural de base comunitária como ferramenta de transformação social, de inclusão e geração de renda e emprego. “Quero deixar um abraço a todos os Pontões e Pontos de Cultura, que são os protagonistas e potencializadores das expressões e manifestações culturais, da memória e da identidade cultural do Brasil”, parabenizou.

Ela citou ainda a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), que vai irrigar o Brasil por cinco anos, até 2027, com um investimento recorde, que beneficiará, inclusive, os mais de 5.900 Pontos de Cultura espalhados pelo país. A PNCV receberá anualmente R$ 388 milhões da PNAB. O recurso será destinado pelo MinC a estados e municípios para investirem em seus territórios. Mas é preciso, segundo a ministra, que a sociedade civil se aproprie da política e acompanhe a execução do investimento.



Presente na celebração, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira também ressaltou que os Pontos de Cultura são a representação da diversidade brasileira. “O Brasil é uma babilônia interna de tudo, a reunião de povos de todo o mundo. Os Pontos de Cultura são as expressões dessa rica diversidade cultural que nós temos. É preciso fortalecê-la, incentivá-la, valorizá-la. Não existe coesão nacional de nenhum povo sem a cultura no mundo. A cultura está acima da política nesse aspecto. O gaúcho, o baiano, o paulista, o paraense têm que desenvolver um sentimento de pertencimento a uma mesma nação e saber que nós somos diferentes, nós somos desiguais, mas aí está a nossa riqueza”, explicou.

Para Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, a PNCV pode contribuir para o desenvolvimento do Brasil e o reconhecimento de sua identidade. “Cultura Viva são as culturas indígenas, as culturas populares e tradicionais, as culturas ciganas, as culturas de matriz africana tantas vezes invisibilizadas e que ainda necessitam do seu espaço. E esse Brasil precisando compreender a sua história, a sua essência como país para poder andar para frente, mirar o futuro e construir um país menos desigual e com menos violência”, completou.

O ato deste sábado contou também com uma programação artística, com a cantora Márcia Castro, os afoxés Filhos de Gandhi e Filhos do Congo, Bankoma, Charanga da Cultura Viva, Mãe Beth de Oxum, Ponto de Cultura Mestre Didi, Tambores de Maracás, Tambores do Tocantins, Treme Terra Esculturas Sonoras e Zambiapunga.

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Diálogo

Antes do cortejo, a ministra se reuniu com membros da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC). Das mãos de ponteiros e mestres, recebeu uma carta com sugestões de ações estratégicas para fortalecer a PNCV nos próximos 20 anos. Entre as demandas estão a institucionalização do Movimento Nacional Cultura Viva, a capacitação dos agentes culturais, a simplificação dos processos para acessar os recursos federais e a realização da Teia Nacional Cultura Viva e V Fórum Nacional Cultura Viva.

 

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Encontro

O ato celebrativo fez parte do Encontro Nacional Cultura Viva 20 anos, realizado entre os dias 3 e 6 de julho, com uma programação de debates sobre os avanços, desafios e o futuro da PNCV, além da capacitações da rede. O evento foi organizado pelo MinC e pelo consórcio formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC) e o apoio do Governo do Estado da Bahia, da Prefeitura de Salvador, da Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade Federal da Bahia (Proext) e da Casa Rosa.

 

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05

jul
2024

Em Cultura Viva
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Por IberCultura

IberCultura Viva é tema de duas mesas do Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos, em Salvador

Em 05, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Fotos: Amanda Tropicana/MinC)

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O terceiro dia do Encontro Nacional Cultura Viva 20 anos foi também o dia do IberCultura Viva nas duas mesas da programação na Casa Rosa, em Salvador. A primeira, “Políticas de base comunitária na cultura: rumos da Rede Cultura Viva e os desafios de fortalecimento da Política Nacional de Cultura Viva”, contou com a participação de Ana María Elosúa, profissional do Ministerio de las Culturas, las Artes y el Patrimonio do Chile, que veio a Bahia representando a vice-presidência do IberCultura Viva.

Na segunda, “O futuro e as novas fronteiras do Cultura Viva”, quem falou sobre o programa foi Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura e presidenta do Conselho Intergovernamental do IberCultura Viva.   Márcia foi a primeira presidenta do programa, há 10 anos, e está de volta ao cargo desde março deste ano.

Ana Elosúa fez uma apresentação do programa IberCultura Viva (o que é, como funciona, valores, principais convocatórias, etc) e também do programa Puntos de Cultura Comunitaria, lançado no Chile em 2022. Contou que o processo de participação começou em 2014, quando se lançou o programa IberCultura Viva, e Chile foi um dos primeiros países a aderir.

Em 2015, por meio do programa Red Cultura, o governo chileno apresentou um fundo de iniciativas culturais comunitárias que apoia o fortalecimento da participação nas comunidades, gerando mesas de trabalho, encontros, pesquisas, etc. Em 2022, vieram os instrumentos formais, decretos, resoluções, para criar o programa de Puntos de Cultura no Chile. “Foi um rito histórico, um rito muito importante, tanto para o ministério como para as comunidades”, comentou.

Em 2023, primeiro ano de implementação do programa no Chile, 538 organizações quiseram ser parte do registro nacional e 294 foram reconhecidas como Puntos de Cultura Comunitaria pelo Ministerio de las Culturas, las Artes y el Patrimonio. Desse total, 223 receberam financiamento para seus planos de fortalecimento e articulação. Em 2024, 506 solicitaram a inscrição no programa e estão em processo de avaliação e validação. O programa espera contar com cerca de 170 novos Puntos de Cultura Comunitaria este ano. 

Outro ponto importante que ela destacou foi o forte trabalho que vem sendo desenvolvido com o consórcio de universidades públicas do Chile, em várias regiões do país, onde estão desenvolvendo assessorias técnicas para colaborar com prestação de contas, âmbitos jurídicos, para apoiar as organizações nos processos formais e no vínculo com o MInisterio de las Culturas da maneira mais simples e colaborativa possível.

“Se olharmos o caminho percorrido, nos detemos no presente, refletimos em conjunto sobre o que fizemos e olhamos para o futuro. Podemos dizer que os países que  compõem o espaço Iber desenvolveram um compromisso, compenetrado e sem volta atrás, com a resistência dos territórios, com respeito pela Mãe Terra e todos os seus habitantes, com um profundo sentido de transformação social através da cultura e das artes, a liberdade de expressão, a igualdade e a inclusão, honrando a nossa herança cultural. Assim, convido vocês a não nos soltarmos, porque esse caminho se faz entre todos”, afirmou.

Vídeo exibido durante a apresentação de Ana Elosúa:

Na mesa da tarde,  “O futuro e as novas fronteiras do Cultura Viva”, Márcia Rollemberg destacou que a Política Nacional Cultura Viva é também uma política ancestral, por ter raízes em outras políticas, e falou da importância do Ibercultura Viva, como “uma das ações mais efetivas de impulsionamento dessa política de base comunitária na América Latina”. Nos 13 países que o integram (incluindo a República Dominicana, que está como país convidado em 2024), segundo a secretária, “há um sentido muito forte de que não somente o destino nos une, mas também o passado e esse reconhecimento da nossa história, das nossas tradições comuns, da nossa afro-latinidade, da nossa ocupação indígena, nos territórios que não tinham fronteiras, como têm hoje”.

Para ela, o IberCultura Viva traz para o Brasil a ideia de se ver como região, como América Latina, para ter essa força ampliada. “O Brasil tem um papel estratégico na América Latina, mas ele tem que estar incorporado a essa irmandade, ao sentimento da importância de dar as mãos. O IberCultura Viva nos deu as mãos quando estávamos em tempos sombrios, e agora a gente dá as mãos aos países que passam pelos percalços.”

Márcia Rollemberg comentou, ainda, uma fala do mestre Wertemberg Nunes (Comissão Nacional de Pontos de Cultura) sobre a importância de saber sensibilizar aqueles que não nos compreendem. “Este é um grande desafio no futuro: como a gente fura as bolhas, como a gente fala para os outros, não só para nós, como é que a gente sensibiliza corações”, afirmou. 

“E aí eu acho que a arte tem um grande papel”, assinalou. “A arte é a pedagogia da alma, como dizia Lygia Pape. A arte nos faz ampliar o sensorial, ampliar a capacidade sensível, que nos faz humanidade, que nos faz humano, porque somos animais. Nossa dimensão humana é nossa dimensão cultural. Daí a importância de dar significado ao que fazemos, dar significado aos nossos dias, porque não estamos aqui em vão. Estamos aqui para uma missão. Eu acredito muito nisso, isso nos move”.

IberCultura Viva na Bahia: Flor Minici, Ana María Elosúa, Márcia Rollemberg, Teresa Albuquerque e Diego Benhabib

 

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05

jul
2024

Em Cultura Viva
Notícias
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Por IberCultura

Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos: um dia dedicado à memória (e à resistência)

Em 05, jul 2024 | Em Cultura Viva, Notícias, Países membros | Por IberCultura

(Fotos: Amanda Tropicana/MinC)
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O Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos, que começou ontem em Salvador e segue até sábado, tem como base quatro eixos estruturantes: Memória, Reflexão, Futuro e Celebração. A primeira mesa desta quinta-feira (04/07), “Cultura Viva 20 anos: do do-in antropológico à política nacional e latino-americana”, foi dedicada ao primeiro desses eixos: a memória. 

No palco da Casa Rosa, Célio Turino (Instituto Casa Comum), Davy Alexandrinsky (Comissão Nacional de Pontos de Cultura – CNPdC), João Pontes (Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura – SCDC/MinC), Lia Calabre (Fundação Casa de Rui Barbosa/MinC) e Zulu Araújo (Universidade Federal da Bahia – UFBA). A mediação ficou a cargo de Luana Vilutis (Consórcio Universitário/UFBA).

Célio Turino começou sua apresentação lembrando como as ideias de Paulo Freire inspiraram a Cultura Viva e tirando o chapéu para a plateia, numa reverência a todos os ponteiros e ponteiras, gestores e gestoras que – apesar dos pesares – seguiram com esta política pública “que se mantém pela força das ideias, do compromisso e do encantamento social”. 

“Pessoas passaram por processos, por desrespeitos ao longo de anos, e ainda assim iam lá e abriam a porta do Ponto de Cultura de qualquer maneira. Com o Estado, contra o Estado, apesar do Estado, estavam lá, se mantendo. Esse é o maior legado da Cultura Viva”, afirmou o ex-secretário de Cidadania Cultural do MinC (2004-2010), um dos idealizadores do programa Cultura Viva, que tendo como base de apoio os Pontos de Cultura, estabeleceu novos parâmetros de gestão e democracia, aplicando conceitos como “Estado-rede” (Manuel Castells) e “Estado ampliado” (Antonio Gramsci).

Segundo Turino, o conceito de Estado é muito significativo para a Cultura Viva. “No primeiro texto, isso já estava escrito, que era necessário um Estado ampliado, moldado à imagem do povo. Hoje acrescento mais um conceito, que é o Estado ampliado e ‘obedencial’. O povo manda, o Estado obedece. Porque é o Estado que tem que se adequar à sociedade”, afirmou, somando também o conceito da gestão compartilhada e transformadora, “porque o que se faz a partir das potências da comunidade é buscar a transformação da sociedade. É buscar a revolução”. 

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O aprendizado da incompletude

Davy Alexandrisky, o segundo a tomar a palavra na mesa, lembrou a organização das Teias, a magia dos primeiros encontros, e o fórum para a criação da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, a “loucura” que foi criar uma comissão com 60 pessoas de todos os estados do Brasil, e como o então secretário de Cidadania Cultural do MinC, Célio Turino, bancou essa ideia, porque achava importante a gestão compartilhada. 

“Este programa foi uma decisão mais política do que burocrática. Ele feria todos os princípios das atividades-meio, e a gente embarcou nesta nave. Era uma nave que podia rodar pelas estradas, mas você tinha que trocar pneu com ela andando. Que podia alçar altos voos, mas você tinha que terminar de fazer a asa com ela voando, ou podia dar mergulhos profundos e você tinha que estar parafusando a escotilha. Era assim, mas era feita com muito esmero, porque esse inacabamento era um aprendizado do Paulo Freire, a incompletude era isso, era algo que precisava ser daquela maneira”, comentou o fotógrafo de Niterói, do Ponto de Cultura Campus Avançado.

Davy terminou sua intervenção citando trechos do discurso de posse de Gilberto Gil como ministro da Cultura, lido em 2 de janeiro de 2003 e sempre lembrado, principalmente pela menção ao “do-in antropológico”, que aparece no nome da mesa realizada nesta quinta-feira. Como destacou o representante da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, Gil dizia que o Ministério da Cultura não podia ser apenas “uma caixa de repasse de verbas para uma clientela preferencial” e que não cabia ao Estado fazer cultura, “a não ser num sentido muito específico e inevitável: no sentido de que formular políticas públicas para a cultura é, também, produzir cultura”. 

Ao ouvir a citação do “do-in antropológico” que massageia pontos vitais do corpo cultural do país, “para avivar o velho e atiçar o novo”, a pesquisadora Luana Vilutis lembrou também o ponteiro Franklin, de Minas Gerais, que fala da expansão da noção do do-in para o cafuné. “É com essa amorosidade, essa solidariedade, no sentido da alteridade, que está na gênese da Cultura Viva, que a gente precisa mais do que nunca se nutrir, se inspirar. Neste tempo de guerra cultural, de disputas de extrema violência, viver é resistência. É por meio desse cafuné, dessa generosidade, que a gente vai conseguir combater o fascismo e manter a Cultura Viva como ela é, sempre foi e precisa continuar sendo: pulsante”, ressaltou a mediadora. 

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“Juntos somos muito mais”

Dialogando com a fala inicial de Célio Turino, a pesquisadora Lia Calabre destacou que os Pontos de Cultura são ideias, compromissos e resistência social. “Ideias criativas, ideias múltiplas, ideias diversas que permitem, que transparecem, que pautam, que dão o ritmo das dinâmicas locais. É nos territórios onde a potência efetivamente acontece”, disse a diretora do Setor de Estudos de Políticas Culturais da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). 

Segundo Lia, a territorialização do programa trouxe muitos problemas a princípio, dificuldades, desafios, mas foi o que permitiu que o programa continuasse a existir. “Passamos por um momento de guerra cultural, um cabo de guerra em que a gente ficou o tempo inteiro se defendendo daquilo que explodia contra nós. Havia a ideia de que fazíamos ‘marxismo cultural’, que deveríamos retornar o fomento da cultura com ‘C maiúsculo’. Mas quanto mais a gente está no território, mais as pessoas enxergam que aquilo que elas fazem é a cultura, e não tem esse maiúsculo ou minúsculo”. 

Para ela, cada vez mais o conjunto dos cidadãos precisa se apropriar do conceito de democracia e cidadania cultural: “Todos têm direito à cultura: o direito a assistir, a fazer, a se envolver, a se profissionalizar, o direito que queira ter. Quanto mais a gente conseguir nos territórios que as pessoas se apropriem de seus direitos, mais a gente evita que ações como tivemos, de desmontes de políticas, aconteçam na mesma intensidade. Quanto mais as pessoas se apropriam dos direitos, elas serão mais resistência. Isolados nos nossos territórios individualizados, somos menos. Juntos, somos muito mais”. 

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De volta ao passado para pensar no futuro

Emocionado por estar neste encontro, nesta mesa dedicada à memória, João Pontes lembrou que a Comissão Nacional de Pontos de Cultura estava reunida na cidade de Salvador em 2016, ano em que Dilma Rousseff deixou a presidência da República e o Ministério da Cultura quase foi extinto (o que realmente aconteceria dois anos depois). “Foi a Bahia que nos acolheu, para pensar no futuro. Mas naquele momento era um futuro de medo, de indignação, de percepção da necessidade de resistência, de solidariedade. Eu estava aqui, lembro das pessoas chorando, se afastando. Pois estamos aqui, companheiros e companheiras. Resistimos, lutamos, reconquistamos e vamos avançar muito mais”.

Segundo o diretor da Política Nacional Cultura Viva, é a pressão popular, é a luta política que faz acontecer os processos da política pública. “Que bom que houve pessoas importantes, que tiveram sensibilidade e produção intelectual, mas, acima de tudo, a luta política é feita pelo povo, pelo movimento social organizado. Se a gente está celebrando 20 anos de Cultura Viva, é porque teve quem lutou, quem reivindicou”, afirmou Pontes, ressaltando o papel do povo da capoeira da Bahia nesse lugar de cobrança e luta. E também a participação dos três baianos que foram ministros da Cultura e apoiaram fortemente essa política pública de base comunitária: Gilberto Gil, Juca Ferreira e Margareth Menezes.  “A Cultura Viva deve muito ao povo da Bahia”.

Para João Pontes, no entanto, “por mais que tenha tido um avanço programático, institucional, extremamente rico e potente com a experiência do Ministério da Cultura, com a criação do Cultura Viva, talvez a gente não tenha tido a centralidade necessária, naquele momento histórico, para a dimensão do simbólico, da disputa de valores que o Brasil precisava, e agora precisa mais ainda do que nunca”. 

Os recursos trazidos pela Lei Paulo Gustavo (LPG) e pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), segundo ele, são marcos de um novo tempo dessa política. “É uma oportunidade histórica construída por nós na luta e que nos dá uma estrutura institucional, e também uma infraestrutura, capazes de dar suporte e intensificação da luta popular, da luta social no Brasil a partir do Cultura Viva, a partir das várias experiências que a gente tem desenvolvido”.

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O resgate da ancestralidade

O baiano Zulu Araújo, pesquisador e militante do movimento negro, ex-presidente da Fundação Palmares e ex-diretor do Grupo Olodum, começou sua intervenção citando Achille Mbembe, filósofo, cientista político e historiador da República dos Camarões. Zulu destacou um trecho de “A Era do Humanismo”, em que o autor diz que outro longo e mortal jogo começou. “O principal choque da primeira metade do século XXI não será entre religiões ou civilizações. Será entre a democracia liberal e o capitalismo neoliberal, entre o governo das finanças e o governo do povo, entre o humanismo e o niilismo”, escreve Achille Mbembe. Mais adiante, ele diz que as desigualdades continuarão a crescer em todo o mundo.

Neste contexto, o pesquisador da UFBA diz que a nossa memória de hoje, pensando no passado, está comprometida pelo presente. “O presente que nós vivemos é este. O neoliberalismo é o que comanda hoje o país. Nenhuma política pública, seja ela de que ordem for, terá sucesso no Brasil se antes de qualquer coisa nós não garantirmos o Estado democrático de direito. Não há mágica, não tem sonho que resista ao autoritarismo, à violência, à indignidade que nós vivemos recentemente no nosso país. Nós não estamos isolados do mundo. Os Pontos de Cultura não estão isolados do mundo nem da política brasileira.” 

Para ele, existem duas coisas que unem a América Latina: o colonialismo e a escravidão. “Nessas duas coisas, nós somos as vítimas”, ressaltou, lembrando que no preconceito, no viés atravessado com a população negra, indígena e periférica, também está a gênese do conservadorismo brasileiro. “Fingem que estão nos incluindo, mas continuam pensando e agindo para nos excluir. Hoje, no Brasil, não vai bastar apenas o sonho. O sonho é fundamental para que a gente possa impulsionar a cultura brasileira. Mas a gente vai precisar ter os pés no chão e saber que o nosso sonho estará ancorado na política, no que ela tem de mais essencial, que é a democracia”.

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O vídeo da transmissão desta mesa está disponível no canal do MinC no YouTube: https://www.youtube.com/live/CIMIEhs1G_Y?si=1gK_QwFvsHfg0ZJY

O Encontro Nacional Cultura Viva 20 Anos é uma realização do Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC), do Consórcio Universitário Cultura Viva (UFBA-UFF-UFPR) e da Comissão Nacional de Pontos de Cultura (CNPdC). Conta também com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, da Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador, da Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade Federal da Bahia (PROEXT) e da Casa Rosa.

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