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Impressões de viagem: três argentinos contam suas vivências no Congresso de Quito
Em 16, jan 2018 | Em Notícias |
O 3º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, realizado em Quito (Equador) de 20 a 25 de novembro de 2017, reuniu cerca de 450 participantes provenientes de redes, coletivos e organizações culturais de 18 países da América Latina. Cinquenta deles foram selecionados no Edital de Mobilidade IberCultura Viva 2017. Receberam passagens aéreas para acompanhar as atividades do congresso e voltaram cheios de histórias para contar sobre os seis dias de espetáculos, palestras, debates, exposições, círculos da palavra e percursos culturais que tiveram a oportunidade de ver/ouvir/viver lá.
A seguir, algumas das impressões compartilhadas por três representantes da Rede Nacional de Pontos de Cultura da Argentina ganhadores deste edital: Claudia Herrera, Margarita Palacio e Eduardo Balán.
Claudia Herrera e a identidade indígena
Claudia Herrera é integrante do Ponto de Cultura Indígena “Raíces Ancestrales”, produtora de conteúdos audiovisuais da Comunidade Huarpe Guaytamari, em Uspallata (Mendoza, Argentina). Chegou a Quito com a incumbência, dada por sua organização, de “dar visibilidade às identidades indígenas como culturas vivas, em um espaço latino-americano importante que tem como essência a cultura comunitária, assim como acontece com os povos originários”. Cumpriu a missão amplamente.
“É a primeira vez que tenho a possibilidade de participar de um Congresso de CVC”, contou em seu informe de viagem. “No primeiro dia me senti um pouco sozinha, mas depois participei dos distintos momentos propostos no programa e pude compartilhar nossos saberes e me alimentar de outros”.
Além disso, pôde entabular novas relações: “Meus olhos se encheram de outros olhos, meus abraços se cruzaram com outros abraços, meu coração bateu junto a outros corações, todos vindos do mesmo Grande Coração dos Povos. E então voltamos a rearmar a trama da vida das culturas com cada fibra diversa que somos nós, diversas cores, pensamentos, práticas, sentimentos…para voltar a tecer as culturas comunitárias que estão mais vivas que nunca!”.
Entre as atividades desenvolvidas na semana em que esteve no Equador, Claudia destacou a assembleia final – onde foi acordada a realização do próximo Congresso Latino-americano de CVC na Argentina – e uma palestra no círculo da palavra “Comunicação Popular e Meios Comunitários”, em que falou de comunicação com identidade, a experiência da produtora Raíces Ancestrales, e o processo histórico dos povos indígenas na Argentina.
Com participação ativa neste círculo de comunicação, também se fez presente como mestre de cerimônia indígena, na bênção do tecido realizado por todos os círculos com suas conclusões. Também foi ela quem recebeu o “bastão da Cultura Viva Comunitária”, assumindo a responsabilidade de levá-lo à Argentina, sede do 4º Congresso, em 2019.
Margarita Palacio e a comunicação comunitária
Participante pela segunda vez de um Congresso Latino-americano de CVC (foi a El Salvador em 2015), Margarita Palacio também esteve muito comprometida com os círculos da palavra “Comunicação comunitária, narrativa coletiva e meios” e “Arte e transformação social”. “Foram três jornadas intensas, com profundos intercâmbios de distintos pensamentos e modos de ver”, afirmou a dirigente da Associação de Mulheres La Colmena, que desde 1988 administra a FM Reconquista, a “rádio da esperança”, em Villa Hidalgo, José León Suárez, na região metropolitana de Buenos Aires.
Margarita foi a Quito interessada em apresentar a experiência de seu coletivo, já que em março a rádio completa 30 anos no ar, de forma ininterrupta, “algo impactante tendo em conta o território altamente vulnerável”, além de coordenar um espaço em rede constituído por 30 organizações sociais e comunitárias do território, a Rede Comunicacional e Social Reconquista.
Nos dias em que passou no Equador, ela pôde participar de debates e espetáculos, realizar gravações e fazer uma série de articulações com representantes de outras organizações, inclusive de países andinos e povos originários, como planejava, já que recentemente sua organização estreou a obra “O tesouro dos incas”.
Uma discussão, no entanto, seguiu como tema pendente para outra oportunidade: “Do meu ponto de vista, a contradição não resolvida é (exagerando, claro está): até que ponto as redes internéticas podem suplantar o trabalho territorial, a construção lado a lado? É possível levar adiante transformações a partir das redes aéreas?”
E se assim for, ela segue perguntando, “qual é a estética e a mensagem, ou seja, a modalidade das linguagens empregadas apropriadas por nossas comunidades? Apropriadas, assimiladas? Conteúdos que em seu fundo e forma representem isso que temos chamado de ‘bem viver’…”
“Por outro lado, ficamos no pequeno, no pontual, e persistir no isolamento também pode ser entendido como funcional para isso que hoje não permite a democratização dos setores populares”, observa. “Por isso é relevante seguir apostando nos encontros, nos intercâmbios, para ir construindo um pensamento verdadeiramente próprio e latino-americano.”
Eduardo Balán e a política colaborativa
Como se pôde ver, material para reflexão e debate não faltou nos seis dias de atividades em Quito. Eduardo Balán, coordenador geral da agrupação cultural El Culebrón Timbal e líder do coletivo Pueblo Hace Cultura, apresentou seu trabalho “Hacia una Política Colaborativa”, buscando aportar uma série de reflexões que pudessem ser úteis para repensar as condições de surgimento e desenvolvimento das organizações e redes de Cultura Viva Comunitária na América Latina e suas perspectivas para a construção de uma sociedade mais equitativa e do “bem viver”.
“Até 2019, nos propomos a impulsionar um Festival Latino-americano de Cultura Viva Comunitária que possa, neste sentido, visibilizar o esforço da convergência de uma agenda programática entre os movimentos sociais e políticos latino-americanos em torno de prioridades que possam funcionar como um horizonte de busca e construção para o ‘Povo dos povos’ que constituímos coletivamente”, escreveu.
Em sua estada no Equador, Balán teve a oportunidade de participar do círculo da palavra voltado para a temática de fortalecimento organizativo, dos debates do Conselho Latino-americano de CVC, dos percursos pelas comunidades, festivais e intercâmbios. A experiência, segundo ele, foi “altamente enriquecedora e de intensos aprendizados metodológicos e organizativos, também no aspecto conceitual e de intercâmbio de experiências”.
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