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Encontros de Resistências e Mural da Cultura Viva Comunitária: os projetos do México selecionados no Edital de Apoio a Redes 2022
Em 18, Maio 2022 | Em Notícias |
A Rede de Resistências Culturais e Territoriais de Abya Yala, formada por organizações e coletivos do México e da Colômbia, e o Tejido Ser Comunitarios são as duas articulações que apresentaram as propostas selecionadas pelo México no Edital IberCultura Viva de Apoio a Redes e Projetos de Trabalho Colaborativo 2022.
Os dois projetos serão realizados no país a partir de junho. Os Encontros de Resistência Cultural e Territorial de Abya Yala serão realizados na Cidade do México e nos estados de Chiapas e Oaxaca, entre 6 e 30 de junho. O segundo projeto, o Mural da Cultura Viva Comunitária de Cuautepec, será realizado entre junho e agosto no Centro Cultural El Arbolillo (Cuautepec, Cidade do México).
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* Nome da rede ou articulação: Rede de Resistências Culturais e Territoriais de Abya Yala
* Nome do projeto: Encontros de Resistências Culturais e Territoriais de Abya Yala
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Os Encontros de Resistências Culturais e Territoriais de Abya Yala, previstos para junho na Cidade do México e nos estados de Chiapas e Oaxaca, têm como eixo central o intercâmbio de saberes e experiências entre as diferentes organizações que compõem esta rede em torno do papel da comunicação alternativa nas lutas pela defesa dos territórios.
Esse compartilhamento de experiências se dará em espaços de encontro como oficinas, fóruns de vídeo, espaços de diálogo e socialização de projetos, que ocorrerão durante a circulação de várias coletividades pelo percurso da Rede de Resistências Culturais e Territoriais de Abya Yala, como tem sido chamado o tecido de territórios que será a base de acolhimento para as atividades realizadas no âmbito desta proposta.
O projeto tem como objetivo a realização de três fóruns de vídeo sobre defesa territorial, a partir de narrativas e estratégias de comunicação comunitária; dois encontros entre as coletividades da rede que fortalecem trocas de experiências, metodologias e articulações futuras, além de um ciclo de oficinas para a construção de uma estratégia de comunicação autônoma e comunitária por meio de fanzine, rádio, vídeo e segurança digital.
De acordo com a proposta apresentada ao IberCultura Viva, em Chilón (Chiapas), o ciclo de oficinas visa fortalecer o tecido comunitário através da capacitação em diferentes estratégias de comunicação com as culturas camponesas e nativas. A mostra audiovisual em San Cristóbal de las Casas permitirá a memória do que foi caminhado a partir dos meios de comunicação e da defesa territorial, e o encontro em Oaxaca permitirá ampliar e tecer redes para a emergência e a solidariedade entre coletivos de mídia livre e dos bairros. O vídeo-fórum na Cidade do México, por sua vez, gerará um espaço de reflexão de vizinhos e vizinhas em torno da construção de territórios autônomos.
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Rede proponente
O trabalho da Rede de Resistências Culturais e Territoriais de Abya Yala tem quatro vertentes: autonomia, comunicação comunitária, feminismo e defesa do corpo-território. A iniciativa busca reunir e aproximar em solidariedade as resistências territoriais da América Latina a partir do trabalho presencial -ou seja, nos próprios territórios-, apoiado pelas ferramentas da mídia livre e da era da informação.
Ao se reunir no México, seus membros pretendem compartilhar suas experiências de vida/trabalho em diferentes momentos, sistematizar suas metodologias, formar mais e novos jovens em seus próprios territórios, bem como fortalecer os diálogos intergeracionais, interculturais e transnacionais.
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Organizações participantes
La Sandía Digital, criada na Cidade do México em 2011, é uma organização feminista de produção audiovisual colaborativa, formação e comunicação estratégica. Trabalha com movimentos de base, organizações da sociedade civil e comunidades, em prol da justiça socioambiental e de gênero e dos direitos humanos, para transformar narrativas e fortalecer seu impacto político e público, por meio de três linhas de ação: produção audiovisual, processos de formação e comunicação estratégica. Desde 2013 constitui-se como associação civil, mas continua a apostar num modo de governança horizontal, em que orientações e decisões estratégicas são tomadas em assembleia.
O Festival Nacional de Cinema e Vídeo Comunitário do Distrito de Aguablanca (FESDA) é um grupo de mulheres comprometidas com a comunicação comunitária para contar, resistir e sonhar desde as periferias. Além de fazer e exibir filmes nas ruas, nos bairros, com as comunidades, com a resistência, promovem processos de formação audiovisual para fortalecer o tecido comunitário em nível nacional e latino-americano. FESDA nasceu em 2009 no distrito de Aguablanca, território a leste da cidade de Cali (Colômbia) que se configurou a partir de processos de desalojamento causados pela violência estrutural sofrida pelo Pacífico rural colombiano, que fez com que as comunidades — principalmente afrodescendentes — se mudassem para as cidades, neste caso Cali, e construíssem bairros no que chamam de Pacífico Urbano.
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Também da cidade de Cali vem a Cooperativa Tierra Negra, uma comunidade que desde 2019 se dedica ao campo da comunicação, publicação, gráfica, filme e vídeo comunitário, comunicação direta e própria com perspectiva autônoma, coletiva, autogerida, feminista e da defesa de territórios e povos. Como definem na inscrição ao edital: “Nos inspiramos nas mãos que movem a terra, plantam e cuidam dela. A luta que a liberta, o fogo que lhe dá vida e a organização que lhe dá esperança. Somos coletivos que acreditam na fertilidade do encontro para a difusão, no poder da comunicação e no poder das vozes que cuidam e tornam a vida possível”.
O Projeto Videastas Indígenas da Fronteira Sul (PVIFS), criado em 2000 em San Cristóbal de las Casas, Chiapas (México), tem trabalhado para ajudar os povos, organizações e comunidades indígenas de Chiapas e do sul do México a alcançar os objetivos de suas agendas sociais e promover a criação de multiplicadores ou “cinegrafistas populares” capazes de promover novas políticas culturais. O trabalho de formação dos indígenas tem consistido em cursos e seminários que partem de necessidades específicas para explorar questões técnicas, artísticas e humanísticas de forma colaborativa. A maioria dos alunos são jovens e mulheres indígenas, membros de organizações sociais e culturais de Los Altos, La Selva e dos Vales Comitecos de Chiapas.
O Grupo de Trabalho Corpos, Territórios e Resistência (GT-CUTER), por sua vez, é um grupo de pesquisadores e ativistas de 14 países, criado em 2016. Sua caminhada entre academia, ativismo, comunicação e acompanhamento de indígenas, afrodescendentes e populares movimentos sociais em seus territórios explora, reflete e debate sobre a articulação que existe entre as diversas formas de resistência, corpos e territórios. Para o grupo, o reconhecimento das práticas e narrativas de resistência, autonomia e defesa da vida “é um horizonte que põe em movimento um tipo de trabalho investigativo e de ciências sociais públicas, preocupado com a vida comunitária e a compreensão das dinâmicas locais, regionais e globais que se articulam em um sul global que resiste criativamente”.
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* Nome da rede ou articulação: Tejido Ser Comunitarios
* Nome do projeto: Mural da Cultura Viva Comunitária Cuautepec
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O Mural da Cultura Comunitária Viva Cuautepec, proposto pela articulação Tejido Ser Comunitarios no Edital IberCultura Viva para Apoio a Redes e Projetos de Trabalho Colaborativo 2022, será realizado entre junho e agosto no Centro Cultural El Arbolillo, Cuautepec, Cidade do México. De acordo com a organização responsável pelo projeto, os murais realizados na Colônia Vista Hermosa geraram transformações no campo cultural e levaram à reflexão sobre memória, identidade e patrimônio.
“Esta proposta busca projetar a memória dos grupos e organizações que contribuíram para a cultura de nossa cidade muito antes de nós, honrando sua influência e esforço, além de moldar sua própria identidade como organizações culturais”, explica o artista comunitário Aldo Adrián Nuño López, que inscreveu o projeto no edital em nome da rede.
Para a execução deste mural comunitário de grande formato, serão desenvolvidas três sessões de círculos da palavra, onde será configurado um esboço em conjunto. A ideia é que seja um mural interativo, no qual a realidade aumentada será aplicada para que a interação seja gerada por meio de dispositivos móveis. O tema “arte e cibercultura” será abordado em uma das três rodas de conversa que serão realizadas no âmbito do projeto.
Também está previsto um festival cultural de apresentação do mural, onde serão ministradas quatro oficinas para a autonomia financeira, por mulheres do grupo Artesãos de Cuautepec. Estas oficinas serão de bordados, pulseiras de miçangas, pulseiras tecidas e bolsas.
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Rede proponente
As entidades que apresentam o projeto nesta convocatória mantêm uma estreita colaboração desde 2016, tendo realizado de 2016 a 2019 a feira de migrantes na localidade de Gustavo A. Madero (GAM), bem como murais no Centro Cultural Vista Hermosa. Em Vista Hermosa, a área na entrada da Serra de Guadalupe, onde antes era um depósito de lixo, foi resgatada para fazer um parque recreativo ambiental.
“Essas atividades dos murais foram um divisor de águas na visibilidade de nossa rede na localidade”, comemora Aldro Adrián. Além da atenção da Secretaria do Meio Ambiente, este ano a rede recebeu o apoio da área de Cultura da prefeitura para realizar oficinas semanais para que os moradores da comunidade continuem frequentando.
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Organizações participantes
A Cooperativa Cultural El Arbolillo Cuautepec, responsável pelo projeto, começou em 2015 como um coletivo na Cidade do México, com o objetivo de criar espaços próprios e comunitários para transmitir arte e promover a cultura através da criação de murais e da realização de oficinas. Vinculados a artistas e organizações comunitárias locais, participam e compartilham seminários, conferências e apresentações de livros, além de colaborarem com diversas atividades culturais. Em 2018 constituem-se como cooperativa, tendo a possibilidade de oferecer suas práticas como um serviço de apoio à educação artística a diferentes organizações, instituições, etc., na perspetiva da economia social e solidária.
O Coletivo Cultural Vista Hermosa, criado em 2018 na Cidade do México, luta para mudar as condições de vida de sua comunidade desde a década de 1990. Seus membros são migrantes de Chilacachapa (Guerrero), e em 2005 passaram a administrar o Centro Cultural Vista Hermosa, com a convicção de que arte e cultura são poderosas ferramentas de transformação. Com a formação como coletivo em 2018, continuaram a promover atividades não só no centro cultural, mas também na área que resgatam como vizinhos, com o apoio dos jovens do Arbolillo em ações como a criação de murais comunitários e a programação cultural da colônia.
Artesanos de Cuautepec é uma organização formada por famílias migrantes que existe desde 2015 na Cidade do México. O grupo realiza a feira dos migrantes na Prefeitura de Gustavo A. Madero desde 2016, com o apoio de diversos elencos e grupos locais e de toda a zona norte do GAM. A organização é composta majoritariamente por mulheres, que realizam oficinas para a autonomia financeira.