Nos dias 8, 9 e 10 de abril, a Cidade do México tornou-se um grande polo de discussão sobre temas ligados ao direito à cultura
Durante três dias, o Seminário Internacional Cultura Viva Comunitária – Uma Escola Latino-Americana de Políticas Culturais transformou a Cidade do México em um vibrante polo de reflexão e intercâmbio sobre políticas públicas de cultura. Mais de 300 participantes presencialmente — entre especialistas, gestores públicos, pesquisadores, ativistas e representantes da sociedade civil — mergulharam em uma programação intensa e rica em debates e reflexões, com mais de 20 atividades que colocaram a cultura de base comunitária no centro da agenda. Além disso, o evento contou com transmissão online, alcançando mais de 10 mil visualizações.
Inspirados na experiência brasileira dos Pontos e Pontões de Cultura e da Política Nacional de Cultura Viva, os diálogos em torno da política Cultura Viva Comunitária reuniram vozes de mais de 13 países da América Latina e Ibero-América. Em pauta, os caminhos para fortalecer políticas culturais participativas, transformadoras e conectadas às realidades locais.
“Este seminário foi colheita e plantio. Colheita de um processo que começou há 20 anos com os Pontos de Cultura no Brasil, e que hoje floresce em muitos territórios da Ibero-América. Uma política pública viva, com mais de 7.200 Pontos espalhados pelo país, que une ancestralidade e inovação, sustentada por um Estado mais interativo – que escuta, caminha junto e reconhece o protagonismo das comunidades. Essa experiência inspirou Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Espanha, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai. A união desses países deu origem ao Programa IberCultura Viva, que completou 10 anos de cooperação entre governos e redes culturais”, destacou Márcia Rollemberg, presidenta do IberCultura Viva e secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura do Brasil
O seminário começou em alto nível com a participação do antropólogo Néstor Canclini, que instigou o público em sua conferência de abertura, que teve como tema: “Desafios da Cultura Viva Comunitária: dos diálogos com instituições às plataformas digitais”. Com sua visão aguçada, Canclini detalhou como as redes sociais estão moldando novas formas de pertencimento e como a cultura comunitária pode se fortalecer no ambiente digital. Ao longo da fala, trouxe exemplos de iniciativas que, em diferentes territórios, utilizam a tecnologia não como fim, mas como ponte — conectando pessoas, ampliando vozes e fortalecendo redes. Um chamado à ação para que instituições e coletivos caminhem juntos, do território ao digital.
No coração do seminário, um encontro transformador de formação e troca de saberes, foram debatidos temas essenciais para a promoção e fortalecimento da cultura. A resistência dos povos originários, o impacto do ciberespaço, a sacralidade, as matrizes africanas e indígenas, o papel da academia e da pesquisa, a cidadania, a democracia cultural, a sustentabilidade, a soberania digital, a valorização das ações nos territórios, a diversidade e os saberes populares foram apenas alguns dos tópicos explorados. Juntos, esses debates reafirmam a cultura como um patrimônio coletivo que se constrói a partir das experiências, vivências e vozes de cada comunidade.
Para encerrar, o historiador Célio Turino levou o público a uma verdadeira imersão no Cultura Viva, com a conferência “Não se pode deter o vento”. Em uma aula inspiradora, ele compartilhou a criação, o desenvolvimento, os conceitos e os objetivos da política pública Cultura Viva, que revolucionou o fazer cultural no Brasil e virou referência no mundo. Ao refletir sobre a essência do projeto, Turino destacou: “O Cultura Viva é um conceito biológico que rompe com a ideia da cultura eurocêntrica, não é um slogan, é uma cultura natural e de pacificação. Há uma poética na construção, como foi escrito desde 2004, é um processo de encantamento social, de ruptura com formas rígidas, através de uma escuta sensível e do respeito à identidade e diversidades”. Com palavras fortes e cheias de significado, ele reafirmou o movimento como um caminho de transformação social, pautado na escuta, no respeito e na valorização da diversidade.
Um fim que marca um novo começo: o encerramento do seminário inaugura uma nova fase para as políticas culturais em toda a América Latina e Ibero-América. A estruturação de uma rede coletiva voltada ao debate, à formação e à atuação no setor cultural é agora uma realidade — colocando a Cultura Viva Comunitária no centro das atenções, conforme explica Alexandre Santini, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa (MinC), instituição correalizadora do seminário:
“As políticas culturais que se desenvolvem há duas décadas na América Latina, inspiradas nos Pontos de Cultura e na Política Nacional de Cultura Viva no Brasil, ganharam força e repercussão continental e mundial a partir do conceito de Cultura Viva Comunitária. O Seminário nos permitiu aprofundar e refletir sobre estas experiências, que constituem hoje um repertório comum para o pensamento, a implementação e avaliação de políticas públicas de cultura em âmbito internacional. O resultado do Seminário é excelente em termos de adesão, participação, densidade dos conteúdos debatidos, e aponta perspectivas para o futuro”.
O seminário é promovido pelo Instituto Latino-Americano de Cultura Viva Comunitária e Redes de Gestión Cultural (RGC), em parceria com o Programa IberCultura Viva, Fundação Casa de Rui Barbosa/MinC, Secretaria de Cultura da Cidade do México, Universidade Autônoma da Cidade do México (UACM), Lab Cultura Viva (Extensão UFRJ), Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão (Brasil), e o Pontão de Cultura Areté (Brasil); e o apoio da Secretaria de Cultura do Governo do México, Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), Centro Cultural de Espanha – Cidade do México, Trànsit Projectes (Espanha), RedLab e a Diputació de Barcelona (Espanha).