30 novembro 2025

A cultura redesenha fronteiras, aproxima povos e projeta futuros. Foi com esse horizonte que, durante dois dias em Porto Alegre (RS), análises, balanços e cooperação se entrelaçaram na 15ª Reunião do Conselho Intergovernamental do IberCultura Viva, realizada nos dias 27 e 28 de novembro. O encontro consolidou as conquistas de 2025, aprovou o Plano Operativo Anual (POA) para 2026 e reafirmou a vitalidade de um programa que tece políticas culturais com e desde os territórios.

Na antessala dos 20 anos da Carta Cultural Ibero-americana, documento de maior hierarquia política e jurídica da região, que estabelece valores, princípios e diretrizes para a cooperação cultural, o IberCultura Viva reiterou o compromisso que o orienta desde sua criação: fortalecer direitos culturais com base no protagonismo comunitário, na ação cooperada entre Estados e na escuta ativa da sociedade civil.

A presidenta do Programa, Márcia Rollemberg, destacou o momento de expansão: “A trajetória do IberCultura consolidou uma política de base comunitária que une países, fortalece identidades e amplia o acesso aos direitos culturais. Em 2025, celebramos nossa maior quantidade de países-membros – somos 14 – e recordes de participação em nossos editais.”

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, participou do encontro, saudou a delegação e ressaltou a importância de uma cooperação capaz de fortalecer a cultura de base comunitária e ampliar direitos culturais em toda a Ibero-América.

Cooperação fortalecida – Atualmente, integram o Programa: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Espanha, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.

Redes e recordes
Os resultados de 2025 evidenciaram a expansão da Rede IberCultura Viva de Cidades e Governos Locais, que passou de 21 para 32 integrantes, reforçando a articulação entre gestões públicas, organizações comunitárias, povos originários e comunidades tradicionais.

Outro destaque foi o avanço da Rede Educativa IberCultura Viva, lançada em abril na Cidade do México, que hoje reúne 15 instituições e integra saberes acadêmicos, ancestrais e comunitários para impulsionar a formação, pesquisa e valorização da diversidade cultural.

O consultor de Redes e Gestão do Programa, Diego Benhabib, destaca que as redes IberCultura Viva são uma estratégia de articulação que conecta diferentes atores institucionais, consolidando trajetórias e ampliando o impacto das políticas culturais de base comunitária. “No próximo período, vamos trabalhar pela convergência entre as redes, para somar esforços e promover intercâmbios”, sustenta.

A presença internacional do Programa também se ampliou, com participação em agendas como o Seminário Internacional no México, o VI Congresso Latino-americano de Culturas Vivas Comunitárias, a 10ª Cúpula Mundial da IFACCA, em Seul, o side event da Mondiacult 2025, em Barcelona, e a jornada dedicada ao Programa no XIV Seminário Internacional de Políticas Culturais, no Rio de Janeiro, marcaram decisivamente o ano – entre outras atividades.

De olho em 2026
A secretária técnica, Flor Minici, reforçou a necessidade de seguir avançando de forma integrada e sustentável: “Trabalhamos sempre em parceria com a sociedade civil. Redes fortalecidas, mais adesões e novas convocatórias compõem o horizonte imediato.”

O Conselho aprovou convocatórias estratégicas para encontros, intercâmbios e banco de saberes. Também deliberou apoio à participação de agentes culturais no Congresso Latino-americano de Culturas Vivas Comunitárias, na Colômbia, por meio do Edital de Mobilidade.

Foi aprovada ainda a constituição de grupos de trabalho e o aprofundamentos de ações em áreas essenciais como cultura e infância; mestras e mestres da cultura popular; inteligência artificial, justiça climática e gênero; além de contribuições referentes aos 20 anos da Carta Cultural Iberoamericana.

Vozes da integração
Entre as agendas estratégicas apresentadas pelos países, a justiça climática ocupou lugar central, reafirmando a cultura viva como força essencial na resposta à crise ambiental. A vice-presidenta do Programa, Daniela Campos Berkhoff, representante do Chile, destacou o papel das comunidades na construção de futuros sustentáveis e compartilhou um marco importante em seu país: a Rede de Pontos de Cultura, que hoje reúne 630 organizações em território chileno.

Pela Espanha, a representante Jazmín Beirak ressaltou que o país se propõe a analisar os modelos de políticas de Pontos de Cultura já consolidados na região para impulsionar iniciativas semelhantes em 2026/2027. Destacou também que importância do Programa se aprofundou no marco do Plano de Direitos Culturais do país.

O México, representado por sua enlace técnica Norma Cruz Hernández, celebrou um ano significativo para a cultura comunitária. O país sediou o 6º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, no qual a articulação do IberCultura Viva foi decisiva. Norma sublinhou ainda a continuidade de políticas estruturantes, como Semilleros Creativos, Semilleros de Paz, Semilleros da Infância Indígena e os Convites Culturais, que seguem fortalecendo processos territoriais e de participação cidadã.

Pontos de cultura e articulação regional
Ao longo da reunião, a delegação conheceu experiências que expressam a força da cultura viva no território. No Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, encontrou música, audiovisual, memória negra e economia solidária como práticas de resistência e criação.

No Pontão Gêneros em Rede, dialogou com artistas e coletivos que atuam pela diversidade e pelos direitos humanos com perspectiva interseccional.

A visita ao Museu do Hip Hop, inaugurado em 2023, revelou um espaço vibrante dedicado à formação, à memória e às expressões urbanas contemporâneas. O encontro encerrou-se no Pontão de Cultura Axé Miré, em uma celebração marcada por tambor, corpo e comunidade.

Na véspera da reunião (26), o Programa foi apresentado à Comissão de Diversidade Cultural do Mercosul, fortalecendo diálogos e ampliando a integração regional.

Horizonte compartilhado
Os dois dias de trabalho encerraram-se com uma certeza compartilhada: a cultura viva só existe em movimento coletivo. Entre balanços, escuta e futuros possíveis, o Conselho Intergovernamental reafirmou o espírito que move o Programa há mais de uma década: fortalecer políticas culturais ancoradas na diversidade, no encontro e na garantia dos direitos culturais como fundamento democrático da região.

Fotos: Carlos Macedo e Filipe Araujo/MinC