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14

set
2016

Em Notícias

Ventana a la biodiversidad: a criatividade como ponte de entendimento entre as culturas

Em 14, set 2016 | Em Notícias |

Imagine uma corrente de videocartas. Um grupo escolhe uma problemática ambiental de seu contexto e desenvolve um documentário descrevendo a situação, as dificuldades que têm, suas estratégias para enfrentá-las. Outro grupo toma então destaque para dar resposta às problemáticas apresentadas pelo grupo anterior. Ao subir um novo vídeo, propõe uma nova problemática, começando então uma nova corrente…

É assim que funciona “Same same, but biodiverse” (É a mesma, mas biodiversa), a tripla obra multimídia criada por jovens yucatecos (México), guaranis mbya (Brasil) e bascos (Espanha) após a realização de oficinas de criatividade colaborativa nos três países participantes. Os vídeos são produtos do projeto Ventana a la Biodiversidad, um dos sete ganhadores da categoria 3 do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, lançado em 2015.

Buscando explorar e entender as semelhanças e diferenças de problemáticas ambientais em diferentes culturas, a partir de um ponto de vista crítico e criativo, os grupos tratam nos vídeos de questões como agricultura ecológica versus agroquímica, problemas derivados do desmatamento, contaminação de espaços naturais e exploração insustentável de recursos naturais.

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Oficina de criatividade colaborativa em Yucatán, México

Intercâmbio

Ventana a la Biodiversidad, o projeto apresentado ao programa IberCultura Viva por organizações do México (Cultura Savia A.C.), Brasil (.txt Texto de Cinema) e Espanha (Unesco Etxea – Centro Unesco del País Vasco), é uma iniciativa de criação artística colaborativa e intercultural que manifesta o vínculo existente entre imaginário cultural e biodiversidade, em comunidades que habitam espaços naturais de especial riqueza biológica e/ou ecológica, e seu potencial para aumentar a resiliência das comunidades ante situaciones de crise ambiental.

O diálogo criativo se baseia no aprendizado de cosmovisões que conectam cultura e natureza, assim como no intercâmbio de experiências na aplicação de conhecimentos tradicionais vinculados à proteção da biodiversidade que podem ser úteis em contextos diferentes aos que foram gestados. As ferramentas para articular este diálogo foram as três oficinas de arte colaborativa onde foram criados os conteúdos multimídia. A ideia era ter conteúdos do tipo “crowdsourced”, criados por membros de diferentes culturas seguindo um único conceito.

Na Espanha

As oficinas no País Basco foram realizadas em julho de 2016 na Reserva da Biosfera de Urdaibai, na costa de Bizkaia. Nove pessoas (sete mulheres e dois homens) participaram das atividades organizadas pela Unesco Etxea, com o apoio do governo basco e da EKO Etxea (entidade gestora da reserva).

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A Reserva da Biosfera de Urdaibai, no País Basco

Guillermo Maceiras, cofundador e coordenador criativo da plataforma Ventana a la Diversidad, conta que as gravações foram em uma zona onde existe um debate sobre as aves autóctonas e as “invasoras”, o que deu pé a uma bela parábola com a temática da migração de pessoas, seja por causas econômicas ou como refugiados sociais e políticos. “Também se gravou na costa, onde a problemática do plástico foi tratada a partir de um ângulo muito esclarecedor: a reciclagem não é suficiente, há que se reduzir a dependência deste material em nossas vidas”, acrescenta.

Pela primeira vez foram provados dois formatos no projeto. Além do típico vídeo em formato 1×1, com texto informativo no lugar de diálogos, se utilizou um “hyperlapse”, uma poesia visual criada a partir das centenas de fotografias tiradas durante uma tarde por parte das participantes.

No México

Antes, em abril, foi a vez do México, onde as oficinas reuniram 17 pessoas (nove mulheres, oito homens) na Reserva Biocultural do Puuc, no interior do estado de Yucatán. Cultura Savia foi a organizadora, com o apoio da JibioPuuc (Junta Intermunicipal Biocultural do Puuc) e da Universidade Tecnológica do Sul.

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A gravação se concentrou nas populações isoladas, onde ainda existem templos Mayas sem proteção patrimonial. “A ideia surgiu dos próprios participantes como uma maneira de reclamar proteção, mostrando sua beleza e a vinculação com a cultura viva das pessoas que seguem habitando o lugar”, afirma Maceiras, a quem surpreendeu “a imensa capacidade de autogestão” que teve a equipe, capaz de resolver problemas surgidos durante a pré-produção e as filmagens.

No Brasil

No mês seguinte, em maio, se deu a oficina de cinema e mídia menor na Aldeia Mata Verde Bonita Ka’aguy Hovy Porã, localizada em Itapuaçu, perto de Maricá, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Foram duas semanas de trabalho com crianças, jovens e adultos e um cineasta indígena (Miguel Verá Mirim). Ali foram realizadas cinco mídias de “palavras-afetos” e duas videocartas. O grupo também trabalhou num vídeo sobre educação mbya-guarani de Verá Mirim.

Os primeiros dias foram de acompanhamento das atividades da vida na aldeia. Como já existia uma boa relação entre Verá Mirim e os jovens cineastas indígenas com o Coletivo Cinema 7 Flexas (facilitador do trabalho), as coisas fluíram bem. “Partimos dessa relação já estabelecida para criar a nossa, tecer nossa relação e experimentar juntos. Então cozinhávamos, limpávamos, brincávamos até …. chegar a hora desse outro trabalho que era fazer filmes”, conta o cineasta e facilitador de oficinas Ж (KK, o “Kaká”).

“O trabalho de oficina, de cursos, para nós da .txt, é relacional. É desenvolver um saber-fazer radicante, dar as condições para que emerja o que já existe no lugar, o que está em potência. Para que isso possa se dar temos que estar perto, olhar de perto, ser visto, estar vulnerável no sentido pleno disso: aceitar ser ‘comido’ pelo outro e aceitar ser outro também”, ressalta Ж.

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Crianças na oficina da Aldeia Mata Verde Bonita (foto: .txt texto de cinema)

Metodologias

No Brasil o grupo se dividiu numa escala geracional. As crianças nunca tinham participado das oficinas e filmes do Verá Mirim nem das oficinas com o Coletivo Cinema 7 Flexas. Com eles se desenvolveu então uma metodologia própria, baseada no ver-ouvir do cineasta Paul Sharits. “Fizemos um filme curto, com movimento e algumas cores que o Verá Mirim nos disse serem importantes para a cosmogonia dos mbya-guarani e mostramos para a meninada. Depois disso trabalhamos com mapas e espaços interiores para que eles identificassem na aldeia, feita mapa, os lugares, as situações que mais gostavam. Daí saíram as mídias, as palavras-filmes dos primeiros trabalhos”, explica Ж.

Os jovens e adultos já tinham participado de oficinas, puderam reconhecer o que já sabiam e repassar o que sabiam. Muitos dos adolescentes, no entanto, não tinham experiência prévia em cinema e mídia. A eles foi sugerida a elaboração das videocartas, tendo como tema o contexto socioambiental e as formas de re-existir neste tempo geológico. Das conversas e projeção de outras videocartas chegaram à forma-expressão dos videos “Ayvu Anchtengua “(Palavra verdadeira) e “Tapé Porã” (Caminho aberto).

A metodologia ds videocartas é desenvolvida há anos pela equipe do projeto Ventana a la Diversidad, com quem a organização .txt já havia dividido um projeto de formação no Brasil chamado “Fazer o mundo fazendo vídeo”. Ж e Guillermo se conheceram na Guatemala, em um encontro no Centro Cultural de Espanha, e desde então passaram a trabalhar juntos. “Ventana tem essa característica de ser agregador de potências. Por onde passam tentam construir redes de trabalho”, elogia Ж.

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(Foto: .txt texto de cinema)

Plataforma

Ventana a la Diversidad, a plataforma que marca esta iniciativa, reúne jovens de vários pontos do planeta para imaginar e criar juntos arte digital. Juntos, eles criam desde poesia expandida através de vídeo e música, até documentário observacional, passando por artefatos de animação que se constroem com materiais reciclados, acessíveis em qualquer comunidade.

A plataforma nasceu graças ao apoio do Fundo Internacional para a Promoção da Cultura da Unesco (2013), que selecionou este projeto inicialmente centrado em quatro países: Guatemala, Peru, Espanha e Indonésia. Atualmente são 12 países, a maioria da América Latina. A meta é promover um diálogo através da arte em que se manifeste a ideia da criatividade como ponte de entendimento entre as culturas, favorecendo a compreensão e difusão dos valores contidos na convenção de 2005 da Unesco sobre proteção e promoção da diversidade das expressões culturais.

Sepa más:

https://www.ventanaalabiodiversidad.org

www.facebook.com/ventanaaladiversidad

https://www.abrituventana.org/