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Experiencias

Silvia Bove, a professora de artes plásticas que se apaixonou pelo teatro comunitárioSilvia Bove, a professora de artes plásticas que se apaixonou pelo teatro comunitárioSilvia Bove, a professora de artes plásticas que se apaixonou pelo teatro comunitárioSilvia Bove, a professora de artes plásticas que se apaixonou pelo teatro comunitário

Por IberCultura

Em07, dez 2015 | Em | PorIberCultura

Silvia Bove, a professora de artes plásticas que se apaixonou pelo teatro comunitário

silvia-bove-perfilSilvia Bove não pensava que se dedicaria ao trabalho comunitário quando começou a estudar artes. Achava que seria professora como a mãe, já que isso lhe parecia divertido. Mas acabou se dando conta de que não era uma pessoa que dá as costas para algo. Pelo contrário. “Grandes satisfações me avisam que vou por um bom caminho e confirmam que não podemos ser endogâmicos”, afirma.

Licenciada em artes plásticas pela Universidade Nacional de Cuyo, Silvia trabalha na área de pesquisa e ludoteca do Museu Provincial de Belas Artes Emiliano Guiñazú – Casa de Fader – em Mendoza, Argentina. Também é presidenta da Associação Civil Chacras para Todos, que ali atua desde 2008 e foi declarada em 2012 como Círculo de Cultura (o equivalente ao Pontão de Cultura no modelo brasileiro) de teatro comunitário.

Sua relação com a comunidade, ela conta, se deu de maneira natural, desde a infância, sobretudo com a mãe, que era muito comprometida com todos ao redor. “Sempre estive ligada a tarefas de caráter coletivo, centro de estudantes no ensino médio, associação de vizinhos no bairro. Na universidade também participava do centro de estudantes, criando projetos coletivos, realizando atividades culturais…”

chacras-3xComo professora de ensino fundamental, trabalhou para o Estado em zonas humildes, realizando atividades no território onde se situava a escola (criando, por exemplo, murais no bairro contra o trabalho infantil). Em escolas técnicas para adultos, desenvolveu trabalhos voltados para a autogestão e a independência profissional. “Sempre trabalhei em cada território em que vivi e estudei. Sou uma pessoa dinâmica e criativa, e verto isso para as tarefas coletivas”, explica.

Quando se casou e se mudou para outro bairro, estavam formando por ali um teatro comunitário, Chacras para Todos. Silvia, que vinha das artes plásticas, não conhecia aquelas pessoas, mas logo se interessou. “No primeiro dia de atividades com a comunidade, eu fui porque queria fazer um curso de acrobacias em tecido”, comenta. “Quando me perguntaram a que me dedicava, me ofereceram trabalho no espaço de artes plásticas, e como sempre digo que sim, mergulhei num novo mundo pelo qual estou apaixonada há oito anos, apesar do enorme esforço que isso acarreta”.

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Silvia (de peruca laranja) com o elenco do espetáculo “Uma figueira para todos”

A associação

Neste novo mundo ela encontrou gente de todos os tipos, idades e classes sociais. Na região onde a Associação Chacras para Todos trabalha, há aqueles que vivem em bairros privados (condomínios), buscando segurança atrás de muros, e aqueles que vivem em zonas ocupadas, ou sem escrituras, e muitas vezes são os empregados domésticos, jardineiros ou pedreiros dos que vivem atrás dos muros. “Todos esses vizinhos integram o teatro e ali todos somos iguais. Isso tem nutrido muito a comunidade, no sentido de integrar e construir um povo mais justo e solidário”, afirma.

A associação atua desde 2008 formando jovens, crianças e adultos na construção da cidadania e do empoderamento por meio da arte. Trabalha em redes e atividades de ação cultural mediante linguagens artísticas como teatro, música, circo e arte cenográfica. Não apenas acompanha, mas também capacita na formação de cooperativas culturais. “Entendemos que não podemos transformar sozinhos. Se o fazemos entre diversas organizações e atores sociais – por exemplo, saúde, educação, governos e empresários–, todos acompanhamos as transformações”, ressalta.

Eventos culturais, resgate de festas populares, carnavais e festas da uva também são parte do trabalho, pois eles acreditam que a comunidade deve se encarregar de suas celebrações. “Também tentamos unir bairros e territórios por meio de ações constantes em suas praças (oficinas de percussão, artes plásticas, murais, bailes, Dia das Crianças, Dia das Mães, etc)”, acrescenta.

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Disfarçada no baile de carnaval da praça

Silvia acredita na força do aprendizado que as pessoas têm com referências próximas, como vizinhos, familiares ou grupos que colaboram com o local onde vivem. Em 2000, ela e a família sofreram com a crise na Argentina e se viram obrigadas a começar de novo. E foram os amigos e familiares que ajudaram a seguir em frente. “Isso marca. Neste momento disse a mim mesma que devia fazer o mesmo. E acho que a arte é uma ferramenta maravilhosa para chegar à comunidade.”

Uma das maneiras que ela encontrou de se aproximar dos vizinhos foi por meio de um projeto de estimulação artística com jogos (sua tese de licenciatura), algo que tem a ver com jogo e arte e faz com que as pessoas possam intervir na obra, seja ela individual ou coletiva. “Sinto que durante toda a vida estive me preparando para o que sou agora. E sempre fiz o quis.”

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El Salvador

Silvia Bove foi uma das ganhadoras do Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, na categoria II, que visava o apoio à participação no II Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, realizado entre 27 e 31 de outubro de 2015. A viagem a El Salvador, segundo ela, foi “uma experiência transformadora”, “um encantamento coletivo”, “um alto aprendizado, uma confirmação do caminho percorrido, uma profunda emocão do conquistado em suas comunidades, povoados ou territórios”.

“Pude participar do I Congresso de Cultura Viva Comunitária na Bolívia e foi algo que não se pode descrever em poucas palavras, nos encheu a alma de novos olhares, rompeu muros e fronteiras, nos levou ao ritual, ao ancestral, e El Salvador, às revoluções, ao olhar coletivo e solidário de seu povo, à dor transformada em arte.”

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Silvia com Emília de la Iglesia e Eduardo Balán na “comparsa” que encerrou o Congresso de El Salvador. (Foto: Mario Alberto Siniawski)

A poucos dias do regresso, ainda com a emoção à flor da pele, Silvia escreveu sobre a experiência, desde a chegada ao aeroporto de San Salvador até o último dia, quando houve a “comparsa escénica” (bloco, passeata festiva) e o abraço coletivo “que selou este pacto de almas e deixou aberto o convite ao encontro de irmandades seguinte, no Equador”. (Quito será a sede do III Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em 2017.)

“Fomos um movimento de almas, uma consequência de ações invadindo nosso coração. Fomos habitat dos povos, vozes que ressoam na América. Somos construtores da nossa história, de nosso passado, presente e futuro”, escreveu em seu diário de bordo. “(…) Minha alma representa minha comunidade, meu ponto essencial, e nada impedirá que deixemos de vibrar.”

 (*Texto publicado em 6 de dezembro de 2015)

Leia também:

Associação Chacras para Todos: o teatro como ferramenta de transformação social e empoderamento da comunidade

 

Saiba mais:

www.facebook.com/chacras.paratodos