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Fábricas de Têxteis: os “remendos criativos” que rompem com estigmas e estereótiposFábricas de Têxteis: os “remendos criativos” que rompem com estigmas e estereótiposFábricas de Têxteis: os “remendos criativos” que rompem com estigmas e estereótiposFábricas de Têxteis: os “remendos criativos” que rompem com estigmas e estereótiposFábricas de Têxteis: os “remendos criativos” que rompem com estigmas e estereótipos

Por IberCultura

Em15, fev 2017 | Em | PorIberCultura

Fábricas de Têxteis: os “remendos criativos” que rompem com estigmas e estereótipos

“Em Ovis encontrei mais do que podia chegar a buscar: encontrei uma segunda família, encontrei quem me desse força, encontrei aprendizado, encontrei apoio, encontrei histórias similares, histórias mais duras. (…) Aprendi que não sou única, que as coisas não acontecem somente comigo e que há coisas piores que podem chegar a passar. (…) A oficina foi eixo de uma integração maior que, para mim, foi muito reconfortante” (Paulina).

“Me sinto bem correspondida nesta oficina, nesta casa. No primeiro dia que vim, não conhecia ninguém e recebi abraços, amparo, o que não se encontra em todo lugar. Gostei de ver que não sou um número, que sou uma pessoa, que me tenham reconhecido como Ámbar. (…) Me deu confiança, educação, e o emocional… minhas amigas. Algumas eu posso chamar de irmãs, algumas posso chamar de amigas”. (Ámbar)

 

         Paulina e Ámbar são integrantes da Fábrica de Têxteis e Bordado que funciona em Montevidéu. Trata-se de uma das 29 Fábricas de Cultura que foram criadas no Uruguai nos últimos 10 anos, neste programa da Direção Nacional de Cultura, do Ministério da Educação e Cultura, que leva adiante espaços de formação e desenvolvimento de empreendimentos culturais. Nesta Fábrica são criadas peças de joalheria têxtil, bordados e o que chamam de “remendo criativo” (intervenções em peças rasgadas ou em desuso que se transformam em peças de design).

        “Ovis” é o nome da oficina de que as duas participaram, e que lhes deu mais do que esperavam. A oficina surgiu de um convênio com o  coletivo Ovejas Negras, para trabalhar especialmente com mujeres trans, como Paulina e Ámbar, mas abarcando toda população LGBT e quem mais queira participar. “Tratamos de não fazer guetos das Fábricas”, ressalta Julia Silva, coordenadora do programa. Atualmente, somam-se ao grupo duas ex-detentas – mulheres que participaram das atividades de intervenção têxtil e serigrafia do Instituto Nacional de Reabilitação Feminina (INRF) N° 5, e que ao recuperar a liberdade, se incorporaram à Fábrica de Têxteis e Bordado.

         Na Fábrica de Têxteis e Bordado se dá ênfase à tomada de consciência em torno do consumo desmedido dos produtos têxteis. A oficina se desenvolve sobre dois pilares: o produtivo, em que os conhecimentos de desenho, modelagem, corte e confecção são fundamentais, e o bordado a mão, voltado para uma atividade sustentável. As participantes trabalham com roupa em desuso (inclusive mantas de lã), customizando as peças com bordados, fazendo “remendos mágicos e únicos” como cada dono. “Em Ovis, as peças têm sua marca. Ninguém vai encontrar nada parecido, nem sequer duas peças iguais”, comenta a coordenadora.

Desfiles

        As participantes mostram suas pequenas produções em desfiles onde não apenas apresentam suas peças como também as vestem. Em 9 de dezembro de 2016, na esplanada do Teatro Solís, o grande teatro de Montevidéu, foi realizado o desfile “Linhas de fuga”, em que participaram quatro empreendimentos têxteis de Fábricas de Cultura: Oficina Ovis (Montevidéu), HER (prisão feminina), La Coyunda (Montevidéu) e Pura Lana (Cerro Largo). A expressão “Linhas de fuga”, aqui, foi usada para reunir várias ideias: a ruptura de paradigmas, os pontos de vista subjetivos, as linhas de design, a fuga “da estandarização e da estigmatização”.

                                                                                                                                    

         “Pura Lana”, uma das Fábricas que participaram do evento no Teatro Solís, é a unidade instalada em Melo (Cerro Largo), zona de produção de lã e com tradição em tecidos, onde mulheres da cidade e do campo criam peças de design e acessórios em feltro e tear. “La Coyunda”, por sua vez, é a Fábrica de Têxteis em Lã que está no Centro de Desarrollo Económico Local (CEDEL) de Carrasco Norte, em Montevidéu, onde donas de casa e jovens confeccionam tapetes e peças em tear.

Entre grades

         HER (“Hecho entre rejas”/ Feito entre grades) é o nome dos produtos da Fábrica de Intervenção Têxtil e Serigrafia, que funciona na prisão de mulheres, onde são criados desenhos originais com a técnica de serigrafia artesanal.  Em 2015, as participantes desta Fábrica criaram uma coleção de roupas feitas com peças em desuso customizadas com estampas em serigrafia. Esta coleção motivou a realização de um desfile dentro do presídio, com grande repercussão. “Você pensava que estava em outro lugar. Elas mesmas criaram a coleção, eram as modelos, e suas peças traziam escrito o que sentiam”, lembra Julia.

        Nesta prisão (INRF 5) funcionam três Fábricas para que as mulheres privadas de liberdade aprendam técnicas que lhes deem ferramentas para sua inserção no mercado. Além da Fábrica de Intervenção Têxtil e Serigrafia, ali funciona a Fábrica de Objetos Cerâmicos e a Joalheria Artesanal. “Uma das alunas da joalheria era tão boa que conseguimos permissão para ela assistir o curso de joalheria da UTU (a escola de ofícios do Uruguai) e todos os dias ela ia às aulas, algemada, sob custódia policial”, conta a coordenadora. “Agora, já em liberdade, tem sua própria oficina, e em vez de vender drogas, realiza e vende joias. Uma mudança imensa.”

 

 

(*Texto publicado em 15 de fevereiro de 2017)

 

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