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14

dez
2016

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Três dias entrelaçando experiências, derrubando muros, construindo pontes

Em 14, dez 2016 | Em Notícias |

Margarita Palacio e Silvia Bove foram as duas argentinas premiadas no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio que participaram do 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, em outubro de 2015, em El Salvador. A viagem, segundo elas, deixou marcas. Convidamos as duas para comentar o 3º Encontro Nacional de Pontos de Cultura e o 1º Encontro de Redes IberCultura Viva, realizados de 30 de novembro a 2 de dezembro no Centro Cultural San Martín, em Buenos Aires. Elas participaram ativamente das atividades, e sim, lembraram algumas vezes as cenas vividas em San Salvador.

“O Encontro Nacional de Pontos de Cultura foi um feito de esperança, mas também um impasse e uma interrogação. Muitos desejos confluíram para sua concretização”, disse Margarita Palacio, dirigente da Asociación de Mujeres La Colmena – Radio Comunitaria FM Reconquista. “Desejos de encontrar mais além das fronteiras provinciais e regionais, formando um só corpo e alma, tangível, possível, com uma ideia-força atravessando-os. A da cultura popular e comunitária”.

Este desejo, segundo ela, “circulou e ganhou vida em uma dupla Buenos Aires – por um lado,  amigável, percorrendo todos os espaços, exposições, oficinas e mostras artísticas no Centro Cultural San Martín, e por outro, preocupada, debatendo e defendendo direitos no Congresso Nacional, a poucos passos dali”.

Margarita Palacio na rádio aberta do encontro (Foto: La Colmena-Reconquista)

Margarita disse que ainda guarda “lindas recordações” da participação no Congresso de El Salvador, como os seminários, a visita a Cacaopera e a marcha pelo orçamento para a cultura comunitária. “Foi tamanha a marca que ficou sobre meus pensamentos, que neste 3º Encontro Nacional de Pontos de Cultura impulsionei a participação de mais de 80 integrantes de nosso coletivo La Colmena-Reconquista”, contou.

Entre eles estavam os jovens integrantes da Orquestra La Estable, que se apresentou no primeiro dia do evento, além de dirigentes juvenis, mulheres da Asociación La Colmena, professoras dos jardins comunitários e representantes de organizações sociais que realizam programas na rádio comunitária.

“A presença de nosso coletivo tinha uma finalidade: iniciar contatos, estabelecer relações com os Pontos de Cultura do país para conhecer suas práticas culturais e fazer com que conheçam as nossas”, comentou. “Foi fortalecedor para nosso projeto o reencontro com as comunidades de 9 de Julio (Buenos Aires), Colón (Entre Ríos) e El Dorado (Misiones), com quem fizemos o Entrelaçando Experiências (“Entrelazando Experiencias” é uma iniciativa dos Pontos de Cultura da Argentina para o intercâmbio de saberes).

As jovens da Orquestra Estable da Rádio Reconquista (Foto: La Colmena-Reconquista)

Pelo menos três situações vivenciadas durante o evento foram muito relevantes para o grupo: 1) La Orquestra Juvenil La Estable, de FM Reconquista, apresentou canções de seu primeiro disco, prestes a ser lançado, no palco do Centro Cultural San Martín; 2) Margarita foi designada (ao lado de María Emília de la Iglesia) uma das representantes da província de Buenos Aires na Comissão Nacional de Pontos de Cultura; 3) A Reconquista foi a rádio aberta do evento, e esteve transmitindo ao vivo opiniões, experiências e entrevistas de participantes argentinos, como o ministro da Cultura, Pablo Avelluto, e de outros países ibero-americanos, como Célio Turino (Brasil) e Iván Nogales (Bolívia).

“Esta ferramenta fabulosa da rádio aberta me permitiu aprofundar em análises, sonhos, projetos e sentires daqueles a quem entrevistei”, comentou Margarita, que também espera ver nos próximos encontros com as delegações do país “iniciativas e linhas de trabalho que transformem em realidade os anseios de todos: concretizar uma política genuína para Pontos de Cultura, com uma boa partida orçamentária que materialize tantos desejos”.

O boliviano Iván Nogales em entrevista à Rádio Reconquista (Fotos: La Colmena-Reconquista)

O desejo de seguir crescendo

Silvia Bove é presidenta da Associação Chacras para Todos

Para Silvia Bove, presidenta da Associação Civil Chacras para Todos, de Mendoza – um dos primeiros Círculos de Cultura (equivalente ao Pontão de Cultura) da Argentina, assim reconhecido desde 2012 –, este encontro mobilizou ainda mais a  construção coletiva da América Latina e do país. “Foram vários dias de intensa atividade, de intercâmbios, de visibilidade de experiências”, destacou. “Tivemos calorosas boas-vindas de pessoas representativas do país, um belo mate, uma agenda maravilhosa, podendo ver o trabalho de algumas organizações que integram o programa Pontos de Cultura, sua dimensão ao longo destes anos, e o desejo de seguir crescendo”.

Ali, no coração de Buenos Aires, como ela ressalta, uma rede de organizações culturais diversas, “com objetivos comuns, com objetivos distintos”, esteve celebrando, “gerando irmandades, luminosidades”, reunidas no labiríntico Centro Cultural San Martín, “carregado de rincões vitais e palcos encontrados, construindo narrativas a partir da arte”.

“Nos sentimos muito felizes de poder participar”, afirmou Silvia, destacando también o aporte de Ibercultura Viva como “novo protagonista”. “Nos pareceu muito positivo que este programa continue no tempo, e que os Estados apoiem as organizações culturais de base, que são a matriz cultural de suas paragens, povos e  comunidades. Sabemos que o caminho é longo e esperamos a criação de leis que possibilitem o apoio a todas aquelas organizações que trabalham dia a dia em cada comunidade, mas o vivido nesses dias foi transcendental. (…) Um encontro de coisas simples, intensas, muitas horas de intercâmbios constantes, de conhecermo-nos por regiões, de pensar-nos como um todo, de nutrirmo-nos”.

Silvia em El Salvador, com Emília de la Iglesia e Eduardo Balán (Foto: Mario Alberto Siniawski)

Impulsando redes

A Asociación Civil Chacras para Todos, coordenada por Silvia, além de ser parte da Rede Nacional de Teatro Comunitário e da Rede de Arte e Transformação Social, ajudou a formar, em 8 de junho de 2016, a Rede Cultural de Chacras de Coria, integrada por mais de 20 organizações, instituições educativas, centros de saúde, fazedores culturais, biblioteca e associações de vizinhos.       

A tarefa de impulsionar redes e propagar a Cultura Viva Comunitária em cada território, segundo ela, foi um “mandado” que veio de El Salvador, do 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. “Dali ficou este mandado maravilhoso, de criar caravanas e ações que contribuam para construir ‘corpos sem fronteiras’, como Iván Nogales chamou a caravana que o Teatro Trono fez nos primeiros meses de 2016, da Bolívia até a Argentina, tocando povos e territórios diversos, unindo, enlaçando, deixando um rastro de emoções e poderosos laços de amor.”

O convite de Nelson Ullauri para o 3º Congresso Latino-americano de CVC (Foto: Georgina García)

Melhores momentos

Para Silvia, um dos momentos mais ricos e emotivos do 3º Encontro Nacional de Pontos de Cultura da Argentina foi o convite feito ao público para participar do 3º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária – marcado para novembro de 2017, no Equador –, vindo da voz de Nelson Ullauri, junto a membros do Conselho Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, de Guatemala, Belize, El Salvador, Brasil, Bolívia, Argentina e Costa Rica.

Além da alegria de ver fragmentos de algumas obras, como as dos grupos de teatro comunitário El Épico de Floresta, Matemurga e Pompeya (fotos) no palco, ela mencionou como grandes momentos do evento a conferência de Célio Turino, a presença de Jaime Torres com sua música da terra e o encerramento no Galpão de Catalinas Sur (um dos principais grupos de teatro comunitário da América Latina).

Também ressaltou a importância da criação da Comissão Nacional de Pontos de Cultura, integrada por 14 organizações representando as regiões do país, e da criação do Conselho Cultural Comunitário, com os 14 membros da Comissão Nacional mais representantes de redes e de foros temáticos culturais. “Que a Comissão e o Conselho possam influir em ações concretas para a cultura de nosso país, e o mais valioso, que possamos seguir sonhando en comun-unidade”, acrescentou.

“O que mais nos nutriu foi poder nos ver novamente, confirmando a latência de espíritos comuns que aninham sonhos, afiançando o caminho realizado por cada uma das organizações. Somos uma trama de pontos, alguns grandes, outros pequenos, que quando se entrelaçam formam uma substância luminosa que sustenta fios sutis que derrubam fronteiras. É necessário que os Estados acompanhem essa trama, que contribuam para  iluminar ainda mais estes pontos, pontos que fazem com que vida tenha sentido, e que nossos sonhos sejam possíveis porque o outro me estende a mão e porque eu estendo a minha.”